Opinião|Mulher sapiens


Por Miguel Reale Júnior

A vida política nacional vive clima de salve-se quem puder em pleno terreno movediço, como revela simples visão panorâmica do nosso dia a dia.

Dilma navega em 10% de aprovação, cria uma nova espécie, a de mulheres sapiens, exalta a mandioca, uma conquista nacional, e sente-se discriminada sexualmente. Lula, como um ET recém-chegado ao País e ao PT, olha e vê que o partido perdeu o sonho, e agora, com medo de ser infeliz, detecta que se dissolveu o ideal na busca incessante de emprego, cargo – e, faltou dizer, propina.

A base governista, desorientada, em busca de não restar alheia aos anseios do eleitor, tenta combinar a aprovação do ajuste fiscal com medidas ampliadoras de gasto público que contentem a população, como o fim do fator previdenciário e a vinculação dos benefícios da Previdência ao salário mínimo, o aumento dos vencimentos do Judiciário.

continua após a publicidade

A CPI da Petrobrás, ante o sucesso das investigações da Polícia Federal e do Ministério Público, e para não passar um atestado de incompetência, resolveu convocar o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, para fúria do líder em face da fraqueza de seus comandados que não respeitam – em busca de algum resultado positivo – nem mesmo a casa paterna.

No processo perante o Tribunal de Contas da União, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega atribui o recurso às “pedaladas fiscais” a seu secretário do Tesouro Nacional, como se não tivesse nada que ver com as maquiagens contábeis que alimentavam seu sempre constante ufanismo. E Arno Augustin, como bom escudeiro, assume toda as culpas pelas “pedaladas fiscais”, como se assim pudesse livrar a cara da sua presidente, ignorando que perante a lei a responsabilidade é sempre do chefe do Executivo – e no caso, de forma patente, dada a sua convivência quase diária com a presidente, a ponto de se considerar que ambos, presidente e secretário do Tesouro, eram unha e carne.

A preocupação com os preços verifica-se no semblante das donas de casa nos supermercados. Reconhece-se inflação de 9%, mas, em especial para os menos favorecidos, a conta já é maior. Os preços públicos pressionam, com as contas de luz causando espanto em todas as rodas. O mais triste é o fantasma do desemprego, que agora atinge o comércio com despedidas significativas nas redes de lojas de eletrodomésticos e móveis. Para recomeçar há um longo caminho: só o longínquo aumento das encomendas levará ao início da recuperação industrial.

continua após a publicidade

A elevada queda da arrecadação anula o esforço do ajuste econômico a ponto de o governo novamente recorrer, mesmo que sem o ânimo anterior, às pedaladas fiscais. A falta de presente e de melhoria no próximo ano conduz a sonhar com um futuro alvissareiro mais à distância, apenas em 2017, pois agora só o incerto é certo.

No plano político-institucional o panorama não é menos assustador. A propalada reforma política, por meio da qual o Senado e mais especialmente a Câmara dos Deputados pretendiam assumir o papel de protagonistas da cena política, mostrou-se pífia, irrelevante. A reforma política aprovada, graças ao voluntarismo de Eduardo Cunha, desfaz qualquer expectativa de mudança significativa das instituições políticas brasileiras. Todas as questões essenciais foram ignoradas: sistema eleitoral, voto facultativo, cláusula de barreira, fidelidade partidária, financiamento eleitoral.

