O blog da Internacional do Estadão

VISÃO GLOBAL: Mais cheiro de pólvora no ar


Por redacaointer

Ecos do período que antecedeu guerra do Iraque são inconfundíveis, mesmo sem certeza sobre objetivos do Irã

SCOTT SHANE, THE NEW YORK TIMES , É JORNALISTA

Os EUA sustentaram até agora aquela que é - de acordo com determinados critérios - sua guerra mais prolongada, com mais de 6.300 soldados americanos mortos e 46 mil feridos no Iraque e no Afeganistão, além de um custo estimado em US$ 3 trilhões. As guerras duraram muito mais do que o previsto, com resultados decepcionantes.

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Então, por que já podemos sentir no ar um novo odor de pólvora? Os debates a respeito de um possível conflito envolvendo o programa nuclear do Irã alcançaram um tom estridente nas últimas semanas, com Israel intensificando as ameaças de um possível ataque, a oratória dos políticos americanos tornando-se mais belicosa e o Irã respondendo em geral num tom desafiador. Enquanto Israel e Irã trocam acusações e suspeitas de armar complôs assassinos, alguns analistas enxergam o perigo de precipitar uma guerra que inevitavelmente envolveria os EUA.

Os ecos do período que antecedeu a guerra do Iraque, em 2003, são inconfundíveis, e acendem um debate já conhecido a respeito da possibilidade de a imprensa estar exagerando ao relatar os avanços do Irã na construção da bomba. Entretanto, há uma diferença considerável: diferentemente de 2003, quando o governo Bush retratava o Iraque como uma ameaça iminente, os representantes do governo Obama e os profissionais dos serviços de informações parecem ansiosos por acalmar a retórica febril e agressiva.

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Recentemente, o general Martin Dempsey, chefe das Forças Armadas americanas, disse à CNN que os EUA alertaram Israel para o fato de que a decisão de atacar neste momento teria como resultado uma "desestabilização", acrescentando que o Irã ainda não decidiu se construirá uma arma.

Graham Allison, um dos principais especialistas em estratégia nuclear da Universidade Harvard, comparou a evolução do conflito em torno do programa nuclear iraniano a uma "versão em câmera lenta da crise dos mísseis de Cuba", na qual ambas partes dispõem de informações pouco claras e os ânimos estão exacerbados. "Observando Irã, Israel e EUA, podemos perceber que eles avançam lenta porém inexoravelmente para uma colisão", disse ele.

Outra diferença fundamental em relação ao debate antes da guerra em 2003 é o papel central de Israel, que considera a possibilidade da construção de uma arma nuclear iraniana uma ameaça à sua própria existência e advertiu que em breve o Irã terá construído instalações nucleares muito abaixo da superfície, que não poderão ser alcançadas pelos bombardeiros.

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A posição de Israel encontrou um ambiente politicamente favorável nos EUA. Com a notável exceção do deputado Ron Paul, do Texas, os candidatos republicanos à presidência disputaram espaço fazendo declarações em que ameaçavam o Irã e definiam-se como protetores de Israel.

Apesar de uma década de guerra, a maioria dos americanos parece apoiar o espírito marcial dos políticos. Numa pesquisa de opinião realizada este mês pelo Pew Research Center, 58% dos entrevistados disseram que os EUA deveriam usar força militar, se necessário, para evitar que o Irã desenvolva armas nucleares. Somente 30% dos participantes foram contrários à ideia. "Isso me parece curioso", disse Richard K. Betts, da Universidade Columbia, que estuda ameaças à segurança desde a Guerra Fria. "Depois de sofrer tantos golpes no Iraque e no Afeganistão, seria de se imaginar que houvesse uma razão instintiva sugerindo a contenção dos ânimos."

Micah Zenko, que estuda a prevenção de conflitos no Conselho das Relações Exteriores, enxerga um padrão: "Sempre existe a crença de que a próxima guerra terá resultado melhor do que a última". Diante de um desafio à segurança, tanto políticos quanto o povo "desejam 'fazer alguma coisa'", disse Zenko. "E não há nada tão capaz de 'fazer alguma coisa' quanto o poderio militar."

