Suzana Barelli

Dois malbecs de 100 pontos


Guia Descorchados concede as mais altas notas para vinhos que não têm passagem por barricas de carvalho

Por Suzana Barelli

Quando provou a safra 2005 do seu Contador, um corte de 99% com tempranillo e 1% de garnacha, o produtor espanhol Benjamín Romeo se preocupou com a nota que o vinho poderia ter. Na safra anterior, a de 2004, o tinto havia conquistado 100 pontos (a pontuação máxima) de Robert Parker, na época em que esse crítico ditava os estilos e os preços dos vinhos mundo afora. Só que a safra de 2005 era, na opinião de Romeo, melhor do que a anterior.

Pergunta semelhante poderá – com sorte – ser feita pelos enólogos argentinos Alejandro Vigil e Sebastían Zuccardi. Os dois acabaram de receber 100 pontos para os seus malbecs ícones, respectivamente o Adrianna Vineyard Mundus Bacilus Terrae Malbec 2021, elaborado pela vinícola Catena Zapata, e o Finca Piedra Infinita Supercal Malbec 2021, da Zuccardi. As notas foram dadas pelo crítico chileno Patrício Tapia, editor do Descorchados, que pela primeira vez concedeu a nota máxima para rótulos argentinos no seu guia.

Os enólogos chilenos, argentinos, uruguaios e brasileiros, que apresentaram seus vinhos no lançamento do Guia Descorchados no Brasil Foto: Carol Orantes
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SEM BARRICA

Se esses dois tintos lançam a discussão de qual a nota máxima – a proposito, Parker deu novamente 100 pontos para o Contador 2005 – , trazem também a questão de qual é a importância das barricas de carvalho no vinho. O Piedra Infinita Supercal fermenta em tanques de concreto em formato de ânforas e permanece em concreto por mais 12 meses, sem nenhum estágio em recipientes de madeira. A ideia de Sebastian é mostrar os aromas e os sabores da malbec em Altamira, no vale do Uco, sem o dulçor característico da variedade, e para isso ele decidiu abrir mão da interferência da madeira.

Vigil, por sua vez, optou por não amadurecer o Mundus Bacilus em barricas de madeira, mas sim em tanques de concreto, pela primeira vez desde que o rótulo foi lançado, na safra de 2011. Valoriza assim as características desde pequeno vinhedo, de 1,4 hectare de malbec em Gualtallary, também no vale do Uco (a safra 2015 do Mundus Bacilus é vendida por R$ 2.620 na Mistral e o Supercal deve chegar em breve na Grand Cru, ainda sem preço definido).

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SUTILEZAS

O resultado são tintos mais austeros, tensos no paladar, com agradáveis notas de frutas (cerejas) mais ácidas e sem a profusão de frutas vermelhas. Os dois tintos mostram, em plena semana do malbec (o dia internacional desta uva foi comemorado no 17 de abril), mais uma das sutilezas desta uva, que mostra elegância em diversos estilos, dos vinhos mais encorpados, que pedem um bom churrasco, ao mais frutados.

Os dois rótulos, ainda, fazem coro à tendência mundial de reduzir a chamada presença de madeira no vinho. Nos tintos premiuns, espera-se uma passagem por alguma barrica, seja para ganhar complexidade, seja para arredondar a bebida. As barricas de 225 litros, tão fotogênicas, não raro trazem notas de baunilha, tostados, chocolates, entre outras, ao vinho, o que nem sempre agrada enólogos que querem valorizar o chamado terroir. O caminho tem sido a redução da quantidade de barricas novas (que trazem estas notas de forma mais pronunciada) ou a opção por foudres, barricas com capacidade para 1,5 mil litro ou mais, que resultam em menor interferência da madeira no vinho.

