Kratos persa


'Garshasp', game desenvolvido no Irã chamou atenção do mundo e foi comparado a 'God of War'

Por Redação Link
Atualização:

Você conhece algum jogo produzido no Irã? Você se lembra de algum game que tenha a mitologia persa como referência? E de algum título para PC desenvolvido com software open source? Nada? A partir de outubro, Garshasp será a sua resposta afirmativa para todas essas perguntas.

O game é fruto dos esforços criativos da Fanafzar, softhouse formada em 2004 no Irã a partir de outra empresa homônima, que desenvolve programas corporativos. O Link conversou, por e-mail, com Amir Fassihi, um dos fundadores da empresa e gerente de produção do Garshasp.

Amir é formado em engenharia civil pela Universidade de Tecnologia Sharif, no Teerã, além de ter ganhado uma bolsa para estudar engenharia nos EUA. “Fazer jogos sempre foi uma grande paixão minha e eu sonhava com isso desde os dias eu estava na escola”, diz Amir, que usou uma plataforma livre como base para criar o ambiente mítico de Garshasp.

continua após a publicidade

Dois fatores justificam, para Amir, a escolha por ferramentas open source. Primeiro, a própria Fanafzar usa software livre em suas aplicações administrativas, já que elas permitem que os desenvolvedores alterem qualquer aspecto do produto. Segundo, devido a uma série de restrições econômicas e políticas impostas ao Irã, muitos softwares, ferramentas e bibliotecas não podem ser oficialmente comprados lá.

O tamanho da Fanafzar também complica: “Mesmo se não houvesse as sanções, para um estúdio pequeno como o nosso, sem financiamento e sem relações com grandes editoras, seria muito difícil comprar um dos caríssimos softwares de desenvolvimento de games”, diz Amir.

InícioA inspiração inicial para Garshasp veio de um livro de fantasia baseado na mitologia persa que Amir e Arash Jafari, seu sócio na empresa, descobriram. A leitura despertou o interesse dos dois, que já vinham estudando os movimentos básicos para o desenvolvimento de games para PC. “Eram apenas duas pessoas tentando fazer algo na base da tentativa e erro”, relembra.

continua após a publicidade

“Nós ainda procuramos um escritor profissional, especialista em história e mitologia persa para nos ajudar com o roteiro de Garshasp”, explica Amir, que afirma que toda a equipe envolvida no jogo e, principalmente, na parte visual, fez muita pesquisa.

“Nosso designer, Soheil Eshraghi, fez um trabalho maravilhoso em visualizar os monstros e criaturas míticas, algo que não é comum na mitologia persa.”

O mercado de videogames e jogos para computador ainda é muito restrito no Irã, porém Amir é otimista em relação à distribuição de Garshasp: “Temos percebido uma repercussão positiva dentro do Irã, e muitos acreditam que o jogo foi um salto no desenvolvimento de games iranianos”. A empresa também tem planos de distribuir o game para outros países e já estão em negociação com distribuidoras internacionais, além de estudar a possibilidade de permitir que o jogo seja baixado.

continua após a publicidade

A equipe da Fanafzar foi muito bem recebida na Gamescom – a mais importante conferência anual de games da Europa, realizada na Alemanha – onde a empresa, além de conseguir estabelecer bons contatos, chamou a atenção da imprensa especializada internacional. “Parece estranho para o Ocidente ver um estúdio de desenvolvimento de jogos do Irã, mas gostaríamos muito de ver mais jogos iranianos, com histórias e elementos da cultura local, e que isso possa ser desfrutado por qualquer pessoa no mundo.”

Na web, o jogo foi comparado a God of War, um clássico do estilo hack & slash – aquele em que o jogador comanda um personagem que sai desembestado destruindo tudo o que vê no caminho –, lançado em 2005 para o PlayStation 2 (God of War 3 foi lançado neste ano para o PS3).