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São as principais forças do establishment militar e de espionagem que buscam um contraponto à linguagem dos políticos quanto ao programa nuclear iraniano. Em audiência da semana passada, o senador republicano Lindsey Graham questionou James R. Clapper Jr., diretor da Inteligência Nacional dos EUA, se ele tinha dúvidas quanto às intenções iranianas de fabricar a arma atômica. "Tenho sim", respondeu Clapper. "Há certas coisas que eles ainda não fizeram e coisas que não fazem há algum tempo", acrescentou, referindo-se a etapas da preparação de um dispositivo nuclear.

Peter Feaver, da Universidade Duke, que estuda a opinião pública em relação à guerra e trabalhou no governo de George W. Bush, disse que a política do governo Obama está agora "exatamente no ponto médio da opinião pública americana em relação ao Irã" - ou seja, assumindo uma linha dura contra um Irã armado com bombas nucleares, mas opondo-se a medidas militares no presente. Feaver alerta que, com a aproximação das eleições de novembro, a retórica belicosa deve aumentar. "Este é o perigo habitual de se debater crises de política externa numa campanha eleitoral", disse ele. "Na tentativa de explicar uma posição complexa, acaba-se transmitindo a impressão de algo completamente vago." / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA E AUGUSTO CALIL

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Ecos do período que antecedeu guerra do Iraque são inconfundíveis, mesmo sem certeza sobre objetivos do Irã

SCOTT SHANE, THE NEW YORK TIMES , É JORNALISTA

Os EUA sustentaram até agora aquela que é - de acordo com determinados critérios - sua guerra mais prolongada, com mais de 6.300 soldados americanos mortos e 46 mil feridos no Iraque e no Afeganistão, além de um custo estimado em US$ 3 trilhões. As guerras duraram muito mais do que o previsto, com resultados decepcionantes.

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Então, por que já podemos sentir no ar um novo odor de pólvora? Os debates a respeito de um possível conflito envolvendo o programa nuclear do Irã alcançaram um tom estridente nas últimas semanas, com Israel intensificando as ameaças de um possível ataque, a oratória dos políticos americanos tornando-se mais belicosa e o Irã respondendo em geral num tom desafiador. Enquanto Israel e Irã trocam acusações e suspeitas de armar complôs assassinos, alguns analistas enxergam o perigo de precipitar uma guerra que inevitavelmente envolveria os EUA.

Os ecos do período que antecedeu a guerra do Iraque, em 2003, são inconfundíveis, e acendem um debate já conhecido a respeito da possibilidade de a imprensa estar exagerando ao relatar os avanços do Irã na construção da bomba. Entretanto, há uma diferença considerável: diferentemente de 2003, quando o governo Bush retratava o Iraque como uma ameaça iminente, os representantes do governo Obama e os profissionais dos serviços de informações parecem ansiosos por acalmar a retórica febril e agressiva.

Recentemente, o general Martin Dempsey, chefe das Forças Armadas americanas, disse à CNN que os EUA alertaram Israel para o fato de que a decisão de atacar neste momento teria como resultado uma "desestabilização", acrescentando que o Irã ainda não decidiu se construirá uma arma.

Graham Allison, um dos principais especialistas em estratégia nuclear da Universidade Harvard, comparou a evolução do conflito em torno do programa nuclear iraniano a uma "versão em câmera lenta da crise dos mísseis de Cuba", na qual ambas partes dispõem de informações pouco claras e os ânimos estão exacerbados. "Observando Irã, Israel e EUA, podemos perceber que eles avançam lenta porém inexoravelmente para uma colisão", disse ele.

Outra diferença fundamental em relação ao debate antes da guerra em 2003 é o papel central de Israel, que considera a possibilidade da construção de uma arma nuclear iraniana uma ameaça à sua própria existência e advertiu que em breve o Irã terá construído instalações nucleares muito abaixo da superfície, que não poderão ser alcançadas pelos bombardeiros.

A posição de Israel encontrou um ambiente politicamente favorável nos EUA. Com a notável exceção do deputado Ron Paul, do Texas, os candidatos republicanos à presidência disputaram espaço fazendo declarações em que ameaçavam o Irã e definiam-se como protetores de Israel.

