O imperativo populista


Por Paul Krugman

As falhas espantosas da sociedade econômica em que vivemos são sua incapacidade de prover pleno emprego e sua distribuição arbitrária e desigual de riqueza e rendas. John Maynard Keynes escreveu estas palavras em 1936, mas elas se aplicam ao nosso tempo também. Em um mundo melhor, nossos líderes estariam fazendo tudo que pudessem para corrigir ambas as falhas.Infelizmente, o mundo está muito aquém do ideal. Aliás, deveríamos nos considerar afortunados quando líderes enfrentam uma de nossas duas grandes falhas econômicas. Se, como foi amplamente noticiado, o presidente Barack Obama dedicar boa parte de seu discurso sobre o Estado da União de hoje à desigualdade, todos deveriam aplaudi-lo. Não o farão, é claro. Ele estará provavelmente sob dois tipos de ataque. Os suspeitos habituais da direita gritarão "luta de classes!", como fazem sempre diante de questões de distribuição de renda. Mas haverá também vozes aparentemente mais sérias argumentando que ele escolheu o alvo errado, que o emprego e não a desigualdade é que deveria estar no topo de sua agenda.Eis porque estão errados. Primeiro, emprego e desigualdade são questões estreitamente ligadas, se não idênticas. Há uma interpretação muito boa, embora não totalmente garantida, de que o aumento da desigualdade ajudou a preparar o cenário para a crise econômica, e a distribuição altamente desigual da renda desde a crise perpetuou a recessão, especialmente ao dificultar que famílias pagassem suas dívidas por meio do trabalho. Há uma consideração ainda mais forte a ser feita, de que o desemprego alto - ao destruir o poder de barganha dos trabalhadores - tornou-se uma importante fonte de aumento da desigualdade e estagnação da renda mesmo para os que tiveram a sorte suficiente de conseguir empregos.Além disso, desigualdade e política macroeconômica já estão inseparavelmente ligadas como questão política. Já ficou evidente que a obsessão pelo déficit que exerceu um efeito tão destruidor na política dos últimos anos não é movida realmente por preocupações com o endividamento federal. É sobretudo um esforço para usar o medo da dívida para assustar e intimidar a nação, levando-a a cortar programas sociais - em especial, os que ajudam os pobres. Por exemplo, dois terços dos cortes propostos no ano passado pelo deputado Paul Ryan, presidente da Comissão de Orçamento da Câmara, afetariam famílias de baixa renda.O lado oposto dessa tentativa de usar a tática do medo fiscal para piorar a desigualdade é que salientar preocupações com a desigualdade pode se traduzir também em reações negativas contra a austeridade destruidora de empregos. Mas a principal razão para Obama se concentrar na desigualdade é o realismo político. Quer se goste ou não, o simples fato é que os americanos "entendem" desigualdade; macroeconomia, nem tanto. Há um mito duradouro na "comentaristocracia" de que populismo não vende, que os americanos não ligam para a distância entre os ricos e todos os demais. Isso não é verdade. Sim, esta nação tem mais admiração que ressentimento pelo o sucesso, mas a maioria mesmo assim está incomodada com as disparidades extremas da Segunda Idade de Ouro. Uma pesquisa Pew revela que uma maioria avassaladora de americanos - e 45% de republicanos - apoia uma ação do governo para reduzir a desigualdade. Um maioria menor, mas ainda significativa, defende a taxação dos ricos para ajudar os pobres. E isso é verdade apesar de a maioria dos americanos não perceber a real desigualdade na distribuição da riqueza.É muito difícil comunicar até as verdades mais básicas da macroeconomia como a necessidade de incorrer em déficits para sustentar o emprego em tempos ruins. Pode-se argumentar que Obama devia se esforçar mais para transmitir essas ideias. Muitos economistas tremeram quando ele começou a reproduzir a retórica republicana sobre a necessidade de o governo federal apertar o cinto com as famílias americanas. Mas mesmo que ele tivesse tentado, é incerto se teria conseguido. Considerem o que houve em 1936. Franklin Roosevelt tinha acabado de obter uma vitória esmagadora, em grande parte pelo sucesso de suas políticas de déficit. É comum esquecerem, mas seu primeiro mandato foi marcado por uma rápida recuperação econômica e uma acentuada queda do desemprego. Mas o público continuava ligado à ortodoxia econômica: por uma maioria de mais de 2 para 1, os eleitores pesquisados pelo Gallup pouco depois da eleição pediram um orçamento equilibrado. E Roosevelt, infelizmente, os escutou. Não demorou para sua tentativa de equilibrar o orçamento mergulhar o país novamente na recessão. A questão é que, dos dois grandes problemas da economia americana, a desigualdade é aquele com o qual Obama mais provavelmente se conectará aos eleitores. E ele deve buscar essa conexão com clara consciência: não há vergonha nenhuma em reconhecer a realidade política, contanto que se esteja tentando fazer a coisa certa. Por isso, espero que ouçamos alguma coisa sobre empregos hoje à noite, e algumas críticas à histeria do déficit. Mas se ouvirmos principalmente sobre desigualdade e justiça social, tudo bem. TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK *Paul Krugman é colunista.

