‘Vitória de Milei dá sobrevida ao kirchnerismo’, diz analista argentina


Para Maria Lourdes Puente, o kirchnerismo pode antagonizar com Milei e ganhar tração para as próximas eleições

Por Daniel Gateno
Foto: Arquivo pessoal
Entrevista comMaría Lourdes PuenteDiretora da Escola de Política e Governo da Universidade Católica Argentina

“Acredito que a vitória de Javier Milei foi o melhor cenário para o kircherismo”, aponta Maria Lourdes Puente, cientista política e diretora da Escola de Política e Governo da Universidade Católica Argentina. “Se Sergio Massa ganhasse, uma ala do peronismo mais próxima dele iria se fortalecer, uma ala que não seria próxima do kirchnerismo”, completa a analista.

Com 99,28% das urnas apuradas, Javier Milei da coalizão Liberdade Avança foi eleito presidente da Argentina com 55,69% dos votos, contra 44,30% de Sergio Massa, do União pela Pátria.

A cientista política acredita que o peronismo terá que se reinventar e que novas lideranças como o governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, e o novo governador de Cordoba, Martin Llaryora, poderão dividir o protagonismo.

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O então presidente da Argentina, Nestor Kirchner, participa de evento junto com Cristina Kirchner, em Buenos Aires, Argentina  Foto: Jorge Aloy / EFE

Confira trechos da entrevista

O que está derrota significa para o Peronismo?

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O sistema político será totalmente reconfigurado, sabemos que as eleições vão acontecer.

Sergio Massa é um perdedor digno, o resultado era esperado, a Argentina está passando por uma crise e estamos passando de alternância em alternância desde 2011 e naturalmente, como está acontecendo em todos os países, os governos que terminam em crise não são reeleitos e por isso a oposição venceu. O que surpreendeu foi a competitividade de Massa, que permitiu com que ele chegasse até aqui.

É um manifesto pela mudança, Milei teve uma maioria esmagadora, muito ampla. Esta vitória pode ser interpretada como um divorcio entre a classe política e a sociedade, o surpreendente era que as pessoas achavam que Massa poderia ganhar e a diferença de votos entre ele e Milei foi muito grande.

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O peronismo sempre disse que eles entendiam o povo e interpretavam o que o povo queria, mas dessa vez a população disse que não queria o que o peronismo estava oferecendo, então é um golpe grande para o movimento, apesar de que Sergio Massa lutou de forma digna, mas com certeza o peronismo vai se reconfigurar.

Acredito que os governadores serão importantes nesta renovação, é o caso do governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, que teve um bom desempenho e é próximo de Cristina Kirchner e também Martin Llaryora, que será o novo governador de Córdoba, e pode fazer um contraponto importante com Kicillof, porque a sociedade de Cordoba é bem mais conservadora e ele tem uma linha bastante diferente.

Acredito que estes dois políticos devem representar uma nova geração de políticos do peronismo, uma geração mais jovem.

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O governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, participa de um comício de campanha em Buenos Aires, Argentina  Foto: Emiliano Lasalvia/ AFP

O peronismo terá que se reinventar?

Precisamos ver como Javier Milei vai lidar com os diferentes setores políticos da sociedade argentina. Se Milei fizer tudo que disse que vai fazer, o setor mais vulnerável será a camada mais pobre da sociedade e Axel Kicillof conseguirá aportar mais a essas pessoas e fornecer uma alternativa.

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Muitas das bandeiras que Milei defende poderão ser contestadas por Kicillof, então a eleição de Milei pode ter sido um oxigênio para essa ala do movimento. Também precisamos ver o que vai acontecer com Sergio Massa, que disse que vai sair da política. Se ele não continua na política, teremos que observar como esse vácuo será preenchido. Além disso, uma parte da coalizão Juntos pela Mudança pode se juntar com o peronismo do novo governador de Cordoba, Martin Llaryora.

