Equipe tenta reunir elefanta órfã à sua mãe com DNA e um pouco de sorte


Nania superou probabilidades de sobreviver à separação de sua família de elefantes da floresta de Burkina Faso; seus cuidadores esperam que um teste de DNA possa ajudá-la a retornar à natureza com sua família

Por Elizabeth Preston

elefanta estava sozinha e desidratada quando os aldeões a encontraram. Era setembro de 2017 e a órfã de mãe que vagava perto de Boromo, em Burkina Faso, tinha apenas dois ou três meses de idade.

Nania é uma elefanta que foi encontrada afastada de seu rebanho ainda bebê e resgatada por populares em Burkina Faso. Foto: Melanie Mahoney/IFAW via The New York Times

“Ela era minúscula”, disse Céline Sissler-Bienvenu, que atualmente é diretora do programa de resposta a desastres e redução de risco do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal. A elefante deve ter sido descoberta um ou dois dias depois de se perder de sua família, calcula Sissler-Bienvenu. “Senão ela não teria sobrevivido”.

continua após a publicidade

Muitos elefantes órfãos não sobrevivem. Mas, com a ajuda de pessoas de Boromo, conservacionistas internacionais e sua melhor amiga, uma ovelha preta e branca chamada Whisty, a elefante perdida agora está com cerca de 4 anos de idade e vai muito bem. As crianças de uma escola próxima a batizaram de Nania, nome que na língua local quer dizer “vontade”.

Levar Nania da infância para a juventude significou trabalho ininterrupto para as pessoas envolvidas. E os salvadores de Nania agora enfrentam um novo desafio: descobrir se ela consegue voltar à vida com uma manada de elefantes selvagens.

Esse processo teve uma reviravolta surpreendente. Assim como a tecnologia de DNA já reuniu inúmeros órfãos humanos com suas famílias biológicas, testes semelhantes revelaram que a mãe de Nania provavelmente ainda está perambulando por perto e que um dia Nania poderá se juntar não apenas a qualquer rebanho de elefantes selvagens, mas à sua família original.

continua após a publicidade

A análise de DNA também mostrou que Nania e seus parentes são elefantes da floresta. Para aqueles que trabalham para salvá-los, esse projeto é mais do que apenas reabilitar uma jovem elefanta da floresta: é garantir o futuro de sua espécie. No início deste ano, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) reconheceu os elefantes da floresta como uma espécie em si, diferente dos elefantes da savana, que são maiores e mais numerosos na África. A organização também declarou que os elefantes da floresta estão sob grave risco de extinção.

“Por causa da situação desses animais em termos de quão ameaçados eles estão, cada indivíduo importa de verdade”, disse Ben Okita, copresidente do Grupo de Especialistas em Elefantes Africanos da IUCN, que tem sede em Nairóbi. “Cada indivíduo é muito querido”.

——

continua após a publicidade
Testes de DNA mostraram que possivelmentesua mãe ainda está viva e pesquisadores querem reintegrá-la ao seu bando. Foto: Melanie Mahoney/IFAW via The New York Times

Quando filhotes de elefantes órfãos são resgatados, eles geralmente são encontrados perto da carcaça da mãe. No caso de Nania, porém, ninguém sabia de um adulto que estivesse morto por perto. Embora as mães elefantes sejam extremamente atenciosas, a família de Nania a deixou para trás por algum motivo – talvez durante a travessia noturna de um rio que a pequena elefanta não conseguiu enfrentar.

Os aldeões que a encontraram em 2017 procuraram a ajuda das autoridades locais da vida selvagem, que trouxeram a elefante para um curral próximo de sua sede em Boromo. Os locais juntaram recursos para comprar leite para Nania. Uma drogaria doou fórmula infantil em pó. Mas o apetite da jovem elefanta, ao contrário dos recursos dos humanos ao seu redor, não tinha limites. Os humanos precisavam de ajuda.

continua após a publicidade

“Eles estavam desesperados para saber como lidar com Nania”, disse Sissler-Bienvenu. As autoridades da vida selvagem em Boromo, que fica a poucas horas a sudoeste de Ouagadougou, capital de Burkina Faso, pediram ajuda ao Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal, e o grupo se encarregou de cuidar da elefanta.

Reabilitar um único elefante órfão é uma tarefa hercúlea. Os jovens dependem de leite por dois ou três anos e precisam de ainda mais tempo para aprender habilidades e, em certas áreas, crescer o suficiente para afugentar os leões.