As falhas espantosas da sociedade econômica em que vivemos são sua incapacidade de prover pleno emprego e sua distribuição arbitrária e desigual de riqueza e rendas. John Maynard Keynes escreveu estas palavras em 1936, mas elas se aplicam ao nosso tempo também. Em um mundo melhor, nossos líderes estariam fazendo tudo que pudessem para corrigir ambas as falhas.Infelizmente, o mundo está muito aquém do ideal. Aliás, deveríamos nos considerar afortunados quando líderes enfrentam uma de nossas duas grandes falhas econômicas. Se, como foi amplamente noticiado, o presidente Barack Obama dedicar boa parte de seu discurso sobre o Estado da União de hoje à desigualdade, todos deveriam aplaudi-lo. Não o farão, é claro. Ele estará provavelmente sob dois tipos de ataque. Os suspeitos habituais da direita gritarão "luta de classes!", como fazem sempre diante de questões de distribuição de renda. Mas haverá também vozes aparentemente mais sérias argumentando que ele escolheu o alvo errado, que o emprego e não a desigualdade é que deveria estar no topo de sua agenda.Eis porque estão errados. Primeiro, emprego e desigualdade são questões estreitamente ligadas, se não idênticas. Há uma interpretação muito boa, embora não totalmente garantida, de que o aumento da desigualdade ajudou a preparar o cenário para a crise econômica, e a distribuição altamente desigual da renda desde a crise perpetuou a recessão, especialmente ao dificultar que famílias pagassem suas dívidas por meio do trabalho. Há uma consideração ainda mais forte a ser feita, de que o desemprego alto - ao destruir o poder de barganha dos trabalhadores - tornou-se uma importante fonte de aumento da desigualdade e estagnação da renda mesmo para os que tiveram a sorte suficiente de conseguir empregos.Além disso, desigualdade e política macroeconômica já estão inseparavelmente ligadas como questão política. Já ficou evidente que a obsessão pelo déficit que exerceu um efeito tão destruidor na política dos últimos anos não é movida realmente por preocupações com o endividamento federal. É sobretudo um esforço para usar o medo da dívida para assustar e intimidar a nação, levando-a a cortar programas sociais - em especial, os que ajudam os pobres. Por exemplo, dois terços dos cortes propostos no ano passado pelo deputado Paul Ryan, presidente da Comissão de Orçamento da Câmara, afetariam famílias de baixa renda.O lado oposto dessa tentativa de usar a tática do medo fiscal para piorar a desigualdade é que salientar preocupações com a desigualdade pode se traduzir também em reações negativas contra a austeridade destruidora de empregos. Mas a principal razão para Obama se concentrar na desigualdade é o realismo político. Quer se goste ou não, o simples fato é que os americanos "entendem" desigualdade; macroeconomia, nem tanto. Há um mito duradouro na "comentaristocracia" de que populismo não vende, que os americanos não ligam para a distância entre os ricos e todos os demais. Isso não é verdade. Sim, esta nação tem mais admiração que ressentimento pelo o sucesso, mas a maioria mesmo assim está incomodada com as disparidades extremas da Segunda Idade de Ouro. Uma pesquisa Pew revela que uma maioria avassaladora de americanos - e 45% de republicanos - apoia uma ação do governo para reduzir a desigualdade. Um maioria menor, mas ainda significativa, defende a taxação dos ricos para ajudar os pobres. E isso é verdade apesar de a maioria dos americanos não perceber a real desigualdade na distribuição da riqueza.