O lado livre da internet

Quem faz software livre preza a liberdade (parte 1)


O software livre garante que usuários e desenvolvedores façam suas escolhas. Mas seremos tão livres assim?

Por CCSL
 Foto: Estadão

Por Alfredo Goldman e Nelson Lago*

Pode parecer chover no molhado em um blog dedicado ao Software Livre, mas hoje vamos falar de liberdade. Mas não apenas a liberdade que é propiciada pelo mero uso de software livre (que já não é pouca coisa!), mas especialmente a liberdade dos colaboradores que participam da comunidade. Só lembrando, não são apenas os programadores que ajudam na evolução dos sistemas com código aberto existente; também é possível ajudar sugerindo melhorias, reportando falhas, testando novas funcionalidades, escrevendo documentação, discutindo ideias para o futuro dos projetos ou mesmo pela simples experiência de uso.

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Há várias possíveis motivações para se envolver no esforço coletivo em torno de algum software livre. Em vários casos, o interesse é econômico, dadas as vantagens que o modelo aberto de desenvolvimento oferece e que já foram discutidas aqui e em muitos outros lugares. Mas há também a vontade de se trabalhar para o bem comum, de forma quase altruísta, onde a recompensa vem de se fazer algo útil e que será utilizado por outras pessoas.

Claro que muitas vezes é necessário haver um incentivo formal para esse processo. Um dos vários exemplos bem sucedidos é o da IBM, que possui grande envolvimento com o projeto Eclipse, nascido de uma iniciativa dela. O desenvolvimento e documentação inicialmente criados pela IBM, o apoio continuado ao projeto e a forte visibilidade da empresa no mercado garantiram um bom ritmo de desenvolvimento até o momento em que a IDE passou a ter vida própria.

Outra empresa que fez bons movimentos nessa direção foi a antiga Sun. Entre outras ações, ela comprou a empresa que desenvolvia um programa chamado StarOffice em 1999. No ano seguinte, o código desse programa foi aberto, dando origem ao OpenOffice, uma das principais opções livres para ferramentas de escritório. Mas infelizmente, após a compra da Sun pela Oracle, esta não se esmerou em trabalhar com a comunidade para manter o sistema. Pessoalmente, pensamos que uma grande empresa teria todo o interesse em manter o desenvolvimento mas, na prática, não foi o que ocorreu. A incerteza e os atritos resultantes na comunidade culminaram na criação de uma nova organização em torno do mesmo código, dando origem a um "novo" projeto, o LibreOffice. Embora o OpenOffice ainda exista, dado que a Oracle delegou seu desenvolvimento para a Fundação Apache, a maior parte da comunidade adotou o LibreOffice.

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Histórias desse tipo não são tão comuns, mas acontecem de vez em quando, o que é muito natural: onde há pessoas, há conflitos, e isso é verdadeiro também na comunidade de software livre. O importante é que todos tenham a liberdade para agir como quiserem, e essa é uma das garantias do software livre: juntos vivemos melhor, mas cada um pode fazer suas escolhas. Ou será que nem sempre?

Um outro produto muito conhecido que foi desenvolvido pela Sun foi a linguagem Java e o ambiente de desenvolvimento correspondente (compilador, interpretador, bibliotecas etc.). O Java é hoje extremamente importante no universo da computação, abarcando desde aplicativos críticos à missão em grandes empresas até produtos de consumo. Em particular, o sistema Android, projeto da Google que está na base de cerca de 80% dos smartphones em uso no Brasil, é fortemente baseado em Java. No entanto, embora tanto o Java da Oracle quanto o Android sejam livres, há anos existe uma disputa judicial entre as duas empresas por conta de copyrights relativos ao Java. Como isso é possível? E como fica a comunidade nessa história?

Na próxima semana continuaremos falando sobre esse caso e como isso se reflete em dificuldades que ameaçam nossa visão da comunidade.

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Até lá!