Apesar de uma década de guerra, a maioria dos americanos parece apoiar o espírito marcial dos políticos. Numa pesquisa de opinião realizada este mês pelo Pew Research Center, 58% dos entrevistados disseram que os EUA deveriam usar força militar, se necessário, para evitar que o Irã desenvolva armas nucleares. Somente 30% dos participantes foram contrários à ideia. "Isso me parece curioso", disse Richard K. Betts, da Universidade Columbia, que estuda ameaças à segurança desde a Guerra Fria. "Depois de sofrer tantos golpes no Iraque e no Afeganistão, seria de se imaginar que houvesse uma razão instintiva sugerindo a contenção dos ânimos."

Micah Zenko, que estuda a prevenção de conflitos no Conselho das Relações Exteriores, enxerga um padrão: "Sempre existe a crença de que a próxima guerra terá resultado melhor do que a última". Diante de um desafio à segurança, tanto políticos quanto o povo "desejam 'fazer alguma coisa'", disse Zenko. "E não há nada tão capaz de 'fazer alguma coisa' quanto o poderio militar."

São as principais forças do establishment militar e de espionagem que buscam um contraponto à linguagem dos políticos quanto ao programa nuclear iraniano. Em audiência da semana passada, o senador republicano Lindsey Graham questionou James R. Clapper Jr., diretor da Inteligência Nacional dos EUA, se ele tinha dúvidas quanto às intenções iranianas de fabricar a arma atômica. "Tenho sim", respondeu Clapper. "Há certas coisas que eles ainda não fizeram e coisas que não fazem há algum tempo", acrescentou, referindo-se a etapas da preparação de um dispositivo nuclear.

Peter Feaver, da Universidade Duke, que estuda a opinião pública em relação à guerra e trabalhou no governo de George W. Bush, disse que a política do governo Obama está agora "exatamente no ponto médio da opinião pública americana em relação ao Irã" - ou seja, assumindo uma linha dura contra um Irã armado com bombas nucleares, mas opondo-se a medidas militares no presente. Feaver alerta que, com a aproximação das eleições de novembro, a retórica belicosa deve aumentar. "Este é o perigo habitual de se debater crises de política externa numa campanha eleitoral", disse ele. "Na tentativa de explicar uma posição complexa, acaba-se transmitindo a impressão de algo completamente vago." / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA E AUGUSTO CALIL

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SCOTT SHANE, THE NEW YORK TIMES , É JORNALISTA

Os EUA sustentaram até agora aquela que é - de acordo com determinados critérios - sua guerra mais prolongada, com mais de 6.300 soldados americanos mortos e 46 mil feridos no Iraque e no Afeganistão, além de um custo estimado em US$ 3 trilhões. As guerras duraram muito mais do que o previsto, com resultados decepcionantes.

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Então, por que já podemos sentir no ar um novo odor de pólvora? Os debates a respeito de um possível conflito envolvendo o programa nuclear do Irã alcançaram um tom estridente nas últimas semanas, com Israel intensificando as ameaças de um possível ataque, a oratória dos políticos americanos tornando-se mais belicosa e o Irã respondendo em geral num tom desafiador. Enquanto Israel e Irã trocam acusações e suspeitas de armar complôs assassinos, alguns analistas enxergam o perigo de precipitar uma guerra que inevitavelmente envolveria os EUA.

Os ecos do período que antecedeu a guerra do Iraque, em 2003, são inconfundíveis, e acendem um debate já conhecido a respeito da possibilidade de a imprensa estar exagerando ao relatar os avanços do Irã na construção da bomba. Entretanto, há uma diferença considerável: diferentemente de 2003, quando o governo Bush retratava o Iraque como uma ameaça iminente, os representantes do governo Obama e os profissionais dos serviços de informações parecem ansiosos por acalmar a retórica febril e agressiva.

Recentemente, o general Martin Dempsey, chefe das Forças Armadas americanas, disse à CNN que os EUA alertaram Israel para o fato de que a decisão de atacar neste momento teria como resultado uma "desestabilização", acrescentando que o Irã ainda não decidiu se construirá uma arma.

Graham Allison, um dos principais especialistas em estratégia nuclear da Universidade Harvard, comparou a evolução do conflito em torno do programa nuclear iraniano a uma "versão em câmera lenta da crise dos mísseis de Cuba", na qual ambas partes dispõem de informações pouco claras e os ânimos estão exacerbados. "Observando Irã, Israel e EUA, podemos perceber que eles avançam lenta porém inexoravelmente para uma colisão", disse ele.

