QUITO - As eleições deste domingo, 19, no Equador, nas quais mais de 12,8 milhões de eleitores devem escolher o sucessor de Rafael Correa, chegam em uma complicada situação econômica e implicam um desafio para a desacreditada esquerda latino-americana.
referenceO adeus a Correa
Para começar, os equatorianos avaliam a saída de Correa após dez anos de governo socialista com sua "revolução cidadã". Personalista e confrontador, carismático e polêmico, o economista de 53 anos formado nos Estados Unidos e na Europa liderou o período mais estável da história recente do país, em parte graças à bonança petroleira com a qual modernizou o país e elevou seus índices de desenvolvimento.
Sua saída, em meio a uma delicada situação econômica, deixa o governo desgastado e a oposição sem seu grande inimigo. "A ausência de Correa, a fraqueza do candidato correísta e a divisão entre os candidatos anti-correístas borraram a campanha", explicou à AFP o cientista político Simón Pachano.
Um segundo turno?
As eleições, nas quais serão escolhidos presidente, vice-presidente, 137 deputados e cinco representantes no Parlamento Andino para 2017-2021, prometem ser disputadas.
Nenhum candidato está certo de que vencerá o primeiro turno - para isso é necessário 40% dos votos e 10 pontos de vantagem à frente do segundo mais votado. Pela primeira vez desde 2006, é muito provável haver um segundo turno, que seria em 2 de abril.
O ex-vice-presidente Lenín Moreno, adepto do correísmo, lidera a disputa (32,3%), seguido por dois conservadores: o ex-banqueiro Guillermo Lasso (21,5%) e a ex-deputada Cynthia Viteri (14%). Mais distante, aparece o ex-prefeito esquerdista de Quito Paco Moncayo (7,7%). "Estas eleições vão ser uma espécie de primárias da direita", opinou o analista Franklin Ramírez.
Sem dúvida, os votos dos indecisos, que rondam em 30% a 35%, serão fundamentais. As urnas vão abrir às 7 horas (9 horas de Brasília) e fechar às 17 horas (19 horas de Brasília) de domingo, e os resultados são esperados às 20 horas (22 horas de Brasília).
Modelos antagônicos
A disputa eleitoral esteve dominada por situações que sacodem a economia do Equador: catástrofe petroleira, desvalorização das moedas vizinhas, fortalecimento do dólar e altíssimos custos pelo terremoto de abril de 2016.
Esta "tempestade perfeita", segundo o governo, é uma possibilidade para a oposição de atiçar o descontentamento das classes médias e baixas, que falam de esbanjamento e má gestão.
Mas, sobretudo, coloca em jogo os modelos opostos. Por um lado, a continuação de Moreno, com um sistema que combina um grande gasto social com altos impostos e elevado endividamento. Por outro, a mudança de Lasso e Viteri, que procuram fomentar o investimento estrangeiro e a diminuição dos impostos para estimular o consumo e a produção nacional.
Um convidado inesperado também apareceu: a corrupção, com casos como o da petroleira estatal Petroecuador, que envolveu um ex-ministro de Correa, e os dos supostos subornos da empreiteira Odebrecht a funcionários equatorianos, contabilizados em US$ 33,5 milhões. Os eleitores dirão se são "distorções" da campanha, como afirma Correa.
Mais "restauração conservadora"?
Esta eleição também supõe um novo teste para a esquerda da América Latina, após a guinada da direita no Brasil, Argentina e Peru no último ano.
Os equatorianos poderão frear o que Correa define como a "restauração conservadora" na região. Mas, se não o fizerem, o Equador deixará sozinhas a Venezuela de Nicolás Maduro e a Bolívia de Evo Morales.
Asilo a Assange
O resultado de domingo pode ser decisivo para o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, asilado pelo Equador em sua embaixada em Londres desde 2012 para evitar ser extraditado à Suécia por supostos crimes sexuais, que ele nega.
Moreno é partidário de manter seu asilo, mas Lasso e Viteri disseram que, se chegarem ao poder, vão retirá-lo.
Assange, que em novembro foi interrogado pela Justiça, teme ser entregue aos EUA para ser julgado pela publicação de centenas de milhares de documentos secretos sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão, assim como de 250 mil cabos da diplomacia americana. /AFP