Opinião|As virtudes de Bolsonaro


Discurso conservador assenta na ‘persona’ de homem simples do povo defensor do Brasil

Por Nicolau da Rocha Cavalcanti

Não se chega ao poder sem uma boa dose de sorte, de fortuna. O político que se esquece disso, pensando que a vitória eleitoral se deve apenas às suas ações, comete enorme erro. Também se equivoca quem atribui exclusivamente a vitória do adversário político às circunstâncias. Sempre há sorte e sempre há virtude.

Contrariando vários prognósticos, Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República. E contrariando outras tantas previsões, ele continua contando com significativo apoio popular. Nesse quadro, há fatores circunstanciais, mas há também ações politicamente habilidosas. Ignorar as virtudes de Bolsonaro é um jeito certeiro de contribuir para sua permanência no poder.

De forma paradoxal, a fortuna política sorriu para Bolsonaro no atentado contra sua vida, em setembro de 2018. Também lhe sorriu em situações mais amenas. O casamento com Michelle de Paula o aproximou do universo protestante. Enquanto seu eleitorado esteve restrito ao âmbito militar, Bolsonaro era um político de 100 mil votos. Em 2014, a proximidade com as igrejas rendeu-lhe 460 mil votos. Bolsonaro não precisou de estudo sociológico para identificar os sentimentos do povo. Michelle o guiou.

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Além da sorte, Bolsonaro soube agir com perspicácia. É conhecida, por exemplo, sua habilidade nas redes sociais. O sucesso da comunicação com o eleitor não foi, no entanto, mero fruto do uso intensivo da tecnologia. Bolsonaro valeu-se de duas atitudes – duas virtudes, em termos políticos – que foram decisivas para ele.

Desde 2014, mas especialmente na campanha de 2018, Jair Bolsonaro apropriou-se de um discurso conservador-religioso. Pode-se discutir se o que ele diz é, a rigor, conservador ou mesmo religioso. Recente live de quinta-feira, com insinuações sobre a vida sexual de uma criança, é de uma brutalidade desconcertante. No entanto, muitas pessoas com uma visão de mundo religiosa se sentem defendidas e representadas por ele. Aquilo que o torna ridículo aos olhos de muitos – por exemplo, a menção à cristofobia em seu discurso na ONU – é precisamente o que cria sintonia afetiva (mais profunda que a mera simpatia política) com outras tantas pessoas. A jogada política não é banal. A maioria da população brasileira acredita em Deus.

O uso dos sentimentos religiosos da população para fins eleitorais talvez seja um dos meios mais nefastos – e também mais eficazes – de manipulação política. Bolsonaro entendeu essa eficácia e sua verve polemista, antes dedicada à defesa da ditadura militar, passou a ser usada também em questões morais e religiosas. E o que muitos veem como uma inconstitucional confusão entre Estado e religião é para outros sinal da retidão de caráter de Bolsonaro, que não tem medo de dar a cara por Jesus Cristo.

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Tudo isso pode soar estranho aos ouvidos contemporâneos, mas é inegável que as afirmações de Bolsonaro sobre matéria moral e religiosa têm ressonância em muitos corações. O efeito é poderoso – e perigoso. Bolsonaro pode fazer tudo, até brigar com Sergio Moro a respeito de interferência na Polícia Federal, mas aos olhos de seus seguidores ele está salvando o País da corrupção, do PT, do ateísmo e da ideologia de gênero. A presença da chamada ala ideológica no governo federal ajuda a manter o discurso, mesmo que as ações do presidente da República depois contradigam a tal agenda redentora.

A percepção de que Bolsonaro defende a fé e a moral é um diferencial competitivo sobre seus concorrentes. O slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” deu-lhe uma identidade forte e única. Pode parecer contraditório, mas quando Bolsonaro fala de Deus ou de aborto, aos olhos de muitos ele está apenas defendendo o direito de cada um pensar e acreditar no que quiser. E isso, seja verdadeiro ou não, tem grande força política.