Claramente existe um questionamento muito forte para todo o sistema político. Neste momento o peronismo não tem um líder que junte a todos, eles tinham o Sergio Massa e perderam as eleições, e muitas pessoas do peronismo votaram em Massa, mas não gostavam dele.

Temos que ver como Milei vai montar o seu governo, ele foi muito claro que todas as pessoas priorizassem a liberdade poderiam se somar a ele.

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O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, junto com a sua irmã Karina Milei, após a vitória do libertário  Foto: Natacha Pisarenko / AP

Qual é o futuro de Cristina Kirchner e do kirchnerismo?

Acredito que este seja o melhor cenário para eles. Se Sergio Massa ganhasse, uma ala do peronismo mais próxima dele iria se fortalecer, uma ala que não seria próxima do kirchnerismo. Por esse motivo, Kicillof pode ser uma liderança importante, por ser mais próximo de Cristina.

Então acredito que este resultado dá uma vida para o kirchnerismo, o que poderia matar o movimento era uma vitória de Sergio Massa.

Como será a relação de Milei com o Congresso argentino?

Milei chega ao poder como um presidente muito fraco no sentido de negociações. Terá que fazer muito para aprovar os seus projetos. O presidente eleito não tem nenhum governador, oito senadores e 38 deputados. Se ele fizer um acordo com o Juntos pela Mudança, vai aumentar esta bancada e vai precisar fazer isso.

Muitos dos projetos que ele quer aprovar vão precisar ser aprovadas pelo Congresso, como o fim do Banco Central da Argentina.

O maior perigo para ele é que seu governo adote medidas tão extremas que daqui quatro anos a sociedade argentina vote no peronismo mais uma vez. O efeito positivo de Milei é o fato dele ser uma novidade. Com Sergio Massa, a população já não acreditava em nada que ele falava, enquanto Milei tem o beneficio da dúvida.

Mas será preciso uma força muito grande de Milei para quebrar esta narrativa e Milei não vai conseguir isso sozinho, o Liberdade Avança precisa de parceiros, eles vão precisar dos governadores e de muita negociação. Precisamos ver quais serão os blocos no Senado e na Câmara dos Deputados.

Milei poderá negociar com políticos do peronismo para aprovar projetos?

Dependendo dos projetos, Milei pode negociar com algumas alas do peronismo. O movimento peronista de Cordoba, com o novo governador Martin Llaryora pode ser uma alternativa para o presidente eleito.

Mas Milei precisa tentar fazer isso no começo de seu mandato, porque depois todos vão estar pensando no próximo ciclo eleitoral. Temos muitos governadores novos que foram eleitos e podem ajudar na interlocução, como Rogelio Frigerio, que é próximo de Mauricio Macri e é o novo governador de Entre Rios. O radicalismo dependendo também pode ser uma boa alternativa, mas nada é muito certo neste momento.

O presidente eleito pode passar quatro anos sem aprovar nada?

Um desafio de toda a classe política na Argentina é gerar governabilidade e acredito que pelo menos no começo do mandato de Milei, muitos políticos estarão inclinados a isso, para honrar o voto dos argentinos.

Acredito que o ex-presidente Mauricio Macri terá um papel muito importante em ajudar Milei na articulação com outros partidos.

“Acredito que a vitória de Javier Milei foi o melhor cenário para o kircherismo”, aponta Maria Lourdes Puente, cientista política e diretora da Escola de Política e Governo da Universidade Católica Argentina. “Se Sergio Massa ganhasse, uma ala do peronismo mais próxima dele iria se fortalecer, uma ala que não seria próxima do kirchnerismo”, completa a analista.

Com 99,28% das urnas apuradas, Javier Milei da coalizão Liberdade Avança foi eleito presidente da Argentina com 55,69% dos votos, contra 44,30% de Sergio Massa, do União pela Pátria.

A cientista política acredita que o peronismo terá que se reinventar e que novas lideranças como o governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, e o novo governador de Cordoba, Martin Llaryora, poderão dividir o protagonismo.