Fundação A Fanafzar conseguiu levantar fundos para a produção de Garshasp de duas formas: com os lucros gerados pela produção de softwares corporativos e com verba vinda diretamente do Governo do Irã.

continua após a publicidade

Em 2006, o Conselho Supremo da Revolução Cultural criou a Fundação Nacional de Jogos de Computador, responsável pela produção e distribuição de jogos de computador, fornecendo apoio técnico e financeiro para a indústria de games do Irã. A Fundação também é responsável pela proibição de jogos “impróprios”, que contenham violência, sexo, consumo de álcool e de drogas. Algo próximo ao que a Entertainment Software Rating Board (ESRB) faz nos EUA, guardadas as devidas proporções.

“A Fundação tem um objetivo importante e eles têm tomado muitas medidas boas, o que é positivo. Não há editoras aqui no Irã e ninguém investe em games, portanto uma ajuda de uma organização pode realmente empurrar pequenos estúdios minimamente ambiciosos”, justifica Amir quando questionado sobre a ajuda que recebeu do governo.

Mercado O Irã tem cerca de 35 empresas empenhadas no desenvolvimento de games e neste ano fez a sua segunda participação em uma conferência internacional de games, na Gamescom. Desde a sua primeira participação em 2009, o país tem recebido, além do espaço na mídia, boas críticas em relação à sua produção de jogos para PC.

continua após a publicidade

Neste ano o país também lançou o AsmandeZ (Sky Fortress), primeiro jogo online produzido no Irã, que repercutiu em blogs e sites de notícias sobre games do mundo inteiro, inclusive do Brasil. Segundo dados oficiais de 2008, cerca de 3,5 milhões de iranianos estavam matriculados em universidades, em um país de 75 milhões de pessoas. No Brasil, que tem uma população de cerca de 190 milhões (mais do que o dobro do Irã), há 4,8 milhões de universitários.

“Na verdade o desenvolvimento de jogos é muito novo no Irã, mas há um grande mercado para os gamers, já que a população é majoritariamente de jovens, que jogam todos os tipos de PC e consoles de jogos. Porém a pirataria também é um grande problema aqui”, explica Amir.

O país não tem leis que protejam os direitos autorais de conteúdo produzido em outros países, além de não ser membro da Organização Mundial do Comércio. O Irã também faz vista grossa para a pirataria, respondendo às sanções comerciais impostas ao país. “Nós também não podemos comprar os kits de desenvolvimento para XBox ou PS3, assim o desenvolvimento de jogos aqui é limitado para o mercado de PC”, explica Amir.

continua após a publicidade

Assim como a maioria das atuais grandes produtoras, segundo Amir, a Fanafzar também tem planos de estabelecer um contato mais próximo com os jogadores através das mídias sociais. “É algo que provavelmente iremos fazer.” A empresa tem acompanhado a repercussão de Garshasp na internet, inclusive no Brasil. Amir ainda faz um agradecimento ao público brasileiro: “Encontramos um post em um blog do Brasil sobre Garshasp e depois recebemos muitos comentários positivos dos brasileiros em nossa página no YouTube, o que nos fez realmente felizes”.

As realidades políticas do Brasil e do Irã são bastante distintas, mas para Amir os países têm uma proximidade. “De alguma forma, sinto que o Brasil nos entende profundamente.”

// Eduardo Roberto

—- Leia mais:Link no papel – 20/09/2010

Você conhece algum jogo produzido no Irã? Você se lembra de algum game que tenha a mitologia persa como referência? E de algum título para PC desenvolvido com software open source? Nada? A partir de outubro, Garshasp será a sua resposta afirmativa para todas essas perguntas.

O game é fruto dos esforços criativos da Fanafzar, softhouse formada em 2004 no Irã a partir de outra empresa homônima, que desenvolve programas corporativos. O Link conversou, por e-mail, com Amir Fassihi, um dos fundadores da empresa e gerente de produção do Garshasp.

Amir é formado em engenharia civil pela Universidade de Tecnologia Sharif, no Teerã, além de ter ganhado uma bolsa para estudar engenharia nos EUA. “Fazer jogos sempre foi uma grande paixão minha e eu sonhava com isso desde os dias eu estava na escola”, diz Amir, que usou uma plataforma livre como base para criar o ambiente mítico de Garshasp.

