Opinião|Homeopatia, ciência e preconceito


Na pesquisa básica podemos ‘ver para crer’ o efeito biológico das dinamizações homeopáticas sobre células ou organismos multicelulares

Por Vários autores*
Atualização:

“A verdadeira arte de curar é, por natureza, pura ciência experimental” (Samuel Hahnemann, ‘Organon’, prefácio 2.ª edição, 1819)

Hahnemann (1755–1843) estruturou a homeopatia e uma nova farmacotécnica que denominou dinamização ou potencialização, ao descobrir que doses incrivelmente pequenas tinham efeito potencializado quando a substância medicinal era submetida a etapas sucessivas de diluição e agitação por meio de sucussões.

A homeopatia chegou ao Brasil pela academia. O médico suíço Frederico Jahn foi pioneiro ao defender a tese de doutorado Exposição da Doutrina Homeopática em 1836, perante a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Na mesma faculdade, o acadêmico José de Andrade apresentaria a Dissertação crítica sobre a homeopatia como trabalho de conclusão de curso. Embora não seja nosso objetivo analisar a dissertação do acadêmico Andrade, convidamos o leitor a refletir sobre alguns de seus argumentos, pois são recorrentes.

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Segundo Andrade, a homeopatia “prejudicaria os princípios fundamentais” da Medicina. Contestava a “exiguidade das doses” homeopáticas, considerando que seriam contrárias aos fatos e à experiência. Andrade também afirmou que a homeopatia estaria nas mãos de charlatães que enganavam os pacientes com mentiras.

A nanotecnologia abriu possibilidades que um acadêmico do século 19 não poderia conceber. A Medicina aprendeu a usar partículas de milionésimos de milímetro e mesmo os mais céticos não deveriam negar que as preparações homeopáticas contêm nanopartículas detectáveis das substâncias diluídas além do famoso limite de Avogadro (DOI:10.1016/j.molliq.2022.119500).

Na pesquisa básica podemos ver para crer o efeito biológico das dinamizações homeopáticas sobre células ou organismos multicelulares, desafiando o clichê “homeopatia é placebo”. Corantes que mudam de cor ao interagir com diferentes solventes dinamizados tornaram o implausível visível. Um exemplo é o efeito protetor de ultradiluições dinamizadas de glifosato (um herbicida amplamente utilizado) contra o efeito tóxico do herbicida sobre cistos da Artemia salina (DOI:10.3390/ijms24119478). Seria um crustáceo suscetível a um efeito placebo?

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E as evidências clínicas? Desde os anos 1990 vivenciamos a transição da Medicina baseada em mestres ou escolas para a Medicina baseada em evidências. Assistimos, também, à iniciativa das pesquisas migrar das universidades para a indústria.

A pesquisa industrial testa produtos farmacêuticos em fases escalonadas, abrangendo ao fim centenas ou milhares de pacientes. Em contrapartida, a pesquisa clínica em homeopatia clássica é artesanal, pois individualiza o medicamento para cada caso de doença, considerando os sinais e sintomas do indivíduo doente.

A produção artesanal tem escala menor, porém isso não implica qualidade inferior. Um exemplo é o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) em crianças, usualmente tratado com psicoestimulantes semelhantes à anfetamina, como o metilfenidato.

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Uma revisão (metanálise) sobre o tratamento homeopático individualizado de crianças acometidas pelo TDAH concluiu pela superioridade da homeopatia em relação ao placebo e, mesmo, ao tratamento usual (DOI:10.1038/s41390-022-02127-3). A metanálise foi publicada em 2022 na revista científica Pediatric Research, publicação oficial da Sociedade Americana de Pediatria, da Sociedade Europeia para Pesquisa Pediátrica e da Sociedade para Pesquisa Pediátrica. Seriam todos, pesquisadores, editores e revisores, charlatães ou mentirosos?

Para o leitor interessado em ciência, o Instituto de Medicina Complementar e Integrativa da Universidade de Berna, na Suíça, oferece um website analisando a pesquisa básica e clínica em homeopatia (https://www.ikim.unibe.ch/research/research_reviews).

