Novo referendo contra a UE


Agora é a Hungria que se volta contra o bloco, principalmente pela questão migratória

Por Gilles Lapouge, Correspondente e Paris

Uma nova tempestade se arma no já convulsionado céu da União Europeia: um novo referendo. Maldição! Na Comissão de Bruxelas, a simples palavra apavora. O resultado do Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia) lançou o bloco europeu num pesadelo do qual ninguém sabe dizer quando sairá. E eis que um segundo referendo se aproxima. Será na Hungria, em 2 de outubro. 

Obviamente, os efeitos dessa nova consulta não serão tão devastadores quanto os do Brexit. O peso econômico e político da Hungria não se compara ao do Reino Unido. A Hungria tem só 10 milhões de habitantes. Além disso, a proposta do referendo húngaro é mais modesta. O país não deixará a UE em caso de uma resposta negativa. 

Primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, que se opõe à entrada de imigrantes em seu território Foto: Tamas Kovacs/AP
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Mas a pergunta que será feita aos húngaros em 2 de outubro é explosiva. Ela diz respeito à acolhida reservada pela Europa aos migrantes que, vindos da África e da Ásia, continuam a entrar no espaço europeu. 

A Hungria, que está na frente no combate a esses imigrantes, multiplicou nos últimos anos suas proteções. Um muro foi levantado na fronteira sul do país. Uma barreira feroz de arame farpado separa o país da Sérvia e da Croácia. 

De nada adianta. Mesmo à custa de sofrimentos e ferimentos, os refugiados partem para o tudo ou nada. Com frequência conseguem passar. São hoje menos do que no ano passado, mas o número continua impressionante. Desde janeiro, 17 mil migrantes entraram na Hungria. 

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É verdade que não têm nenhuma vontade de ficar no país, que os mantém em condições precárias, às vezes indignas. Seu único desejo é deixar a Hungria para ir mais longe, para a Alemanha, por exemplo. Mas todas as fronteiras estão fechadas. Estão presos como peixe na rede. 

A União Europeia procura há um ano dar soluções dignas à tragédia dos migrantes. Atribuiu uma cota para cada país-membro absorver. E é contra essas cotas que Viktor Orban, líder da Hungria, vocifera há meses. Hoje ele saca contra elas a arma do referendo. Na verdade, saca contra Bruxelas. 

A pergunta a ser feita aos húngaros é simples: “Vocês aceitam que a União Europeia possa decretar uma realocação obrigatória de cidadãos não húngaros na Hungria, sem aprovação do Parlamento húngaro?”. Desnecessário dizer que a resposta de uma população violentamente xenófoba a tal pergunta será “não”. 

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Na realidade, essa revolta contra os migrantes é parte de um quadro mais amplo. Não passa de uma escaramuça na batalha que a Hungria de Viktor Orban trava há anos com a União Europeia. Nacionalista apaixonado, próximo aos populistas e à extrema direita, adepto do governo forte, Orban vomita toda a filosofia da UE.

Esse pirâmide de nações amontoadas sob a fiscalização de Bruxelas, essas leis que a UE impõe à Hungria, a filosofia humanista e democrática do bloco, a doutrina de laicidade – de tudo isso Orban abriria mão com satisfação. 

E ele não é o único. No leste da Europa, essa revolta é a língua comum. A Polônia é ainda mais próxima do fascismo que a Hungria. O horror aos migrantes endoidece também checos e eslovacos. 

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Para aumentar as tensões com Bruxelas, esses mesmos países do Leste Europeu não escondem que combatem os migrantes em nome da “nação”, mas também em nome de uma civilização e ainda de uma religião. Os checos só querem receber migrantes cristãos.

Na Hungria, o chefe da diplomacia econômica brada: “Somos húngaros. Não queremos permanecer numa Europa sem fronteiras. Somos cristãos e nos orgulhamos”. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ 

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A ruptura do Reino Unido com a União Europeia vai ser decidida no próximo dia 23, quando os britânicos vão às urnas em um referendo para dizer se querem ou não permanecer no bloco. De acordo com especialistas, o Brexit, como é chamada a possível saída, tem consequências não só para a Europa, mas para o mundo inteiro.

