O blog da Internacional do Estadão

VISÃO GLOBAL: A dura realidade sobre o Irã


Por redacaointer

Enquanto Obama joga, ao estilo iraniano, para ganhar tempo até depois da eleição presidencial, Teerã finge mais uma vez se dispor a negociar seu programa nuclear

JOHN VINOCURTHE NEW YORK TIMES

Má notícia: o governo de Barack Obama e o Ocidente estão com cartas péssimas na mão no momento em que vão entabular conversações com o Irã. Num mundo de sonhos e milagres, as conversações, que começarão hoje, terminariam com os mulás desistindo de seu empenho para obter armas nucleares e a dispersão de uma nuvem carregada de presságios e mágoas. A realidade diz outra coisa, de três maneiras. Ela demonstra que os iranianos estão encorajados pelo fato de o Ocidente recuar no caso da Síria. Ela reconhece que alguns dos aliados têm preocupações sérias sobre a disposição de Barack Obama de fazer concessões e estender as negociações, jogando para ganhar tempo, ao estilo iraniano, até depois da eleição presidencial americana. E impõe a conclusão de que não há maneira visível de essas chamadas conversas para construção de confiança (não as chamem negociações) poderem produzir uma confiança suficientemente sólida para EUA, Grã-Bretanha, França e Alemanha acreditarem que o Irã está disposto a pôr de lado o programa militar nuclear que eles o acusam de estar desenvolvendo. Apoiado por Rússia e China, Teerã tem poucos motivos para oferecer mais que uma reformulação de seu labirinto normal de negações e ambiguidades em resposta às cartas diplomáticas fracas do Ocidente. Há apenas um mês, o governo Obama falava sobre a saída iminente do dirigente sírio Bashar Assad. Sua deposição teria desferido um poderoso golpe no Irã, que vê Assad como seu mais próximo aliado e a Síria como Estado-tampão. Mas o Ocidente cedeu em face da resistência russa e chinesa, retirando seu projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU em que pedia a saída de Assad e solicitava à Rússia que parasse de fornecer armas à Síria. Não se seguiu nenhuma ação concreta do Ocidente. Assad permanece. Esse é um precedente terrível. Na semana passada, perguntei a Gérard Longuet, o ministro da Defesa da França, como ele descreveria agora a situação na Síria. Sua franqueza foi chocante: "O Irã ganhou o round e a Rússia foi sua cúmplice". Resultado: um Irã fortalecido. Aliás, um Parlamentar iraniano disse no fim de semana que o Irã já pode produzir urânio enriquecido a 90% e, com isso, em teoria, uma arma nuclear. Isso é tanto um teste como uma provocação. É também uma maneira de dizer (e de provocar a dissensão entre os aliados) que o Ocidente já está tolerando um Irã com capacidade nuclear - isto é, um que não montou uma arma, mas dispõe da tecnologia e dos componentes necessários, como o Japão. Ao mesmo tempo, o governo Obama deixou seus congêneres europeus com uma certeza virtual: que ele quer que as conversações se estendam até o dia da eleição presidencial, 4 de novembro. Isso tem base na premissa frágil de que Israel relutará em atacar o Irã enquanto o diálogo prosseguir. Os franceses, nesse contexto, estão se descrevendo como "guardiães do templo", insinuando que suspeitam de concessões americanas que reduzam ou contornem os requisitos do Conselho de Segurança para os mulás provarem seu total desengajamento da busca de armas nucleares (pensem, no pior caso, em um acordo triangular com Rússia e Irã refletindo o apelo de Obama a Vladimir Putin por "espaço" em troca de "flexibilidade" na defesa antimísseis). Na verdade, a França é contra um ataque israelense. Mas quando se trata de exercer pressão, Longuet disse, aparentemente se dirigindo ao governo americano: "O verdadeiro problema no Oriente Médio é o Irã, não Israel". Temeria ele um grande conflito internacional - como autoridades do governo advertem - no caso de um ataque? "Internacional, não", respondeu. Não há otimismo em parte alguma de que as conversações terão êxito. Então, o que fazer? Obama devia esclarecer que as novas sanções ao Irã, com o acréscimo de proibições envolvendo o comércio de petróleo da Europa a partir de 1.º de julho, se intensificarão na ausência de passos conclusivos, verificáveis, do Irã para interromper sua busca de armas nucleares. Ele poderia perfeitamente tentar conseguir mais "espaço" - e transpor a eleição no processo - tentando unificar as linhas de tempo americana e israelense, sobre quando o impulso do Irã se torna irreversível. Num artigo, com frequência mencionado como oficioso, em fins de janeiro, o jornalista israelense Ronen Bergman disse que Israel acreditava dispor de 9 meses para agir antes de alvos iranianos entrarem numa "zona de imunidade", enquanto considerava que os EUA, com suas capacidades militares mais amplas, disporiam de 15. Não há garantias de que Israel estenderia seu quadro de tempo nocional para 15 meses, mas Washington poderia tentar fornecendo-lhe mais aviões de reabastecimento e 200 bombas de penetração maciça antibunker GBU-31. Fazendo isso com tempo de sobra no relógio para alguma demonstração de anuência inconfundível de Teerã traçaria, ao mesmo tempo, uma linha divisória definindo para os mulás o que o presidente quis dizer quando declarou que os EUA sempre "apoiariam Israel". Sua posição natural se, como é provável, o prazo se esgotar? Obama, assim como o Irã, está preso ao fato de ter dito num ano eleitoral que acha "totalmente apropriado" que "líderes de Israel façam determinações com base no que consideram ser o melhor para a segurança de Israel". / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