“Quando você começa a fazer a reabilitação de elefantes, em alguns lugares você está começando um trabalho que pode se estender por dez ou doze anos”, disse Katie Moore, vice-presidente adjunta para resgate de animais do Fundo de Bem-Estar Animal.

continua após a publicidade

Mas a organização viu sinais promissores para Nania. Ela se manteve fisicamente saudável e não parecia deprimida.

“Decidimos rapidamente que, sim, que poderíamos atacar este problema e encontrar uma maneira” de ajudar a elefanta a voltar à vida selvagem, disse Moore.

Sissler-Bienvenu fez um orçamento de emergência para pagar pelo leite e depois voou para Burkina Faso para encontrar Nania.

continua após a publicidade

Ela descobriu que a comunidade havia se unido em torno da elefanta. Crianças em idade escolar a visitavam todos os dias e Nania às vezes corria atrás delas, querendo brincar. Ela se acostumou com os sons de motocicletas e burros passando, de pessoas gritando. Ela às vezes invadia a sede da autoridade da vida selvagem para descobrir onde seu leite estava sendo preparado.

“Ela virou, muito rapidamente, uma espécie de mascote”, disse Sissler-Bienvenu.

Mas toda aquela atenção humana não ajudaria Nania a voltar para a natureza. Ela precisava de um lar onde pudesse aprender a ser elefante.

——

O desafio agora é fazer com que Nania aprenda a conviver com outros elefantes selvagens. Foto: Melanie Mahoney/IFAW via The New York Times

Em fevereiro de 2019, a nova morada de Nania foi concluída dentro do Deux Balés, um parque nacional próximo. Tinha um estábulo onde ela ficava à noite e um grande pasto cercado, chamado de boma.

Sua leal amiga Whisty também mora lá, assim como quatro tratadores que ficam com Nania em duplas, uma semana de cada vez. Essa consistência é importante, disse Moore. “Os tratadores realmente servem como mães e tias de aluguel desses jovens elefantes. Eles os confortam”.

Nania passa pelo menos seis a oito horas todos os dias vagando pelo parque com seus tratadores. Isso a ajuda a mapear o ambiente e aprender onde encontrar água e frutas saborosas. Nania também gosta de se banhar em água e lama. E ela não precisa mais de mamadeira: está desmamada há mais de um ano.

Isso significa que ela está pronta para iniciar o processo de integração a um grupo selvagem. Mas não existe um roteiro claro.

Idealmente, um jovem elefante como Nania encontra elefantes selvagens enquanto caminha, fica confortável com eles e acaba deixando a boma para sempre. “Os elefantes escolhem quando vão embora”, disse Moore.

Ajudar um órfão solitário a sobreviver e voltar à vida selvagem pode ser importante para as populações em perigo, disse Shifra Goldenberg, ecologista comportamental da San Diego Zoo Wildlife Alliance. Mas ser criado por humanos também acarreta custos para animais solitários, disse Goldenberg. “Você está atendendo às necessidades deles, mas eles não estão aprendendo com os animais de sua espécie”.

——

A coleta de DNA para identificar a família de Nania foi feita em esterco de outros elefantes que passam pela região. Foto: Ghislain Somé/IFAW via The New York Times

Nania pode ter a chance de se juntar não a qualquer família de elefantes selvagens, mas à sua própria.

Apenas cerca de quarenta elefantes selvagens passam por Deux Balés. A equipe do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal concluiu que a família de Nania provavelmente estava entre estes. Para descobrir, em 2019 eles começaram a coletar amostras de montes de esterco de elefante. E enviaram 17 tubos de ensaio para a Universidade de Washington, em Seattle, no mês de outubro de 2020.

No laboratório da universidade, o biólogo conservacionista Sam Wasser analisa DNA de elefantes. Normalmente, as amostras vêm de apreensões de marfim. Ele e seus colegas sequenciam o DNA de pequenos pedaços de cada presa para descobrir onde os elefantes caçados viviam e rastrear os traficantes de marfim. É um trabalho pesado, disse Wasser. Usar as mesmas ferramentas para ajudar um elefante vivo a voltar para a família “é realmente uma lufada de ar fresco”, disse ele.

O laboratório encontrou um resultado surpreendente: uma das elefantas da amostra não era apenas parente, mas, quase com certeza, a mãe de Nania.

“Não há dúvida de que encontramos a família”, disse Wasser.

Sissler-Bienvenu ficou exultante. “Estávamos esperando uma confirmação entre parentes”, disse ela, mas encontrar a mãe de Nania foi um sonho. A elefante havia depositado seu esterco a cerca de duzentos metros do recinto de Nania.