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TENDÊNCIAS

A força do concreto no vinho, seja os modernos, em formatos de ânforas e ovos, ou nos tradicionais e quase esquecidos tanques, foi um dos destaques desta edição do Descorchados, mas não o único. Nas degustações do guia, que avalia vinhos do Chile, da Argentina, do Uruguai, do Brasil e também da Bolívia e do Peru, as atenções também foram para mostrar que os vinhos brancos de mais qualidade vêm conquistando espaço no portfolio das vinícolas.

Na taça, os vinhos piedra Infinita Supercal, à esq., e o Mundus Bacillus Terrae, que obtiveram 100 pontos no guia Descorchados Foto: Suzana Barelli
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Um exemplo foi o destaque para o Caballo Loco no. 1 NV, o primeiro branco premium elaborado pela vinícola Valdivieso, no Chile. Até então, o badalado Caballo Loco existia apenas em sua versão tinta. Na seleção de Tapia para a masterclass com os destaques do guia, inclusive, os dois melhores brancos, com nota de 98 pontos, foram elaborados com a chardonnay, o Talinay Caliza, no Chile, e o Otronia, na Argentina.

CABERNET FRANC

A cabernet franc também aparece como uma variedade em destaque, como se os produtores do Cone Sul estivessem à procura de uma nova variedade para brilhar em seus rótulos. No painel, bons exemplos do Chile, como o Tara Rede Wine 4 2021, projeto da Ventisquero que vem de vinhedos no Atacama; do Uruguai, como o Gran Ombú 2023; e o Gran Enemigo El Cepillo 2020, na Argentina, para fica apenas em três exemplos. Mas a variedade de estilos com essa variedade chama atenção.

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Destaque também para a degustação com vinhos com menor teor alcoólico. O objetivo é sair dos brancos e tintos com 14% ou 15% de álcool estampados na etiqueta para algo abaixo dos 13%. Mas se a redução do teor alcoólico é um desejo do consumidor, como indicam as pesquisas de consumo, aqui há a dificuldade de conseguir elaborar vinhos de qualidade com essa premissa. Afinal, o álcool resulta da fermentação do açúcar das uvas colhidas maduras. É essa é uma questão que vem desafiando os enólogos nas últimas safras.

Quando provou a safra 2005 do seu Contador, um corte de 99% com tempranillo e 1% de garnacha, o produtor espanhol Benjamín Romeo se preocupou com a nota que o vinho poderia ter. Na safra anterior, a de 2004, o tinto havia conquistado 100 pontos (a pontuação máxima) de Robert Parker, na época em que esse crítico ditava os estilos e os preços dos vinhos mundo afora. Só que a safra de 2005 era, na opinião de Romeo, melhor do que a anterior.

Pergunta semelhante poderá – com sorte – ser feita pelos enólogos argentinos Alejandro Vigil e Sebastían Zuccardi. Os dois acabaram de receber 100 pontos para os seus malbecs ícones, respectivamente o Adrianna Vineyard Mundus Bacilus Terrae Malbec 2021, elaborado pela vinícola Catena Zapata, e o Finca Piedra Infinita Supercal Malbec 2021, da Zuccardi. As notas foram dadas pelo crítico chileno Patrício Tapia, editor do Descorchados, que pela primeira vez concedeu a nota máxima para rótulos argentinos no seu guia.

Os enólogos chilenos, argentinos, uruguaios e brasileiros, que apresentaram seus vinhos no lançamento do Guia Descorchados no Brasil Foto: Carol Orantes

SEM BARRICA

Se esses dois tintos lançam a discussão de qual a nota máxima – a proposito, Parker deu novamente 100 pontos para o Contador 2005 – , trazem também a questão de qual é a importância das barricas de carvalho no vinho. O Piedra Infinita Supercal fermenta em tanques de concreto em formato de ânforas e permanece em concreto por mais 12 meses, sem nenhum estágio em recipientes de madeira. A ideia de Sebastian é mostrar os aromas e os sabores da malbec em Altamira, no vale do Uco, sem o dulçor característico da variedade, e para isso ele decidiu abrir mão da interferência da madeira.