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É JORNALISTA

Enquanto Obama joga, ao estilo iraniano, para ganhar tempo até depois da eleição presidencial, Teerã finge mais uma vez se dispor a negociar seu programa nuclear

JOHN VINOCURTHE NEW YORK TIMES

Má notícia: o governo de Barack Obama e o Ocidente estão com cartas péssimas na mão no momento em que vão entabular conversações com o Irã. Num mundo de sonhos e milagres, as conversações, que começarão hoje, terminariam com os mulás desistindo de seu empenho para obter armas nucleares e a dispersão de uma nuvem carregada de presságios e mágoas. A realidade diz outra coisa, de três maneiras. Ela demonstra que os iranianos estão encorajados pelo fato de o Ocidente recuar no caso da Síria. Ela reconhece que alguns dos aliados têm preocupações sérias sobre a disposição de Barack Obama de fazer concessões e estender as negociações, jogando para ganhar tempo, ao estilo iraniano, até depois da eleição presidencial americana. E impõe a conclusão de que não há maneira visível de essas chamadas conversas para construção de confiança (não as chamem negociações) poderem produzir uma confiança suficientemente sólida para EUA, Grã-Bretanha, França e Alemanha acreditarem que o Irã está disposto a pôr de lado o programa militar nuclear que eles o acusam de estar desenvolvendo. Apoiado por Rússia e China, Teerã tem poucos motivos para oferecer mais que uma reformulação de seu labirinto normal de negações e ambiguidades em resposta às cartas diplomáticas fracas do Ocidente. Há apenas um mês, o governo Obama falava sobre a saída iminente do dirigente sírio Bashar Assad. Sua deposição teria desferido um poderoso golpe no Irã, que vê Assad como seu mais próximo aliado e a Síria como Estado-tampão. Mas o Ocidente cedeu em face da resistência russa e chinesa, retirando seu projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU em que pedia a saída de Assad e solicitava à Rússia que parasse de fornecer armas à Síria. Não se seguiu nenhuma ação concreta do Ocidente. Assad permanece. Esse é um precedente terrível. Na semana passada, perguntei a Gérard Longuet, o ministro da Defesa da França, como ele descreveria agora a situação na Síria. Sua franqueza foi chocante: "O Irã ganhou o round e a Rússia foi sua cúmplice". Resultado: um Irã fortalecido. Aliás, um Parlamentar iraniano disse no fim de semana que o Irã já pode produzir urânio enriquecido a 90% e, com isso, em teoria, uma arma nuclear. Isso é tanto um teste como uma provocação. É também uma maneira de dizer (e de provocar a dissensão entre os aliados) que o Ocidente já está tolerando um Irã com capacidade nuclear - isto é, um que não montou uma arma, mas dispõe da tecnologia e dos componentes necessários, como o Japão. Ao mesmo tempo, o governo Obama deixou seus congêneres europeus com uma certeza virtual: que ele quer que as conversações se estendam até o dia da eleição presidencial, 4 de novembro. Isso tem base na premissa frágil de que Israel relutará em atacar o Irã enquanto o diálogo prosseguir. Os franceses, nesse contexto, estão se descrevendo como "guardiães do templo", insinuando que suspeitam de concessões americanas que reduzam ou contornem os requisitos do Conselho de Segurança para os mulás provarem seu total desengajamento da busca de armas nucleares (pensem, no pior caso, em um acordo triangular com Rússia e Irã refletindo o apelo de Obama a Vladimir Putin por "espaço" em troca de "flexibilidade" na defesa antimísseis). Na verdade, a França é contra um ataque israelense. Mas quando se trata de exercer pressão, Longuet disse, aparentemente se dirigindo ao governo americano: "O verdadeiro problema no Oriente Médio é o Irã, não Israel". Temeria ele um grande conflito internacional - como autoridades do governo advertem - no caso de um ataque? "Internacional, não", respondeu. Não há otimismo em parte alguma de que as conversações terão êxito. Então, o que fazer? Obama devia esclarecer que as novas sanções ao Irã, com o acréscimo de proibições envolvendo o comércio de petróleo da Europa a partir de 1.º de julho, se intensificarão na ausência de passos conclusivos, verificáveis, do Irã para interromper sua busca de armas nucleares. Ele poderia perfeitamente tentar conseguir mais "espaço" - e transpor a eleição no processo - tentando unificar as linhas de tempo americana e israelense, sobre quando o impulso do Irã se torna irreversível. Num artigo, com frequência mencionado como oficioso, em fins de janeiro, o jornalista israelense Ronen Bergman disse que Israel acreditava dispor de 9 meses para agir antes de alvos iranianos entrarem numa "zona de imunidade", enquanto considerava que os EUA, com suas capacidades militares mais amplas, disporiam de 15. Não há garantias de que Israel estenderia seu quadro de tempo nocional para 15 meses, mas Washington poderia tentar fornecendo-lhe mais aviões de reabastecimento e 200 bombas de penetração maciça antibunker GBU-31. Fazendo isso com tempo de sobra no relógio para alguma demonstração de anuência inconfundível de Teerã traçaria, ao mesmo tempo, uma linha divisória definindo para os mulás o que o presidente quis dizer quando declarou que os EUA sempre "apoiariam Israel". Sua posição natural se, como é provável, o prazo se esgotar? Obama, assim como o Irã, está preso ao fato de ter dito num ano eleitoral que acha "totalmente apropriado" que "líderes de Israel façam determinações com base no que consideram ser o melhor para a segurança de Israel". / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