Dois fatores justificam, para Amir, a escolha por ferramentas open source. Primeiro, a própria Fanafzar usa software livre em suas aplicações administrativas, já que elas permitem que os desenvolvedores alterem qualquer aspecto do produto. Segundo, devido a uma série de restrições econômicas e políticas impostas ao Irã, muitos softwares, ferramentas e bibliotecas não podem ser oficialmente comprados lá.

O tamanho da Fanafzar também complica: “Mesmo se não houvesse as sanções, para um estúdio pequeno como o nosso, sem financiamento e sem relações com grandes editoras, seria muito difícil comprar um dos caríssimos softwares de desenvolvimento de games”, diz Amir.

InícioA inspiração inicial para Garshasp veio de um livro de fantasia baseado na mitologia persa que Amir e Arash Jafari, seu sócio na empresa, descobriram. A leitura despertou o interesse dos dois, que já vinham estudando os movimentos básicos para o desenvolvimento de games para PC. “Eram apenas duas pessoas tentando fazer algo na base da tentativa e erro”, relembra.

“Nós ainda procuramos um escritor profissional, especialista em história e mitologia persa para nos ajudar com o roteiro de Garshasp”, explica Amir, que afirma que toda a equipe envolvida no jogo e, principalmente, na parte visual, fez muita pesquisa.

“Nosso designer, Soheil Eshraghi, fez um trabalho maravilhoso em visualizar os monstros e criaturas míticas, algo que não é comum na mitologia persa.”

O mercado de videogames e jogos para computador ainda é muito restrito no Irã, porém Amir é otimista em relação à distribuição de Garshasp: “Temos percebido uma repercussão positiva dentro do Irã, e muitos acreditam que o jogo foi um salto no desenvolvimento de games iranianos”. A empresa também tem planos de distribuir o game para outros países e já estão em negociação com distribuidoras internacionais, além de estudar a possibilidade de permitir que o jogo seja baixado.

A equipe da Fanafzar foi muito bem recebida na Gamescom – a mais importante conferência anual de games da Europa, realizada na Alemanha – onde a empresa, além de conseguir estabelecer bons contatos, chamou a atenção da imprensa especializada internacional. “Parece estranho para o Ocidente ver um estúdio de desenvolvimento de jogos do Irã, mas gostaríamos muito de ver mais jogos iranianos, com histórias e elementos da cultura local, e que isso possa ser desfrutado por qualquer pessoa no mundo.”

Na web, o jogo foi comparado a God of War, um clássico do estilo hack & slash – aquele em que o jogador comanda um personagem que sai desembestado destruindo tudo o que vê no caminho –, lançado em 2005 para o PlayStation 2 (God of War 3 foi lançado neste ano para o PS3).

Fundação A Fanafzar conseguiu levantar fundos para a produção de Garshasp de duas formas: com os lucros gerados pela produção de softwares corporativos e com verba vinda diretamente do Governo do Irã.

Em 2006, o Conselho Supremo da Revolução Cultural criou a Fundação Nacional de Jogos de Computador, responsável pela produção e distribuição de jogos de computador, fornecendo apoio técnico e financeiro para a indústria de games do Irã. A Fundação também é responsável pela proibição de jogos “impróprios”, que contenham violência, sexo, consumo de álcool e de drogas. Algo próximo ao que a Entertainment Software Rating Board (ESRB) faz nos EUA, guardadas as devidas proporções.

“A Fundação tem um objetivo importante e eles têm tomado muitas medidas boas, o que é positivo. Não há editoras aqui no Irã e ninguém investe em games, portanto uma ajuda de uma organização pode realmente empurrar pequenos estúdios minimamente ambiciosos”, justifica Amir quando questionado sobre a ajuda que recebeu do governo.