A outra habilidade política de Bolsonaro refere-se à sua capacidade de mudança de acordo com as circunstâncias. Quem desejaria o deputado Jair Bolsonaro na Presidência da República? Pouquíssima gente, por certo. Mas a imagem de Bolsonaro passou por uma revolução. O político sem expressão que vivia trocando de partido passou a ser, em 2018, o salvador que vinha varrer o socialismo do País e instaurar um regime liberal.

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Agora, assiste-se a mais uma metamorfose. No governo, Bolsonaro trocou o boné liberal pelo gorro populista. Não são difíceis de identificar várias incoerências entre Bolsonaro deputado, candidato e presidente. Mas a política não é uma prova de lógica, e Bolsonaro tem feito dessa metamorfose ambulante um diferencial competitivo sobre os concorrentes. Na batalha política, o ex-capitão não tem pudores de dizer o oposto do que dissera antes.

Bolsonaro não é apenas hábil nas redes sociais. Quando lhe convém, é o mais valentão na defesa da moral e dos bons costumes. Ao mesmo tempo, é o político mais amorfo, sem substância definida, em todo o restante. Bolsonaro dança conforme a música. E – jogada de mestre – tudo isso assenta perfeitamente em sua persona pública, de homem simples do povo que quer apenas o melhor para o Brasil.

ADVOGADO E JORNALISTA

Não se chega ao poder sem uma boa dose de sorte, de fortuna. O político que se esquece disso, pensando que a vitória eleitoral se deve apenas às suas ações, comete enorme erro. Também se equivoca quem atribui exclusivamente a vitória do adversário político às circunstâncias. Sempre há sorte e sempre há virtude.

Contrariando vários prognósticos, Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República. E contrariando outras tantas previsões, ele continua contando com significativo apoio popular. Nesse quadro, há fatores circunstanciais, mas há também ações politicamente habilidosas. Ignorar as virtudes de Bolsonaro é um jeito certeiro de contribuir para sua permanência no poder.

De forma paradoxal, a fortuna política sorriu para Bolsonaro no atentado contra sua vida, em setembro de 2018. Também lhe sorriu em situações mais amenas. O casamento com Michelle de Paula o aproximou do universo protestante. Enquanto seu eleitorado esteve restrito ao âmbito militar, Bolsonaro era um político de 100 mil votos. Em 2014, a proximidade com as igrejas rendeu-lhe 460 mil votos. Bolsonaro não precisou de estudo sociológico para identificar os sentimentos do povo. Michelle o guiou.

Além da sorte, Bolsonaro soube agir com perspicácia. É conhecida, por exemplo, sua habilidade nas redes sociais. O sucesso da comunicação com o eleitor não foi, no entanto, mero fruto do uso intensivo da tecnologia. Bolsonaro valeu-se de duas atitudes – duas virtudes, em termos políticos – que foram decisivas para ele.

Desde 2014, mas especialmente na campanha de 2018, Jair Bolsonaro apropriou-se de um discurso conservador-religioso. Pode-se discutir se o que ele diz é, a rigor, conservador ou mesmo religioso. Recente live de quinta-feira, com insinuações sobre a vida sexual de uma criança, é de uma brutalidade desconcertante. No entanto, muitas pessoas com uma visão de mundo religiosa se sentem defendidas e representadas por ele. Aquilo que o torna ridículo aos olhos de muitos – por exemplo, a menção à cristofobia em seu discurso na ONU – é precisamente o que cria sintonia afetiva (mais profunda que a mera simpatia política) com outras tantas pessoas. A jogada política não é banal. A maioria da população brasileira acredita em Deus.

O uso dos sentimentos religiosos da população para fins eleitorais talvez seja um dos meios mais nefastos – e também mais eficazes – de manipulação política. Bolsonaro entendeu essa eficácia e sua verve polemista, antes dedicada à defesa da ditadura militar, passou a ser usada também em questões morais e religiosas. E o que muitos veem como uma inconstitucional confusão entre Estado e religião é para outros sinal da retidão de caráter de Bolsonaro, que não tem medo de dar a cara por Jesus Cristo.