E como a análise de DNA mostrou que Nania e sua família são elefantes da floresta, a descoberta aumenta o significado de devolver Nania à vida selvagem.

Moore disse que, embora resgatar um animal possa representar um grande investimento de recursos, também pode salvar uma espécie.

“Não consigo nem pensar em não tentar”, disse ela. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU. 

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

elefanta estava sozinha e desidratada quando os aldeões a encontraram. Era setembro de 2017 e a órfã de mãe que vagava perto de Boromo, em Burkina Faso, tinha apenas dois ou três meses de idade.

Nania é uma elefanta que foi encontrada afastada de seu rebanho ainda bebê e resgatada por populares em Burkina Faso. Foto: Melanie Mahoney/IFAW via The New York Times

“Ela era minúscula”, disse Céline Sissler-Bienvenu, que atualmente é diretora do programa de resposta a desastres e redução de risco do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal. A elefante deve ter sido descoberta um ou dois dias depois de se perder de sua família, calcula Sissler-Bienvenu. “Senão ela não teria sobrevivido”.

Muitos elefantes órfãos não sobrevivem. Mas, com a ajuda de pessoas de Boromo, conservacionistas internacionais e sua melhor amiga, uma ovelha preta e branca chamada Whisty, a elefante perdida agora está com cerca de 4 anos de idade e vai muito bem. As crianças de uma escola próxima a batizaram de Nania, nome que na língua local quer dizer “vontade”.

Levar Nania da infância para a juventude significou trabalho ininterrupto para as pessoas envolvidas. E os salvadores de Nania agora enfrentam um novo desafio: descobrir se ela consegue voltar à vida com uma manada de elefantes selvagens.

Esse processo teve uma reviravolta surpreendente. Assim como a tecnologia de DNA já reuniu inúmeros órfãos humanos com suas famílias biológicas, testes semelhantes revelaram que a mãe de Nania provavelmente ainda está perambulando por perto e que um dia Nania poderá se juntar não apenas a qualquer rebanho de elefantes selvagens, mas à sua família original.

A análise de DNA também mostrou que Nania e seus parentes são elefantes da floresta. Para aqueles que trabalham para salvá-los, esse projeto é mais do que apenas reabilitar uma jovem elefanta da floresta: é garantir o futuro de sua espécie. No início deste ano, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) reconheceu os elefantes da floresta como uma espécie em si, diferente dos elefantes da savana, que são maiores e mais numerosos na África. A organização também declarou que os elefantes da floresta estão sob grave risco de extinção.

“Por causa da situação desses animais em termos de quão ameaçados eles estão, cada indivíduo importa de verdade”, disse Ben Okita, copresidente do Grupo de Especialistas em Elefantes Africanos da IUCN, que tem sede em Nairóbi. “Cada indivíduo é muito querido”.

——

Testes de DNA mostraram que possivelmentesua mãe ainda está viva e pesquisadores querem reintegrá-la ao seu bando. Foto: Melanie Mahoney/IFAW via The New York Times

Quando filhotes de elefantes órfãos são resgatados, eles geralmente são encontrados perto da carcaça da mãe. No caso de Nania, porém, ninguém sabia de um adulto que estivesse morto por perto. Embora as mães elefantes sejam extremamente atenciosas, a família de Nania a deixou para trás por algum motivo – talvez durante a travessia noturna de um rio que a pequena elefanta não conseguiu enfrentar.

Os aldeões que a encontraram em 2017 procuraram a ajuda das autoridades locais da vida selvagem, que trouxeram a elefante para um curral próximo de sua sede em Boromo. Os locais juntaram recursos para comprar leite para Nania. Uma drogaria doou fórmula infantil em pó. Mas o apetite da jovem elefanta, ao contrário dos recursos dos humanos ao seu redor, não tinha limites. Os humanos precisavam de ajuda.

“Eles estavam desesperados para saber como lidar com Nania”, disse Sissler-Bienvenu. As autoridades da vida selvagem em Boromo, que fica a poucas horas a sudoeste de Ouagadougou, capital de Burkina Faso, pediram ajuda ao Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal, e o grupo se encarregou de cuidar da elefanta.

Reabilitar um único elefante órfão é uma tarefa hercúlea. Os jovens dependem de leite por dois ou três anos e precisam de ainda mais tempo para aprender habilidades e, em certas áreas, crescer o suficiente para afugentar os leões.

“Quando você começa a fazer a reabilitação de elefantes, em alguns lugares você está começando um trabalho que pode se estender por dez ou doze anos”, disse Katie Moore, vice-presidente adjunta para resgate de animais do Fundo de Bem-Estar Animal.