O então presidente da Argentina, Nestor Kirchner, participa de evento junto com Cristina Kirchner, em Buenos Aires, Argentina  Foto: Jorge Aloy / EFE

Confira trechos da entrevista

O que está derrota significa para o Peronismo?

O sistema político será totalmente reconfigurado, sabemos que as eleições vão acontecer.

Sergio Massa é um perdedor digno, o resultado era esperado, a Argentina está passando por uma crise e estamos passando de alternância em alternância desde 2011 e naturalmente, como está acontecendo em todos os países, os governos que terminam em crise não são reeleitos e por isso a oposição venceu. O que surpreendeu foi a competitividade de Massa, que permitiu com que ele chegasse até aqui.

É um manifesto pela mudança, Milei teve uma maioria esmagadora, muito ampla. Esta vitória pode ser interpretada como um divorcio entre a classe política e a sociedade, o surpreendente era que as pessoas achavam que Massa poderia ganhar e a diferença de votos entre ele e Milei foi muito grande.

O peronismo sempre disse que eles entendiam o povo e interpretavam o que o povo queria, mas dessa vez a população disse que não queria o que o peronismo estava oferecendo, então é um golpe grande para o movimento, apesar de que Sergio Massa lutou de forma digna, mas com certeza o peronismo vai se reconfigurar.

Acredito que os governadores serão importantes nesta renovação, é o caso do governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, que teve um bom desempenho e é próximo de Cristina Kirchner e também Martin Llaryora, que será o novo governador de Córdoba, e pode fazer um contraponto importante com Kicillof, porque a sociedade de Cordoba é bem mais conservadora e ele tem uma linha bastante diferente.

Acredito que estes dois políticos devem representar uma nova geração de políticos do peronismo, uma geração mais jovem.

O governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, participa de um comício de campanha em Buenos Aires, Argentina  Foto: Emiliano Lasalvia/ AFP

O peronismo terá que se reinventar?

Precisamos ver como Javier Milei vai lidar com os diferentes setores políticos da sociedade argentina. Se Milei fizer tudo que disse que vai fazer, o setor mais vulnerável será a camada mais pobre da sociedade e Axel Kicillof conseguirá aportar mais a essas pessoas e fornecer uma alternativa.

Muitas das bandeiras que Milei defende poderão ser contestadas por Kicillof, então a eleição de Milei pode ter sido um oxigênio para essa ala do movimento. Também precisamos ver o que vai acontecer com Sergio Massa, que disse que vai sair da política. Se ele não continua na política, teremos que observar como esse vácuo será preenchido. Além disso, uma parte da coalizão Juntos pela Mudança pode se juntar com o peronismo do novo governador de Cordoba, Martin Llaryora.

Claramente existe um questionamento muito forte para todo o sistema político. Neste momento o peronismo não tem um líder que junte a todos, eles tinham o Sergio Massa e perderam as eleições, e muitas pessoas do peronismo votaram em Massa, mas não gostavam dele.

Temos que ver como Milei vai montar o seu governo, ele foi muito claro que todas as pessoas priorizassem a liberdade poderiam se somar a ele.

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, junto com a sua irmã Karina Milei, após a vitória do libertário  Foto: Natacha Pisarenko / AP

Qual é o futuro de Cristina Kirchner e do kirchnerismo?

Acredito que este seja o melhor cenário para eles. Se Sergio Massa ganhasse, uma ala do peronismo mais próxima dele iria se fortalecer, uma ala que não seria próxima do kirchnerismo. Por esse motivo, Kicillof pode ser uma liderança importante, por ser mais próximo de Cristina.

Então acredito que este resultado dá uma vida para o kirchnerismo, o que poderia matar o movimento era uma vitória de Sergio Massa.

Como será a relação de Milei com o Congresso argentino?