No Brasil, o Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (Cabsin) tem como missão desenvolver pesquisas colaborativas entre universidades, governos e sociedades científicas em Medicina Tradicional, Complementar e Integrativa (MTCI), assim como promover a disseminação do conhecimento e a implementação de políticas baseadas em evidências para integrar produtos, práticas e profissionais nos sistemas de saúde. Como contribuição para facilitar o acesso às evidências disponíveis, bem como à identificação de lacunas no conhecimento, o Cabsin sistematiza mapas de evidências clínicas em MTCI. O mapa sobre a homeopatia está disponível em https://mtci.bvsalud.org/pt/mapa-de-evidencias-efetividade-clinica-da-homeopatia/.

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A ciência avança, o preconceito pode e deve ceder lugar ao diálogo aberto e ao respeito mútuo. O Comitê de Homeopatia do Cabsin coloca-se à disposição da sociedade para esse diálogo.

*

ANA RITA VIEIRA DE NOVAES, CARLA HOLANDINO QUARESMA, EDGARD COSTA DE VILHENA, KAREN BERENICE DENEZ, LUCAS FRANCO PACHECO, SANDRA ABRAHÃO CHAIM SALLES, SANDRA AUGUSTA G. PINTO E UBIRATAN CARDINALLI ADLER SÃO MEMBROS DO COMITÊ DE HOMEOPATIA DO CONSÓRCIO ACADÊMICO BRASILEIRO DE SAÚDE INTEGRATIVA (CABSIN)

“A verdadeira arte de curar é, por natureza, pura ciência experimental” (Samuel Hahnemann, ‘Organon’, prefácio 2.ª edição, 1819)

Hahnemann (1755–1843) estruturou a homeopatia e uma nova farmacotécnica que denominou dinamização ou potencialização, ao descobrir que doses incrivelmente pequenas tinham efeito potencializado quando a substância medicinal era submetida a etapas sucessivas de diluição e agitação por meio de sucussões.

A homeopatia chegou ao Brasil pela academia. O médico suíço Frederico Jahn foi pioneiro ao defender a tese de doutorado Exposição da Doutrina Homeopática em 1836, perante a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Na mesma faculdade, o acadêmico José de Andrade apresentaria a Dissertação crítica sobre a homeopatia como trabalho de conclusão de curso. Embora não seja nosso objetivo analisar a dissertação do acadêmico Andrade, convidamos o leitor a refletir sobre alguns de seus argumentos, pois são recorrentes.

Segundo Andrade, a homeopatia “prejudicaria os princípios fundamentais” da Medicina. Contestava a “exiguidade das doses” homeopáticas, considerando que seriam contrárias aos fatos e à experiência. Andrade também afirmou que a homeopatia estaria nas mãos de charlatães que enganavam os pacientes com mentiras.

A nanotecnologia abriu possibilidades que um acadêmico do século 19 não poderia conceber. A Medicina aprendeu a usar partículas de milionésimos de milímetro e mesmo os mais céticos não deveriam negar que as preparações homeopáticas contêm nanopartículas detectáveis das substâncias diluídas além do famoso limite de Avogadro (DOI:10.1016/j.molliq.2022.119500).

Na pesquisa básica podemos ver para crer o efeito biológico das dinamizações homeopáticas sobre células ou organismos multicelulares, desafiando o clichê “homeopatia é placebo”. Corantes que mudam de cor ao interagir com diferentes solventes dinamizados tornaram o implausível visível. Um exemplo é o efeito protetor de ultradiluições dinamizadas de glifosato (um herbicida amplamente utilizado) contra o efeito tóxico do herbicida sobre cistos da Artemia salina (DOI:10.3390/ijms24119478). Seria um crustáceo suscetível a um efeito placebo?

E as evidências clínicas? Desde os anos 1990 vivenciamos a transição da Medicina baseada em mestres ou escolas para a Medicina baseada em evidências. Assistimos, também, à iniciativa das pesquisas migrar das universidades para a indústria.

A pesquisa industrial testa produtos farmacêuticos em fases escalonadas, abrangendo ao fim centenas ou milhares de pacientes. Em contrapartida, a pesquisa clínica em homeopatia clássica é artesanal, pois individualiza o medicamento para cada caso de doença, considerando os sinais e sintomas do indivíduo doente.

A produção artesanal tem escala menor, porém isso não implica qualidade inferior. Um exemplo é o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) em crianças, usualmente tratado com psicoestimulantes semelhantes à anfetamina, como o metilfenidato.