Mas a organização viu sinais promissores para Nania. Ela se manteve fisicamente saudável e não parecia deprimida.

“Decidimos rapidamente que, sim, que poderíamos atacar este problema e encontrar uma maneira” de ajudar a elefanta a voltar à vida selvagem, disse Moore.

Sissler-Bienvenu fez um orçamento de emergência para pagar pelo leite e depois voou para Burkina Faso para encontrar Nania.

Ela descobriu que a comunidade havia se unido em torno da elefanta. Crianças em idade escolar a visitavam todos os dias e Nania às vezes corria atrás delas, querendo brincar. Ela se acostumou com os sons de motocicletas e burros passando, de pessoas gritando. Ela às vezes invadia a sede da autoridade da vida selvagem para descobrir onde seu leite estava sendo preparado.

“Ela virou, muito rapidamente, uma espécie de mascote”, disse Sissler-Bienvenu.

Mas toda aquela atenção humana não ajudaria Nania a voltar para a natureza. Ela precisava de um lar onde pudesse aprender a ser elefante.

——

O desafio agora é fazer com que Nania aprenda a conviver com outros elefantes selvagens. Foto: Melanie Mahoney/IFAW via The New York Times

Em fevereiro de 2019, a nova morada de Nania foi concluída dentro do Deux Balés, um parque nacional próximo. Tinha um estábulo onde ela ficava à noite e um grande pasto cercado, chamado de boma.

Sua leal amiga Whisty também mora lá, assim como quatro tratadores que ficam com Nania em duplas, uma semana de cada vez. Essa consistência é importante, disse Moore. “Os tratadores realmente servem como mães e tias de aluguel desses jovens elefantes. Eles os confortam”.

Nania passa pelo menos seis a oito horas todos os dias vagando pelo parque com seus tratadores. Isso a ajuda a mapear o ambiente e aprender onde encontrar água e frutas saborosas. Nania também gosta de se banhar em água e lama. E ela não precisa mais de mamadeira: está desmamada há mais de um ano.

Isso significa que ela está pronta para iniciar o processo de integração a um grupo selvagem. Mas não existe um roteiro claro.

Idealmente, um jovem elefante como Nania encontra elefantes selvagens enquanto caminha, fica confortável com eles e acaba deixando a boma para sempre. “Os elefantes escolhem quando vão embora”, disse Moore.

Ajudar um órfão solitário a sobreviver e voltar à vida selvagem pode ser importante para as populações em perigo, disse Shifra Goldenberg, ecologista comportamental da San Diego Zoo Wildlife Alliance. Mas ser criado por humanos também acarreta custos para animais solitários, disse Goldenberg. “Você está atendendo às necessidades deles, mas eles não estão aprendendo com os animais de sua espécie”.

——

A coleta de DNA para identificar a família de Nania foi feita em esterco de outros elefantes que passam pela região. Foto: Ghislain Somé/IFAW via The New York Times

Nania pode ter a chance de se juntar não a qualquer família de elefantes selvagens, mas à sua própria.

Apenas cerca de quarenta elefantes selvagens passam por Deux Balés. A equipe do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal concluiu que a família de Nania provavelmente estava entre estes. Para descobrir, em 2019 eles começaram a coletar amostras de montes de esterco de elefante. E enviaram 17 tubos de ensaio para a Universidade de Washington, em Seattle, no mês de outubro de 2020.

No laboratório da universidade, o biólogo conservacionista Sam Wasser analisa DNA de elefantes. Normalmente, as amostras vêm de apreensões de marfim. Ele e seus colegas sequenciam o DNA de pequenos pedaços de cada presa para descobrir onde os elefantes caçados viviam e rastrear os traficantes de marfim. É um trabalho pesado, disse Wasser. Usar as mesmas ferramentas para ajudar um elefante vivo a voltar para a família “é realmente uma lufada de ar fresco”, disse ele.

O laboratório encontrou um resultado surpreendente: uma das elefantas da amostra não era apenas parente, mas, quase com certeza, a mãe de Nania.

“Não há dúvida de que encontramos a família”, disse Wasser.

Sissler-Bienvenu ficou exultante. “Estávamos esperando uma confirmação entre parentes”, disse ela, mas encontrar a mãe de Nania foi um sonho. A elefante havia depositado seu esterco a cerca de duzentos metros do recinto de Nania.

E como a análise de DNA mostrou que Nania e sua família são elefantes da floresta, a descoberta aumenta o significado de devolver Nania à vida selvagem.