Mercado O Irã tem cerca de 35 empresas empenhadas no desenvolvimento de games e neste ano fez a sua segunda participação em uma conferência internacional de games, na Gamescom. Desde a sua primeira participação em 2009, o país tem recebido, além do espaço na mídia, boas críticas em relação à sua produção de jogos para PC.

Neste ano o país também lançou o AsmandeZ (Sky Fortress), primeiro jogo online produzido no Irã, que repercutiu em blogs e sites de notícias sobre games do mundo inteiro, inclusive do Brasil. Segundo dados oficiais de 2008, cerca de 3,5 milhões de iranianos estavam matriculados em universidades, em um país de 75 milhões de pessoas. No Brasil, que tem uma população de cerca de 190 milhões (mais do que o dobro do Irã), há 4,8 milhões de universitários.

“Na verdade o desenvolvimento de jogos é muito novo no Irã, mas há um grande mercado para os gamers, já que a população é majoritariamente de jovens, que jogam todos os tipos de PC e consoles de jogos. Porém a pirataria também é um grande problema aqui”, explica Amir.

O país não tem leis que protejam os direitos autorais de conteúdo produzido em outros países, além de não ser membro da Organização Mundial do Comércio. O Irã também faz vista grossa para a pirataria, respondendo às sanções comerciais impostas ao país. “Nós também não podemos comprar os kits de desenvolvimento para XBox ou PS3, assim o desenvolvimento de jogos aqui é limitado para o mercado de PC”, explica Amir.

Assim como a maioria das atuais grandes produtoras, segundo Amir, a Fanafzar também tem planos de estabelecer um contato mais próximo com os jogadores através das mídias sociais. “É algo que provavelmente iremos fazer.” A empresa tem acompanhado a repercussão de Garshasp na internet, inclusive no Brasil. Amir ainda faz um agradecimento ao público brasileiro: “Encontramos um post em um blog do Brasil sobre Garshasp e depois recebemos muitos comentários positivos dos brasileiros em nossa página no YouTube, o que nos fez realmente felizes”.

As realidades políticas do Brasil e do Irã são bastante distintas, mas para Amir os países têm uma proximidade. “De alguma forma, sinto que o Brasil nos entende profundamente.”

// Eduardo Roberto

—- Leia mais:Link no papel – 20/09/2010

Você conhece algum jogo produzido no Irã? Você se lembra de algum game que tenha a mitologia persa como referência? E de algum título para PC desenvolvido com software open source? Nada? A partir de outubro, Garshasp será a sua resposta afirmativa para todas essas perguntas.

O game é fruto dos esforços criativos da Fanafzar, softhouse formada em 2004 no Irã a partir de outra empresa homônima, que desenvolve programas corporativos. O Link conversou, por e-mail, com Amir Fassihi, um dos fundadores da empresa e gerente de produção do Garshasp.

Amir é formado em engenharia civil pela Universidade de Tecnologia Sharif, no Teerã, além de ter ganhado uma bolsa para estudar engenharia nos EUA. “Fazer jogos sempre foi uma grande paixão minha e eu sonhava com isso desde os dias eu estava na escola”, diz Amir, que usou uma plataforma livre como base para criar o ambiente mítico de Garshasp.

Dois fatores justificam, para Amir, a escolha por ferramentas open source. Primeiro, a própria Fanafzar usa software livre em suas aplicações administrativas, já que elas permitem que os desenvolvedores alterem qualquer aspecto do produto. Segundo, devido a uma série de restrições econômicas e políticas impostas ao Irã, muitos softwares, ferramentas e bibliotecas não podem ser oficialmente comprados lá.

O tamanho da Fanafzar também complica: “Mesmo se não houvesse as sanções, para um estúdio pequeno como o nosso, sem financiamento e sem relações com grandes editoras, seria muito difícil comprar um dos caríssimos softwares de desenvolvimento de games”, diz Amir.

InícioA inspiração inicial para Garshasp veio de um livro de fantasia baseado na mitologia persa que Amir e Arash Jafari, seu sócio na empresa, descobriram. A leitura despertou o interesse dos dois, que já vinham estudando os movimentos básicos para o desenvolvimento de games para PC. “Eram apenas duas pessoas tentando fazer algo na base da tentativa e erro”, relembra.

