Eu só queria jantar

Mr. Pound


Por Luiz Américo Camargo

Andei respondendo algumas perguntas sobre jornalismo e a especialização em gastronomia, tema do trabalho de graduação de um estudante de comunicação. Falei sobre como entrei para este meio, contei um pouco sobre minhas atividades e, claro, tive que relembrar fatos, repisar caminhos. Quando fui arguido sobre minha formação, acabei trazendo à tona algumas ideias que, anos atrás, não pareciam tão claras para mim. Como, por exemplo, sobre os livros que mais marcaram. Pois no que diz respeito à minha atividade de crítico (que é uma das facetas das coisas que faço; sou, antes de tudo, um jornalista), mais do que qualquer coisa escrita por Jeffrey Steingarten ou por François Simon, a obra que mais me influenciou, como visão de mundo, como abordagem, e como estruturação de pensamento, acho que foi o ABC da Literatura, de Ezra Pound. Já não lembro precisamente quando li. Acho que faz uns 20 anos. Mas foi essencial como definidor de um horizonte estético, como estabelecimento de relação com a produção cultural. Na época, eu pensava vagamente em ser crítico de música, de cultura pop. Minhas conexões com a comida eram bem diferentes. Era extremamente magro e fazer refeições, para mim, era mais ou mesmo como parar num posto de gasolina. Eu só abastecia e seguia em frente, sem grandes considerações. A atenção com a gastronomia, o despertar para os vinhos, isso surgiria uns anos depois - um reencontro com o apetite, com o prazer de mastigar. Mas o fato é que aprendi  com o ABC algumas noções fundamentais. Naquele tempo, eu investia meio atabalhoadamente em temas os mais diversos (gastronomicamente falando, eu fazia uma tremenda salada). E me embrenhava por assuntos como linguística, Saussure em especial;  como teoria da comunicação; e pela poesia de T.S.Eliot (um interesse que permanece até hoje), entre outras coisas. Não queria ser um intelectual, um acadêmico. Mas queria ter uma boa base. O livro de Ezra Pound parece que me deu um foco. Não sei se captei o essencial do ABC. Não sei se ele iluminou em mim algo que nem era o ponto fulcral do livro - afinal, cada um completa a obra com seus elementos pessoais. Porém, foi ali que aprendi que um bom crítico se reconhece a partir dos objetos que ele escolhe para criticar (por que dedicar páginas e ideias e esforços a uma coisa que é ruim?). O ABC da Literatura falava (fala, na verdade) de aspectos como: qual a definição de um clássico? Como o reconhecemos? Prega a necessidade de comparar, sempre, para conceituar melhor, julgar melhor. E ressalta a importância do trabalho duro, incansável, e da abertura para a surpresa, para o novo, como condições essenciais para se exercer a crítica. Ezra Pound escreveu tudo isso pensando em literatura, claro (ainda que suas fronteiras culturais sejam bastante expandidas). Não acho que ele tenha imaginado que alguém, à sua maneira, acabasse citando-o em correlações com comida. Mas a ginástica mental, eu diria, não é tão diferente. Eu acho que perdi o ABC numa das tantas mudanças de casa daquela época para cá. Se eu conseguir o livro, prometo um post mais alentado (e, quem sabe, corrigindo alguma eventual bobagem escrita neste texto). É que eu não queria perder o calor da lembrança. Misturar Ezra Pound com crítica de restaurante até que está bom para uma quarta-feira, não? Por coincidência, é dia de feijoada.