O sistema eleitoral constituía ponto básico de transformação saneadora da política brasileira. O único ganho foi a derrota do projeto do distritão, pelo qual são eleitos os mais votados, sejam de que partido forem. Esse sistema despreza os partidos para vicejarem apenas os famosos e os coronéis. Mas continua o atual sistema proporcional, que afasta o eleitor do candidato, exige gastos imensos e colabora para a corrupção. E o pior, manteve-se a possibilidade de coligação para as eleições proporcionais, consagrando-se o partido de aluguel, que loca a sigla para conceder tempo de televisão em troca da eleição de alguns deputados, sem nenhuma comunhão de ideias.

continua após a publicidade

O financiamento de campanha não poderia ter tido solução pior. Proibiu-se o financiamento por pessoas jurídicas aos candidatos diretamente, permitindo-se, todavia, aos partidos, que decidirão beneficiar este ou aquele. Solução mágica engendrada por Eduardo Cunha diante da vitória inicial da proposta de financiamento público das campanhas. O caminho mais fácil seria, sem dúvida, o de permitir financiamento privado, mas não por empresas fornecedoras de produtos ou serviços à administração pública, direta ou indiretamente, ou seja, também por via do grupo que integram. Mas agora o leite já foi derramado.

O escândalo revelado pela Operação Lava Jato alcança o seu mais alto nível, envolvendo as maiores empreiteiras do País, com ligações próximas ao PT e a Lula. A colaboração de Ricardo Pessoa, homologada pelo Supremo Tribunal Federal, esquenta o ambiente, compromete a campanha de Dilma, que passa a acusar a delação como instrumento medieval de tortura que ela mesmo aprovou e festejou ao sancionar a Lei n.º 12.850/13.

A oposição formulou representação criminal relativa às pedaladas e agora por extorsão, e está esperando Janot. Mas diante da deterioração do quadro político e econômico e com as recentes e as futuras revelações da Lava Jato (o eletrolão), amadurece o caminho do impeachment. O País mostra-se à deriva. Sem bússola estão governistas e economistas, e o próprio Lula, que passou a atirar para todos os lados, sem conseguir se desfazer de suas principais obras, PT e Dilma, por mais que se esforce para tentar sobreviver à “marolona”, da qual é o responsável.  Este quadro exasperante leva a um clamor: Dilma, mulher sapiens, renuncie. Essa corajosa medida será menos traumática que qualquer processo de afastamento. E, finalmente, sábia. Miguel Reale Júnior é advogado, professor titular senior da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras, foi ministro da Justiça

A vida política nacional vive clima de salve-se quem puder em pleno terreno movediço, como revela simples visão panorâmica do nosso dia a dia.

Dilma navega em 10% de aprovação, cria uma nova espécie, a de mulheres sapiens, exalta a mandioca, uma conquista nacional, e sente-se discriminada sexualmente. Lula, como um ET recém-chegado ao País e ao PT, olha e vê que o partido perdeu o sonho, e agora, com medo de ser infeliz, detecta que se dissolveu o ideal na busca incessante de emprego, cargo – e, faltou dizer, propina.

A base governista, desorientada, em busca de não restar alheia aos anseios do eleitor, tenta combinar a aprovação do ajuste fiscal com medidas ampliadoras de gasto público que contentem a população, como o fim do fator previdenciário e a vinculação dos benefícios da Previdência ao salário mínimo, o aumento dos vencimentos do Judiciário.

A CPI da Petrobrás, ante o sucesso das investigações da Polícia Federal e do Ministério Público, e para não passar um atestado de incompetência, resolveu convocar o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, para fúria do líder em face da fraqueza de seus comandados que não respeitam – em busca de algum resultado positivo – nem mesmo a casa paterna.

No processo perante o Tribunal de Contas da União, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega atribui o recurso às “pedaladas fiscais” a seu secretário do Tesouro Nacional, como se não tivesse nada que ver com as maquiagens contábeis que alimentavam seu sempre constante ufanismo. E Arno Augustin, como bom escudeiro, assume toda as culpas pelas “pedaladas fiscais”, como se assim pudesse livrar a cara da sua presidente, ignorando que perante a lei a responsabilidade é sempre do chefe do Executivo – e no caso, de forma patente, dada a sua convivência quase diária com a presidente, a ponto de se considerar que ambos, presidente e secretário do Tesouro, eram unha e carne.