Vigil, por sua vez, optou por não amadurecer o Mundus Bacilus em barricas de madeira, mas sim em tanques de concreto, pela primeira vez desde que o rótulo foi lançado, na safra de 2011. Valoriza assim as características desde pequeno vinhedo, de 1,4 hectare de malbec em Gualtallary, também no vale do Uco (a safra 2015 do Mundus Bacilus é vendida por R$ 2.620 na Mistral e o Supercal deve chegar em breve na Grand Cru, ainda sem preço definido).

SUTILEZAS

O resultado são tintos mais austeros, tensos no paladar, com agradáveis notas de frutas (cerejas) mais ácidas e sem a profusão de frutas vermelhas. Os dois tintos mostram, em plena semana do malbec (o dia internacional desta uva foi comemorado no 17 de abril), mais uma das sutilezas desta uva, que mostra elegância em diversos estilos, dos vinhos mais encorpados, que pedem um bom churrasco, ao mais frutados.

Os dois rótulos, ainda, fazem coro à tendência mundial de reduzir a chamada presença de madeira no vinho. Nos tintos premiuns, espera-se uma passagem por alguma barrica, seja para ganhar complexidade, seja para arredondar a bebida. As barricas de 225 litros, tão fotogênicas, não raro trazem notas de baunilha, tostados, chocolates, entre outras, ao vinho, o que nem sempre agrada enólogos que querem valorizar o chamado terroir. O caminho tem sido a redução da quantidade de barricas novas (que trazem estas notas de forma mais pronunciada) ou a opção por foudres, barricas com capacidade para 1,5 mil litro ou mais, que resultam em menor interferência da madeira no vinho.

TENDÊNCIAS

A força do concreto no vinho, seja os modernos, em formatos de ânforas e ovos, ou nos tradicionais e quase esquecidos tanques, foi um dos destaques desta edição do Descorchados, mas não o único. Nas degustações do guia, que avalia vinhos do Chile, da Argentina, do Uruguai, do Brasil e também da Bolívia e do Peru, as atenções também foram para mostrar que os vinhos brancos de mais qualidade vêm conquistando espaço no portfolio das vinícolas.

Na taça, os vinhos piedra Infinita Supercal, à esq., e o Mundus Bacillus Terrae, que obtiveram 100 pontos no guia Descorchados Foto: Suzana Barelli

Um exemplo foi o destaque para o Caballo Loco no. 1 NV, o primeiro branco premium elaborado pela vinícola Valdivieso, no Chile. Até então, o badalado Caballo Loco existia apenas em sua versão tinta. Na seleção de Tapia para a masterclass com os destaques do guia, inclusive, os dois melhores brancos, com nota de 98 pontos, foram elaborados com a chardonnay, o Talinay Caliza, no Chile, e o Otronia, na Argentina.

CABERNET FRANC

A cabernet franc também aparece como uma variedade em destaque, como se os produtores do Cone Sul estivessem à procura de uma nova variedade para brilhar em seus rótulos. No painel, bons exemplos do Chile, como o Tara Rede Wine 4 2021, projeto da Ventisquero que vem de vinhedos no Atacama; do Uruguai, como o Gran Ombú 2023; e o Gran Enemigo El Cepillo 2020, na Argentina, para fica apenas em três exemplos. Mas a variedade de estilos com essa variedade chama atenção.

Destaque também para a degustação com vinhos com menor teor alcoólico. O objetivo é sair dos brancos e tintos com 14% ou 15% de álcool estampados na etiqueta para algo abaixo dos 13%. Mas se a redução do teor alcoólico é um desejo do consumidor, como indicam as pesquisas de consumo, aqui há a dificuldade de conseguir elaborar vinhos de qualidade com essa premissa. Afinal, o álcool resulta da fermentação do açúcar das uvas colhidas maduras. É essa é uma questão que vem desafiando os enólogos nas últimas safras.