Milei chega ao poder como um presidente muito fraco no sentido de negociações. Terá que fazer muito para aprovar os seus projetos. O presidente eleito não tem nenhum governador, oito senadores e 38 deputados. Se ele fizer um acordo com o Juntos pela Mudança, vai aumentar esta bancada e vai precisar fazer isso.

Muitos dos projetos que ele quer aprovar vão precisar ser aprovadas pelo Congresso, como o fim do Banco Central da Argentina.

O maior perigo para ele é que seu governo adote medidas tão extremas que daqui quatro anos a sociedade argentina vote no peronismo mais uma vez. O efeito positivo de Milei é o fato dele ser uma novidade. Com Sergio Massa, a população já não acreditava em nada que ele falava, enquanto Milei tem o beneficio da dúvida.

Mas será preciso uma força muito grande de Milei para quebrar esta narrativa e Milei não vai conseguir isso sozinho, o Liberdade Avança precisa de parceiros, eles vão precisar dos governadores e de muita negociação. Precisamos ver quais serão os blocos no Senado e na Câmara dos Deputados.

Milei poderá negociar com políticos do peronismo para aprovar projetos?

Dependendo dos projetos, Milei pode negociar com algumas alas do peronismo. O movimento peronista de Cordoba, com o novo governador Martin Llaryora pode ser uma alternativa para o presidente eleito.

Mas Milei precisa tentar fazer isso no começo de seu mandato, porque depois todos vão estar pensando no próximo ciclo eleitoral. Temos muitos governadores novos que foram eleitos e podem ajudar na interlocução, como Rogelio Frigerio, que é próximo de Mauricio Macri e é o novo governador de Entre Rios. O radicalismo dependendo também pode ser uma boa alternativa, mas nada é muito certo neste momento.

O presidente eleito pode passar quatro anos sem aprovar nada?

Um desafio de toda a classe política na Argentina é gerar governabilidade e acredito que pelo menos no começo do mandato de Milei, muitos políticos estarão inclinados a isso, para honrar o voto dos argentinos.

Acredito que o ex-presidente Mauricio Macri terá um papel muito importante em ajudar Milei na articulação com outros partidos.

“Acredito que a vitória de Javier Milei foi o melhor cenário para o kircherismo”, aponta Maria Lourdes Puente, cientista política e diretora da Escola de Política e Governo da Universidade Católica Argentina. “Se Sergio Massa ganhasse, uma ala do peronismo mais próxima dele iria se fortalecer, uma ala que não seria próxima do kirchnerismo”, completa a analista.

Com 99,28% das urnas apuradas, Javier Milei da coalizão Liberdade Avança foi eleito presidente da Argentina com 55,69% dos votos, contra 44,30% de Sergio Massa, do União pela Pátria.

A cientista política acredita que o peronismo terá que se reinventar e que novas lideranças como o governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, e o novo governador de Cordoba, Martin Llaryora, poderão dividir o protagonismo.

O então presidente da Argentina, Nestor Kirchner, participa de evento junto com Cristina Kirchner, em Buenos Aires, Argentina  Foto: Jorge Aloy / EFE

Confira trechos da entrevista

O que está derrota significa para o Peronismo?

O sistema político será totalmente reconfigurado, sabemos que as eleições vão acontecer.

Sergio Massa é um perdedor digno, o resultado era esperado, a Argentina está passando por uma crise e estamos passando de alternância em alternância desde 2011 e naturalmente, como está acontecendo em todos os países, os governos que terminam em crise não são reeleitos e por isso a oposição venceu. O que surpreendeu foi a competitividade de Massa, que permitiu com que ele chegasse até aqui.

É um manifesto pela mudança, Milei teve uma maioria esmagadora, muito ampla. Esta vitória pode ser interpretada como um divorcio entre a classe política e a sociedade, o surpreendente era que as pessoas achavam que Massa poderia ganhar e a diferença de votos entre ele e Milei foi muito grande.