* Alfredo Goldman é Professor de Ciência da Computação no IME/USP e diretor do CCSL-IME/USP; Nelson Lago é gerente técnico do CCSL-IME/USP.

 Foto: Estadão

Por Alfredo Goldman e Nelson Lago*

Pode parecer chover no molhado em um blog dedicado ao Software Livre, mas hoje vamos falar de liberdade. Mas não apenas a liberdade que é propiciada pelo mero uso de software livre (que já não é pouca coisa!), mas especialmente a liberdade dos colaboradores que participam da comunidade. Só lembrando, não são apenas os programadores que ajudam na evolução dos sistemas com código aberto existente; também é possível ajudar sugerindo melhorias, reportando falhas, testando novas funcionalidades, escrevendo documentação, discutindo ideias para o futuro dos projetos ou mesmo pela simples experiência de uso.

Há várias possíveis motivações para se envolver no esforço coletivo em torno de algum software livre. Em vários casos, o interesse é econômico, dadas as vantagens que o modelo aberto de desenvolvimento oferece e que já foram discutidas aqui e em muitos outros lugares. Mas há também a vontade de se trabalhar para o bem comum, de forma quase altruísta, onde a recompensa vem de se fazer algo útil e que será utilizado por outras pessoas.

Claro que muitas vezes é necessário haver um incentivo formal para esse processo. Um dos vários exemplos bem sucedidos é o da IBM, que possui grande envolvimento com o projeto Eclipse, nascido de uma iniciativa dela. O desenvolvimento e documentação inicialmente criados pela IBM, o apoio continuado ao projeto e a forte visibilidade da empresa no mercado garantiram um bom ritmo de desenvolvimento até o momento em que a IDE passou a ter vida própria.

Outra empresa que fez bons movimentos nessa direção foi a antiga Sun. Entre outras ações, ela comprou a empresa que desenvolvia um programa chamado StarOffice em 1999. No ano seguinte, o código desse programa foi aberto, dando origem ao OpenOffice, uma das principais opções livres para ferramentas de escritório. Mas infelizmente, após a compra da Sun pela Oracle, esta não se esmerou em trabalhar com a comunidade para manter o sistema. Pessoalmente, pensamos que uma grande empresa teria todo o interesse em manter o desenvolvimento mas, na prática, não foi o que ocorreu. A incerteza e os atritos resultantes na comunidade culminaram na criação de uma nova organização em torno do mesmo código, dando origem a um "novo" projeto, o LibreOffice. Embora o OpenOffice ainda exista, dado que a Oracle delegou seu desenvolvimento para a Fundação Apache, a maior parte da comunidade adotou o LibreOffice.

Histórias desse tipo não são tão comuns, mas acontecem de vez em quando, o que é muito natural: onde há pessoas, há conflitos, e isso é verdadeiro também na comunidade de software livre. O importante é que todos tenham a liberdade para agir como quiserem, e essa é uma das garantias do software livre: juntos vivemos melhor, mas cada um pode fazer suas escolhas. Ou será que nem sempre?

Um outro produto muito conhecido que foi desenvolvido pela Sun foi a linguagem Java e o ambiente de desenvolvimento correspondente (compilador, interpretador, bibliotecas etc.). O Java é hoje extremamente importante no universo da computação, abarcando desde aplicativos críticos à missão em grandes empresas até produtos de consumo. Em particular, o sistema Android, projeto da Google que está na base de cerca de 80% dos smartphones em uso no Brasil, é fortemente baseado em Java. No entanto, embora tanto o Java da Oracle quanto o Android sejam livres, há anos existe uma disputa judicial entre as duas empresas por conta de copyrights relativos ao Java. Como isso é possível? E como fica a comunidade nessa história?

Na próxima semana continuaremos falando sobre esse caso e como isso se reflete em dificuldades que ameaçam nossa visão da comunidade.

Até lá!

