A volta do Filial: ícone da boemia vai reabrir para manter história


Ponto tradicional da Vila Madalena fechou em julho de 2020 por causa da pandemia e reabre dia 25, sob nova direção

Por Gilberto Amendola

Segundo o cronista Paulo Mendes Campos, recordar os bares mortos “é contar a história de uma cidade”. Nada mais justo, portanto, do que recontar essa história quando um bar renasce – e que simbolicamente promete reabrir suas portas no dia em que a cidade de São Paulo irá completar 468 anos. 

Cairê Aoas, sócio da Fábrica de Bares: 'A história do Filial é linda Foto: Helcio Nagamine/ESTADAO

No próximo dia 25, o Bar Filial, um ícone da Vila Madalena e da boemia paulistana, voltará à ativa. A casa, que já foi reduto de artistas, jornalistas e intelectuais, estava fechada desde julho de 2020, quando a pandemia inviabilizou o negócio.

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Quem viveu o Filial não esquece da hospitalidade de garçons como Joaquim (que tinha o dom de adivinhar os pedidos), Ailton (que transformava cada cliente em um membro da família), Tião e Bandeira. É provável também que não saia da memória o sabor do chope paulista (chope claro com colarinho do chope escuro) tirado pelo Zezão ou do clássico caldinho de feijão (curador de ressacas). No Filial, não era raro encontrar personalidades como Paulinho da Viola (quando passava por São Paulo), Seu Jorge, Maria Rita, Ivan Lins, Eduardo Gudin e muitos outros. 

Em sua nova encarnação, o Filial não será mais um bar dos irmãos Altman (Arnaldo, Ricardo, Helton e Ronen). A casa passa a ser administrada pela Fábrica de Bares, um gigante do setor que já é responsável pelo Bar Brahma, Bar Léo, Riviera Bar (com reabertura prevista para fevereiro) e outros.

“A história do Filial é muito linda. A gente se policia para não interferir nesta história ou naquilo que os clientes esperam encontrar. Nosso trabalho é potencializar aquilo que o bar já tinha de bom e conservar sua alma, sua essência”, garantiu Cairê Aoas, sócio da Fábrica de Bares. 

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Além do mesmo endereço (Rua Fidalga 254), o novo Filial terá o mesmo tamanho e cara (inclusive com os quadros e ilustrações espalhados pela parede). Além disso, a tradição de atravessar a madrugada de portas abertas irá se manter.

Mas algumas coisas vão mudar – principalmente a estrutura da cozinha. Aliás, é da cozinha que vem uma das grandes atualizações do Filial. O chef Romulo Morente, do premiado Bar Moela, será responsável pelas novidades do menu. Sanduíche de Lula apimentada e língua à parmegiana estão entre as pedidas. 

COQUETÉIS

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No universo dos alcoólicos, além do tradicional chope Brahma, há uma lista respeitável de cachaças. Coquetéis clássicos também devem sair do balcão. O Filial vai retomar uma ação que se iniciou em 2016, o Festival de Caipirinhas. Em suas três edições, contou com caipirinhas criadas por bartenders renomados como Jean Ponce, Marcelo Serrano, Marquinhos Felix e aquele que é considerado a pedra fundamental da coquetelaria brasileira, o Mestre Derivan. Aliás, Derivan será o responsável pela supervisão do novo festival.

Símbolo dos tempos em que o bar e a Vila Madalena eram mais ligados à MPB, chopinhos e petiscos Foto: Daniel Teixeira/ESTADÃO

Rodas de samba e choro, que estiveram presentes nos últimos anos da casa, também irão entrar para a programação oficial – que deve ser divulgada em breve.

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Cogitou-se convidar os antigos garçons para retomarem seus postos no Filial. De acordo com Aoas, a volta ainda não aconteceu porque eles já estariam empregados em outros bares – mas existe, sim, conversas para que ao menos uma ou duas lendas do Filial voltem à casa.