Moore disse que, embora resgatar um animal possa representar um grande investimento de recursos, também pode salvar uma espécie.

“Não consigo nem pensar em não tentar”, disse ela. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU. 

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

elefanta estava sozinha e desidratada quando os aldeões a encontraram. Era setembro de 2017 e a órfã de mãe que vagava perto de Boromo, em Burkina Faso, tinha apenas dois ou três meses de idade.

Nania é uma elefanta que foi encontrada afastada de seu rebanho ainda bebê e resgatada por populares em Burkina Faso. Foto: Melanie Mahoney/IFAW via The New York Times

“Ela era minúscula”, disse Céline Sissler-Bienvenu, que atualmente é diretora do programa de resposta a desastres e redução de risco do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal. A elefante deve ter sido descoberta um ou dois dias depois de se perder de sua família, calcula Sissler-Bienvenu. “Senão ela não teria sobrevivido”.

Muitos elefantes órfãos não sobrevivem. Mas, com a ajuda de pessoas de Boromo, conservacionistas internacionais e sua melhor amiga, uma ovelha preta e branca chamada Whisty, a elefante perdida agora está com cerca de 4 anos de idade e vai muito bem. As crianças de uma escola próxima a batizaram de Nania, nome que na língua local quer dizer “vontade”.

Levar Nania da infância para a juventude significou trabalho ininterrupto para as pessoas envolvidas. E os salvadores de Nania agora enfrentam um novo desafio: descobrir se ela consegue voltar à vida com uma manada de elefantes selvagens.

Esse processo teve uma reviravolta surpreendente. Assim como a tecnologia de DNA já reuniu inúmeros órfãos humanos com suas famílias biológicas, testes semelhantes revelaram que a mãe de Nania provavelmente ainda está perambulando por perto e que um dia Nania poderá se juntar não apenas a qualquer rebanho de elefantes selvagens, mas à sua família original.

A análise de DNA também mostrou que Nania e seus parentes são elefantes da floresta. Para aqueles que trabalham para salvá-los, esse projeto é mais do que apenas reabilitar uma jovem elefanta da floresta: é garantir o futuro de sua espécie. No início deste ano, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) reconheceu os elefantes da floresta como uma espécie em si, diferente dos elefantes da savana, que são maiores e mais numerosos na África. A organização também declarou que os elefantes da floresta estão sob grave risco de extinção.

“Por causa da situação desses animais em termos de quão ameaçados eles estão, cada indivíduo importa de verdade”, disse Ben Okita, copresidente do Grupo de Especialistas em Elefantes Africanos da IUCN, que tem sede em Nairóbi. “Cada indivíduo é muito querido”.

——

Testes de DNA mostraram que possivelmentesua mãe ainda está viva e pesquisadores querem reintegrá-la ao seu bando. Foto: Melanie Mahoney/IFAW via The New York Times

Quando filhotes de elefantes órfãos são resgatados, eles geralmente são encontrados perto da carcaça da mãe. No caso de Nania, porém, ninguém sabia de um adulto que estivesse morto por perto. Embora as mães elefantes sejam extremamente atenciosas, a família de Nania a deixou para trás por algum motivo – talvez durante a travessia noturna de um rio que a pequena elefanta não conseguiu enfrentar.

Os aldeões que a encontraram em 2017 procuraram a ajuda das autoridades locais da vida selvagem, que trouxeram a elefante para um curral próximo de sua sede em Boromo. Os locais juntaram recursos para comprar leite para Nania. Uma drogaria doou fórmula infantil em pó. Mas o apetite da jovem elefanta, ao contrário dos recursos dos humanos ao seu redor, não tinha limites. Os humanos precisavam de ajuda.

“Eles estavam desesperados para saber como lidar com Nania”, disse Sissler-Bienvenu. As autoridades da vida selvagem em Boromo, que fica a poucas horas a sudoeste de Ouagadougou, capital de Burkina Faso, pediram ajuda ao Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal, e o grupo se encarregou de cuidar da elefanta.

Reabilitar um único elefante órfão é uma tarefa hercúlea. Os jovens dependem de leite por dois ou três anos e precisam de ainda mais tempo para aprender habilidades e, em certas áreas, crescer o suficiente para afugentar os leões.

“Quando você começa a fazer a reabilitação de elefantes, em alguns lugares você está começando um trabalho que pode se estender por dez ou doze anos”, disse Katie Moore, vice-presidente adjunta para resgate de animais do Fundo de Bem-Estar Animal.