Tudo isso pode soar estranho aos ouvidos contemporâneos, mas é inegável que as afirmações de Bolsonaro sobre matéria moral e religiosa têm ressonância em muitos corações. O efeito é poderoso – e perigoso. Bolsonaro pode fazer tudo, até brigar com Sergio Moro a respeito de interferência na Polícia Federal, mas aos olhos de seus seguidores ele está salvando o País da corrupção, do PT, do ateísmo e da ideologia de gênero. A presença da chamada ala ideológica no governo federal ajuda a manter o discurso, mesmo que as ações do presidente da República depois contradigam a tal agenda redentora.

A percepção de que Bolsonaro defende a fé e a moral é um diferencial competitivo sobre seus concorrentes. O slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” deu-lhe uma identidade forte e única. Pode parecer contraditório, mas quando Bolsonaro fala de Deus ou de aborto, aos olhos de muitos ele está apenas defendendo o direito de cada um pensar e acreditar no que quiser. E isso, seja verdadeiro ou não, tem grande força política.

A outra habilidade política de Bolsonaro refere-se à sua capacidade de mudança de acordo com as circunstâncias. Quem desejaria o deputado Jair Bolsonaro na Presidência da República? Pouquíssima gente, por certo. Mas a imagem de Bolsonaro passou por uma revolução. O político sem expressão que vivia trocando de partido passou a ser, em 2018, o salvador que vinha varrer o socialismo do País e instaurar um regime liberal.

Agora, assiste-se a mais uma metamorfose. No governo, Bolsonaro trocou o boné liberal pelo gorro populista. Não são difíceis de identificar várias incoerências entre Bolsonaro deputado, candidato e presidente. Mas a política não é uma prova de lógica, e Bolsonaro tem feito dessa metamorfose ambulante um diferencial competitivo sobre os concorrentes. Na batalha política, o ex-capitão não tem pudores de dizer o oposto do que dissera antes.

Bolsonaro não é apenas hábil nas redes sociais. Quando lhe convém, é o mais valentão na defesa da moral e dos bons costumes. Ao mesmo tempo, é o político mais amorfo, sem substância definida, em todo o restante. Bolsonaro dança conforme a música. E – jogada de mestre – tudo isso assenta perfeitamente em sua persona pública, de homem simples do povo que quer apenas o melhor para o Brasil.

ADVOGADO E JORNALISTA

Não se chega ao poder sem uma boa dose de sorte, de fortuna. O político que se esquece disso, pensando que a vitória eleitoral se deve apenas às suas ações, comete enorme erro. Também se equivoca quem atribui exclusivamente a vitória do adversário político às circunstâncias. Sempre há sorte e sempre há virtude.

Contrariando vários prognósticos, Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República. E contrariando outras tantas previsões, ele continua contando com significativo apoio popular. Nesse quadro, há fatores circunstanciais, mas há também ações politicamente habilidosas. Ignorar as virtudes de Bolsonaro é um jeito certeiro de contribuir para sua permanência no poder.

De forma paradoxal, a fortuna política sorriu para Bolsonaro no atentado contra sua vida, em setembro de 2018. Também lhe sorriu em situações mais amenas. O casamento com Michelle de Paula o aproximou do universo protestante. Enquanto seu eleitorado esteve restrito ao âmbito militar, Bolsonaro era um político de 100 mil votos. Em 2014, a proximidade com as igrejas rendeu-lhe 460 mil votos. Bolsonaro não precisou de estudo sociológico para identificar os sentimentos do povo. Michelle o guiou.

Além da sorte, Bolsonaro soube agir com perspicácia. É conhecida, por exemplo, sua habilidade nas redes sociais. O sucesso da comunicação com o eleitor não foi, no entanto, mero fruto do uso intensivo da tecnologia. Bolsonaro valeu-se de duas atitudes – duas virtudes, em termos políticos – que foram decisivas para ele.

Desde 2014, mas especialmente na campanha de 2018, Jair Bolsonaro apropriou-se de um discurso conservador-religioso. Pode-se discutir se o que ele diz é, a rigor, conservador ou mesmo religioso. Recente live de quinta-feira, com insinuações sobre a vida sexual de uma criança, é de uma brutalidade desconcertante. No entanto, muitas pessoas com uma visão de mundo religiosa se sentem defendidas e representadas por ele. Aquilo que o torna ridículo aos olhos de muitos – por exemplo, a menção à cristofobia em seu discurso na ONU – é precisamente o que cria sintonia afetiva (mais profunda que a mera simpatia política) com outras tantas pessoas. A jogada política não é banal. A maioria da população brasileira acredita em Deus.