É muito difícil comunicar até as verdades mais básicas da macroeconomia como a necessidade de incorrer em déficits para sustentar o emprego em tempos ruins. Pode-se argumentar que Obama devia se esforçar mais para transmitir essas ideias. Muitos economistas tremeram quando ele começou a reproduzir a retórica republicana sobre a necessidade de o governo federal apertar o cinto com as famílias americanas. Mas mesmo que ele tivesse tentado, é incerto se teria conseguido. Considerem o que houve em 1936. Franklin Roosevelt tinha acabado de obter uma vitória esmagadora, em grande parte pelo sucesso de suas políticas de déficit. É comum esquecerem, mas seu primeiro mandato foi marcado por uma rápida recuperação econômica e uma acentuada queda do desemprego. Mas o público continuava ligado à ortodoxia econômica: por uma maioria de mais de 2 para 1, os eleitores pesquisados pelo Gallup pouco depois da eleição pediram um orçamento equilibrado. E Roosevelt, infelizmente, os escutou. Não demorou para sua tentativa de equilibrar o orçamento mergulhar o país novamente na recessão. A questão é que, dos dois grandes problemas da economia americana, a desigualdade é aquele com o qual Obama mais provavelmente se conectará aos eleitores. E ele deve buscar essa conexão com clara consciência: não há vergonha nenhuma em reconhecer a realidade política, contanto que se esteja tentando fazer a coisa certa. Por isso, espero que ouçamos alguma coisa sobre empregos hoje à noite, e algumas críticas à histeria do déficit. Mas se ouvirmos principalmente sobre desigualdade e justiça social, tudo bem. TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK *Paul Krugman é colunista.

As falhas espantosas da sociedade econômica em que vivemos são sua incapacidade de prover pleno emprego e sua distribuição arbitrária e desigual de riqueza e rendas. John Maynard Keynes escreveu estas palavras em 1936, mas elas se aplicam ao nosso tempo também. Em um mundo melhor, nossos líderes estariam fazendo tudo que pudessem para corrigir ambas as falhas.Infelizmente, o mundo está muito aquém do ideal. Aliás, deveríamos nos considerar afortunados quando líderes enfrentam uma de nossas duas grandes falhas econômicas. Se, como foi amplamente noticiado, o presidente Barack Obama dedicar boa parte de seu discurso sobre o Estado da União de hoje à desigualdade, todos deveriam aplaudi-lo. Não o farão, é claro. Ele estará provavelmente sob dois tipos de ataque. Os suspeitos habituais da direita gritarão "luta de classes!", como fazem sempre diante de questões de distribuição de renda. Mas haverá também vozes aparentemente mais sérias argumentando que ele escolheu o alvo errado, que o emprego e não a desigualdade é que deveria estar no topo de sua agenda.Eis porque estão errados. Primeiro, emprego e desigualdade são questões estreitamente ligadas, se não idênticas. Há uma interpretação muito boa, embora não totalmente garantida, de que o aumento da desigualdade ajudou a preparar o cenário para a crise econômica, e a distribuição altamente desigual da renda desde a crise perpetuou a recessão, especialmente ao dificultar que famílias pagassem suas dívidas por meio do trabalho. Há uma consideração ainda mais forte a ser feita, de que o desemprego alto - ao destruir o poder de barganha dos trabalhadores - tornou-se uma importante fonte de aumento da desigualdade e estagnação da renda mesmo para os que