A estufa de Brasília


Por Mac Margolis

Após quatro anos de conquistas modestas, a política externa da América Latina bem que poderia se valer de uma bela sacudida. Do Mercosul, dificilmente virá. O grêmio sul-americano, que se tornaria já em 2014 uma das maiores áreas de comércio livre do mundo, segundo previra o então ministro Fernando Pimentel, empacou. Não foi diferente com a Unasul e com a Organização dos Estados Americanos (OEA), onde pactos se perderam em salamaleques entre companheiros. A Aliança do Pacífico, com a derrubada agressiva de barreiras de comércio, ofereceu um alento, assim como a persistente negociação de paz entre a guerrilha das Farc e o governo da Colômbia. Surpresa mesmo foi o anúncio de normalização de relações entre Cuba e os EUA que, em uma tarde de verão, deixaram pasmados todos os líderes latino-americanos. Agora, juntamente com o fogaréu do ano-novo, vem mais um ato inusitado: a indicação de Aldo Rebelo para o Ministério de Ciência e Tecnologia do novo governo de Dilma Rousseff. Ex-ministro dos Esportes e figura carimbada na Esplanada dos Ministérios, sua presença em Brasília não é nova. O deputado do Partido Comunista do Brasil foi importante na costura do novo Código Florestal, pacto que não deixou ninguém feliz, mas substituiu o matagal jurídico que não protegia o meio ambiente, nem disciplinava a produção rural. Indecifrável, porém, foi sua ascensão à pasta mais importante do País, senão da América Latina, para a articulação de políticas para o combate duradouro à espoliação ambiental. No centro dessa agenda: o aquecimento global. A essa tarefa, a presidente Dilma já dedicou horas de oratória recheada de atitudes firmes e afirmações comoventes. "A mudança do clima é um dos grandes desafios da atualidade", disse a presidente, em setembro, no plenário das Nações Unidas, após a Cúpula Mundial sobre o Clima. "Necessitamos, para vencê-la, sentido de urgência, coragem política e o entendimento de que cada um deverá contribuir segundo os princípios da equidade e das responsabilidades comuns, porém diferenciadas", completou. Dilma ainda detalhou a seus pares internacionais o empenho brasileiro, com o corte voluntário de emissões de carbono, com destaque para a redução de 79% do desmatamento na última década. Desastre. Pelo jeito, Aldo Rebelo não ouviu. Não foi por displicência. Muito menos por falta de convicção sobre o tema. Para o novo principal representante da ciência brasileira, a mudança climática é lorota. Em carta ao ex-deputado Márcio Santilli, ex-presidente da Funai e hoje ambientalista, Rebelo foi mais explícito. Criticou o "cientificismo positivista" de Santilli e seus aliados, em contraste com sua própria "devoção ao materialismo dialético". Ele afirmou ainda que seu adversário "não terá o condão de me converter à doutrina de fé que é a teoria do aquecimento global, ela sim incompatível com o conhecimento contemporâneo". Não parou aí. "De verdade, não há comprovação científica para as projeções de aquecimento global e muito menos que ele estaria acontecendo por ação do homem, não em razão de fenômenos da natureza", afirmou. Foi muito estrago para poucas linhas. Em uma lauda, o novo porta-voz da ciência brasileira negou o consenso dos 2 mil cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática - consenso ao qual o Brasil pertence -, como também torpedeou a palavra de sua chefe, a presidente da República, em seu mais alto foro internacional. Com o condão, o materialismo dialético. É COLABORADOR DA 'BLOOMBERG VIEW' E COLUNISTA DO 'ESTADO'