Uma nova tempestade se arma no já convulsionado céu da União Europeia: um novo referendo. Maldição! Na Comissão de Bruxelas, a simples palavra apavora. O resultado do Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia) lançou o bloco europeu num pesadelo do qual ninguém sabe dizer quando sairá. E eis que um segundo referendo se aproxima. Será na Hungria, em 2 de outubro. 

Obviamente, os efeitos dessa nova consulta não serão tão devastadores quanto os do Brexit. O peso econômico e político da Hungria não se compara ao do Reino Unido. A Hungria tem só 10 milhões de habitantes. Além disso, a proposta do referendo húngaro é mais modesta. O país não deixará a UE em caso de uma resposta negativa. 

Primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, que se opõe à entrada de imigrantes em seu território Foto: Tamas Kovacs/AP

Mas a pergunta que será feita aos húngaros em 2 de outubro é explosiva. Ela diz respeito à acolhida reservada pela Europa aos migrantes que, vindos da África e da Ásia, continuam a entrar no espaço europeu. 

A Hungria, que está na frente no combate a esses imigrantes, multiplicou nos últimos anos suas proteções. Um muro foi levantado na fronteira sul do país. Uma barreira feroz de arame farpado separa o país da Sérvia e da Croácia. 

De nada adianta. Mesmo à custa de sofrimentos e ferimentos, os refugiados partem para o tudo ou nada. Com frequência conseguem passar. São hoje menos do que no ano passado, mas o número continua impressionante. Desde janeiro, 17 mil migrantes entraram na Hungria. 

É verdade que não têm nenhuma vontade de ficar no país, que os mantém em condições precárias, às vezes indignas. Seu único desejo é deixar a Hungria para ir mais longe, para a Alemanha, por exemplo. Mas todas as fronteiras estão fechadas. Estão presos como peixe na rede. 

A União Europeia procura há um ano dar soluções dignas à tragédia dos migrantes. Atribuiu uma cota para cada país-membro absorver. E é contra essas cotas que Viktor Orban, líder da Hungria, vocifera há meses. Hoje ele saca contra elas a arma do referendo. Na verdade, saca contra Bruxelas. 

A pergunta a ser feita aos húngaros é simples: “Vocês aceitam que a União Europeia possa decretar uma realocação obrigatória de cidadãos não húngaros na Hungria, sem aprovação do Parlamento húngaro?”. Desnecessário dizer que a resposta de uma população violentamente xenófoba a tal pergunta será “não”. 

Na realidade, essa revolta contra os migrantes é parte de um quadro mais amplo. Não passa de uma escaramuça na batalha que a Hungria de Viktor Orban trava há anos com a União Europeia. Nacionalista apaixonado, próximo aos populistas e à extrema direita, adepto do governo forte, Orban vomita toda a filosofia da UE.

Esse pirâmide de nações amontoadas sob a fiscalização de Bruxelas, essas leis que a UE impõe à Hungria, a filosofia humanista e democrática do bloco, a doutrina de laicidade – de tudo isso Orban abriria mão com satisfação. 

E ele não é o único. No leste da Europa, essa revolta é a língua comum. A Polônia é ainda mais próxima do fascismo que a Hungria. O horror aos migrantes endoidece também checos e eslovacos. 

Para aumentar as tensões com Bruxelas, esses mesmos países do Leste Europeu não escondem que combatem os migrantes em nome da “nação”, mas também em nome de uma civilização e ainda de uma religião. Os checos só querem receber migrantes cristãos.

Na Hungria, o chefe da diplomacia econômica brada: “Somos húngaros. Não queremos permanecer numa Europa sem fronteiras. Somos cristãos e nos orgulhamos”. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ 

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A ruptura do Reino Unido com a União Europeia vai ser decidida no próximo dia 23, quando os britânicos vão às urnas em um referendo para dizer se querem ou não permanecer no bloco. De acordo com especialistas, o Brexit, como é chamada a possível saída, tem consequências não só para a Europa, mas para o mundo inteiro.