Uma revisão (metanálise) sobre o tratamento homeopático individualizado de crianças acometidas pelo TDAH concluiu pela superioridade da homeopatia em relação ao placebo e, mesmo, ao tratamento usual (DOI:10.1038/s41390-022-02127-3). A metanálise foi publicada em 2022 na revista científica Pediatric Research, publicação oficial da Sociedade Americana de Pediatria, da Sociedade Europeia para Pesquisa Pediátrica e da Sociedade para Pesquisa Pediátrica. Seriam todos, pesquisadores, editores e revisores, charlatães ou mentirosos?

Para o leitor interessado em ciência, o Instituto de Medicina Complementar e Integrativa da Universidade de Berna, na Suíça, oferece um website analisando a pesquisa básica e clínica em homeopatia (https://www.ikim.unibe.ch/research/research_reviews).

No Brasil, o Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (Cabsin) tem como missão desenvolver pesquisas colaborativas entre universidades, governos e sociedades científicas em Medicina Tradicional, Complementar e Integrativa (MTCI), assim como promover a disseminação do conhecimento e a implementação de políticas baseadas em evidências para integrar produtos, práticas e profissionais nos sistemas de saúde. Como contribuição para facilitar o acesso às evidências disponíveis, bem como à identificação de lacunas no conhecimento, o Cabsin sistematiza mapas de evidências clínicas em MTCI. O mapa sobre a homeopatia está disponível em https://mtci.bvsalud.org/pt/mapa-de-evidencias-efetividade-clinica-da-homeopatia/.

A ciência avança, o preconceito pode e deve ceder lugar ao diálogo aberto e ao respeito mútuo. O Comitê de Homeopatia do Cabsin coloca-se à disposição da sociedade para esse diálogo.

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ANA RITA VIEIRA DE NOVAES, CARLA HOLANDINO QUARESMA, EDGARD COSTA DE VILHENA, KAREN BERENICE DENEZ, LUCAS FRANCO PACHECO, SANDRA ABRAHÃO CHAIM SALLES, SANDRA AUGUSTA G. PINTO E UBIRATAN CARDINALLI ADLER SÃO MEMBROS DO COMITÊ DE HOMEOPATIA DO CONSÓRCIO ACADÊMICO BRASILEIRO DE SAÚDE INTEGRATIVA (CABSIN)

“A verdadeira arte de curar é, por natureza, pura ciência experimental” (Samuel Hahnemann, ‘Organon’, prefácio 2.ª edição, 1819)

Hahnemann (1755–1843) estruturou a homeopatia e uma nova farmacotécnica que denominou dinamização ou potencialização, ao descobrir que doses incrivelmente pequenas tinham efeito potencializado quando a substância medicinal era submetida a etapas sucessivas de diluição e agitação por meio de sucussões.

A homeopatia chegou ao Brasil pela academia. O médico suíço Frederico Jahn foi pioneiro ao defender a tese de doutorado Exposição da Doutrina Homeopática em 1836, perante a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Na mesma faculdade, o acadêmico José de Andrade apresentaria a Dissertação crítica sobre a homeopatia como trabalho de conclusão de curso. Embora não seja nosso objetivo analisar a dissertação do acadêmico Andrade, convidamos o leitor a refletir sobre alguns de seus argumentos, pois são recorrentes.

Segundo Andrade, a homeopatia “prejudicaria os princípios fundamentais” da Medicina. Contestava a “exiguidade das doses” homeopáticas, considerando que seriam contrárias aos fatos e à experiência. Andrade também afirmou que a homeopatia estaria nas mãos de charlatães que enganavam os pacientes com mentiras.

A nanotecnologia abriu possibilidades que um acadêmico do século 19 não poderia conceber. A Medicina aprendeu a usar partículas de milionésimos de milímetro e mesmo os mais céticos não deveriam negar que as preparações homeopáticas contêm nanopartículas detectáveis das substâncias diluídas além do famoso limite de Avogadro (DOI:10.1016/j.molliq.2022.119500).

Na pesquisa básica podemos ver para crer o efeito biológico das dinamizações homeopáticas sobre células ou organismos multicelulares, desafiando o clichê “homeopatia é placebo”. Corantes que mudam de cor ao interagir com diferentes solventes dinamizados tornaram o implausível visível. Um exemplo é o efeito protetor de ultradiluições dinamizadas de glifosato (um herbicida amplamente utilizado) contra o efeito tóxico do herbicida sobre cistos da Artemia salina (DOI:10.3390/ijms24119478). Seria um crustáceo suscetível a um efeito placebo?