A preocupação com os preços verifica-se no semblante das donas de casa nos supermercados. Reconhece-se inflação de 9%, mas, em especial para os menos favorecidos, a conta já é maior. Os preços públicos pressionam, com as contas de luz causando espanto em todas as rodas. O mais triste é o fantasma do desemprego, que agora atinge o comércio com despedidas significativas nas redes de lojas de eletrodomésticos e móveis. Para recomeçar há um longo caminho: só o longínquo aumento das encomendas levará ao início da recuperação industrial.

A elevada queda da arrecadação anula o esforço do ajuste econômico a ponto de o governo novamente recorrer, mesmo que sem o ânimo anterior, às pedaladas fiscais. A falta de presente e de melhoria no próximo ano conduz a sonhar com um futuro alvissareiro mais à distância, apenas em 2017, pois agora só o incerto é certo.

No plano político-institucional o panorama não é menos assustador. A propalada reforma política, por meio da qual o Senado e mais especialmente a Câmara dos Deputados pretendiam assumir o papel de protagonistas da cena política, mostrou-se pífia, irrelevante. A reforma política aprovada, graças ao voluntarismo de Eduardo Cunha, desfaz qualquer expectativa de mudança significativa das instituições políticas brasileiras. Todas as questões essenciais foram ignoradas: sistema eleitoral, voto facultativo, cláusula de barreira, fidelidade partidária, financiamento eleitoral.

O sistema eleitoral constituía ponto básico de transformação saneadora da política brasileira. O único ganho foi a derrota do projeto do distritão, pelo qual são eleitos os mais votados, sejam de que partido forem. Esse sistema despreza os partidos para vicejarem apenas os famosos e os coronéis. Mas continua o atual sistema proporcional, que afasta o eleitor do candidato, exige gastos imensos e colabora para a corrupção. E o pior, manteve-se a possibilidade de coligação para as eleições proporcionais, consagrando-se o partido de aluguel, que loca a sigla para conceder tempo de televisão em troca da eleição de alguns deputados, sem nenhuma comunhão de ideias.

O financiamento de campanha não poderia ter tido solução pior. Proibiu-se o financiamento por pessoas jurídicas aos candidatos diretamente, permitindo-se, todavia, aos partidos, que decidirão beneficiar este ou aquele. Solução mágica engendrada por Eduardo Cunha diante da vitória inicial da proposta de financiamento público das campanhas. O caminho mais fácil seria, sem dúvida, o de permitir financiamento privado, mas não por empresas fornecedoras de produtos ou serviços à administração pública, direta ou indiretamente, ou seja, também por via do grupo que integram. Mas agora o leite já foi derramado.

O escândalo revelado pela Operação Lava Jato alcança o seu mais alto nível, envolvendo as maiores empreiteiras do País, com ligações próximas ao PT e a Lula. A colaboração de Ricardo Pessoa, homologada pelo Supremo Tribunal Federal, esquenta o ambiente, compromete a campanha de Dilma, que passa a acusar a delação como instrumento medieval de tortura que ela mesmo aprovou e festejou ao sancionar a Lei n.º 12.850/13.

A oposição formulou representação criminal relativa às pedaladas e agora por extorsão, e está esperando Janot. Mas diante da deterioração do quadro político e econômico e com as recentes e as futuras revelações da Lava Jato (o eletrolão), amadurece o caminho do impeachment. O País mostra-se à deriva. Sem bússola estão governistas e economistas, e o próprio Lula, que passou a atirar para todos os lados, sem conseguir se desfazer de suas principais obras, PT e Dilma, por mais que se esforce para tentar sobreviver à “marolona”, da qual é o responsável.  Este quadro exasperante leva a um clamor: Dilma, mulher sapiens, renuncie. Essa corajosa medida será menos traumática que qualquer processo de afastamento. E, finalmente, sábia. Miguel Reale Júnior é advogado, professor titular senior da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras, foi ministro da Justiça

A vida política nacional vive clima de salve-se quem puder em pleno terreno movediço, como revela simples visão panorâmica do nosso dia a dia.