Outra novidade é Luana Bouvié, 25 anos, que será responsável por “tirar” o chope da casa, função em que ainda não encontramos muitas mulheres. “Espero que as pessoas se sintam inspiradas por me verem nessa função de chopeira e que abra novos postos de trabalho para mulheres. Em pleno 2022, ainda existem muitos lugares que não oferecem oportunidades igualitárias para homens e mulheres”, disse Luana – que não frequentou o Filial antigo.

Apesar da reabertura estar marcada para uma data importante (25 de janeiro, aniversário de São Paulo), ela será discreta e sem muito estardalhaço. O motivo, claro, a pandemia da covid e o avanço da variante Ômicron. Todos os protocolos de saúde, como uso obrigatório de máscara, distanciamento entre as mesas e álcool em gel, serão rigidamente seguidos.

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HISTÓRIA

No começo dos anos 1980, os irmãos Arnaldo, Ricardo e Helton pegaram dinheiro emprestado de um tio para o Clube do Choro. Em 1984, o trio abriria o lendário Vou Vivendo – já na Vila Madalena, mais especificamente, na Avenida Pedroso de Morais (que na época era considerada a Ipanema Paulistana). 

No Vou Vivendo, Lenine tocou pela primeira vez em São Paulo. Passaram por lá nomes como Guinga, Chico César, Zeca Baleiro, Arrigo Barnabé e toda a chamada vanguarda paulistana.

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Em 1997, o Vou Vivendo fechou. Mas, três anos depois, os três irmãos, e mais o caçula Ronen, inauguraram o Filial. Não demorou para que o bar, de estilo carioca, fosse considerado a cara de São Paulo e o espírito da Vila Madalena.

Difícil encontrar jornalistas de São Paulo, que hoje estão na casa dos 30 a 60 anos, que não tenham feito reuniões de pauta informais nas mesas do Filial. Difícil encontrar também quem não tenha uma boa lembrança dos garçons. Por lá, quase todo frequentador tem uma lembrança de sentar ao lado ou de trocar ideias como celebridades importantes da música ou do teatro. 

O sucesso do Filial fez os irmãos Altman abrirem outras casas na Vila Madalena, como o Genésio, Genial e Mundial.

A COPA E A VIRADA

A maré começou a virar em 2014. A Copa do Mundo no Brasil é considerada um ponto controverso na história da Vila Madalena. Durante a Copa, o bairro se transformou no local em que milhares de pessoas se reuniam para comemorar ou simplesmente beber. 

O que era para ser bom (ótimo, aliás) acabou plantando a semente da mudança de perfil de clientes e dos bares da Vila (principalmente em ruas como Aspicuelta, Fidalga, Fradique Coutinho e Mourato Coelho). 

Saía de cena uma boemia mais romântica, mais ligada ao chopinho, MPB e petiscos. No lugar dela, instalou-se um clima de agitação, de balada e a música sertaneja (ou funk).

Esse movimento varreu muitas casas da Vila Madalena. Quando a pandemia chegou, obrigando o Filial a fechar suas portas, a situação já não era confortável. Foi neste contexto que, ainda em 2018, a Fábrica dos Bares e os irmãos Altman iniciaram conversas sobre a venda do bar. 

Agora, a Vila Madalena ensaia aquilo que parece uma tentativa de convivência equilibrada e pacífica entre a romântica tradição do passado e o seu presente barulhento. Aos 22 anos de idade, a volta do Filial pode marcar uma nova era para o bairro.

Segundo o cronista Paulo Mendes Campos, recordar os bares mortos “é contar a história de uma cidade”. Nada mais justo, portanto, do que recontar essa história quando um bar renasce – e que simbolicamente promete reabrir suas portas no dia em que a cidade de São Paulo irá completar 468 anos. 

Cairê Aoas, sócio da Fábrica de Bares: 'A história do Filial é linda Foto: Helcio Nagamine/ESTADAO

No próximo dia 25, o Bar Filial, um ícone da Vila Madalena e da boemia paulistana, voltará à ativa. A casa, que já foi reduto de artistas, jornalistas e intelectuais, estava fechada desde julho de 2020, quando a pandemia inviabilizou o negócio.

