Um dia de glória para Sarkozy


Por Gilles Lapouge

A Champs Elysées estava magnífica na manhã de ontem. Soldados, tanques, canhões e aviões. Pára-quedistas de elite pousaram na frente da tribuna oficial, repleta de celebridades. Ingrid Betancourt, evidentemente, e chefes de Estado. Entre eles, muitos do Oriente Médio, como o sírio Bashar Assad - que parecia atônito por ter passado tão rapidamente da condição de líder de um Estado terrorista para a de chefe de Estado digno de estima. No centro do cenário, Nicolas Sarkozy. Sorridente, glorioso, cheio de tiques. Pelo menos desta vez, sua satisfação era compreensível. Ele conseguiu uma façanha: reunir em Paris chefes de Estado que se detestam. Colocar juntos um israelense, um palestino, um sírio, um tunisiano e um libanês foi quase uma magia. Mesmo a esquerda concordou (fazendo caretas). Mesmo aqueles que se exasperam com a arrogância, a vaidade, a vulgaridade e a violência de Sarkozy, foram obrigados a aplaudir. Pela ousadia, astúcia, audácia e dialética, Sarkozy conseguiu reposicionar a França no centro do imbróglio do Oriente Médio. Mas as interrogações permanecem. A mais incômoda diz respeito exatamente a Assad, repentinamente reconciliado com os libaneses que a Síria por tanto tempo tentou submeter - chegando ao ponto de assassinar o ex-primeiro-ministro Rafic Hariri. Essa mesma Síria que, em 1983, matou 58 soldados franceses num atentado. E matou também um embaixador da França. "Esta manhã", disse um opositor francês, "o Exército da França desfilou diante de um grupo de tiranos e alguns assassinos". A questão é: para apaziguar o Oriente Médio, será preciso perdoar e receber com pompa alguém como Assad? Quando se deseja a paz, não é com o inimigo que é preciso falar? Outro foco de descontentamento neste dia de triunfo para Sarkozy é o Exército, que se sente desprezado pelo presidente. Serão cortados 58 mil soldados em nome da "modernização" e da " economia". Os militares estão também amargurados com o fato de que, com a diplomacia "atlantista" de Sarkozy, o Exército francês poderá ser mobilizado em regiões longínquas e perigosas, como Darfur, Costa do Marfim, Afeganistão, etc. Assim, ao baixarem as belas bandeiras do 14 de Julho, muitas perguntas, muito azedume e muitas angústias subsistirão. É claro que a bela estrutura diplomática traçada por Sarkozy em torno da sua União pelo Mediterrâneo, envolvendo no seu projeto chefes de Estado tão inquietantes como Assad, é uma obra-prima. É brilhante, vertiginosa. Mas é um pouco frágil. Uma tempestade pode pôr abaixo o belo edifício. * Gilles Lapouge é correspondente em Paris

A Champs Elysées estava magnífica na manhã de ontem. Soldados, tanques, canhões e aviões. Pára-quedistas de elite pousaram na frente da tribuna oficial, repleta de celebridades. Ingrid Betancourt, evidentemente, e chefes de Estado. Entre eles, muitos do Oriente Médio, como o sírio Bashar Assad - que parecia atônito por ter passado tão rapidamente da condição de líder de um Estado terrorista para a de chefe de Estado digno de estima. No centro do cenário, Nicolas Sarkozy. Sorridente, glorioso, cheio de tiques. Pelo menos desta vez, sua satisfação era compreensível. Ele conseguiu uma façanha: reunir em Paris chefes de Estado que se detestam. Colocar juntos um israelense, um palestino, um sírio, um tunisiano e um libanês foi quase uma magia. Mesmo a esquerda concordou (fazendo caretas). Mesmo aqueles que se exasperam com a arrogância, a vaidade, a vulgaridade e a violência de Sarkozy, foram obrigados a aplaudir. Pela ousadia, astúcia, audácia e dialética, Sarkozy conseguiu reposicionar a França no centro do imbróglio do Oriente Médio. Mas as interrogações permanecem. A mais incômoda diz respeito exatamente a Assad, repentinamente reconciliado com os libaneses que a Síria por tanto tempo tentou submeter - chegando ao ponto de assassinar o ex-primeiro-ministro Rafic Hariri. Essa mesma Síria que, em 1983, matou 58 soldados franceses num atentado. E matou também um embaixador da França. "Esta manhã", disse um opositor francês, "o Exército da França desfilou diante de um grupo de tiranos e alguns assassinos". A questão é: para apaziguar o Oriente Médio, será preciso perdoar e receber com pompa alguém como Assad? Quando se deseja a paz, não é com o inimigo que é preciso falar? Outro foco de descontentamento neste dia de triunfo para Sarkozy é o Exército, que se sente desprezado pelo presidente. Serão cortados 58 mil soldados em nome da "modernização" e da " economia". Os militares estão também amargurados com o fato de que, com a diplomacia "atlantista" de Sarkozy, o Exército francês poderá ser mobilizado em regiões longínquas e perigosas, como Darfur, Costa do Marfim, Afeganistão, etc. Assim, ao baixarem as belas bandeiras do 14 de Julho, muitas perguntas, muito azedume e muitas angústias subsistirão. É claro que a bela estrutura diplomática traçada por Sarkozy em torno da sua União pelo Mediterrâneo, envolvendo no seu projeto chefes de Estado tão inquietantes como Assad, é uma obra-prima. É brilhante, vertiginosa. Mas é um pouco frágil. Uma tempestade pode pôr abaixo o belo edifício. * Gilles Lapouge é correspondente em Paris