Quando provou a safra 2005 do seu Contador, um corte de 99% com tempranillo e 1% de garnacha, o produtor espanhol Benjamín Romeo se preocupou com a nota que o vinho poderia ter. Na safra anterior, a de 2004, o tinto havia conquistado 100 pontos (a pontuação máxima) de Robert Parker, na época em que esse crítico ditava os estilos e os preços dos vinhos mundo afora. Só que a safra de 2005 era, na opinião de Romeo, melhor do que a anterior.

Pergunta semelhante poderá – com sorte – ser feita pelos enólogos argentinos Alejandro Vigil e Sebastían Zuccardi. Os dois acabaram de receber 100 pontos para os seus malbecs ícones, respectivamente o Adrianna Vineyard Mundus Bacilus Terrae Malbec 2021, elaborado pela vinícola Catena Zapata, e o Finca Piedra Infinita Supercal Malbec 2021, da Zuccardi. As notas foram dadas pelo crítico chileno Patrício Tapia, editor do Descorchados, que pela primeira vez concedeu a nota máxima para rótulos argentinos no seu guia.

Os enólogos chilenos, argentinos, uruguaios e brasileiros, que apresentaram seus vinhos no lançamento do Guia Descorchados no Brasil Foto: Carol Orantes

SEM BARRICA

Se esses dois tintos lançam a discussão de qual a nota máxima – a proposito, Parker deu novamente 100 pontos para o Contador 2005 – , trazem também a questão de qual é a importância das barricas de carvalho no vinho. O Piedra Infinita Supercal fermenta em tanques de concreto em formato de ânforas e permanece em concreto por mais 12 meses, sem nenhum estágio em recipientes de madeira. A ideia de Sebastian é mostrar os aromas e os sabores da malbec em Altamira, no vale do Uco, sem o dulçor característico da variedade, e para isso ele decidiu abrir mão da interferência da madeira.

Vigil, por sua vez, optou por não amadurecer o Mundus Bacilus em barricas de madeira, mas sim em tanques de concreto, pela primeira vez desde que o rótulo foi lançado, na safra de 2011. Valoriza assim as características desde pequeno vinhedo, de 1,4 hectare de malbec em Gualtallary, também no vale do Uco (a safra 2015 do Mundus Bacilus é vendida por R$ 2.620 na Mistral e o Supercal deve chegar em breve na Grand Cru, ainda sem preço definido).

SUTILEZAS

O resultado são tintos mais austeros, tensos no paladar, com agradáveis notas de frutas (cerejas) mais ácidas e sem a profusão de frutas vermelhas. Os dois tintos mostram, em plena semana do malbec (o dia internacional desta uva foi comemorado no 17 de abril), mais uma das sutilezas desta uva, que mostra elegância em diversos estilos, dos vinhos mais encorpados, que pedem um bom churrasco, ao mais frutados.

Os dois rótulos, ainda, fazem coro à tendência mundial de reduzir a chamada presença de madeira no vinho. Nos tintos premiuns, espera-se uma passagem por alguma barrica, seja para ganhar complexidade, seja para arredondar a bebida. As barricas de 225 litros, tão fotogênicas, não raro trazem notas de baunilha, tostados, chocolates, entre outras, ao vinho, o que nem sempre agrada enólogos que querem valorizar o chamado terroir. O caminho tem sido a redução da quantidade de barricas novas (que trazem estas notas de forma mais pronunciada) ou a opção por foudres, barricas com capacidade para 1,5 mil litro ou mais, que resultam em menor interferência da madeira no vinho.