Quem viveu o Filial não esquece da hospitalidade de garçons como Joaquim (que tinha o dom de adivinhar os pedidos), Ailton (que transformava cada cliente em um membro da família), Tião e Bandeira. É provável também que não saia da memória o sabor do chope paulista (chope claro com colarinho do chope escuro) tirado pelo Zezão ou do clássico caldinho de feijão (curador de ressacas). No Filial, não era raro encontrar personalidades como Paulinho da Viola (quando passava por São Paulo), Seu Jorge, Maria Rita, Ivan Lins, Eduardo Gudin e muitos outros. 

Em sua nova encarnação, o Filial não será mais um bar dos irmãos Altman (Arnaldo, Ricardo, Helton e Ronen). A casa passa a ser administrada pela Fábrica de Bares, um gigante do setor que já é responsável pelo Bar Brahma, Bar Léo, Riviera Bar (com reabertura prevista para fevereiro) e outros.

“A história do Filial é muito linda. A gente se policia para não interferir nesta história ou naquilo que os clientes esperam encontrar. Nosso trabalho é potencializar aquilo que o bar já tinha de bom e conservar sua alma, sua essência”, garantiu Cairê Aoas, sócio da Fábrica de Bares. 

Além do mesmo endereço (Rua Fidalga 254), o novo Filial terá o mesmo tamanho e cara (inclusive com os quadros e ilustrações espalhados pela parede). Além disso, a tradição de atravessar a madrugada de portas abertas irá se manter.

Mas algumas coisas vão mudar – principalmente a estrutura da cozinha. Aliás, é da cozinha que vem uma das grandes atualizações do Filial. O chef Romulo Morente, do premiado Bar Moela, será responsável pelas novidades do menu. Sanduíche de Lula apimentada e língua à parmegiana estão entre as pedidas. 

COQUETÉIS

No universo dos alcoólicos, além do tradicional chope Brahma, há uma lista respeitável de cachaças. Coquetéis clássicos também devem sair do balcão. O Filial vai retomar uma ação que se iniciou em 2016, o Festival de Caipirinhas. Em suas três edições, contou com caipirinhas criadas por bartenders renomados como Jean Ponce, Marcelo Serrano, Marquinhos Felix e aquele que é considerado a pedra fundamental da coquetelaria brasileira, o Mestre Derivan. Aliás, Derivan será o responsável pela supervisão do novo festival.

Símbolo dos tempos em que o bar e a Vila Madalena eram mais ligados à MPB, chopinhos e petiscos Foto: Daniel Teixeira/ESTADÃO

Rodas de samba e choro, que estiveram presentes nos últimos anos da casa, também irão entrar para a programação oficial – que deve ser divulgada em breve.

Cogitou-se convidar os antigos garçons para retomarem seus postos no Filial. De acordo com Aoas, a volta ainda não aconteceu porque eles já estariam empregados em outros bares – mas existe, sim, conversas para que ao menos uma ou duas lendas do Filial voltem à casa.

Outra novidade é Luana Bouvié, 25 anos, que será responsável por “tirar” o chope da casa, função em que ainda não encontramos muitas mulheres. “Espero que as pessoas se sintam inspiradas por me verem nessa função de chopeira e que abra novos postos de trabalho para mulheres. Em pleno 2022, ainda existem muitos lugares que não oferecem oportunidades igualitárias para homens e mulheres”, disse Luana – que não frequentou o Filial antigo.

Apesar da reabertura estar marcada para uma data importante (25 de janeiro, aniversário de São Paulo), ela será discreta e sem muito estardalhaço. O motivo, claro, a pandemia da covid e o avanço da variante Ômicron. Todos os protocolos de saúde, como uso obrigatório de máscara, distanciamento entre as mesas e álcool em gel, serão rigidamente seguidos.

HISTÓRIA

No começo dos anos 1980, os irmãos Arnaldo, Ricardo e Helton pegaram dinheiro emprestado de um tio para o Clube do Choro. Em 1984, o trio abriria o lendário Vou Vivendo – já na Vila Madalena, mais especificamente, na Avenida Pedroso de Morais (que na época era considerada a Ipanema Paulistana). 