* Alfredo Goldman é Professor de Ciência da Computação no IME/USP e diretor do CCSL-IME/USP; Nelson Lago é gerente técnico do CCSL-IME/USP.

 Foto: Estadão

Por Alfredo Goldman e Nelson Lago*

Pode parecer chover no molhado em um blog dedicado ao Software Livre, mas hoje vamos falar de liberdade. Mas não apenas a liberdade que é propiciada pelo mero uso de software livre (que já não é pouca coisa!), mas especialmente a liberdade dos colaboradores que participam da comunidade. Só lembrando, não são apenas os programadores que ajudam na evolução dos sistemas com código aberto existente; também é possível ajudar sugerindo melhorias, reportando falhas, testando novas funcionalidades, escrevendo documentação, discutindo ideias para o futuro dos projetos ou mesmo pela simples experiência de uso.

Há várias possíveis motivações para se envolver no esforço coletivo em torno de algum software livre. Em vários casos, o interesse é econômico, dadas as vantagens que o modelo aberto de desenvolvimento oferece e que já foram discutidas aqui e em muitos outros lugares. Mas há também a vontade de se trabalhar para o bem comum, de forma quase altruísta, onde a recompensa vem de se fazer algo útil e que será utilizado por outras pessoas.

Claro que muitas vezes é necessário haver um incentivo formal para esse processo. Um dos vários exemplos bem sucedidos é o da IBM, que possui grande envolvimento com o projeto Eclipse, nascido de uma iniciativa dela. O desenvolvimento e documentação inicialmente criados pela IBM, o apoio continuado ao projeto e a forte visibilidade da empresa no mercado garantiram um bom ritmo de desenvolvimento até o momento em que a IDE passou a ter vida própria.

Outra empresa que fez bons movimentos nessa direção foi a antiga Sun. Entre outras ações, ela comprou a empresa que desenvolvia um programa chamado StarOffice em 1999. No ano seguinte, o código desse programa foi aberto, dando origem ao OpenOffice, uma das principais opções livres para ferramentas de escritório. Mas infelizmente, após a compra da Sun pela Oracle, esta não se esmerou em trabalhar com a comunidade para manter o sistema. Pessoalmente, pensamos que uma grande empresa teria todo o interesse em manter o desenvolvimento mas, na prática, não foi o que ocorreu. A incerteza e os atritos resultantes na comunidade culminaram na criação de uma nova organização em torno do mesmo código, dando origem a um "novo" projeto, o LibreOffice. Embora o OpenOffice ainda exista, dado que a Oracle delegou seu desenvolvimento para a Fundação Apache, a maior parte da comunidade adotou o LibreOffice.

Histórias desse tipo não são tão comuns, mas acontecem de vez em quando, o que é muito natural: onde há pessoas, há conflitos, e isso é verdadeiro também na comunidade de software livre. O importante é que todos tenham a liberdade para agir como quiserem, e essa é uma das garantias do software livre: juntos vivemos melhor, mas cada um pode fazer suas escolhas. Ou será que nem sempre?

Um outro produto muito conhecido que foi desenvolvido pela Sun foi a linguagem Java e o ambiente de desenvolvimento correspondente (compilador, interpretador, bibliotecas etc.). O Java é hoje extremamente importante no universo da computação, abarcando desde aplicativos críticos à missão em grandes empresas até produtos de consumo. Em particular, o sistema Android, projeto da Google que está na base de cerca de 80% dos smartphones em uso no Brasil, é fortemente baseado em Java. No entanto, embora tanto o Java da Oracle quanto o Android sejam livres, há anos existe uma disputa judicial entre as duas empresas por conta de copyrights relativos ao Java. Como isso é possível? E como fica a comunidade nessa história?

Na próxima semana continuaremos falando sobre esse caso e como isso se reflete em dificuldades que ameaçam nossa visão da comunidade.

Até lá!

* Alfredo Goldman é Professor de Ciência da Computação no IME/USP e diretor do CCSL-IME/USP; Nelson Lago é gerente técnico do CCSL-IME/USP.