A Champs Elysées estava magnífica na manhã de ontem. Soldados, tanques, canhões e aviões. Pára-quedistas de elite pousaram na frente da tribuna oficial, repleta de celebridades. Ingrid Betancourt, evidentemente, e chefes de Estado. Entre eles, muitos do Oriente Médio, como o sírio Bashar Assad - que parecia atônito por ter passado tão rapidamente da condição de líder de um Estado terrorista para a de chefe de Estado digno de estima. No centro do cenário, Nicolas Sarkozy. Sorridente, glorioso, cheio de tiques. Pelo menos desta vez, sua satisfação era compreensível. Ele conseguiu uma façanha: reunir em Paris chefes de Estado que se detestam. Colocar juntos um israelense, um palestino, um sírio, um tunisiano e um libanês foi quase uma magia. Mesmo a esquerda concordou (fazendo caretas). Mesmo aqueles que se exasperam com a arrogância, a vaidade, a vulgaridade e a violência de Sarkozy, foram obrigados a aplaudir. Pela ousadia, astúcia, audácia e dialética, Sarkozy conseguiu reposicionar a França no centro do imbróglio do Oriente Médio. Mas as interrogações permanecem. A mais incômoda diz respeito exatamente a Assad, repentinamente reconciliado com os libaneses que a Síria por tanto tempo tentou submeter - chegando ao ponto de assassinar o ex-primeiro-ministro Rafic Hariri. Essa mesma Síria que, em 1983, matou 58 soldados franceses num atentado. E matou também um embaixador da França. "Esta manhã", disse um opositor francês, "o Exército da França desfilou diante de um grupo de tiranos e alguns assassinos". A questão é: para apaziguar o Oriente Médio, será preciso perdoar e receber com pompa alguém como Assad? Quando se deseja a paz, não é com o inimigo que é preciso falar? Outro foco de descontentamento neste dia de triunfo para Sarkozy é o Exército, que se sente desprezado pelo presidente. Serão cortados 58 mil soldados em nome da "modernização" e da " economia". Os militares estão também amargurados com o fato de que, com a diplomacia "atlantista" de Sarkozy, o Exército francês poderá ser mobilizado em regiões longínquas e perigosas, como Darfur, Costa do Marfim, Afeganistão, etc. Assim, ao baixarem as belas bandeiras do 14 de Julho, muitas perguntas, muito azedume e muitas angústias subsistirão. É claro que a bela estrutura diplomática traçada por Sarkozy em torno da sua União pelo Mediterrâneo, envolvendo no seu projeto chefes de Estado tão inquietantes como Assad, é uma obra-prima. É brilhante, vertiginosa. Mas é um pouco frágil. Uma tempestade pode pôr abaixo o belo edifício. * Gilles Lapouge é correspondente em Paris

A Champs Elysées estava magnífica na manhã de ontem. Soldados, tanques, canhões e aviões. Pára-quedistas de elite pousaram na frente da tribuna oficial, repleta de celebridades. Ingrid Betancourt, evidentemente, e chefes de Estado. Entre eles, muitos do Oriente Médio, como o sírio Bashar Assad - que parecia atônito por ter passado tão rapidamente da condição de líder de um Estado terrorista para a de chefe de Estado digno de estima. No centro do cenário, Nicolas Sarkozy. Sorridente, glorioso, cheio de tiques. Pelo menos desta vez, sua satisfação era compreensível. Ele conseguiu uma façanha: reunir em Paris chefes de Estado que se detestam. Colocar juntos um israelense, um palestino, um sírio, um tunisiano e um libanês foi quase uma magia. Mesmo a esquerda concordou (fazendo caretas). Mesmo aqueles que se exasperam com a arrogância, a vaidade, a vulgaridade e a violência de Sarkozy, foram obrigados a aplaudir. Pela ousadia, astúcia, audácia e dialética, Sarkozy conseguiu reposicionar a França no centro do imbróglio do Oriente Médio. Mas as interrogações permanecem. A mais incômoda diz respeito exatamente a Assad, repentinamente reconciliado com os libaneses que a Síria por tanto tempo tentou submeter - chegando ao ponto de assassinar o ex-primeiro-ministro Rafic Hariri. Essa mesma Síria que, em 1983, matou 58 soldados franceses num atentado. E matou também um embaixador da França. "Esta manhã", disse um opositor francês, "o Exército da França desfilou diante de um grupo de tiranos e alguns assassinos". A questão é: para apaziguar o Oriente Médio, será preciso perdoar e receber com pompa alguém como Assad? Quando se deseja a paz, não é com o inimigo que é preciso falar? Outro foco de descontentamento neste dia de triunfo para Sarkozy é o Exército, que se sente desprezado pelo presidente. Serão cortados 58 mil soldados em nome da "modernização" e da " economia". Os militares estão também amargurados com o fato de que, com a diplomacia "atlantista" de Sarkozy, o Exército francês poderá ser mobilizado em regiões longínquas e perigosas, como Darfur, Costa do Marfim, Afeganistão, etc. Assim, ao baixarem as belas bandeiras do 14 de Julho, muitas perguntas, muito azedume e muitas angústias subsistirão. É claro que a bela estrutura diplomática traçada por Sarkozy em torno da sua União pelo Mediterrâneo, envolvendo no seu projeto chefes de Estado tão inquietantes como Assad, é uma obra-prima. É brilhante, vertiginosa. Mas é um pouco frágil. Uma tempestade pode pôr abaixo o belo edifício. * Gilles Lapouge é correspondente em Paris

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