No Vou Vivendo, Lenine tocou pela primeira vez em São Paulo. Passaram por lá nomes como Guinga, Chico César, Zeca Baleiro, Arrigo Barnabé e toda a chamada vanguarda paulistana.

Em 1997, o Vou Vivendo fechou. Mas, três anos depois, os três irmãos, e mais o caçula Ronen, inauguraram o Filial. Não demorou para que o bar, de estilo carioca, fosse considerado a cara de São Paulo e o espírito da Vila Madalena.

Difícil encontrar jornalistas de São Paulo, que hoje estão na casa dos 30 a 60 anos, que não tenham feito reuniões de pauta informais nas mesas do Filial. Difícil encontrar também quem não tenha uma boa lembrança dos garçons. Por lá, quase todo frequentador tem uma lembrança de sentar ao lado ou de trocar ideias como celebridades importantes da música ou do teatro. 

O sucesso do Filial fez os irmãos Altman abrirem outras casas na Vila Madalena, como o Genésio, Genial e Mundial.

A COPA E A VIRADA

A maré começou a virar em 2014. A Copa do Mundo no Brasil é considerada um ponto controverso na história da Vila Madalena. Durante a Copa, o bairro se transformou no local em que milhares de pessoas se reuniam para comemorar ou simplesmente beber. 

O que era para ser bom (ótimo, aliás) acabou plantando a semente da mudança de perfil de clientes e dos bares da Vila (principalmente em ruas como Aspicuelta, Fidalga, Fradique Coutinho e Mourato Coelho). 

Saía de cena uma boemia mais romântica, mais ligada ao chopinho, MPB e petiscos. No lugar dela, instalou-se um clima de agitação, de balada e a música sertaneja (ou funk).

Esse movimento varreu muitas casas da Vila Madalena. Quando a pandemia chegou, obrigando o Filial a fechar suas portas, a situação já não era confortável. Foi neste contexto que, ainda em 2018, a Fábrica dos Bares e os irmãos Altman iniciaram conversas sobre a venda do bar. 

Agora, a Vila Madalena ensaia aquilo que parece uma tentativa de convivência equilibrada e pacífica entre a romântica tradição do passado e o seu presente barulhento. Aos 22 anos de idade, a volta do Filial pode marcar uma nova era para o bairro.

Segundo o cronista Paulo Mendes Campos, recordar os bares mortos “é contar a história de uma cidade”. Nada mais justo, portanto, do que recontar essa história quando um bar renasce – e que simbolicamente promete reabrir suas portas no dia em que a cidade de São Paulo irá completar 468 anos. 

Cairê Aoas, sócio da Fábrica de Bares: 'A história do Filial é linda Foto: Helcio Nagamine/ESTADAO

No próximo dia 25, o Bar Filial, um ícone da Vila Madalena e da boemia paulistana, voltará à ativa. A casa, que já foi reduto de artistas, jornalistas e intelectuais, estava fechada desde julho de 2020, quando a pandemia inviabilizou o negócio.

Quem viveu o Filial não esquece da hospitalidade de garçons como Joaquim (que tinha o dom de adivinhar os pedidos), Ailton (que transformava cada cliente em um membro da família), Tião e Bandeira. É provável também que não saia da memória o sabor do chope paulista (chope claro com colarinho do chope escuro) tirado pelo Zezão ou do clássico caldinho de feijão (curador de ressacas). No Filial, não era raro encontrar personalidades como Paulinho da Viola (quando passava por São Paulo), Seu Jorge, Maria Rita, Ivan Lins, Eduardo Gudin e muitos outros. 

Em sua nova encarnação, o Filial não será mais um bar dos irmãos Altman (Arnaldo, Ricardo, Helton e Ronen). A casa passa a ser administrada pela Fábrica de Bares, um gigante do setor que já é responsável pelo Bar Brahma, Bar Léo, Riviera Bar (com reabertura prevista para fevereiro) e outros.