Uma nova tempestade se arma no já convulsionado céu da União Europeia: um novo referendo. Maldição! Na Comissão de Bruxelas, a simples palavra apavora. O resultado do Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia) lançou o bloco europeu num pesadelo do qual ninguém sabe dizer quando sairá. E eis que um segundo referendo se aproxima. Será na Hungria, em 2 de outubro. 

Obviamente, os efeitos dessa nova consulta não serão tão devastadores quanto os do Brexit. O peso econômico e político da Hungria não se compara ao do Reino Unido. A Hungria tem só 10 milhões de habitantes. Além disso, a proposta do referendo húngaro é mais modesta. O país não deixará a UE em caso de uma resposta negativa. 

Primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, que se opõe à entrada de imigrantes em seu território Foto: Tamas Kovacs/AP

Mas a pergunta que será feita aos húngaros em 2 de outubro é explosiva. Ela diz respeito à acolhida reservada pela Europa aos migrantes que, vindos da África e da Ásia, continuam a entrar no espaço europeu. 

A Hungria, que está na frente no combate a esses imigrantes, multiplicou nos últimos anos suas proteções. Um muro foi levantado na fronteira sul do país. Uma barreira feroz de arame farpado separa o país da Sérvia e da Croácia. 

De nada adianta. Mesmo à custa de sofrimentos e ferimentos, os refugiados partem para o tudo ou nada. Com frequência conseguem passar. São hoje menos do que no ano passado, mas o número continua impressionante. Desde janeiro, 17 mil migrantes entraram na Hungria. 

É verdade que não têm nenhuma vontade de ficar no país, que os mantém em condições precárias, às vezes indignas. Seu único desejo é deixar a Hungria para ir mais longe, para a Alemanha, por exemplo. Mas todas as fronteiras estão fechadas. Estão presos como peixe na rede. 

A União Europeia procura há um ano dar soluções dignas à tragédia dos migrantes. Atribuiu uma cota para cada país-membro absorver. E é contra essas cotas que Viktor Orban, líder da Hungria, vocifera há meses. Hoje ele saca contra elas a arma do referendo. Na verdade, saca contra Bruxelas. 

A pergunta a ser feita aos húngaros é simples: “Vocês aceitam que a União Europeia possa decretar uma realocação obrigatória de cidadãos não húngaros na Hungria, sem aprovação do Parlamento húngaro?”. Desnecessário dizer que a resposta de uma população violentamente xenófoba a tal pergunta será “não”. 

Na realidade, essa revolta contra os migrantes é parte de um quadro mais amplo. Não passa de uma escaramuça na batalha que a Hungria de Viktor Orban trava há anos com a União Europeia. Nacionalista apaixonado, próximo aos populistas e à extrema direita, adepto do governo forte, Orban vomita toda a filosofia da UE.

Esse pirâmide de nações amontoadas sob a fiscalização de Bruxelas, essas leis que a UE impõe à Hungria, a filosofia humanista e democrática do bloco, a doutrina de laicidade – de tudo isso Orban abriria mão com satisfação. 

E ele não é o único. No leste da Europa, essa revolta é a língua comum. A Polônia é ainda mais próxima do fascismo que a Hungria. O horror aos migrantes endoidece também checos e eslovacos. 

Para aumentar as tensões com Bruxelas, esses mesmos países do Leste Europeu não escondem que combatem os migrantes em nome da “nação”, mas também em nome de uma civilização e ainda de uma religião. Os checos só querem receber migrantes cristãos.

Na Hungria, o chefe da diplomacia econômica brada: “Somos húngaros. Não queremos permanecer numa Europa sem fronteiras. Somos cristãos e nos orgulhamos”. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ 

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A ruptura do Reino Unido com a União Europeia vai ser decidida no próximo dia 23, quando os britânicos vão às urnas em um referendo para dizer se querem ou não permanecer no bloco. De acordo com especialistas, o Brexit, como é chamada a possível saída, tem consequências não só para a Europa, mas para o mundo inteiro.