Mas a organização viu sinais promissores para Nania. Ela se manteve fisicamente saudável e não parecia deprimida.

“Decidimos rapidamente que, sim, que poderíamos atacar este problema e encontrar uma maneira” de ajudar a elefanta a voltar à vida selvagem, disse Moore.

Sissler-Bienvenu fez um orçamento de emergência para pagar pelo leite e depois voou para Burkina Faso para encontrar Nania.

Ela descobriu que a comunidade havia se unido em torno da elefanta. Crianças em idade escolar a visitavam todos os dias e Nania às vezes corria atrás delas, querendo brincar. Ela se acostumou com os sons de motocicletas e burros passando, de pessoas gritando. Ela às vezes invadia a sede da autoridade da vida selvagem para descobrir onde seu leite estava sendo preparado.

“Ela virou, muito rapidamente, uma espécie de mascote”, disse Sissler-Bienvenu.

Mas toda aquela atenção humana não ajudaria Nania a voltar para a natureza. Ela precisava de um lar onde pudesse aprender a ser elefante.

——

O desafio agora é fazer com que Nania aprenda a conviver com outros elefantes selvagens. Foto: Melanie Mahoney/IFAW via The New York Times

Em fevereiro de 2019, a nova morada de Nania foi concluída dentro do Deux Balés, um parque nacional próximo. Tinha um estábulo onde ela ficava à noite e um grande pasto cercado, chamado de boma.

Sua leal amiga Whisty também mora lá, assim como quatro tratadores que ficam com Nania em duplas, uma semana de cada vez. Essa consistência é importante, disse Moore. “Os tratadores realmente servem como mães e tias de aluguel desses jovens elefantes. Eles os confortam”.

Nania passa pelo menos seis a oito horas todos os dias vagando pelo parque com seus tratadores. Isso a ajuda a mapear o ambiente e aprender onde encontrar água e frutas saborosas. Nania também gosta de se banhar em água e lama. E ela não precisa mais de mamadeira: está desmamada há mais de um ano.

Isso significa que ela está pronta para iniciar o processo de integração a um grupo selvagem. Mas não existe um roteiro claro.

Idealmente, um jovem elefante como Nania encontra elefantes selvagens enquanto caminha, fica confortável com eles e acaba deixando a boma para sempre. “Os elefantes escolhem quando vão embora”, disse Moore.

Ajudar um órfão solitário a sobreviver e voltar à vida selvagem pode ser importante para as populações em perigo, disse Shifra Goldenberg, ecologista comportamental da San Diego Zoo Wildlife Alliance. Mas ser criado por humanos também acarreta custos para animais solitários, disse Goldenberg. “Você está atendendo às necessidades deles, mas eles não estão aprendendo com os animais de sua espécie”.

——

A coleta de DNA para identificar a família de Nania foi feita em esterco de outros elefantes que passam pela região. Foto: Ghislain Somé/IFAW via The New York Times

Nania pode ter a chance de se juntar não a qualquer família de elefantes selvagens, mas à sua própria.

Apenas cerca de quarenta elefantes selvagens passam por Deux Balés. A equipe do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal concluiu que a família de Nania provavelmente estava entre estes. Para descobrir, em 2019 eles começaram a coletar amostras de montes de esterco de elefante. E enviaram 17 tubos de ensaio para a Universidade de Washington, em Seattle, no mês de outubro de 2020.

No laboratório da universidade, o biólogo conservacionista Sam Wasser analisa DNA de elefantes. Normalmente, as amostras vêm de apreensões de marfim. Ele e seus colegas sequenciam o DNA de pequenos pedaços de cada presa para descobrir onde os elefantes caçados viviam e rastrear os traficantes de marfim. É um trabalho pesado, disse Wasser. Usar as mesmas ferramentas para ajudar um elefante vivo a voltar para a família “é realmente uma lufada de ar fresco”, disse ele.

O laboratório encontrou um resultado surpreendente: uma das elefantas da amostra não era apenas parente, mas, quase com certeza, a mãe de Nania.

“Não há dúvida de que encontramos a família”, disse Wasser.

Sissler-Bienvenu ficou exultante. “Estávamos esperando uma confirmação entre parentes”, disse ela, mas encontrar a mãe de Nania foi um sonho. A elefante havia depositado seu esterco a cerca de duzentos metros do recinto de Nania.

E como a análise de DNA mostrou que Nania e sua família são elefantes da floresta, a descoberta aumenta o significado de devolver Nania à vida selvagem.

Moore disse que, embora resgatar um animal possa representar um grande investimento de recursos, também pode salvar uma espécie.