TENDÊNCIAS

A força do concreto no vinho, seja os modernos, em formatos de ânforas e ovos, ou nos tradicionais e quase esquecidos tanques, foi um dos destaques desta edição do Descorchados, mas não o único. Nas degustações do guia, que avalia vinhos do Chile, da Argentina, do Uruguai, do Brasil e também da Bolívia e do Peru, as atenções também foram para mostrar que os vinhos brancos de mais qualidade vêm conquistando espaço no portfolio das vinícolas.

Na taça, os vinhos piedra Infinita Supercal, à esq., e o Mundus Bacillus Terrae, que obtiveram 100 pontos no guia Descorchados Foto: Suzana Barelli

Um exemplo foi o destaque para o Caballo Loco no. 1 NV, o primeiro branco premium elaborado pela vinícola Valdivieso, no Chile. Até então, o badalado Caballo Loco existia apenas em sua versão tinta. Na seleção de Tapia para a masterclass com os destaques do guia, inclusive, os dois melhores brancos, com nota de 98 pontos, foram elaborados com a chardonnay, o Talinay Caliza, no Chile, e o Otronia, na Argentina.

CABERNET FRANC

A cabernet franc também aparece como uma variedade em destaque, como se os produtores do Cone Sul estivessem à procura de uma nova variedade para brilhar em seus rótulos. No painel, bons exemplos do Chile, como o Tara Rede Wine 4 2021, projeto da Ventisquero que vem de vinhedos no Atacama; do Uruguai, como o Gran Ombú 2023; e o Gran Enemigo El Cepillo 2020, na Argentina, para fica apenas em três exemplos. Mas a variedade de estilos com essa variedade chama atenção.

Destaque também para a degustação com vinhos com menor teor alcoólico. O objetivo é sair dos brancos e tintos com 14% ou 15% de álcool estampados na etiqueta para algo abaixo dos 13%. Mas se a redução do teor alcoólico é um desejo do consumidor, como indicam as pesquisas de consumo, aqui há a dificuldade de conseguir elaborar vinhos de qualidade com essa premissa. Afinal, o álcool resulta da fermentação do açúcar das uvas colhidas maduras. É essa é uma questão que vem desafiando os enólogos nas últimas safras.

Quando provou a safra 2005 do seu Contador, um corte de 99% com tempranillo e 1% de garnacha, o produtor espanhol Benjamín Romeo se preocupou com a nota que o vinho poderia ter. Na safra anterior, a de 2004, o tinto havia conquistado 100 pontos (a pontuação máxima) de Robert Parker, na época em que esse crítico ditava os estilos e os preços dos vinhos mundo afora. Só que a safra de 2005 era, na opinião de Romeo, melhor do que a anterior.

Pergunta semelhante poderá – com sorte – ser feita pelos enólogos argentinos Alejandro Vigil e Sebastían Zuccardi. Os dois acabaram de receber 100 pontos para os seus malbecs ícones, respectivamente o Adrianna Vineyard Mundus Bacilus Terrae Malbec 2021, elaborado pela vinícola Catena Zapata, e o Finca Piedra Infinita Supercal Malbec 2021, da Zuccardi. As notas foram dadas pelo crítico chileno Patrício Tapia, editor do Descorchados, que pela primeira vez concedeu a nota máxima para rótulos argentinos no seu guia.

Os enólogos chilenos, argentinos, uruguaios e brasileiros, que apresentaram seus vinhos no lançamento do Guia Descorchados no Brasil Foto: Carol Orantes

SEM BARRICA

Se esses dois tintos lançam a discussão de qual a nota máxima – a proposito, Parker deu novamente 100 pontos para o Contador 2005 – , trazem também a questão de qual é a importância das barricas de carvalho no vinho. O Piedra Infinita Supercal fermenta em tanques de concreto em formato de ânforas e permanece em concreto por mais 12 meses, sem nenhum estágio em recipientes de madeira. A ideia de Sebastian é mostrar os aromas e os sabores da malbec em Altamira, no vale do Uco, sem o dulçor característico da variedade, e para isso ele decidiu abrir mão da interferência da madeira.