“Nós ainda procuramos um escritor profissional, especialista em história e mitologia persa para nos ajudar com o roteiro de Garshasp”, explica Amir, que afirma que toda a equipe envolvida no jogo e, principalmente, na parte visual, fez muita pesquisa.

“Nosso designer, Soheil Eshraghi, fez um trabalho maravilhoso em visualizar os monstros e criaturas míticas, algo que não é comum na mitologia persa.”

O mercado de videogames e jogos para computador ainda é muito restrito no Irã, porém Amir é otimista em relação à distribuição de Garshasp: “Temos percebido uma repercussão positiva dentro do Irã, e muitos acreditam que o jogo foi um salto no desenvolvimento de games iranianos”. A empresa também tem planos de distribuir o game para outros países e já estão em negociação com distribuidoras internacionais, além de estudar a possibilidade de permitir que o jogo seja baixado.

A equipe da Fanafzar foi muito bem recebida na Gamescom – a mais importante conferência anual de games da Europa, realizada na Alemanha – onde a empresa, além de conseguir estabelecer bons contatos, chamou a atenção da imprensa especializada internacional. “Parece estranho para o Ocidente ver um estúdio de desenvolvimento de jogos do Irã, mas gostaríamos muito de ver mais jogos iranianos, com histórias e elementos da cultura local, e que isso possa ser desfrutado por qualquer pessoa no mundo.”

Na web, o jogo foi comparado a God of War, um clássico do estilo hack & slash – aquele em que o jogador comanda um personagem que sai desembestado destruindo tudo o que vê no caminho –, lançado em 2005 para o PlayStation 2 (God of War 3 foi lançado neste ano para o PS3).

Fundação A Fanafzar conseguiu levantar fundos para a produção de Garshasp de duas formas: com os lucros gerados pela produção de softwares corporativos e com verba vinda diretamente do Governo do Irã.

Em 2006, o Conselho Supremo da Revolução Cultural criou a Fundação Nacional de Jogos de Computador, responsável pela produção e distribuição de jogos de computador, fornecendo apoio técnico e financeiro para a indústria de games do Irã. A Fundação também é responsável pela proibição de jogos “impróprios”, que contenham violência, sexo, consumo de álcool e de drogas. Algo próximo ao que a Entertainment Software Rating Board (ESRB) faz nos EUA, guardadas as devidas proporções.

“A Fundação tem um objetivo importante e eles têm tomado muitas medidas boas, o que é positivo. Não há editoras aqui no Irã e ninguém investe em games, portanto uma ajuda de uma organização pode realmente empurrar pequenos estúdios minimamente ambiciosos”, justifica Amir quando questionado sobre a ajuda que recebeu do governo.

Mercado O Irã tem cerca de 35 empresas empenhadas no desenvolvimento de games e neste ano fez a sua segunda participação em uma conferência internacional de games, na Gamescom. Desde a sua primeira participação em 2009, o país tem recebido, além do espaço na mídia, boas críticas em relação à sua produção de jogos para PC.

Neste ano o país também lançou o AsmandeZ (Sky Fortress), primeiro jogo online produzido no Irã, que repercutiu em blogs e sites de notícias sobre games do mundo inteiro, inclusive do Brasil. Segundo dados oficiais de 2008, cerca de 3,5 milhões de iranianos estavam matriculados em universidades, em um país de 75 milhões de pessoas. No Brasil, que tem uma população de cerca de 190 milhões (mais do que o dobro do Irã), há 4,8 milhões de universitários.

“Na verdade o desenvolvimento de jogos é muito novo no Irã, mas há um grande mercado para os gamers, já que a população é majoritariamente de jovens, que jogam todos os tipos de PC e consoles de jogos. Porém a pirataria também é um grande problema aqui”, explica Amir.