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Enquanto Obama joga, ao estilo iraniano, para ganhar tempo até depois da eleição presidencial, Teerã finge mais uma vez se dispor a negociar seu programa nuclear

JOHN VINOCURTHE NEW YORK TIMES

Má notícia: o governo de Barack Obama e o Ocidente estão com cartas péssimas na mão no momento em que vão entabular conversações com o Irã. Num mundo de sonhos e milagres, as conversações, que começarão hoje, terminariam com os mulás desistindo de seu empenho para obter armas nucleares e a dispersão de uma nuvem carregada de presságios e mágoas. A realidade diz outra coisa, de três maneiras. Ela demonstra que os iranianos estão encorajados pelo fato de o Ocidente recuar no caso da Síria. Ela reconhece que alguns dos aliados têm preocupações sérias sobre a disposição de Barack Obama de fazer concessões e estender as negociações, jogando para ganhar tempo, ao estilo iraniano, até depois da eleição presidencial americana. E impõe a conclusão de que não há maneira visível de essas chamadas conversas para construção de confiança (não as chamem negociações) poderem produzir uma confiança suficientemente sólida para EUA, Grã-Bretanha, França e Alemanha acreditarem que o Irã está disposto a pôr de lado o programa militar nuclear que eles o acusam de estar desenvolvendo. Apoiado por Rússia e China, Teerã tem poucos motivos para oferecer mais que uma reformulação de seu labirinto normal de negações e ambiguidades em resposta às cartas diplomáticas fracas do Ocidente. Há apenas um mês, o governo Obama falava sobre a saída iminente do dirigente sírio Bashar Assad. Sua deposição teria desferido um poderoso golpe no Irã, que vê Assad como seu mais próximo aliado e a Síria como Estado-tampão. Mas o Ocidente cedeu em face da resistência russa e chinesa, retirando seu projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU em que pedia a saída de Assad e solicitava à Rússia que parasse de fornecer armas à Síria. Não se seguiu nenhuma ação concreta do Ocidente. Assad permanece. Esse é um precedente terrível. Na semana passada, perguntei a Gérard Longuet, o ministro da Defesa da França, como ele descreveria agora a situação na Síria. Sua franqueza foi chocante: "O Irã ganhou o round e a Rússia foi sua cúmplice". Resultado: um Irã fortalecido. Aliás, um Parlamentar iraniano disse no fim de semana que o Irã já pode produzir urânio enriquecido a 90% e, com isso, em teoria, uma arma nuclear. Isso é tanto um teste como uma provocação. É também uma maneira de dizer (e de provocar a dissensão entre os aliados) que o Ocidente já está tolerando um Irã com capacidade nuclear - isto é, um que não montou uma arma, mas dispõe da tecnologia e dos componentes necessários, como o Japão. Ao mesmo tempo, o governo Obama deixou seus congêneres europeus com uma certeza virtual: que ele quer que as conversações se