Vigil, por sua vez, optou por não amadurecer o Mundus Bacilus em barricas de madeira, mas sim em tanques de concreto, pela primeira vez desde que o rótulo foi lançado, na safra de 2011. Valoriza assim as características desde pequeno vinhedo, de 1,4 hectare de malbec em Gualtallary, também no vale do Uco (a safra 2015 do Mundus Bacilus é vendida por R$ 2.620 na Mistral e o Supercal deve chegar em breve na Grand Cru, ainda sem preço definido).

SUTILEZAS

O resultado são tintos mais austeros, tensos no paladar, com agradáveis notas de frutas (cerejas) mais ácidas e sem a profusão de frutas vermelhas. Os dois tintos mostram, em plena semana do malbec (o dia internacional desta uva foi comemorado no 17 de abril), mais uma das sutilezas desta uva, que mostra elegância em diversos estilos, dos vinhos mais encorpados, que pedem um bom churrasco, ao mais frutados.

Os dois rótulos, ainda, fazem coro à tendência mundial de reduzir a chamada presença de madeira no vinho. Nos tintos premiuns, espera-se uma passagem por alguma barrica, seja para ganhar complexidade, seja para arredondar a bebida. As barricas de 225 litros, tão fotogênicas, não raro trazem notas de baunilha, tostados, chocolates, entre outras, ao vinho, o que nem sempre agrada enólogos que querem valorizar o chamado terroir. O caminho tem sido a redução da quantidade de barricas novas (que trazem estas notas de forma mais pronunciada) ou a opção por foudres, barricas com capacidade para 1,5 mil litro ou mais, que resultam em menor interferência da madeira no vinho.

TENDÊNCIAS

A força do concreto no vinho, seja os modernos, em formatos de ânforas e ovos, ou nos tradicionais e quase esquecidos tanques, foi um dos destaques desta edição do Descorchados, mas não o único. Nas degustações do guia, que avalia vinhos do Chile, da Argentina, do Uruguai, do Brasil e também da Bolívia e do Peru, as atenções também foram para mostrar que os vinhos brancos de mais qualidade vêm conquistando espaço no portfolio das vinícolas.

Na taça, os vinhos piedra Infinita Supercal, à esq., e o Mundus Bacillus Terrae, que obtiveram 100 pontos no guia Descorchados Foto: Suzana Barelli

Um exemplo foi o destaque para o Caballo Loco no. 1 NV, o primeiro branco premium elaborado pela vinícola Valdivieso, no Chile. Até então, o badalado Caballo Loco existia apenas em sua versão tinta. Na seleção de Tapia para a masterclass com os destaques do guia, inclusive, os dois melhores brancos, com nota de 98 pontos, foram elaborados com a chardonnay, o Talinay Caliza, no Chile, e o Otronia, na Argentina.

CABERNET FRANC

A cabernet franc também aparece como uma variedade em destaque, como se os produtores do Cone Sul estivessem à procura de uma nova variedade para brilhar em seus rótulos. No painel, bons exemplos do Chile, como o Tara Rede Wine 4 2021, projeto da Ventisquero que vem de vinhedos no Atacama; do Uruguai, como o Gran Ombú 2023; e o Gran Enemigo El Cepillo 2020, na Argentina, para fica apenas em três exemplos. Mas a variedade de estilos com essa variedade chama atenção.

Destaque também para a degustação com vinhos com menor teor alcoólico. O objetivo é sair dos brancos e tintos com 14% ou 15% de álcool estampados na etiqueta para algo abaixo dos 13%. Mas se a redução do teor alcoólico é um desejo do consumidor, como indicam as pesquisas de consumo, aqui há a dificuldade de conseguir elaborar vinhos de qualidade com essa premissa. Afinal, o álcool resulta da fermentação do açúcar das uvas colhidas maduras. É essa é uma questão que vem desafiando os enólogos nas últimas safras.

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