O país não tem leis que protejam os direitos autorais de conteúdo produzido em outros países, além de não ser membro da Organização Mundial do Comércio. O Irã também faz vista grossa para a pirataria, respondendo às sanções comerciais impostas ao país. “Nós também não podemos comprar os kits de desenvolvimento para XBox ou PS3, assim o desenvolvimento de jogos aqui é limitado para o mercado de PC”, explica Amir.

Assim como a maioria das atuais grandes produtoras, segundo Amir, a Fanafzar também tem planos de estabelecer um contato mais próximo com os jogadores através das mídias sociais. “É algo que provavelmente iremos fazer.” A empresa tem acompanhado a repercussão de Garshasp na internet, inclusive no Brasil. Amir ainda faz um agradecimento ao público brasileiro: “Encontramos um post em um blog do Brasil sobre Garshasp e depois recebemos muitos comentários positivos dos brasileiros em nossa página no YouTube, o que nos fez realmente felizes”.

As realidades políticas do Brasil e do Irã são bastante distintas, mas para Amir os países têm uma proximidade. “De alguma forma, sinto que o Brasil nos entende profundamente.”

// Eduardo Roberto

—- Leia mais:Link no papel – 20/09/2010

Você conhece algum jogo produzido no Irã? Você se lembra de algum game que tenha a mitologia persa como referência? E de algum título para PC desenvolvido com software open source? Nada? A partir de outubro, Garshasp será a sua resposta afirmativa para todas essas perguntas.

O game é fruto dos esforços criativos da Fanafzar, softhouse formada em 2004 no Irã a partir de outra empresa homônima, que desenvolve programas corporativos. O Link conversou, por e-mail, com Amir Fassihi, um dos fundadores da empresa e gerente de produção do Garshasp.

Amir é formado em engenharia civil pela Universidade de Tecnologia Sharif, no Teerã, além de ter ganhado uma bolsa para estudar engenharia nos EUA. “Fazer jogos sempre foi uma grande paixão minha e eu sonhava com isso desde os dias eu estava na escola”, diz Amir, que usou uma plataforma livre como base para criar o ambiente mítico de Garshasp.

Dois fatores justificam, para Amir, a escolha por ferramentas open source. Primeiro, a própria Fanafzar usa software livre em suas aplicações administrativas, já que elas permitem que os desenvolvedores alterem qualquer aspecto do produto. Segundo, devido a uma série de restrições econômicas e políticas impostas ao Irã, muitos softwares, ferramentas e bibliotecas não podem ser oficialmente comprados lá.

O tamanho da Fanafzar também complica: “Mesmo se não houvesse as sanções, para um estúdio pequeno como o nosso, sem financiamento e sem relações com grandes editoras, seria muito difícil comprar um dos caríssimos softwares de desenvolvimento de games”, diz Amir.

InícioA inspiração inicial para Garshasp veio de um livro de fantasia baseado na mitologia persa que Amir e Arash Jafari, seu sócio na empresa, descobriram. A leitura despertou o interesse dos dois, que já vinham estudando os movimentos básicos para o desenvolvimento de games para PC. “Eram apenas duas pessoas tentando fazer algo na base da tentativa e erro”, relembra.

“Nós ainda procuramos um escritor profissional, especialista em história e mitologia persa para nos ajudar com o roteiro de Garshasp”, explica Amir, que afirma que toda a equipe envolvida no jogo e, principalmente, na parte visual, fez muita pesquisa.

“Nosso designer, Soheil Eshraghi, fez um trabalho maravilhoso em visualizar os monstros e criaturas míticas, algo que não é comum na mitologia persa.”

O mercado de videogames e jogos para computador ainda é muito restrito no Irã, porém Amir é otimista em relação à distribuição de Garshasp: “Temos percebido uma repercussão positiva dentro do Irã, e muitos acreditam que o jogo foi um salto no desenvolvimento de games iranianos”. A empresa também tem planos de distribuir o game para outros países e já estão em negociação com distribuidoras internacionais, além de estudar a possibilidade de permitir que o jogo seja baixado.