“Não consigo nem pensar em não tentar”, disse ela. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU. 

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

elefanta estava sozinha e desidratada quando os aldeões a encontraram. Era setembro de 2017 e a órfã de mãe que vagava perto de Boromo, em Burkina Faso, tinha apenas dois ou três meses de idade.

Nania é uma elefanta que foi encontrada afastada de seu rebanho ainda bebê e resgatada por populares em Burkina Faso. Foto: Melanie Mahoney/IFAW via The New York Times

“Ela era minúscula”, disse Céline Sissler-Bienvenu, que atualmente é diretora do programa de resposta a desastres e redução de risco do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal. A elefante deve ter sido descoberta um ou dois dias depois de se perder de sua família, calcula Sissler-Bienvenu. “Senão ela não teria sobrevivido”.

Muitos elefantes órfãos não sobrevivem. Mas, com a ajuda de pessoas de Boromo, conservacionistas internacionais e sua melhor amiga, uma ovelha preta e branca chamada Whisty, a elefante perdida agora está com cerca de 4 anos de idade e vai muito bem. As crianças de uma escola próxima a batizaram de Nania, nome que na língua local quer dizer “vontade”.

Levar Nania da infância para a juventude significou trabalho ininterrupto para as pessoas envolvidas. E os salvadores de Nania agora enfrentam um novo desafio: descobrir se ela consegue voltar à vida com uma manada de elefantes selvagens.

Esse processo teve uma reviravolta surpreendente. Assim como a tecnologia de DNA já reuniu inúmeros órfãos humanos com suas famílias biológicas, testes semelhantes revelaram que a mãe de Nania provavelmente ainda está perambulando por perto e que um dia Nania poderá se juntar não apenas a qualquer rebanho de elefantes selvagens, mas à sua família original.

A análise de DNA também mostrou que Nania e seus parentes são elefantes da floresta. Para aqueles que trabalham para salvá-los, esse projeto é mais do que apenas reabilitar uma jovem elefanta da floresta: é garantir o futuro de sua espécie. No início deste ano, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) reconheceu os elefantes da floresta como uma espécie em si, diferente dos elefantes da savana, que são maiores e mais numerosos na África. A organização também declarou que os elefantes da floresta estão sob grave risco de extinção.

“Por causa da situação desses animais em termos de quão ameaçados eles estão, cada indivíduo importa de verdade”, disse Ben Okita, copresidente do Grupo de Especialistas em Elefantes Africanos da IUCN, que tem sede em Nairóbi. “Cada indivíduo é muito querido”.

——

Testes de DNA mostraram que possivelmentesua mãe ainda está viva e pesquisadores querem reintegrá-la ao seu bando. Foto: Melanie Mahoney/IFAW via The New York Times

Quando filhotes de elefantes órfãos são resgatados, eles geralmente são encontrados perto da carcaça da mãe. No caso de Nania, porém, ninguém sabia de um adulto que estivesse morto por perto. Embora as mães elefantes sejam extremamente atenciosas, a família de Nania a deixou para trás por algum motivo – talvez durante a travessia noturna de um rio que a pequena elefanta não conseguiu enfrentar.

Os aldeões que a encontraram em 2017 procuraram a ajuda das autoridades locais da vida selvagem, que trouxeram a elefante para um curral próximo de sua sede em Boromo. Os locais juntaram recursos para comprar leite para Nania. Uma drogaria doou fórmula infantil em pó. Mas o apetite da jovem elefanta, ao contrário dos recursos dos humanos ao seu redor, não tinha limites. Os humanos precisavam de ajuda.

“Eles estavam desesperados para saber como lidar com Nania”, disse Sissler-Bienvenu. As autoridades da vida selvagem em Boromo, que fica a poucas horas a sudoeste de Ouagadougou, capital de Burkina Faso, pediram ajuda ao Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal, e o grupo se encarregou de cuidar da elefanta.

Reabilitar um único elefante órfão é uma tarefa hercúlea. Os jovens dependem de leite por dois ou três anos e precisam de ainda mais tempo para aprender habilidades e, em certas áreas, crescer o suficiente para afugentar os leões.

“Quando você começa a fazer a reabilitação de elefantes, em alguns lugares você está começando um trabalho que pode se estender por dez ou doze anos”, disse Katie Moore, vice-presidente adjunta para resgate de animais do Fundo de Bem-Estar Animal.

Mas a organização viu sinais promissores para Nania. Ela se manteve fisicamente saudável e não parecia deprimida.