Andei respondendo algumas perguntas sobre jornalismo e a especialização em gastronomia, tema do trabalho de graduação de um estudante de comunicação. Falei sobre como entrei para este meio, contei um pouco sobre minhas atividades e, claro, tive que relembrar fatos, repisar caminhos. Quando fui arguido sobre minha formação, acabei trazendo à tona algumas ideias que, anos atrás, não pareciam tão claras para mim. Como, por exemplo, sobre os livros que mais marcaram. Pois no que diz respeito à minha atividade de crítico (que é uma das facetas das coisas que faço; sou, antes de tudo, um jornalista), mais do que qualquer coisa escrita por Jeffrey Steingarten ou por François Simon, a obra que mais me influenciou, como visão de mundo, como abordagem, e como estruturação de pensamento, acho que foi o ABC da Literatura, de Ezra Pound. Já não lembro precisamente quando li. Acho que faz uns 20 anos. Mas foi essencial como definidor de um horizonte estético, como estabelecimento de relação com a produção cultural. Na época, eu pensava vagamente em ser crítico de música, de cultura pop. Minhas conexões com a comida eram bem diferentes. Era extremamente magro e fazer refeições, para mim, era mais ou mesmo como parar num posto de gasolina. Eu só abastecia e seguia em frente, sem grandes considerações. A atenção com a gastronomia, o despertar para os vinhos, isso surgiria uns anos depois - um reencontro com o apetite, com o prazer de mastigar. Mas o fato é que aprendi  com o ABC algumas noções fundamentais. Naquele tempo, eu investia meio atabalhoadamente em temas os mais diversos (gastronomicamente falando, eu fazia uma tremenda salada). E me embrenhava por assuntos como linguística, Saussure em especial;  como teoria da comunicação; e pela poesia de T.S.Eliot (um interesse que permanece até hoje), entre outras coisas. Não queria ser um intelectual, um acadêmico. Mas queria ter uma boa base. O livro de Ezra Pound parece que me deu um foco. Não sei se captei o essencial do ABC. Não sei se ele iluminou em mim algo que nem era o ponto fulcral do livro - afinal, cada um completa a obra com seus elementos pessoais. Porém, foi ali que aprendi que um bom crítico se reconhece a partir dos objetos que ele escolhe para criticar (por que dedicar páginas e ideias e esforços a uma coisa que é ruim?). O ABC da Literatura falava (fala, na verdade) de aspectos como: qual a definição de um clássico? Como o reconhecemos? Prega a necessidade de comparar, sempre, para conceituar melhor, julgar melhor. E ressalta a importância do trabalho duro, incansável, e da abertura para a surpresa, para o novo, como condições essenciais para se exercer a crítica. Ezra Pound escreveu tudo isso pensando em literatura, claro (ainda que suas fronteiras culturais sejam bastante expandidas). Não acho que ele tenha imaginado que alguém, à sua maneira, acabasse citando-o em correlações com comida. Mas a ginástica mental, eu diria, não é tão diferente. Eu acho que perdi o ABC numa das tantas mudanças de casa daquela época para cá. Se eu conseguir o livro, prometo um post mais alentado (e, quem sabe, corrigindo alguma eventual bobagem escrita neste texto). É que eu não queria perder o calor da lembrança. Misturar Ezra Pound com crítica de restaurante até que está bom para uma quarta-feira, não? Por coincidência, é dia de feijoada.

Andei respondendo algumas perguntas sobre jornalismo e a especialização em gastronomia, tema do trabalho de graduação de um estudante de comunicação. Falei sobre como entrei para este meio, contei um pouco sobre minhas atividades e, claro, tive que relembrar fatos, repisar caminhos. Quando fui arguido sobre minha formação, acabei trazendo à tona algumas ideias que, anos atrás, não pareciam tão claras para mim. Como, por exemplo, sobre os livros que mais marcaram. Pois no que diz respeito à minha atividade de crítico (que é uma das facetas das coisas que faço; sou, antes de tudo, um jornalista), mais do que qualquer coisa escrita por Jeffrey Steingarten ou por François Simon, a obra que mais me influenciou, como visão de mundo, como abordagem, e como estruturação de pensamento, acho que foi o ABC da Literatura, de Ezra Pound. Já não lembro precisamente quando li. Acho que faz uns 20 anos. Mas foi essencial como definidor de um horizonte estético, como estabelecimento de relação com a produção cultural. Na época, eu pensava vagamente em ser crítico de música, de cultura pop. Minhas conexões com a comida eram bem diferentes. Era extremamente magro e fazer refeições, para mim, era mais ou mesmo como parar num posto de gasolina. Eu só abastecia e seguia em frente, sem grandes considerações. A atenção com a gastronomia, o despertar para os vinhos, isso surgiria uns anos depois - um reencontro com o apetite, com o prazer de mastigar. Mas o fato é que aprendi  com o ABC algumas noções fundamentais. Naquele tempo, eu investia meio atabalhoadamente em temas os mais diversos (gastronomicamente falando, eu fazia uma tremenda salada). E me embrenhava por assuntos como linguística, Saussure em especial;  como teoria da comunicação; e pela poesia de T.S.Eliot (um interesse que permanece até hoje), entre outras coisas. Não queria ser um intelectual, um acadêmico. Mas queria ter uma boa base. O livro de Ezra Pound parece que me deu um foco. Não sei se captei o essencial do ABC. Não sei se ele iluminou em mim algo que nem era o ponto fulcral do livro - afinal, cada um completa a obra com seus elementos pessoais. Porém, foi ali que aprendi que um bom crítico se reconhece a partir dos objetos que ele escolhe para criticar (por que dedicar páginas e ideias e esforços a uma coisa que é ruim?). O ABC da Literatura falava (fala, na verdade) de aspectos como: qual a definição de um clássico? Como o reconhecemos? Prega a necessidade de comparar, sempre, para conceituar melhor, julgar melhor. E ressalta a importância do trabalho duro, incansável, e da abertura para a surpresa, para o novo, como condições essenciais para se exercer a crítica. Ezra Pound escreveu tudo isso pensando em literatura, claro (ainda que suas fronteiras culturais sejam bastante expandidas). Não acho que ele tenha imaginado que alguém, à sua maneira, acabasse citando-o em correlações com comida. Mas a ginástica mental, eu diria, não é tão diferente. Eu acho que perdi o ABC numa das tantas mudanças de casa daquela época para cá. Se eu conseguir o livro, prometo um post mais alentado (e, quem sabe, corrigindo alguma eventual bobagem escrita neste texto). É que eu não queria perder o calor da lembrança. Misturar Ezra Pound com crítica de restaurante até que está bom para uma quarta-feira, não? Por coincidência, é dia de feijoada.