O peronismo sempre disse que eles entendiam o povo e interpretavam o que o povo queria, mas dessa vez a população disse que não queria o que o peronismo estava oferecendo, então é um golpe grande para o movimento, apesar de que Sergio Massa lutou de forma digna, mas com certeza o peronismo vai se reconfigurar.

Acredito que os governadores serão importantes nesta renovação, é o caso do governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, que teve um bom desempenho e é próximo de Cristina Kirchner e também Martin Llaryora, que será o novo governador de Córdoba, e pode fazer um contraponto importante com Kicillof, porque a sociedade de Cordoba é bem mais conservadora e ele tem uma linha bastante diferente.

Acredito que estes dois políticos devem representar uma nova geração de políticos do peronismo, uma geração mais jovem.

O governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, participa de um comício de campanha em Buenos Aires, Argentina  Foto: Emiliano Lasalvia/ AFP

O peronismo terá que se reinventar?

Precisamos ver como Javier Milei vai lidar com os diferentes setores políticos da sociedade argentina. Se Milei fizer tudo que disse que vai fazer, o setor mais vulnerável será a camada mais pobre da sociedade e Axel Kicillof conseguirá aportar mais a essas pessoas e fornecer uma alternativa.

Muitas das bandeiras que Milei defende poderão ser contestadas por Kicillof, então a eleição de Milei pode ter sido um oxigênio para essa ala do movimento. Também precisamos ver o que vai acontecer com Sergio Massa, que disse que vai sair da política. Se ele não continua na política, teremos que observar como esse vácuo será preenchido. Além disso, uma parte da coalizão Juntos pela Mudança pode se juntar com o peronismo do novo governador de Cordoba, Martin Llaryora.

Claramente existe um questionamento muito forte para todo o sistema político. Neste momento o peronismo não tem um líder que junte a todos, eles tinham o Sergio Massa e perderam as eleições, e muitas pessoas do peronismo votaram em Massa, mas não gostavam dele.

Temos que ver como Milei vai montar o seu governo, ele foi muito claro que todas as pessoas priorizassem a liberdade poderiam se somar a ele.

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, junto com a sua irmã Karina Milei, após a vitória do libertário  Foto: Natacha Pisarenko / AP

Qual é o futuro de Cristina Kirchner e do kirchnerismo?

Acredito que este seja o melhor cenário para eles. Se Sergio Massa ganhasse, uma ala do peronismo mais próxima dele iria se fortalecer, uma ala que não seria próxima do kirchnerismo. Por esse motivo, Kicillof pode ser uma liderança importante, por ser mais próximo de Cristina.

Então acredito que este resultado dá uma vida para o kirchnerismo, o que poderia matar o movimento era uma vitória de Sergio Massa.

Como será a relação de Milei com o Congresso argentino?

Milei chega ao poder como um presidente muito fraco no sentido de negociações. Terá que fazer muito para aprovar os seus projetos. O presidente eleito não tem nenhum governador, oito senadores e 38 deputados. Se ele fizer um acordo com o Juntos pela Mudança, vai aumentar esta bancada e vai precisar fazer isso.

Muitos dos projetos que ele quer aprovar vão precisar ser aprovadas pelo Congresso, como o fim do Banco Central da Argentina.

O maior perigo para ele é que seu governo adote medidas tão extremas que daqui quatro anos a sociedade argentina vote no peronismo mais uma vez. O efeito positivo de Milei é o fato dele ser uma novidade. Com Sergio Massa, a população já não acreditava em nada que ele falava, enquanto Milei tem o beneficio da dúvida.

Mas será preciso uma força muito grande de Milei para quebrar esta narrativa e Milei não vai conseguir isso sozinho, o Liberdade Avança precisa de parceiros, eles vão precisar dos governadores e de muita negociação. Precisamos ver quais serão os blocos no Senado e na Câmara dos Deputados.

Milei poderá negociar com políticos do peronismo para aprovar projetos?