Dilma navega em 10% de aprovação, cria uma nova espécie, a de mulheres sapiens, exalta a mandioca, uma conquista nacional, e sente-se discriminada sexualmente. Lula, como um ET recém-chegado ao País e ao PT, olha e vê que o partido perdeu o sonho, e agora, com medo de ser infeliz, detecta que se dissolveu o ideal na busca incessante de emprego, cargo – e, faltou dizer, propina.

A base governista, desorientada, em busca de não restar alheia aos anseios do eleitor, tenta combinar a aprovação do ajuste fiscal com medidas ampliadoras de gasto público que contentem a população, como o fim do fator previdenciário e a vinculação dos benefícios da Previdência ao salário mínimo, o aumento dos vencimentos do Judiciário.

A CPI da Petrobrás, ante o sucesso das investigações da Polícia Federal e do Ministério Público, e para não passar um atestado de incompetência, resolveu convocar o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, para fúria do líder em face da fraqueza de seus comandados que não respeitam – em busca de algum resultado positivo – nem mesmo a casa paterna.

No processo perante o Tribunal de Contas da União, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega atribui o recurso às “pedaladas fiscais” a seu secretário do Tesouro Nacional, como se não tivesse nada que ver com as maquiagens contábeis que alimentavam seu sempre constante ufanismo. E Arno Augustin, como bom escudeiro, assume toda as culpas pelas “pedaladas fiscais”, como se assim pudesse livrar a cara da sua presidente, ignorando que perante a lei a responsabilidade é sempre do chefe do Executivo – e no caso, de forma patente, dada a sua convivência quase diária com a presidente, a ponto de se considerar que ambos, presidente e secretário do Tesouro, eram unha e carne.

A preocupação com os preços verifica-se no semblante das donas de casa nos supermercados. Reconhece-se inflação de 9%, mas, em especial para os menos favorecidos, a conta já é maior. Os preços públicos pressionam, com as contas de luz causando espanto em todas as rodas. O mais triste é o fantasma do desemprego, que agora atinge o comércio com despedidas significativas nas redes de lojas de eletrodomésticos e móveis. Para recomeçar há um longo caminho: só o longínquo aumento das encomendas levará ao início da recuperação industrial.

A elevada queda da arrecadação anula o esforço do ajuste econômico a ponto de o governo novamente recorrer, mesmo que sem o ânimo anterior, às pedaladas fiscais. A falta de presente e de melhoria no próximo ano conduz a sonhar com um futuro alvissareiro mais à distância, apenas em 2017, pois agora só o incerto é certo.

No plano político-institucional o panorama não é menos assustador. A propalada reforma política, por meio da qual o Senado e mais especialmente a Câmara dos Deputados pretendiam assumir o papel de protagonistas da cena política, mostrou-se pífia, irrelevante. A reforma política aprovada, graças ao voluntarismo de Eduardo Cunha, desfaz qualquer expectativa de mudança significativa das instituições políticas brasileiras. Todas as questões essenciais foram ignoradas: sistema eleitoral, voto facultativo, cláusula de barreira, fidelidade partidária, financiamento eleitoral.

O sistema eleitoral constituía ponto básico de transformação saneadora da política brasileira. O único ganho foi a derrota do projeto do distritão, pelo qual são eleitos os mais votados, sejam de que partido forem. Esse sistema despreza os partidos para vicejarem apenas os famosos e os coronéis. Mas continua o atual sistema proporcional, que afasta o eleitor do candidato, exige gastos imensos e colabora para a corrupção. E o pior, manteve-se a possibilidade de coligação para as eleições proporcionais, consagrando-se o partido de aluguel, que loca a sigla para conceder tempo de televisão em troca da eleição de alguns deputados, sem nenhuma comunhão de ideias.