Outra diferença fundamental em relação ao debate antes da guerra em 2003 é o papel central de Israel, que considera a possibilidade da construção de uma arma nuclear iraniana uma ameaça à sua própria existência e advertiu que em breve o Irã terá construído instalações nucleares muito abaixo da superfície, que não poderão ser alcançadas pelos bombardeiros.

A posição de Israel encontrou um ambiente politicamente favorável nos EUA. Com a notável exceção do deputado Ron Paul, do Texas, os candidatos republicanos à presidência disputaram espaço fazendo declarações em que ameaçavam o Irã e definiam-se como protetores de Israel.

Apesar de uma década de guerra, a maioria dos americanos parece apoiar o espírito marcial dos políticos. Numa pesquisa de opinião realizada este mês pelo Pew Research Center, 58% dos entrevistados disseram que os EUA deveriam usar força militar, se necessário, para evitar que o Irã desenvolva armas nucleares. Somente 30% dos participantes foram contrários à ideia. "Isso me parece curioso", disse Richard K. Betts, da Universidade Columbia, que estuda ameaças à segurança desde a Guerra Fria. "Depois de sofrer tantos golpes no Iraque e no Afeganistão, seria de se imaginar que houvesse uma razão instintiva sugerindo a contenção dos ânimos."

Micah Zenko, que estuda a prevenção de conflitos no Conselho das Relações Exteriores, enxerga um padrão: "Sempre existe a crença de que a próxima guerra terá resultado melhor do que a última". Diante de um desafio à segurança, tanto políticos quanto o povo "desejam 'fazer alguma coisa'", disse Zenko. "E não há nada tão capaz de 'fazer alguma coisa' quanto o poderio militar."

São as principais forças do establishment militar e de espionagem que buscam um contraponto à linguagem dos políticos quanto ao programa nuclear iraniano. Em audiência da semana passada, o senador republicano Lindsey Graham questionou James R. Clapper Jr., diretor da Inteligência Nacional dos EUA, se ele tinha dúvidas quanto às intenções iranianas de fabricar a arma atômica. "Tenho sim", respondeu Clapper. "Há certas coisas que eles ainda não fizeram e coisas que não fazem há algum tempo", acrescentou, referindo-se a etapas da preparação de um dispositivo nuclear.

Peter Feaver, da Universidade Duke, que estuda a opinião pública em relação à guerra e trabalhou no governo de George W. Bush, disse que a política do governo Obama está agora "exatamente no ponto médio da opinião pública americana em relação ao Irã" - ou seja, assumindo uma linha dura contra um Irã armado com bombas nucleares, mas opondo-se a medidas militares no presente. Feaver alerta que, com a aproximação das eleições de novembro, a retórica belicosa deve aumentar. "Este é o perigo habitual de se debater crises de política externa numa campanha eleitoral", disse ele. "Na tentativa de explicar uma posição complexa, acaba-se transmitindo a impressão de algo completamente vago." / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA E AUGUSTO CALIL

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Ecos do período que antecedeu guerra do Iraque são inconfundíveis, mesmo sem certeza sobre objetivos do Irã

SCOTT SHANE, THE NEW YORK TIMES , É JORNALISTA

Os EUA sustentaram até agora aquela que é - de acordo com determinados critérios - sua guerra mais prolongada, com mais de 6.300 soldados americanos mortos e 46 mil feridos no Iraque e no Afeganistão, além de um custo estimado em US$ 3 trilhões. As guerras duraram muito mais do que o previsto, com resultados decepcionantes.

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Então, por que já podemos sentir no ar um novo odor de pólvora? Os debates a respeito de um possível conflito envolvendo o programa nuclear do Irã alcançaram um tom estridente nas últimas semanas, com Israel intensificando as ameaças de um possível ataque, a oratória dos políticos americanos tornando-se mais belicosa e o Irã respondendo em geral num tom desafiador. Enquanto Israel e Irã trocam acusações e suspeitas de armar complôs assassinos, alguns analistas enxergam o perigo de precipitar uma guerra que inevitavelmente envolveria os EUA.