Dependendo dos projetos, Milei pode negociar com algumas alas do peronismo. O movimento peronista de Cordoba, com o novo governador Martin Llaryora pode ser uma alternativa para o presidente eleito.

Mas Milei precisa tentar fazer isso no começo de seu mandato, porque depois todos vão estar pensando no próximo ciclo eleitoral. Temos muitos governadores novos que foram eleitos e podem ajudar na interlocução, como Rogelio Frigerio, que é próximo de Mauricio Macri e é o novo governador de Entre Rios. O radicalismo dependendo também pode ser uma boa alternativa, mas nada é muito certo neste momento.

O presidente eleito pode passar quatro anos sem aprovar nada?

Um desafio de toda a classe política na Argentina é gerar governabilidade e acredito que pelo menos no começo do mandato de Milei, muitos políticos estarão inclinados a isso, para honrar o voto dos argentinos.

Acredito que o ex-presidente Mauricio Macri terá um papel muito importante em ajudar Milei na articulação com outros partidos.

“Acredito que a vitória de Javier Milei foi o melhor cenário para o kircherismo”, aponta Maria Lourdes Puente, cientista política e diretora da Escola de Política e Governo da Universidade Católica Argentina. “Se Sergio Massa ganhasse, uma ala do peronismo mais próxima dele iria se fortalecer, uma ala que não seria próxima do kirchnerismo”, completa a analista.

Com 99,28% das urnas apuradas, Javier Milei da coalizão Liberdade Avança foi eleito presidente da Argentina com 55,69% dos votos, contra 44,30% de Sergio Massa, do União pela Pátria.

A cientista política acredita que o peronismo terá que se reinventar e que novas lideranças como o governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, e o novo governador de Cordoba, Martin Llaryora, poderão dividir o protagonismo.

O então presidente da Argentina, Nestor Kirchner, participa de evento junto com Cristina Kirchner, em Buenos Aires, Argentina  Foto: Jorge Aloy / EFE

Confira trechos da entrevista

O que está derrota significa para o Peronismo?

O sistema político será totalmente reconfigurado, sabemos que as eleições vão acontecer.

Sergio Massa é um perdedor digno, o resultado era esperado, a Argentina está passando por uma crise e estamos passando de alternância em alternância desde 2011 e naturalmente, como está acontecendo em todos os países, os governos que terminam em crise não são reeleitos e por isso a oposição venceu. O que surpreendeu foi a competitividade de Massa, que permitiu com que ele chegasse até aqui.

É um manifesto pela mudança, Milei teve uma maioria esmagadora, muito ampla. Esta vitória pode ser interpretada como um divorcio entre a classe política e a sociedade, o surpreendente era que as pessoas achavam que Massa poderia ganhar e a diferença de votos entre ele e Milei foi muito grande.

O peronismo sempre disse que eles entendiam o povo e interpretavam o que o povo queria, mas dessa vez a população disse que não queria o que o peronismo estava oferecendo, então é um golpe grande para o movimento, apesar de que Sergio Massa lutou de forma digna, mas com certeza o peronismo vai se reconfigurar.

Acredito que os governadores serão importantes nesta renovação, é o caso do governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, que teve um bom desempenho e é próximo de Cristina Kirchner e também Martin Llaryora, que será o novo governador de Córdoba, e pode fazer um contraponto importante com Kicillof, porque a sociedade de Cordoba é bem mais conservadora e ele tem uma linha bastante diferente.

Acredito que estes dois políticos devem representar uma nova geração de políticos do peronismo, uma geração mais jovem.

O governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, participa de um comício de campanha em Buenos Aires, Argentina  Foto: Emiliano Lasalvia/ AFP

O peronismo terá que se reinventar?

Precisamos ver como Javier Milei vai lidar com os diferentes setores políticos da sociedade argentina. Se Milei fizer tudo que disse que vai fazer, o setor mais vulnerável será a camada mais pobre da sociedade e Axel Kicillof conseguirá aportar mais a essas pessoas e fornecer uma alternativa.