O financiamento de campanha não poderia ter tido solução pior. Proibiu-se o financiamento por pessoas jurídicas aos candidatos diretamente, permitindo-se, todavia, aos partidos, que decidirão beneficiar este ou aquele. Solução mágica engendrada por Eduardo Cunha diante da vitória inicial da proposta de financiamento público das campanhas. O caminho mais fácil seria, sem dúvida, o de permitir financiamento privado, mas não por empresas fornecedoras de produtos ou serviços à administração pública, direta ou indiretamente, ou seja, também por via do grupo que integram. Mas agora o leite já foi derramado.

O escândalo revelado pela Operação Lava Jato alcança o seu mais alto nível, envolvendo as maiores empreiteiras do País, com ligações próximas ao PT e a Lula. A colaboração de Ricardo Pessoa, homologada pelo Supremo Tribunal Federal, esquenta o ambiente, compromete a campanha de Dilma, que passa a acusar a delação como instrumento medieval de tortura que ela mesmo aprovou e festejou ao sancionar a Lei n.º 12.850/13.

A oposição formulou representação criminal relativa às pedaladas e agora por extorsão, e está esperando Janot. Mas diante da deterioração do quadro político e econômico e com as recentes e as futuras revelações da Lava Jato (o eletrolão), amadurece o caminho do impeachment. O País mostra-se à deriva. Sem bússola estão governistas e economistas, e o próprio Lula, que passou a atirar para todos os lados, sem conseguir se desfazer de suas principais obras, PT e Dilma, por mais que se esforce para tentar sobreviver à “marolona”, da qual é o responsável.  Este quadro exasperante leva a um clamor: Dilma, mulher sapiens, renuncie. Essa corajosa medida será menos traumática que qualquer processo de afastamento. E, finalmente, sábia. Miguel Reale Júnior é advogado, professor titular senior da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras, foi ministro da Justiça

A vida política nacional vive clima de salve-se quem puder em pleno terreno movediço, como revela simples visão panorâmica do nosso dia a dia.

Dilma navega em 10% de aprovação, cria uma nova espécie, a de mulheres sapiens, exalta a mandioca, uma conquista nacional, e sente-se discriminada sexualmente. Lula, como um ET recém-chegado ao País e ao PT, olha e vê que o partido perdeu o sonho, e agora, com medo de ser infeliz, detecta que se dissolveu o ideal na busca incessante de emprego, cargo – e, faltou dizer, propina.

A base governista, desorientada, em busca de não restar alheia aos anseios do eleitor, tenta combinar a aprovação do ajuste fiscal com medidas ampliadoras de gasto público que contentem a população, como o fim do fator previdenciário e a vinculação dos benefícios da Previdência ao salário mínimo, o aumento dos vencimentos do Judiciário.

A CPI da Petrobrás, ante o sucesso das investigações da Polícia Federal e do Ministério Público, e para não passar um atestado de incompetência, resolveu convocar o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, para fúria do líder em face da fraqueza de seus comandados que não respeitam – em busca de algum resultado positivo – nem mesmo a casa paterna.

No processo perante o Tribunal de Contas da União, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega atribui o recurso às “pedaladas fiscais” a seu secretário do Tesouro Nacional, como se não tivesse nada que ver com as maquiagens contábeis que alimentavam seu sempre constante ufanismo. E Arno Augustin, como bom escudeiro, assume toda as culpas pelas “pedaladas fiscais”, como se assim pudesse livrar a cara da sua presidente, ignorando que perante a lei a responsabilidade é sempre do chefe do Executivo – e no caso, de forma patente, dada a sua convivência quase diária com a presidente, a ponto de se considerar que ambos, presidente e secretário do Tesouro, eram unha e carne.