tiveram a sorte suficiente de conseguir empregos.Além disso, desigualdade e política macroeconômica já estão inseparavelmente ligadas como questão política. Já ficou evidente que a obsessão pelo déficit que exerceu um efeito tão destruidor na política dos últimos anos não é movida realmente por preocupações com o endividamento federal. É sobretudo um esforço para usar o medo da dívida para assustar e intimidar a nação, levando-a a cortar programas sociais - em especial, os que ajudam os pobres. Por exemplo, dois terços dos cortes propostos no ano passado pelo deputado Paul Ryan, presidente da Comissão de Orçamento da Câmara, afetariam famílias de baixa renda.O lado oposto dessa tentativa de usar a tática do medo fiscal para piorar a desigualdade é que salientar preocupações com a desigualdade pode se traduzir também em reações negativas contra a austeridade destruidora de empregos. Mas a principal razão para Obama se concentrar na desigualdade é o realismo político. Quer se goste ou não, o simples fato é que os americanos "entendem" desigualdade; macroeconomia, nem tanto. Há um mito duradouro na "comentaristocracia" de que populismo não vende, que os americanos não ligam para a distância entre os ricos e todos os demais. Isso não é verdade. Sim, esta nação tem mais admiração que ressentimento pelo o sucesso, mas a maioria mesmo assim está incomodada com as disparidades extremas da Segunda Idade de Ouro. Uma pesquisa Pew revela que uma maioria avassaladora de americanos - e 45% de republicanos - apoia uma ação do governo para reduzir a desigualdade. Um maioria menor, mas ainda significativa, defende a taxação dos ricos para ajudar os pobres. E isso é verdade apesar de a maioria dos americanos não perceber a real desigualdade na distribuição da riqueza.É muito difícil comunicar até as verdades mais básicas da macroeconomia como a necessidade de incorrer em déficits para sustentar o emprego em tempos ruins. Pode-se argumentar que Obama devia se esforçar mais para transmitir essas ideias. Muitos economistas tremeram quando ele começou a reproduzir a retórica republicana sobre a necessidade de o governo federal apertar o cinto com as famílias americanas. Mas mesmo que ele tivesse tentado, é incerto se teria conseguido. Considerem o que houve em 1936. Franklin Roosevelt tinha acabado de obter uma vitória esmagadora, em grande parte pelo sucesso de suas políticas de déficit. É comum esquecerem, mas seu primeiro mandato foi marcado por uma rápida recuperação econômica e uma acentuada queda do desemprego. Mas o público continuava ligado à ortodoxia econômica: por uma maioria de mais de 2 para 1, os eleitores pesquisados pelo Gallup pouco depois da eleição pediram um orçamento equilibrado. E Roosevelt, infelizmente, os escutou. Não demorou para sua tentativa de equilibrar o orçamento mergulhar o país novamente na recessão. A questão é que, dos dois grandes problemas da economia americana, a desigualdade é aquele com o qual Obama mais provavelmente se conectará aos eleitores. E ele deve buscar essa conexão com clara consciência: não há vergonha nenhuma em reconhecer a realidade política, contanto que se esteja tentando fazer a coisa certa. Por isso, espero que ouçamos alguma coisa sobre empregos hoje à noite, e algumas críticas à histeria do déficit. Mas se ouvirmos principalmente sobre desigualdade e justiça social, tudo bem. TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK *Paul Krugman é colunista.

