Cerca de 2,2 milhões de hectares, equivalente ao território inteiro de Israel. Essa é a área hoje monitorada pelos sistemas da Smartbreeder, startup que desenvolve um sistema que ajuda usinas a manejar suas plantações de cana de açúcar. Fundada em 2007 na cidade de Adamantina (SP), a Smartbreeder já contava com uma década de existência quando decidiu migrar para Piracicaba em busca de novos negócios e mão de obra qualificada. “Viemos porque o que tem de mais forte no agro está aqui”, explica Cristiano Fagundes, um dos diretores da empresa.
Desde a chegada à nova sede, mais de 400 km distante de sua cidade natal, a Smartbreeder tem sentido o impacto do crescimento: recebeu em 2018 um aporte de R$ 5 milhões do fundo Inseed Fima, criado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Com os recursos, fez a equipe crescer cerca de três vezes ao longo de um ano e meio, saltando de 15 para 58 funcionários. Hoje, tem 60 usinas de cana como clientes – a expectativa para os próximos dois anos é de dobrar esse número, além de atuar com soja, milho e algodão.
A Smartbreeder está longe de ser a única empresa, porém, a migrar para Piracicaba ou abrir um escritório por lá para se aproveitar das múltiplas conexões que a cidade oferece. É o caso também da Hórus Aeronaves, startup catarinense de drones para monitoramento de plantações – enquanto a equipe de desenvolvimento e fabricação fica em Florianópolis, o time de vendas permanece no interior paulista. A presença, inclusive, ajudou a empresa a levantar um aporte com a SP Ventures, fundo estadual de incentivo à inovação, que costuma apostar em startups próximas ao agronegócio.
Outra startup que nasceu longe mas tem escritório na região foi a Agrosmart, de Itajubá (MG). Com foco em monitoramento das lavouras, ela tem entre seus clientes empresas como Raízen, Syngenta, Coca Cola e Cargill, oferecendo soluções para rastreabilidade e auxílio na gestão da irrigação. “São empresas que compram de vários fornecedores, mas precisam geri-los. Além disso, o consumidor quer saber como o alimento foi produzido. Nós os ajudamos nessa operação”, diz Guilherme Raucci, diretor de novos negócios da empresa, que já atua em nove países e tem 50 funcionários.
Hubs auxiliam empresas a ter flexibilidade
O processo de migração deve se intensificar nos próximos meses, graças aos múltiplos hubs e centros de startups que têm sido abertos na cidade – além de espaços dedicados a pecuária e startups de alimentação (foodtechs), o maior destaque recente é o AgTech Garage, aberto em maio com o apoio de companhias como Bayer, Sicredi e Ourofino. Outras corporações, como Raízen e Coplacana, também já têm os seus espaços.
Isso porque os hubs dão flexibilidade ao negócio das empresas. Em vez de mudar toda ou parte da equipe para o interior paulista, as startups interessadas em estar em Piracicaba podem “alugar” algumas cadeiras ou posições na cidade, fazendo um rodízio de funcionários, por exemplo. “Aqui, o empreendedor está constantemente aprendendo, se expondo ao mercado e conversando com potenciais parceiros e investidores”, diz José Tomé, cofundador do AgTech Garage, por onde passam cerca de 200 pessoas todos os dias.
Nem mesmo quem tem sede próxima à cidade fica imune a se instalar por perto. É o caso da Sintecsys, que atua com monitoramento de incêndios em florestas plantadas. Seus principais clientes são empresas que plantam eucaliptos, com 3,5 milhões de hectares monitorados em cinco Estados. Fundada em Jundiaí, a cerca de 100 km, a empresa tem hoje um espaço em um hub na cidade. “É um ecossistema ativo, tem muita tração e visibilidade. Era fundamental estarmos aqui”, diz Osmar Bambini, diretor de inovação e novos negócios da Sintecsys.