estendam até o dia da eleição presidencial, 4 de novembro. Isso tem base na premissa frágil de que Israel relutará em atacar o Irã enquanto o diálogo prosseguir. Os franceses, nesse contexto, estão se descrevendo como "guardiães do templo", insinuando que suspeitam de concessões americanas que reduzam ou contornem os requisitos do Conselho de Segurança para os mulás provarem seu total desengajamento da busca de armas nucleares (pensem, no pior caso, em um acordo triangular com Rússia e Irã refletindo o apelo de Obama a Vladimir Putin por "espaço" em troca de "flexibilidade" na defesa antimísseis). Na verdade, a França é contra um ataque israelense. Mas quando se trata de exercer pressão, Longuet disse, aparentemente se dirigindo ao governo americano: "O verdadeiro problema no Oriente Médio é o Irã, não Israel". Temeria ele um grande conflito internacional - como autoridades do governo advertem - no caso de um ataque? "Internacional, não", respondeu. Não há otimismo em parte alguma de que as conversações terão êxito. Então, o que fazer? Obama devia esclarecer que as novas sanções ao Irã, com o acréscimo de proibições envolvendo o comércio de petróleo da Europa a partir de 1.º de julho, se intensificarão na ausência de passos conclusivos, verificáveis, do Irã para interromper sua busca de armas nucleares. Ele poderia perfeitamente tentar conseguir mais "espaço" - e transpor a eleição no processo - tentando unificar as linhas de tempo americana e israelense, sobre quando o impulso do Irã se torna irreversível. Num artigo, com frequência mencionado como oficioso, em fins de janeiro, o jornalista israelense Ronen Bergman disse que Israel acreditava dispor de 9 meses para agir antes de alvos iranianos entrarem numa "zona de imunidade", enquanto considerava que os EUA, com suas capacidades militares mais amplas, disporiam de 15. Não há garantias de que Israel estenderia seu quadro de tempo nocional para 15 meses, mas Washington poderia tentar fornecendo-lhe mais aviões de reabastecimento e 200 bombas de penetração maciça antibunker GBU-31. Fazendo isso com tempo de sobra no relógio para alguma demonstração de anuência inconfundível de Teerã traçaria, ao mesmo tempo, uma linha divisória definindo para os mulás o que o presidente quis dizer quando declarou que os EUA sempre "apoiariam Israel". Sua posição natural se, como é provável, o prazo se esgotar? Obama, assim como o Irã, está preso ao fato de ter dito num ano eleitoral que acha "totalmente apropriado" que "líderes de Israel façam determinações com base no que consideram ser o melhor para a segurança de Israel". / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

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Enquanto Obama joga, ao estilo iraniano, para ganhar tempo até depois da eleição presidencial, Teerã finge mais uma vez se dispor a negociar seu programa nuclear

