BEIRUTE - Um menino sírio que apareceu em uma foto coberto de poeira e sangue e se tornou um símbolo do sofrimento em Alepo está em imagens publicadas pela televisão pró-governo da Síria.
Omran Daqneesh apareceu ao lado do pai em um vídeo, aparentemente ainda morando em Alepo, e dizendo à repórter Kinana Allouche que não quer ir embora do país. Uma das agências internacionais que registraram o momento foi a Ruptly, que reproduz o discurso oficial do governo russo, aliado do ditador Bashar Assad.
Uma foto do menino ferido quando tinha 5 anos, sentado sozinho e com expressão de choque na traseira de uma ambulância após um ataque aéreo circulou por todo o mundo em agosto de 2016, ressaltando o sofrimento dos civis no leste sitiado de Alepo. O irmão mais velho dele, Ali, morreu devido aos ferimentos após o ataque.
O pai de Omran disse à repórter que seu filho está com boa saúde em Alepo - agora sob controle das forças do presidente sírio. Ele disse que cortou o cabelo do menino e mudou seu nome para evitar que seja sequestrado, acusando rebeldes de intimidarem sua família.
Não fica claro se a família foi coagida para participar do vídeo curto publicado no Facebook, a primeira vez em que Omran foi visto em público desde que foi ferido.
Valerie Szybala, do Instituto Síria, uma organização de pesquisa independente dedicada ao país, disse que a família provavelmente não teve liberdade de falar livremente. "Eles estão sob controle do governo agora, e este é um governo que sabemos que prende e tortura todos que se pronunciam contra ele... para mim a situação parece sugerir que isso provavelmente foi sob coação", disse Szybala à Reuters.
Sofrimento das crianças na Síria
A resistência dos rebeldes em Alepo terminou em dezembro, depois de anos de combates e meses de cerco e bombardeios que culminaram em uma retirada sangrenta quando os insurgentes concordaram em recuar durante um cessar-fogo. Na época, jornalistas contrários ao regime insinuaram que as primeiras fotografias - do menino sentado na ambulância - eram falsas, mas não houve prova de adulterações.
A guerra civil síria, que irrompeu em 2011, já matou estimadas 465 mil pessoas. / COM REUTERS