O uso dos sentimentos religiosos da população para fins eleitorais talvez seja um dos meios mais nefastos – e também mais eficazes – de manipulação política. Bolsonaro entendeu essa eficácia e sua verve polemista, antes dedicada à defesa da ditadura militar, passou a ser usada também em questões morais e religiosas. E o que muitos veem como uma inconstitucional confusão entre Estado e religião é para outros sinal da retidão de caráter de Bolsonaro, que não tem medo de dar a cara por Jesus Cristo.

Tudo isso pode soar estranho aos ouvidos contemporâneos, mas é inegável que as afirmações de Bolsonaro sobre matéria moral e religiosa têm ressonância em muitos corações. O efeito é poderoso – e perigoso. Bolsonaro pode fazer tudo, até brigar com Sergio Moro a respeito de interferência na Polícia Federal, mas aos olhos de seus seguidores ele está salvando o País da corrupção, do PT, do ateísmo e da ideologia de gênero. A presença da chamada ala ideológica no governo federal ajuda a manter o discurso, mesmo que as ações do presidente da República depois contradigam a tal agenda redentora.

A percepção de que Bolsonaro defende a fé e a moral é um diferencial competitivo sobre seus concorrentes. O slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” deu-lhe uma identidade forte e única. Pode parecer contraditório, mas quando Bolsonaro fala de Deus ou de aborto, aos olhos de muitos ele está apenas defendendo o direito de cada um pensar e acreditar no que quiser. E isso, seja verdadeiro ou não, tem grande força política.

A outra habilidade política de Bolsonaro refere-se à sua capacidade de mudança de acordo com as circunstâncias. Quem desejaria o deputado Jair Bolsonaro na Presidência da República? Pouquíssima gente, por certo. Mas a imagem de Bolsonaro passou por uma revolução. O político sem expressão que vivia trocando de partido passou a ser, em 2018, o salvador que vinha varrer o socialismo do País e instaurar um regime liberal.

Agora, assiste-se a mais uma metamorfose. No governo, Bolsonaro trocou o boné liberal pelo gorro populista. Não são difíceis de identificar várias incoerências entre Bolsonaro deputado, candidato e presidente. Mas a política não é uma prova de lógica, e Bolsonaro tem feito dessa metamorfose ambulante um diferencial competitivo sobre os concorrentes. Na batalha política, o ex-capitão não tem pudores de dizer o oposto do que dissera antes.

Bolsonaro não é apenas hábil nas redes sociais. Quando lhe convém, é o mais valentão na defesa da moral e dos bons costumes. Ao mesmo tempo, é o político mais amorfo, sem substância definida, em todo o restante. Bolsonaro dança conforme a música. E – jogada de mestre – tudo isso assenta perfeitamente em sua persona pública, de homem simples do povo que quer apenas o melhor para o Brasil.

ADVOGADO E JORNALISTA

Não se chega ao poder sem uma boa dose de sorte, de fortuna. O político que se esquece disso, pensando que a vitória eleitoral se deve apenas às suas ações, comete enorme erro. Também se equivoca quem atribui exclusivamente a vitória do adversário político às circunstâncias. Sempre há sorte e sempre há virtude.

Contrariando vários prognósticos, Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República. E contrariando outras tantas previsões, ele continua contando com significativo apoio popular. Nesse quadro, há fatores circunstanciais, mas há também ações politicamente habilidosas. Ignorar as virtudes de Bolsonaro é um jeito certeiro de contribuir para sua permanência no poder.

De forma paradoxal, a fortuna política sorriu para Bolsonaro no atentado contra sua vida, em setembro de 2018. Também lhe sorriu em situações mais amenas. O casamento com Michelle de Paula o aproximou do universo protestante. Enquanto seu eleitorado esteve restrito ao âmbito militar, Bolsonaro era um político de 100 mil votos. Em 2014, a proximidade com as igrejas rendeu-lhe 460 mil votos. Bolsonaro não precisou de estudo sociológico para identificar os sentimentos do povo. Michelle o guiou.