As falhas espantosas da sociedade econômica em que vivemos são sua incapacidade de prover pleno emprego e sua distribuição arbitrária e desigual de riqueza e rendas. John Maynard Keynes escreveu estas palavras em 1936, mas elas se aplicam ao nosso tempo também. Em um mundo melhor, nossos líderes estariam fazendo tudo que pudessem para corrigir ambas as falhas.Infelizmente, o mundo está muito aquém do ideal. Aliás, deveríamos nos considerar afortunados quando líderes enfrentam uma de nossas duas grandes falhas econômicas. Se, como foi amplamente noticiado, o presidente Barack Obama dedicar boa parte de seu discurso sobre o Estado da União de hoje à desigualdade, todos deveriam aplaudi-lo. Não o farão, é claro. Ele estará provavelmente sob dois tipos de ataque. Os suspeitos habituais da direita gritarão "luta de classes!", como fazem sempre diante de questões de distribuição de renda. Mas haverá também vozes aparentemente mais sérias argumentando que ele escolheu o alvo errado, que o emprego e não a desigualdade é que deveria estar no topo de sua agenda.Eis porque estão errados. Primeiro, emprego e desigualdade são questões estreitamente ligadas, se não idênticas. Há uma interpretação muito boa, embora não totalmente garantida, de que o aumento da desigualdade ajudou a preparar o cenário para a crise econômica, e a distribuição altamente desigual da renda desde a crise perpetuou a recessão, especialmente ao dificultar que famílias pagassem suas dívidas por meio do trabalho. Há uma consideração ainda mais forte a ser feita, de que o desemprego alto - ao destruir o poder de barganha dos trabalhadores - tornou-se uma importante fonte de aumento da desigualdade e estagnação da renda mesmo para os que tiveram a sorte suficiente de conseguir empregos.Além disso, desigualdade e política macroeconômica já estão inseparavelmente ligadas como questão política. Já ficou evidente que a obsessão pelo déficit que exerceu um efeito tão destruidor na política dos últimos anos não é movida realmente por preocupações com o endividamento federal. É sobretudo um esforço para usar o medo da dívida para assustar e intimidar a nação, levando-a a cortar programas sociais - em especial, os que ajudam os pobres. Por exemplo, dois terços dos cortes propostos no ano passado pelo deputado Paul Ryan, presidente da Comissão de Orçamento da Câmara, afetariam famílias de baixa renda.O lado oposto dessa tentativa de usar a tática do medo fiscal para piorar a desigualdade é que salientar preocupações com a desigualdade pode se traduzir também em reações negativas contra a austeridade destruidora de empregos. Mas a principal razão para Obama se concentrar na desigualdade é o realismo político. Quer se goste ou não, o simples fato é que os americanos "entendem" desigualdade; macroeconomia, nem tanto. Há um mito duradouro na "comentaristocracia" de que populismo não vende, que os americanos não ligam para a distância entre os ricos e todos os demais. Isso não é verdade. Sim, esta nação tem mais admiração que ressentimento pelo o sucesso, mas a maioria mesmo assim está incomodada com as disparidades extremas da Segunda Idade de Ouro. Uma pesquisa Pew revela que uma maioria avassaladora de americanos - e 45% de republicanos - apoia uma ação do governo para reduzir a desigualdade. Um maioria menor, mas ainda significativa, defende a taxação dos ricos para ajudar os pobres. E isso é verdade apesar de a maioria dos americanos não perceber a real desigualdade na distribuição da riqueza.É muito difícil comunicar até as verdades mais básicas da macroeconomia como a necessidade de incorrer em déficits para sustentar o emprego em tempos ruins. Pode-se argumentar que Obama devia se esforçar mais para transmitir essas ideias. Muitos economistas tremeram quando ele começou a reproduzir a retórica republicana sobre a necessidade de o governo federal apertar o cinto com as famílias americanas. Mas mesmo que ele tivesse tentado, é incerto se teria conseguido. Considerem o que houve em 1936. Franklin Roosevelt tinha acabado de obter uma vitória esmagadora, em grande parte pelo sucesso de suas políticas de déficit. É comum esquecerem, mas seu primeiro mandato foi marcado por uma rápida recuperação econômica e uma acentuada queda do desemprego. Mas o público continuava ligado à ortodoxia econômica: por uma maioria de mais de 2 para 1, os eleitores pesquisados pelo Gallup pouco depois da eleição pediram um orçamento equilibrado. E Roosevelt, infelizmente, os escutou. Não demorou para sua tentativa de equilibrar o orçamento mergulhar o país novamente na recessão. A questão é que, dos dois grandes problemas da economia americana, a desigualdade é aquele com o qual Obama mais provavelmente se conectará aos eleitores. E ele deve buscar essa conexão com clara consciência: não há vergonha nenhuma em reconhecer a realidade política, contanto que se esteja tentando fazer a coisa certa. Por isso, espero que ouçamos alguma coisa sobre empregos hoje à noite, e algumas críticas à histeria do déficit. Mas se ouvirmos principalmente sobre desigualdade e justiça social, tudo bem. TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK *Paul Krugman é colunista.

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