 Foto: Estadão

Por Alfredo Goldman e Nelson Lago*

Pode parecer chover no molhado em um blog dedicado ao Software Livre, mas hoje vamos falar de liberdade. Mas não apenas a liberdade que é propiciada pelo mero uso de software livre (que já não é pouca coisa!), mas especialmente a liberdade dos colaboradores que participam da comunidade. Só lembrando, não são apenas os programadores que ajudam na evolução dos sistemas com código aberto existente; também é possível ajudar sugerindo melhorias, reportando falhas, testando novas funcionalidades, escrevendo documentação, discutindo ideias para o futuro dos projetos ou mesmo pela simples experiência de uso.

Há várias possíveis motivações para se envolver no esforço coletivo em torno de algum software livre. Em vários casos, o interesse é econômico, dadas as vantagens que o modelo aberto de desenvolvimento oferece e que já foram discutidas aqui e em muitos outros lugares. Mas há também a vontade de se trabalhar para o bem comum, de forma quase altruísta, onde a recompensa vem de se fazer algo útil e que será utilizado por outras pessoas.

Claro que muitas vezes é necessário haver um incentivo formal para esse processo. Um dos vários exemplos bem sucedidos é o da IBM, que possui grande envolvimento com o projeto Eclipse, nascido de uma iniciativa dela. O desenvolvimento e documentação inicialmente criados pela IBM, o apoio continuado ao projeto e a forte visibilidade da empresa no mercado garantiram um bom ritmo de desenvolvimento até o momento em que a IDE passou a ter vida própria.

Outra empresa que fez bons movimentos nessa direção foi a antiga Sun. Entre outras ações, ela comprou a empresa que desenvolvia um programa chamado StarOffice em 1999. No ano seguinte, o código desse programa foi aberto, dando origem ao OpenOffice, uma das principais opções livres para ferramentas de escritório. Mas infelizmente, após a compra da Sun pela Oracle, esta não se esmerou em trabalhar com a comunidade para manter o sistema. Pessoalmente, pensamos que uma grande empresa teria todo o interesse em manter o desenvolvimento mas, na prática, não foi o que ocorreu. A incerteza e os atritos resultantes na comunidade culminaram na criação de uma nova organização em torno do mesmo código, dando origem a um "novo" projeto, o LibreOffice. Embora o OpenOffice ainda exista, dado que a Oracle delegou seu desenvolvimento para a Fundação Apache, a maior parte da comunidade adotou o LibreOffice.

Histórias desse tipo não são tão comuns, mas acontecem de vez em quando, o que é muito natural: onde há pessoas, há conflitos, e isso é verdadeiro também na comunidade de software livre. O importante é que todos tenham a liberdade para agir como quiserem, e essa é uma das garantias do software livre: juntos vivemos melhor, mas cada um pode fazer suas escolhas. Ou será que nem sempre?

Um outro produto muito conhecido que foi desenvolvido pela Sun foi a linguagem Java e o ambiente de desenvolvimento correspondente (compilador, interpretador, bibliotecas etc.). O Java é hoje extremamente importante no universo da computação, abarcando desde aplicativos críticos à missão em grandes empresas até produtos de consumo. Em particular, o sistema Android, projeto da Google que está na base de cerca de 80% dos smartphones em uso no Brasil, é fortemente baseado em Java. No entanto, embora tanto o Java da Oracle quanto o Android sejam livres, há anos existe uma disputa judicial entre as duas empresas por conta de copyrights relativos ao Java. Como isso é possível? E como fica a comunidade nessa história?

Na próxima semana continuaremos falando sobre esse caso e como isso se reflete em dificuldades que ameaçam nossa visão da comunidade.

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* Alfredo Goldman é Professor de Ciência da Computação no IME/USP e diretor do CCSL-IME/USP; Nelson Lago é gerente técnico do CCSL-IME/USP.

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