E as evidências clínicas? Desde os anos 1990 vivenciamos a transição da Medicina baseada em mestres ou escolas para a Medicina baseada em evidências. Assistimos, também, à iniciativa das pesquisas migrar das universidades para a indústria.

A pesquisa industrial testa produtos farmacêuticos em fases escalonadas, abrangendo ao fim centenas ou milhares de pacientes. Em contrapartida, a pesquisa clínica em homeopatia clássica é artesanal, pois individualiza o medicamento para cada caso de doença, considerando os sinais e sintomas do indivíduo doente.

A produção artesanal tem escala menor, porém isso não implica qualidade inferior. Um exemplo é o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) em crianças, usualmente tratado com psicoestimulantes semelhantes à anfetamina, como o metilfenidato.

Uma revisão (metanálise) sobre o tratamento homeopático individualizado de crianças acometidas pelo TDAH concluiu pela superioridade da homeopatia em relação ao placebo e, mesmo, ao tratamento usual (DOI:10.1038/s41390-022-02127-3). A metanálise foi publicada em 2022 na revista científica Pediatric Research, publicação oficial da Sociedade Americana de Pediatria, da Sociedade Europeia para Pesquisa Pediátrica e da Sociedade para Pesquisa Pediátrica. Seriam todos, pesquisadores, editores e revisores, charlatães ou mentirosos?

Para o leitor interessado em ciência, o Instituto de Medicina Complementar e Integrativa da Universidade de Berna, na Suíça, oferece um website analisando a pesquisa básica e clínica em homeopatia (https://www.ikim.unibe.ch/research/research_reviews).

No Brasil, o Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (Cabsin) tem como missão desenvolver pesquisas colaborativas entre universidades, governos e sociedades científicas em Medicina Tradicional, Complementar e Integrativa (MTCI), assim como promover a disseminação do conhecimento e a implementação de políticas baseadas em evidências para integrar produtos, práticas e profissionais nos sistemas de saúde. Como contribuição para facilitar o acesso às evidências disponíveis, bem como à identificação de lacunas no conhecimento, o Cabsin sistematiza mapas de evidências clínicas em MTCI. O mapa sobre a homeopatia está disponível em https://mtci.bvsalud.org/pt/mapa-de-evidencias-efetividade-clinica-da-homeopatia/.

A ciência avança, o preconceito pode e deve ceder lugar ao diálogo aberto e ao respeito mútuo. O Comitê de Homeopatia do Cabsin coloca-se à disposição da sociedade para esse diálogo.

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ANA RITA VIEIRA DE NOVAES, CARLA HOLANDINO QUARESMA, EDGARD COSTA DE VILHENA, KAREN BERENICE DENEZ, LUCAS FRANCO PACHECO, SANDRA ABRAHÃO CHAIM SALLES, SANDRA AUGUSTA G. PINTO E UBIRATAN CARDINALLI ADLER SÃO MEMBROS DO COMITÊ DE HOMEOPATIA DO CONSÓRCIO ACADÊMICO BRASILEIRO DE SAÚDE INTEGRATIVA (CABSIN)

“A verdadeira arte de curar é, por natureza, pura ciência experimental” (Samuel Hahnemann, ‘Organon’, prefácio 2.ª edição, 1819)

Hahnemann (1755–1843) estruturou a homeopatia e uma nova farmacotécnica que denominou dinamização ou potencialização, ao descobrir que doses incrivelmente pequenas tinham efeito potencializado quando a substância medicinal era submetida a etapas sucessivas de diluição e agitação por meio de sucussões.

A homeopatia chegou ao Brasil pela academia. O médico suíço Frederico Jahn foi pioneiro ao defender a tese de doutorado Exposição da Doutrina Homeopática em 1836, perante a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Na mesma faculdade, o acadêmico José de Andrade apresentaria a Dissertação crítica sobre a homeopatia como trabalho de conclusão de curso. Embora não seja nosso objetivo analisar a dissertação do acadêmico Andrade, convidamos o leitor a refletir sobre alguns de seus argumentos, pois são recorrentes.