A preocupação com os preços verifica-se no semblante das donas de casa nos supermercados. Reconhece-se inflação de 9%, mas, em especial para os menos favorecidos, a conta já é maior. Os preços públicos pressionam, com as contas de luz causando espanto em todas as rodas. O mais triste é o fantasma do desemprego, que agora atinge o comércio com despedidas significativas nas redes de lojas de eletrodomésticos e móveis. Para recomeçar há um longo caminho: só o longínquo aumento das encomendas levará ao início da recuperação industrial.

A elevada queda da arrecadação anula o esforço do ajuste econômico a ponto de o governo novamente recorrer, mesmo que sem o ânimo anterior, às pedaladas fiscais. A falta de presente e de melhoria no próximo ano conduz a sonhar com um futuro alvissareiro mais à distância, apenas em 2017, pois agora só o incerto é certo.

No plano político-institucional o panorama não é menos assustador. A propalada reforma política, por meio da qual o Senado e mais especialmente a Câmara dos Deputados pretendiam assumir o papel de protagonistas da cena política, mostrou-se pífia, irrelevante. A reforma política aprovada, graças ao voluntarismo de Eduardo Cunha, desfaz qualquer expectativa de mudança significativa das instituições políticas brasileiras. Todas as questões essenciais foram ignoradas: sistema eleitoral, voto facultativo, cláusula de barreira, fidelidade partidária, financiamento eleitoral.

O sistema eleitoral constituía ponto básico de transformação saneadora da política brasileira. O único ganho foi a derrota do projeto do distritão, pelo qual são eleitos os mais votados, sejam de que partido forem. Esse sistema despreza os partidos para vicejarem apenas os famosos e os coronéis. Mas continua o atual sistema proporcional, que afasta o eleitor do candidato, exige gastos imensos e colabora para a corrupção. E o pior, manteve-se a possibilidade de coligação para as eleições proporcionais, consagrando-se o partido de aluguel, que loca a sigla para conceder tempo de televisão em troca da eleição de alguns deputados, sem nenhuma comunhão de ideias.

O financiamento de campanha não poderia ter tido solução pior. Proibiu-se o financiamento por pessoas jurídicas aos candidatos diretamente, permitindo-se, todavia, aos partidos, que decidirão beneficiar este ou aquele. Solução mágica engendrada por Eduardo Cunha diante da vitória inicial da proposta de financiamento público das campanhas. O caminho mais fácil seria, sem dúvida, o de permitir financiamento privado, mas não por empresas fornecedoras de produtos ou serviços à administração pública, direta ou indiretamente, ou seja, também por via do grupo que integram. Mas agora o leite já foi derramado.

O escândalo revelado pela Operação Lava Jato alcança o seu mais alto nível, envolvendo as maiores empreiteiras do País, com ligações próximas ao PT e a Lula. A colaboração de Ricardo Pessoa, homologada pelo Supremo Tribunal Federal, esquenta o ambiente, compromete a campanha de Dilma, que passa a acusar a delação como instrumento medieval de tortura que ela mesmo aprovou e festejou ao sancionar a Lei n.º 12.850/13.

A oposição formulou representação criminal relativa às pedaladas e agora por extorsão, e está esperando Janot. Mas diante da deterioração do quadro político e econômico e com as recentes e as futuras revelações da Lava Jato (o eletrolão), amadurece o caminho do impeachment. O País mostra-se à deriva. Sem bússola estão governistas e economistas, e o próprio Lula, que passou a atirar para todos os lados, sem conseguir se desfazer de suas principais obras, PT e Dilma, por mais que se esforce para tentar sobreviver à “marolona”, da qual é o responsável.  Este quadro exasperante leva a um clamor: Dilma, mulher sapiens, renuncie. Essa corajosa medida será menos traumática que qualquer processo de afastamento. E, finalmente, sábia. Miguel Reale Júnior é advogado, professor titular senior da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras, foi ministro da Justiça

Opinião por Miguel Reale Júnior

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.