JOHN VINOCURTHE NEW YORK TIMES

Má notícia: o governo de Barack Obama e o Ocidente estão com cartas péssimas na mão no momento em que vão entabular conversações com o Irã. Num mundo de sonhos e milagres, as conversações, que começarão hoje, terminariam com os mulás desistindo de seu empenho para obter armas nucleares e a dispersão de uma nuvem carregada de presságios e mágoas. A realidade diz outra coisa, de três maneiras. Ela demonstra que os iranianos estão encorajados pelo fato de o Ocidente recuar no caso da Síria. Ela reconhece que alguns dos aliados têm preocupações sérias sobre a disposição de Barack Obama de fazer concessões e estender as negociações, jogando para ganhar tempo, ao estilo iraniano, até depois da eleição presidencial americana. E impõe a conclusão de que não há maneira visível de essas chamadas conversas para construção de confiança (não as chamem negociações) poderem produzir uma confiança suficientemente sólida para EUA, Grã-Bretanha, França e Alemanha acreditarem que o Irã está disposto a pôr de lado o programa militar nuclear que eles o acusam de estar desenvolvendo. Apoiado por Rússia e China, Teerã tem poucos motivos para oferecer mais que uma reformulação de seu labirinto normal de negações e ambiguidades em resposta às cartas diplomáticas fracas do Ocidente. Há apenas um mês, o governo Obama falava sobre a saída iminente do dirigente sírio Bashar Assad. Sua deposição teria desferido um poderoso golpe no Irã, que vê Assad como seu mais próximo aliado e a Síria como Estado-tampão. Mas o Ocidente cedeu em face da resistência russa e chinesa, retirando seu projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU em que pedia a saída de Assad e solicitava à Rússia que parasse de fornecer armas à Síria. Não se seguiu nenhuma ação concreta do Ocidente. Assad permanece. Esse é um precedente terrível. Na semana passada, perguntei a Gérard Longuet, o ministro da Defesa da França, como ele descreveria agora a situação na Síria. Sua franqueza foi chocante: "O Irã ganhou o round e a Rússia foi sua cúmplice". Resultado: um Irã fortalecido. Aliás, um Parlamentar iraniano disse no fim de semana que o Irã já pode produzir urânio enriquecido a 90% e, com isso, em teoria, uma arma nuclear. Isso é tanto um teste como uma provocação. É também uma maneira de dizer (e de provocar a dissensão entre os aliados) que o Ocidente já está tolerando um Irã com capacidade nuclear - isto é, um que não montou uma arma, mas dispõe da tecnologia e dos componentes necessários, como o Japão. Ao mesmo tempo, o governo Obama deixou seus congêneres europeus com uma certeza virtual: que ele quer que as conversações se estendam até o dia da eleição presidencial, 4 de novembro. Isso tem base na premissa frágil de que Israel relutará em atacar o Irã enquanto o diálogo prosseguir. Os franceses, nesse contexto, estão se descrevendo como "guardiães do templo", insinuando que suspeitam de concessões americanas que reduzam ou contornem os requisitos do Conselho de Segurança para os mulás provarem seu total desengajamento da busca de armas nucleares (pensem, no pior caso, em um acordo triangular com Rússia e Irã refletindo o apelo de Obama a Vladimir Putin por "espaço" em troca de "flexibilidade" na defesa antimísseis). Na verdade, a França é contra um ataque israelense. Mas quando se trata de exercer pressão, Longuet disse, aparentemente se dirigindo ao governo americano: "O verdadeiro problema no Oriente Médio é o Irã, não Israel". Temeria ele um grande conflito internacional - como autoridades do governo advertem - no caso de um ataque? "Internacional, não", respondeu. Não há otimismo em parte alguma de que as conversações terão êxito. Então, o que fazer? Obama devia esclarecer que as novas sanções ao Irã, com o acréscimo de proibições envolvendo o comércio de petróleo da Europa a partir de 1.º de julho, se intensificarão na ausência de passos conclusivos, verificáveis, do Irã para interromper sua busca de armas nucleares. Ele poderia perfeitamente tentar conseguir mais "espaço" - e transpor a eleição no processo - tentando unificar as linhas de tempo americana e israelense, sobre quando o impulso do Irã se torna irreversível. Num artigo, com frequência mencionado como oficioso, em fins de janeiro, o jornalista israelense Ronen Bergman disse que Israel acreditava dispor de 9 meses para agir antes de alvos iranianos entrarem numa "zona de imunidade", enquanto considerava que os EUA, com suas capacidades militares mais amplas, disporiam de 15. Não há garantias de que Israel estenderia seu quadro de tempo nocional para 15 meses, mas Washington poderia tentar fornecendo-lhe mais aviões de reabastecimento e 200 bombas de penetração maciça antibunker GBU-31. Fazendo isso com tempo de sobra no relógio para alguma demonstração de anuência inconfundível de Teerã traçaria, ao mesmo tempo, uma linha divisória definindo para os mulás o que o presidente quis dizer quando declarou que os EUA sempre "apoiariam Israel". Sua posição natural se, como é provável, o prazo se esgotar? Obama, assim como o Irã, está preso ao fato de ter dito num ano eleitoral que acha "totalmente apropriado" que "líderes de Israel façam determinações com base no que consideram ser o melhor para a segurança de Israel". / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

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