Muitas das bandeiras que Milei defende poderão ser contestadas por Kicillof, então a eleição de Milei pode ter sido um oxigênio para essa ala do movimento. Também precisamos ver o que vai acontecer com Sergio Massa, que disse que vai sair da política. Se ele não continua na política, teremos que observar como esse vácuo será preenchido. Além disso, uma parte da coalizão Juntos pela Mudança pode se juntar com o peronismo do novo governador de Cordoba, Martin Llaryora.

Claramente existe um questionamento muito forte para todo o sistema político. Neste momento o peronismo não tem um líder que junte a todos, eles tinham o Sergio Massa e perderam as eleições, e muitas pessoas do peronismo votaram em Massa, mas não gostavam dele.

Temos que ver como Milei vai montar o seu governo, ele foi muito claro que todas as pessoas priorizassem a liberdade poderiam se somar a ele.

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, junto com a sua irmã Karina Milei, após a vitória do libertário  Foto: Natacha Pisarenko / AP

Qual é o futuro de Cristina Kirchner e do kirchnerismo?

Acredito que este seja o melhor cenário para eles. Se Sergio Massa ganhasse, uma ala do peronismo mais próxima dele iria se fortalecer, uma ala que não seria próxima do kirchnerismo. Por esse motivo, Kicillof pode ser uma liderança importante, por ser mais próximo de Cristina.

Então acredito que este resultado dá uma vida para o kirchnerismo, o que poderia matar o movimento era uma vitória de Sergio Massa.

Como será a relação de Milei com o Congresso argentino?

Milei chega ao poder como um presidente muito fraco no sentido de negociações. Terá que fazer muito para aprovar os seus projetos. O presidente eleito não tem nenhum governador, oito senadores e 38 deputados. Se ele fizer um acordo com o Juntos pela Mudança, vai aumentar esta bancada e vai precisar fazer isso.

Muitos dos projetos que ele quer aprovar vão precisar ser aprovadas pelo Congresso, como o fim do Banco Central da Argentina.

O maior perigo para ele é que seu governo adote medidas tão extremas que daqui quatro anos a sociedade argentina vote no peronismo mais uma vez. O efeito positivo de Milei é o fato dele ser uma novidade. Com Sergio Massa, a população já não acreditava em nada que ele falava, enquanto Milei tem o beneficio da dúvida.

Mas será preciso uma força muito grande de Milei para quebrar esta narrativa e Milei não vai conseguir isso sozinho, o Liberdade Avança precisa de parceiros, eles vão precisar dos governadores e de muita negociação. Precisamos ver quais serão os blocos no Senado e na Câmara dos Deputados.

Milei poderá negociar com políticos do peronismo para aprovar projetos?

Dependendo dos projetos, Milei pode negociar com algumas alas do peronismo. O movimento peronista de Cordoba, com o novo governador Martin Llaryora pode ser uma alternativa para o presidente eleito.

Mas Milei precisa tentar fazer isso no começo de seu mandato, porque depois todos vão estar pensando no próximo ciclo eleitoral. Temos muitos governadores novos que foram eleitos e podem ajudar na interlocução, como Rogelio Frigerio, que é próximo de Mauricio Macri e é o novo governador de Entre Rios. O radicalismo dependendo também pode ser uma boa alternativa, mas nada é muito certo neste momento.

O presidente eleito pode passar quatro anos sem aprovar nada?

Um desafio de toda a classe política na Argentina é gerar governabilidade e acredito que pelo menos no começo do mandato de Milei, muitos políticos estarão inclinados a isso, para honrar o voto dos argentinos.

Acredito que o ex-presidente Mauricio Macri terá um papel muito importante em ajudar Milei na articulação com outros partidos.

Entrevista por Daniel Gateno

Repórter da editoria de internacional do Estadão

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