Após quatro anos de conquistas modestas, a política externa da América Latina bem que poderia se valer de uma bela sacudida. Do Mercosul, dificilmente virá. O grêmio sul-americano, que se tornaria já em 2014 uma das maiores áreas de comércio livre do mundo, segundo previra o então ministro Fernando Pimentel, empacou. Não foi diferente com a Unasul e com a Organização dos Estados Americanos (OEA), onde pactos se perderam em salamaleques entre companheiros. A Aliança do Pacífico, com a derrubada agressiva de barreiras de comércio, ofereceu um alento, assim como a persistente negociação de paz entre a guerrilha das Farc e o governo da Colômbia. Surpresa mesmo foi o anúncio de normalização de relações entre Cuba e os EUA que, em uma tarde de verão, deixaram pasmados todos os líderes latino-americanos. Agora, juntamente com o fogaréu do ano-novo, vem mais um ato inusitado: a indicação de Aldo Rebelo para o Ministério de Ciência e Tecnologia do novo governo de Dilma Rousseff. Ex-ministro dos Esportes e figura carimbada na Esplanada dos Ministérios, sua presença em Brasília não é nova. O deputado do Partido Comunista do Brasil foi importante na costura do novo Código Florestal, pacto que não deixou ninguém feliz, mas substituiu o matagal jurídico que não protegia o meio ambiente, nem disciplinava a produção rural. Indecifrável, porém, foi sua ascensão à pasta mais importante do País, senão da América Latina, para a articulação de políticas para o combate duradouro à espoliação ambiental. No centro dessa agenda: o aquecimento global. A essa tarefa, a presidente Dilma já dedicou horas de oratória recheada de atitudes firmes e afirmações comoventes. "A mudança do clima é um dos grandes desafios da atualidade", disse a presidente, em setembro, no plenário das Nações Unidas, após a Cúpula Mundial sobre o Clima. "Necessitamos, para vencê-la, sentido de urgência, coragem política e o entendimento de que cada um deverá contribuir segundo os princípios da equidade e das responsabilidades comuns, porém diferenciadas", completou. Dilma ainda detalhou a seus pares internacionais o empenho brasileiro, com o corte voluntário de emissões de carbono, com destaque para a redução de 79% do desmatamento na última década. Desastre. Pelo jeito, Aldo Rebelo não ouviu. Não foi por displicência. Muito menos por falta de convicção sobre o tema. Para o novo principal representante da ciência brasileira, a mudança climática é lorota. Em carta ao ex-deputado Márcio Santilli, ex-presidente da Funai e hoje ambientalista, Rebelo foi mais explícito. Criticou o "cientificismo positivista" de Santilli e seus aliados, em contraste com sua própria "devoção ao materialismo dialético". Ele afirmou ainda que seu adversário "não terá o condão de me converter à doutrina de fé que é a teoria do aquecimento global, ela sim incompatível com o conhecimento contemporâneo". Não parou aí. "De verdade, não há comprovação científica para as projeções de aquecimento global e muito menos que ele estaria acontecendo por ação do homem, não em razão de fenômenos da natureza", afirmou. Foi muito estrago para poucas linhas. Em uma lauda, o novo porta-voz da ciência brasileira negou o consenso dos 2 mil cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática - consenso ao qual o Brasil pertence -, como também torpedeou a palavra de sua chefe, a presidente da República, em seu mais alto foro internacional. Com o condão, o materialismo dialético. É COLABORADOR DA 'BLOOMBERG VIEW' E COLUNISTA DO 'ESTADO'

Após quatro anos de conquistas modestas, a política externa da América Latina bem que poderia se valer de uma bela sacudida. Do Mercosul, dificilmente virá. O grêmio sul-americano, que se tornaria já em 2014 uma das maiores áreas de comércio livre do mundo, segundo previra o então ministro Fernando Pimentel, empacou. Não foi diferente com a Unasul e com a Organização dos Estados Americanos (OEA), onde pactos se perderam em salamaleques entre companheiros. A Aliança do Pacífico, com a derrubada agressiva de barreiras de comércio, ofereceu um alento, assim como a persistente negociação de paz entre a guerrilha das Farc e o governo da Colômbia. Surpresa mesmo foi o anúncio de normalização de relações entre Cuba e os EUA que, em uma tarde de verão, deixaram pasmados todos os líderes latino-americanos. Agora, juntamente com o fogaréu do ano-novo, vem mais um ato inusitado: a indicação de Aldo Rebelo para o Ministério de Ciência e Tecnologia do novo governo de Dilma Rousseff. Ex-ministro dos Esportes e figura carimbada na Esplanada dos Ministérios, sua presença em Brasília não é nova. O deputado do Partido Comunista do Brasil foi importante na costura do novo Código Florestal, pacto que não deixou ninguém feliz, mas substituiu o matagal jurídico que não protegia o meio ambiente, nem disciplinava a produção rural. Indecifrável, porém, foi sua ascensão à pasta mais importante do País, senão da América Latina, para a articulação de políticas para o combate duradouro à espoliação ambiental. No centro dessa agenda: o aquecimento global. A essa tarefa, a presidente Dilma já dedicou horas de oratória recheada de atitudes firmes e afirmações comoventes. "A mudança do clima é um dos grandes desafios da atualidade", disse a presidente, em setembro, no plenário das Nações Unidas, após a Cúpula Mundial sobre o Clima. "Necessitamos, para vencê-la, sentido de urgência, coragem política e o entendimento de que cada um deverá contribuir segundo os princípios da equidade e das responsabilidades comuns, porém diferenciadas", completou. Dilma ainda detalhou a seus pares internacionais o empenho brasileiro, com o corte voluntário de emissões de carbono, com destaque para a redução de 79% do desmatamento na última década. Desastre. Pelo jeito, Aldo Rebelo não ouviu. Não foi por displicência. Muito menos por falta de convicção sobre o tema. Para o novo principal representante da ciência brasileira, a mudança climática é lorota. Em carta ao ex-deputado Márcio Santilli, ex-presidente da Funai e hoje ambientalista, Rebelo foi mais explícito. Criticou o "cientificismo positivista" de Santilli e seus aliados, em contraste com sua própria "devoção ao materialismo dialético". Ele afirmou ainda que seu adversário "não terá o condão de me converter à doutrina de fé que é a teoria do aquecimento global, ela sim incompatível com o conhecimento contemporâneo". Não parou aí. "De verdade, não há comprovação científica para as projeções de aquecimento global e muito menos que ele estaria acontecendo por ação do homem, não em razão de fenômenos da natureza", afirmou. Foi muito estrago para poucas linhas. Em uma lauda, o novo porta-voz da ciência brasileira negou o consenso dos 2 mil cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática - consenso ao qual o Brasil pertence -, como também torpedeou a palavra de sua chefe, a presidente da República, em seu mais alto foro internacional. Com o condão, o materialismo dialético. É COLABORADOR DA 'BLOOMBERG VIEW' E COLUNISTA DO 'ESTADO'

