SANLIURFA, TURQUIA - Sentada no tapete ao lado dos avós em um dos três cômodos vazios do apartamento onde mora, a jovem Pervin, de 17 anos, diz não ter sonhos depois que a família fugiu da cidade síria de Kobani para a Turquia, expulsa pela guerra contra o governo de Bassar Assad e pela invasão de jihadistas do Estado Islâmico (EI).
Com olhar triste e jeito tímido, a jovem conta que não estuda desde que mudou para o bairro turco de Sigorta, na periferia de Sanliurfa (a 100 km de sua cidade natal), há quatro meses. “Só penso em como posso me sustentar”, diz.
referenceO avô de Pervin, Muhammed Besir, de 63 anos, relembra o dia da fuga, em que saiu só com a roupa do corpo, de carona com o vizinho. Além dele e da neta, estavam a mulher, Hatice, e duas filhas. Gastaram o dinheiro que conseguiram levar com o aluguel do imóvel onde vivem e agora recebem doações. Eles não podem trabalhar formalmente porque o governo turco fornece documentos e visto para permanência temporária dos sírios no país, não os reconhecendo como refugiados.
A cidade onde moravam, Kobani, é um dos principais redutos curdos na Síria e passou a ser alvo dos jihadistas do EI no ano passado. Desde então, quase 150 mil pessoas fugiram do local, que é bombardeado diariamente. Em novembro, 150 combatentes iraquianos, conhecidos como peshmergas, conseguiram passagem pela Turquia para reforçar a ação dos curdos sírios em Kobani.
Fuga. Com a saída em massa da cidade, muitos sírios passaram a viver na Turquia. Em apenas dois dias de setembro, 120 mil pessoas chegaram à fronteira, segundo o coordenador-geral de Refugiados Sírios na Turquia, Veysel Dalmaz. Ele diz que a intenção é manter a entrada dos sírios até que a situação melhore. “A preocupação é que o terrorismo se espalhe pela região e, para combatê-lo, precisamos de união. Consideramos que a situação vai melhorar.”