A equipe da Fanafzar foi muito bem recebida na Gamescom – a mais importante conferência anual de games da Europa, realizada na Alemanha – onde a empresa, além de conseguir estabelecer bons contatos, chamou a atenção da imprensa especializada internacional. “Parece estranho para o Ocidente ver um estúdio de desenvolvimento de jogos do Irã, mas gostaríamos muito de ver mais jogos iranianos, com histórias e elementos da cultura local, e que isso possa ser desfrutado por qualquer pessoa no mundo.”

Na web, o jogo foi comparado a God of War, um clássico do estilo hack & slash – aquele em que o jogador comanda um personagem que sai desembestado destruindo tudo o que vê no caminho –, lançado em 2005 para o PlayStation 2 (God of War 3 foi lançado neste ano para o PS3).

Fundação A Fanafzar conseguiu levantar fundos para a produção de Garshasp de duas formas: com os lucros gerados pela produção de softwares corporativos e com verba vinda diretamente do Governo do Irã.

Em 2006, o Conselho Supremo da Revolução Cultural criou a Fundação Nacional de Jogos de Computador, responsável pela produção e distribuição de jogos de computador, fornecendo apoio técnico e financeiro para a indústria de games do Irã. A Fundação também é responsável pela proibição de jogos “impróprios”, que contenham violência, sexo, consumo de álcool e de drogas. Algo próximo ao que a Entertainment Software Rating Board (ESRB) faz nos EUA, guardadas as devidas proporções.

“A Fundação tem um objetivo importante e eles têm tomado muitas medidas boas, o que é positivo. Não há editoras aqui no Irã e ninguém investe em games, portanto uma ajuda de uma organização pode realmente empurrar pequenos estúdios minimamente ambiciosos”, justifica Amir quando questionado sobre a ajuda que recebeu do governo.

Mercado O Irã tem cerca de 35 empresas empenhadas no desenvolvimento de games e neste ano fez a sua segunda participação em uma conferência internacional de games, na Gamescom. Desde a sua primeira participação em 2009, o país tem recebido, além do espaço na mídia, boas críticas em relação à sua produção de jogos para PC.

Neste ano o país também lançou o AsmandeZ (Sky Fortress), primeiro jogo online produzido no Irã, que repercutiu em blogs e sites de notícias sobre games do mundo inteiro, inclusive do Brasil. Segundo dados oficiais de 2008, cerca de 3,5 milhões de iranianos estavam matriculados em universidades, em um país de 75 milhões de pessoas. No Brasil, que tem uma população de cerca de 190 milhões (mais do que o dobro do Irã), há 4,8 milhões de universitários.

“Na verdade o desenvolvimento de jogos é muito novo no Irã, mas há um grande mercado para os gamers, já que a população é majoritariamente de jovens, que jogam todos os tipos de PC e consoles de jogos. Porém a pirataria também é um grande problema aqui”, explica Amir.

O país não tem leis que protejam os direitos autorais de conteúdo produzido em outros países, além de não ser membro da Organização Mundial do Comércio. O Irã também faz vista grossa para a pirataria, respondendo às sanções comerciais impostas ao país. “Nós também não podemos comprar os kits de desenvolvimento para XBox ou PS3, assim o desenvolvimento de jogos aqui é limitado para o mercado de PC”, explica Amir.

Assim como a maioria das atuais grandes produtoras, segundo Amir, a Fanafzar também tem planos de estabelecer um contato mais próximo com os jogadores através das mídias sociais. “É algo que provavelmente iremos fazer.” A empresa tem acompanhado a repercussão de Garshasp na internet, inclusive no Brasil. Amir ainda faz um agradecimento ao público brasileiro: “Encontramos um post em um blog do Brasil sobre Garshasp e depois recebemos muitos comentários positivos dos brasileiros em nossa página no YouTube, o que nos fez realmente felizes”.

As realidades políticas do Brasil e do Irã são bastante distintas, mas para Amir os países têm uma proximidade. “De alguma forma, sinto que o Brasil nos entende profundamente.”

// Eduardo Roberto

—- Leia mais:Link no papel – 20/09/2010

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.