Após quatro anos de conquistas modestas, a política externa da América Latina bem que poderia se valer de uma bela sacudida. Do Mercosul, dificilmente virá. O grêmio sul-americano, que se tornaria já em 2014 uma das maiores áreas de comércio livre do mundo, segundo previra o então ministro Fernando Pimentel, empacou. Não foi diferente com a Unasul e com a Organização dos Estados Americanos (OEA), onde pactos se perderam em salamaleques entre companheiros. A Aliança do Pacífico, com a derrubada agressiva de barreiras de comércio, ofereceu um alento, assim como a persistente negociação de paz entre a guerrilha das Farc e o governo da Colômbia. Surpresa mesmo foi o anúncio de normalização de relações entre Cuba e os EUA que, em uma tarde de verão, deixaram pasmados todos os líderes latino-americanos. Agora, juntamente com o fogaréu do ano-novo, vem mais um ato inusitado: a indicação de Aldo Rebelo para o Ministério de Ciência e Tecnologia do novo governo de Dilma Rousseff. Ex-ministro dos Esportes e figura carimbada na Esplanada dos Ministérios, sua presença em Brasília não é nova. O deputado do Partido Comunista do Brasil foi importante na costura do novo Código Florestal, pacto que não deixou ninguém feliz, mas substituiu o matagal jurídico que não protegia o meio ambiente, nem disciplinava a produção rural. Indecifrável, porém, foi sua ascensão à pasta mais importante do País, senão da América Latina, para a articulação de políticas para o combate duradouro à espoliação ambiental. No centro dessa agenda: o aquecimento global. A essa tarefa, a presidente Dilma já dedicou horas de oratória recheada de atitudes firmes e afirmações comoventes. "A mudança do clima é um dos grandes desafios da atualidade", disse a presidente, em setembro, no plenário das Nações Unidas, após a Cúpula Mundial sobre o Clima. "Necessitamos, para vencê-la, sentido de urgência, coragem política e o entendimento de que cada um deverá contribuir segundo os princípios da equidade e das responsabilidades comuns, porém diferenciadas", completou. Dilma ainda detalhou a seus pares internacionais o empenho brasileiro, com o corte voluntário de emissões de carbono, com destaque para a redução de 79% do desmatamento na última década. Desastre. Pelo jeito, Aldo Rebelo não ouviu. Não foi por displicência. Muito menos por falta de convicção sobre o tema. Para o novo principal representante da ciência brasileira, a mudança climática é lorota. Em carta ao ex-deputado Márcio Santilli, ex-presidente da Funai e hoje ambientalista, Rebelo foi mais explícito. Criticou o "cientificismo positivista" de Santilli e seus aliados, em contraste com sua própria "devoção ao materialismo dialético". Ele afirmou ainda que seu adversário "não terá o condão de me converter à doutrina de fé que é a teoria do aquecimento global, ela sim incompatível com o conhecimento contemporâneo". Não parou aí. "De verdade, não há comprovação científica para as projeções de aquecimento global e muito menos que ele estaria acontecendo por ação do homem, não em razão de fenômenos da natureza", afirmou. Foi muito estrago para poucas linhas. Em uma lauda, o novo porta-voz da ciência brasileira negou o consenso dos 2 mil cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática - consenso ao qual o Brasil pertence -, como também torpedeou a palavra de sua chefe, a presidente da República, em seu mais alto foro internacional. Com o condão, o materialismo dialético. É COLABORADOR DA 'BLOOMBERG VIEW' E COLUNISTA DO 'ESTADO'

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