Uma nova tempestade se arma no já convulsionado céu da União Europeia: um novo referendo. Maldição! Na Comissão de Bruxelas, a simples palavra apavora. O resultado do Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia) lançou o bloco europeu num pesadelo do qual ninguém sabe dizer quando sairá. E eis que um segundo referendo se aproxima. Será na Hungria, em 2 de outubro. 

Obviamente, os efeitos dessa nova consulta não serão tão devastadores quanto os do Brexit. O peso econômico e político da Hungria não se compara ao do Reino Unido. A Hungria tem só 10 milhões de habitantes. Além disso, a proposta do referendo húngaro é mais modesta. O país não deixará a UE em caso de uma resposta negativa. 

Primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, que se opõe à entrada de imigrantes em seu território Foto: Tamas Kovacs/AP

Mas a pergunta que será feita aos húngaros em 2 de outubro é explosiva. Ela diz respeito à acolhida reservada pela Europa aos migrantes que, vindos da África e da Ásia, continuam a entrar no espaço europeu. 

A Hungria, que está na frente no combate a esses imigrantes, multiplicou nos últimos anos suas proteções. Um muro foi levantado na fronteira sul do país. Uma barreira feroz de arame farpado separa o país da Sérvia e da Croácia. 

De nada adianta. Mesmo à custa de sofrimentos e ferimentos, os refugiados partem para o tudo ou nada. Com frequência conseguem passar. São hoje menos do que no ano passado, mas o número continua impressionante. Desde janeiro, 17 mil migrantes entraram na Hungria. 

É verdade que não têm nenhuma vontade de ficar no país, que os mantém em condições precárias, às vezes indignas. Seu único desejo é deixar a Hungria para ir mais longe, para a Alemanha, por exemplo. Mas todas as fronteiras estão fechadas. Estão presos como peixe na rede. 

A União Europeia procura há um ano dar soluções dignas à tragédia dos migrantes. Atribuiu uma cota para cada país-membro absorver. E é contra essas cotas que Viktor Orban, líder da Hungria, vocifera há meses. Hoje ele saca contra elas a arma do referendo. Na verdade, saca contra Bruxelas. 

A pergunta a ser feita aos húngaros é simples: “Vocês aceitam que a União Europeia possa decretar uma realocação obrigatória de cidadãos não húngaros na Hungria, sem aprovação do Parlamento húngaro?”. Desnecessário dizer que a resposta de uma população violentamente xenófoba a tal pergunta será “não”. 

Na realidade, essa revolta contra os migrantes é parte de um quadro mais amplo. Não passa de uma escaramuça na batalha que a Hungria de Viktor Orban trava há anos com a União Europeia. Nacionalista apaixonado, próximo aos populistas e à extrema direita, adepto do governo forte, Orban vomita toda a filosofia da UE.

Esse pirâmide de nações amontoadas sob a fiscalização de Bruxelas, essas leis que a UE impõe à Hungria, a filosofia humanista e democrática do bloco, a doutrina de laicidade – de tudo isso Orban abriria mão com satisfação. 

E ele não é o único. No leste da Europa, essa revolta é a língua comum. A Polônia é ainda mais próxima do fascismo que a Hungria. O horror aos migrantes endoidece também checos e eslovacos. 

Para aumentar as tensões com Bruxelas, esses mesmos países do Leste Europeu não escondem que combatem os migrantes em nome da “nação”, mas também em nome de uma civilização e ainda de uma religião. Os checos só querem receber migrantes cristãos.

Na Hungria, o chefe da diplomacia econômica brada: “Somos húngaros. Não queremos permanecer numa Europa sem fronteiras. Somos cristãos e nos orgulhamos”. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ 

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A ruptura do Reino Unido com a União Europeia vai ser decidida no próximo dia 23, quando os britânicos vão às urnas em um referendo para dizer se querem ou não permanecer no bloco. De acordo com especialistas, o Brexit, como é chamada a possível saída, tem consequências não só para a Europa, mas para o mundo inteiro.

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