“Decidimos rapidamente que, sim, que poderíamos atacar este problema e encontrar uma maneira” de ajudar a elefanta a voltar à vida selvagem, disse Moore.

Sissler-Bienvenu fez um orçamento de emergência para pagar pelo leite e depois voou para Burkina Faso para encontrar Nania.

Ela descobriu que a comunidade havia se unido em torno da elefanta. Crianças em idade escolar a visitavam todos os dias e Nania às vezes corria atrás delas, querendo brincar. Ela se acostumou com os sons de motocicletas e burros passando, de pessoas gritando. Ela às vezes invadia a sede da autoridade da vida selvagem para descobrir onde seu leite estava sendo preparado.

“Ela virou, muito rapidamente, uma espécie de mascote”, disse Sissler-Bienvenu.

Mas toda aquela atenção humana não ajudaria Nania a voltar para a natureza. Ela precisava de um lar onde pudesse aprender a ser elefante.

——

O desafio agora é fazer com que Nania aprenda a conviver com outros elefantes selvagens. Foto: Melanie Mahoney/IFAW via The New York Times

Em fevereiro de 2019, a nova morada de Nania foi concluída dentro do Deux Balés, um parque nacional próximo. Tinha um estábulo onde ela ficava à noite e um grande pasto cercado, chamado de boma.

Sua leal amiga Whisty também mora lá, assim como quatro tratadores que ficam com Nania em duplas, uma semana de cada vez. Essa consistência é importante, disse Moore. “Os tratadores realmente servem como mães e tias de aluguel desses jovens elefantes. Eles os confortam”.

Nania passa pelo menos seis a oito horas todos os dias vagando pelo parque com seus tratadores. Isso a ajuda a mapear o ambiente e aprender onde encontrar água e frutas saborosas. Nania também gosta de se banhar em água e lama. E ela não precisa mais de mamadeira: está desmamada há mais de um ano.

Isso significa que ela está pronta para iniciar o processo de integração a um grupo selvagem. Mas não existe um roteiro claro.

Idealmente, um jovem elefante como Nania encontra elefantes selvagens enquanto caminha, fica confortável com eles e acaba deixando a boma para sempre. “Os elefantes escolhem quando vão embora”, disse Moore.

Ajudar um órfão solitário a sobreviver e voltar à vida selvagem pode ser importante para as populações em perigo, disse Shifra Goldenberg, ecologista comportamental da San Diego Zoo Wildlife Alliance. Mas ser criado por humanos também acarreta custos para animais solitários, disse Goldenberg. “Você está atendendo às necessidades deles, mas eles não estão aprendendo com os animais de sua espécie”.

——

A coleta de DNA para identificar a família de Nania foi feita em esterco de outros elefantes que passam pela região. Foto: Ghislain Somé/IFAW via The New York Times

Nania pode ter a chance de se juntar não a qualquer família de elefantes selvagens, mas à sua própria.

Apenas cerca de quarenta elefantes selvagens passam por Deux Balés. A equipe do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal concluiu que a família de Nania provavelmente estava entre estes. Para descobrir, em 2019 eles começaram a coletar amostras de montes de esterco de elefante. E enviaram 17 tubos de ensaio para a Universidade de Washington, em Seattle, no mês de outubro de 2020.

No laboratório da universidade, o biólogo conservacionista Sam Wasser analisa DNA de elefantes. Normalmente, as amostras vêm de apreensões de marfim. Ele e seus colegas sequenciam o DNA de pequenos pedaços de cada presa para descobrir onde os elefantes caçados viviam e rastrear os traficantes de marfim. É um trabalho pesado, disse Wasser. Usar as mesmas ferramentas para ajudar um elefante vivo a voltar para a família “é realmente uma lufada de ar fresco”, disse ele.

O laboratório encontrou um resultado surpreendente: uma das elefantas da amostra não era apenas parente, mas, quase com certeza, a mãe de Nania.

“Não há dúvida de que encontramos a família”, disse Wasser.

Sissler-Bienvenu ficou exultante. “Estávamos esperando uma confirmação entre parentes”, disse ela, mas encontrar a mãe de Nania foi um sonho. A elefante havia depositado seu esterco a cerca de duzentos metros do recinto de Nania.

E como a análise de DNA mostrou que Nania e sua família são elefantes da floresta, a descoberta aumenta o significado de devolver Nania à vida selvagem.

Moore disse que, embora resgatar um animal possa representar um grande investimento de recursos, também pode salvar uma espécie.

“Não consigo nem pensar em não tentar”, disse ela. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU. 

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.