Além da sorte, Bolsonaro soube agir com perspicácia. É conhecida, por exemplo, sua habilidade nas redes sociais. O sucesso da comunicação com o eleitor não foi, no entanto, mero fruto do uso intensivo da tecnologia. Bolsonaro valeu-se de duas atitudes – duas virtudes, em termos políticos – que foram decisivas para ele.

Desde 2014, mas especialmente na campanha de 2018, Jair Bolsonaro apropriou-se de um discurso conservador-religioso. Pode-se discutir se o que ele diz é, a rigor, conservador ou mesmo religioso. Recente live de quinta-feira, com insinuações sobre a vida sexual de uma criança, é de uma brutalidade desconcertante. No entanto, muitas pessoas com uma visão de mundo religiosa se sentem defendidas e representadas por ele. Aquilo que o torna ridículo aos olhos de muitos – por exemplo, a menção à cristofobia em seu discurso na ONU – é precisamente o que cria sintonia afetiva (mais profunda que a mera simpatia política) com outras tantas pessoas. A jogada política não é banal. A maioria da população brasileira acredita em Deus.

O uso dos sentimentos religiosos da população para fins eleitorais talvez seja um dos meios mais nefastos – e também mais eficazes – de manipulação política. Bolsonaro entendeu essa eficácia e sua verve polemista, antes dedicada à defesa da ditadura militar, passou a ser usada também em questões morais e religiosas. E o que muitos veem como uma inconstitucional confusão entre Estado e religião é para outros sinal da retidão de caráter de Bolsonaro, que não tem medo de dar a cara por Jesus Cristo.

Tudo isso pode soar estranho aos ouvidos contemporâneos, mas é inegável que as afirmações de Bolsonaro sobre matéria moral e religiosa têm ressonância em muitos corações. O efeito é poderoso – e perigoso. Bolsonaro pode fazer tudo, até brigar com Sergio Moro a respeito de interferência na Polícia Federal, mas aos olhos de seus seguidores ele está salvando o País da corrupção, do PT, do ateísmo e da ideologia de gênero. A presença da chamada ala ideológica no governo federal ajuda a manter o discurso, mesmo que as ações do presidente da República depois contradigam a tal agenda redentora.

A percepção de que Bolsonaro defende a fé e a moral é um diferencial competitivo sobre seus concorrentes. O slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” deu-lhe uma identidade forte e única. Pode parecer contraditório, mas quando Bolsonaro fala de Deus ou de aborto, aos olhos de muitos ele está apenas defendendo o direito de cada um pensar e acreditar no que quiser. E isso, seja verdadeiro ou não, tem grande força política.

A outra habilidade política de Bolsonaro refere-se à sua capacidade de mudança de acordo com as circunstâncias. Quem desejaria o deputado Jair Bolsonaro na Presidência da República? Pouquíssima gente, por certo. Mas a imagem de Bolsonaro passou por uma revolução. O político sem expressão que vivia trocando de partido passou a ser, em 2018, o salvador que vinha varrer o socialismo do País e instaurar um regime liberal.

Agora, assiste-se a mais uma metamorfose. No governo, Bolsonaro trocou o boné liberal pelo gorro populista. Não são difíceis de identificar várias incoerências entre Bolsonaro deputado, candidato e presidente. Mas a política não é uma prova de lógica, e Bolsonaro tem feito dessa metamorfose ambulante um diferencial competitivo sobre os concorrentes. Na batalha política, o ex-capitão não tem pudores de dizer o oposto do que dissera antes.

Bolsonaro não é apenas hábil nas redes sociais. Quando lhe convém, é o mais valentão na defesa da moral e dos bons costumes. Ao mesmo tempo, é o político mais amorfo, sem substância definida, em todo o restante. Bolsonaro dança conforme a música. E – jogada de mestre – tudo isso assenta perfeitamente em sua persona pública, de homem simples do povo que quer apenas o melhor para o Brasil.

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