Segundo Andrade, a homeopatia “prejudicaria os princípios fundamentais” da Medicina. Contestava a “exiguidade das doses” homeopáticas, considerando que seriam contrárias aos fatos e à experiência. Andrade também afirmou que a homeopatia estaria nas mãos de charlatães que enganavam os pacientes com mentiras.

A nanotecnologia abriu possibilidades que um acadêmico do século 19 não poderia conceber. A Medicina aprendeu a usar partículas de milionésimos de milímetro e mesmo os mais céticos não deveriam negar que as preparações homeopáticas contêm nanopartículas detectáveis das substâncias diluídas além do famoso limite de Avogadro (DOI:10.1016/j.molliq.2022.119500).

Na pesquisa básica podemos ver para crer o efeito biológico das dinamizações homeopáticas sobre células ou organismos multicelulares, desafiando o clichê “homeopatia é placebo”. Corantes que mudam de cor ao interagir com diferentes solventes dinamizados tornaram o implausível visível. Um exemplo é o efeito protetor de ultradiluições dinamizadas de glifosato (um herbicida amplamente utilizado) contra o efeito tóxico do herbicida sobre cistos da Artemia salina (DOI:10.3390/ijms24119478). Seria um crustáceo suscetível a um efeito placebo?

E as evidências clínicas? Desde os anos 1990 vivenciamos a transição da Medicina baseada em mestres ou escolas para a Medicina baseada em evidências. Assistimos, também, à iniciativa das pesquisas migrar das universidades para a indústria.

A pesquisa industrial testa produtos farmacêuticos em fases escalonadas, abrangendo ao fim centenas ou milhares de pacientes. Em contrapartida, a pesquisa clínica em homeopatia clássica é artesanal, pois individualiza o medicamento para cada caso de doença, considerando os sinais e sintomas do indivíduo doente.

A produção artesanal tem escala menor, porém isso não implica qualidade inferior. Um exemplo é o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) em crianças, usualmente tratado com psicoestimulantes semelhantes à anfetamina, como o metilfenidato.

Uma revisão (metanálise) sobre o tratamento homeopático individualizado de crianças acometidas pelo TDAH concluiu pela superioridade da homeopatia em relação ao placebo e, mesmo, ao tratamento usual (DOI:10.1038/s41390-022-02127-3). A metanálise foi publicada em 2022 na revista científica Pediatric Research, publicação oficial da Sociedade Americana de Pediatria, da Sociedade Europeia para Pesquisa Pediátrica e da Sociedade para Pesquisa Pediátrica. Seriam todos, pesquisadores, editores e revisores, charlatães ou mentirosos?

Para o leitor interessado em ciência, o Instituto de Medicina Complementar e Integrativa da Universidade de Berna, na Suíça, oferece um website analisando a pesquisa básica e clínica em homeopatia (https://www.ikim.unibe.ch/research/research_reviews).

No Brasil, o Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (Cabsin) tem como missão desenvolver pesquisas colaborativas entre universidades, governos e sociedades científicas em Medicina Tradicional, Complementar e Integrativa (MTCI), assim como promover a disseminação do conhecimento e a implementação de políticas baseadas em evidências para integrar produtos, práticas e profissionais nos sistemas de saúde. Como contribuição para facilitar o acesso às evidências disponíveis, bem como à identificação de lacunas no conhecimento, o Cabsin sistematiza mapas de evidências clínicas em MTCI. O mapa sobre a homeopatia está disponível em https://mtci.bvsalud.org/pt/mapa-de-evidencias-efetividade-clinica-da-homeopatia/.

A ciência avança, o preconceito pode e deve ceder lugar ao diálogo aberto e ao respeito mútuo. O Comitê de Homeopatia do Cabsin coloca-se à disposição da sociedade para esse diálogo.

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ANA RITA VIEIRA DE NOVAES, CARLA HOLANDINO QUARESMA, EDGARD COSTA DE VILHENA, KAREN BERENICE DENEZ, LUCAS FRANCO PACHECO, SANDRA ABRAHÃO CHAIM SALLES, SANDRA AUGUSTA G. PINTO E UBIRATAN CARDINALLI ADLER SÃO MEMBROS DO COMITÊ DE HOMEOPATIA DO CONSÓRCIO ACADÊMICO BRASILEIRO DE SAÚDE INTEGRATIVA (CABSIN)

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