Andei respondendo algumas perguntas sobre jornalismo e a especialização em gastronomia, tema do trabalho de graduação de um estudante de comunicação. Falei sobre como entrei para este meio, contei um pouco sobre minhas atividades e, claro, tive que relembrar fatos, repisar caminhos. Quando fui arguido sobre minha formação, acabei trazendo à tona algumas ideias que, anos atrás, não pareciam tão claras para mim. Como, por exemplo, sobre os livros que mais marcaram. Pois no que diz respeito à minha atividade de crítico (que é uma das facetas das coisas que faço; sou, antes de tudo, um jornalista), mais do que qualquer coisa escrita por Jeffrey Steingarten ou por François Simon, a obra que mais me influenciou, como visão de mundo, como abordagem, e como estruturação de pensamento, acho que foi o ABC da Literatura, de Ezra Pound. Já não lembro precisamente quando li. Acho que faz uns 20 anos. Mas foi essencial como definidor de um horizonte estético, como estabelecimento de relação com a produção cultural. Na época, eu pensava vagamente em ser crítico de música, de cultura pop. Minhas conexões com a comida eram bem diferentes. Era extremamente magro e fazer refeições, para mim, era mais ou mesmo como parar num posto de gasolina. Eu só abastecia e seguia em frente, sem grandes considerações. A atenção com a gastronomia, o despertar para os vinhos, isso surgiria uns anos depois - um reencontro com o apetite, com o prazer de mastigar. Mas o fato é que aprendi  com o ABC algumas noções fundamentais. Naquele tempo, eu investia meio atabalhoadamente em temas os mais diversos (gastronomicamente falando, eu fazia uma tremenda salada). E me embrenhava por assuntos como linguística, Saussure em especial;  como teoria da comunicação; e pela poesia de T.S.Eliot (um interesse que permanece até hoje), entre outras coisas. Não queria ser um intelectual, um acadêmico. Mas queria ter uma boa base. O livro de Ezra Pound parece que me deu um foco. Não sei se captei o essencial do ABC. Não sei se ele iluminou em mim algo que nem era o ponto fulcral do livro - afinal, cada um completa a obra com seus elementos pessoais. Porém, foi ali que aprendi que um bom crítico se reconhece a partir dos objetos que ele escolhe para criticar (por que dedicar páginas e ideias e esforços a uma coisa que é ruim?). O ABC da Literatura falava (fala, na verdade) de aspectos como: qual a definição de um clássico? Como o reconhecemos? Prega a necessidade de comparar, sempre, para conceituar melhor, julgar melhor. E ressalta a importância do trabalho duro, incansável, e da abertura para a surpresa, para o novo, como condições essenciais para se exercer a crítica. Ezra Pound escreveu tudo isso pensando em literatura, claro (ainda que suas fronteiras culturais sejam bastante expandidas). Não acho que ele tenha imaginado que alguém, à sua maneira, acabasse citando-o em correlações com comida. Mas a ginástica mental, eu diria, não é tão diferente. Eu acho que perdi o ABC numa das tantas mudanças de casa daquela época para cá. Se eu conseguir o livro, prometo um post mais alentado (e, quem sabe, corrigindo alguma eventual bobagem escrita neste texto). É que eu não queria perder o calor da lembrança. Misturar Ezra Pound com crítica de restaurante até que está bom para uma quarta-feira, não? Por coincidência, é dia de feijoada.

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