Os ecos do período que antecedeu a guerra do Iraque, em 2003, são inconfundíveis, e acendem um debate já conhecido a respeito da possibilidade de a imprensa estar exagerando ao relatar os avanços do Irã na construção da bomba. Entretanto, há uma diferença considerável: diferentemente de 2003, quando o governo Bush retratava o Iraque como uma ameaça iminente, os representantes do governo Obama e os profissionais dos serviços de informações parecem ansiosos por acalmar a retórica febril e agressiva.

Recentemente, o general Martin Dempsey, chefe das Forças Armadas americanas, disse à CNN que os EUA alertaram Israel para o fato de que a decisão de atacar neste momento teria como resultado uma "desestabilização", acrescentando que o Irã ainda não decidiu se construirá uma arma.

Graham Allison, um dos principais especialistas em estratégia nuclear da Universidade Harvard, comparou a evolução do conflito em torno do programa nuclear iraniano a uma "versão em câmera lenta da crise dos mísseis de Cuba", na qual ambas partes dispõem de informações pouco claras e os ânimos estão exacerbados. "Observando Irã, Israel e EUA, podemos perceber que eles avançam lenta porém inexoravelmente para uma colisão", disse ele.

Outra diferença fundamental em relação ao debate antes da guerra em 2003 é o papel central de Israel, que considera a possibilidade da construção de uma arma nuclear iraniana uma ameaça à sua própria existência e advertiu que em breve o Irã terá construído instalações nucleares muito abaixo da superfície, que não poderão ser alcançadas pelos bombardeiros.

A posição de Israel encontrou um ambiente politicamente favorável nos EUA. Com a notável exceção do deputado Ron Paul, do Texas, os candidatos republicanos à presidência disputaram espaço fazendo declarações em que ameaçavam o Irã e definiam-se como protetores de Israel.

Apesar de uma década de guerra, a maioria dos americanos parece apoiar o espírito marcial dos políticos. Numa pesquisa de opinião realizada este mês pelo Pew Research Center, 58% dos entrevistados disseram que os EUA deveriam usar força militar, se necessário, para evitar que o Irã desenvolva armas nucleares. Somente 30% dos participantes foram contrários à ideia. "Isso me parece curioso", disse Richard K. Betts, da Universidade Columbia, que estuda ameaças à segurança desde a Guerra Fria. "Depois de sofrer tantos golpes no Iraque e no Afeganistão, seria de se imaginar que houvesse uma razão instintiva sugerindo a contenção dos ânimos."

Micah Zenko, que estuda a prevenção de conflitos no Conselho das Relações Exteriores, enxerga um padrão: "Sempre existe a crença de que a próxima guerra terá resultado melhor do que a última". Diante de um desafio à segurança, tanto políticos quanto o povo "desejam 'fazer alguma coisa'", disse Zenko. "E não há nada tão capaz de 'fazer alguma coisa' quanto o poderio militar."

São as principais forças do establishment militar e de espionagem que buscam um contraponto à linguagem dos políticos quanto ao programa nuclear iraniano. Em audiência da semana passada, o senador republicano Lindsey Graham questionou James R. Clapper Jr., diretor da Inteligência Nacional dos EUA, se ele tinha dúvidas quanto às intenções iranianas de fabricar a arma atômica. "Tenho sim", respondeu Clapper. "Há certas coisas que eles ainda não fizeram e coisas que não fazem há algum tempo", acrescentou, referindo-se a etapas da preparação de um dispositivo nuclear.

Peter Feaver, da Universidade Duke, que estuda a opinião pública em relação à guerra e trabalhou no governo de George W. Bush, disse que a política do governo Obama está agora "exatamente no ponto médio da opinião pública americana em relação ao Irã" - ou seja, assumindo uma linha dura contra um Irã armado com bombas nucleares, mas opondo-se a medidas militares no presente. Feaver alerta que, com a aproximação das eleições de novembro, a retórica belicosa deve aumentar. "Este é o perigo habitual de se debater crises de política externa numa campanha eleitoral", disse ele. "Na tentativa de explicar uma posição complexa, acaba-se transmitindo a impressão de algo completamente vago." / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA E AUGUSTO CALIL

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