“A história do Filial é muito linda. A gente se policia para não interferir nesta história ou naquilo que os clientes esperam encontrar. Nosso trabalho é potencializar aquilo que o bar já tinha de bom e conservar sua alma, sua essência”, garantiu Cairê Aoas, sócio da Fábrica de Bares. 

Além do mesmo endereço (Rua Fidalga 254), o novo Filial terá o mesmo tamanho e cara (inclusive com os quadros e ilustrações espalhados pela parede). Além disso, a tradição de atravessar a madrugada de portas abertas irá se manter.

Mas algumas coisas vão mudar – principalmente a estrutura da cozinha. Aliás, é da cozinha que vem uma das grandes atualizações do Filial. O chef Romulo Morente, do premiado Bar Moela, será responsável pelas novidades do menu. Sanduíche de Lula apimentada e língua à parmegiana estão entre as pedidas. 

COQUETÉIS

No universo dos alcoólicos, além do tradicional chope Brahma, há uma lista respeitável de cachaças. Coquetéis clássicos também devem sair do balcão. O Filial vai retomar uma ação que se iniciou em 2016, o Festival de Caipirinhas. Em suas três edições, contou com caipirinhas criadas por bartenders renomados como Jean Ponce, Marcelo Serrano, Marquinhos Felix e aquele que é considerado a pedra fundamental da coquetelaria brasileira, o Mestre Derivan. Aliás, Derivan será o responsável pela supervisão do novo festival.

Símbolo dos tempos em que o bar e a Vila Madalena eram mais ligados à MPB, chopinhos e petiscos Foto: Daniel Teixeira/ESTADÃO

Rodas de samba e choro, que estiveram presentes nos últimos anos da casa, também irão entrar para a programação oficial – que deve ser divulgada em breve.

Cogitou-se convidar os antigos garçons para retomarem seus postos no Filial. De acordo com Aoas, a volta ainda não aconteceu porque eles já estariam empregados em outros bares – mas existe, sim, conversas para que ao menos uma ou duas lendas do Filial voltem à casa.

Outra novidade é Luana Bouvié, 25 anos, que será responsável por “tirar” o chope da casa, função em que ainda não encontramos muitas mulheres. “Espero que as pessoas se sintam inspiradas por me verem nessa função de chopeira e que abra novos postos de trabalho para mulheres. Em pleno 2022, ainda existem muitos lugares que não oferecem oportunidades igualitárias para homens e mulheres”, disse Luana – que não frequentou o Filial antigo.

Apesar da reabertura estar marcada para uma data importante (25 de janeiro, aniversário de São Paulo), ela será discreta e sem muito estardalhaço. O motivo, claro, a pandemia da covid e o avanço da variante Ômicron. Todos os protocolos de saúde, como uso obrigatório de máscara, distanciamento entre as mesas e álcool em gel, serão rigidamente seguidos.

HISTÓRIA

No começo dos anos 1980, os irmãos Arnaldo, Ricardo e Helton pegaram dinheiro emprestado de um tio para o Clube do Choro. Em 1984, o trio abriria o lendário Vou Vivendo – já na Vila Madalena, mais especificamente, na Avenida Pedroso de Morais (que na época era considerada a Ipanema Paulistana). 

No Vou Vivendo, Lenine tocou pela primeira vez em São Paulo. Passaram por lá nomes como Guinga, Chico César, Zeca Baleiro, Arrigo Barnabé e toda a chamada vanguarda paulistana.

Em 1997, o Vou Vivendo fechou. Mas, três anos depois, os três irmãos, e mais o caçula Ronen, inauguraram o Filial. Não demorou para que o bar, de estilo carioca, fosse considerado a cara de São Paulo e o espírito da Vila Madalena.

Difícil encontrar jornalistas de São Paulo, que hoje estão na casa dos 30 a 60 anos, que não tenham feito reuniões de pauta informais nas mesas do Filial. Difícil encontrar também quem não tenha uma boa lembrança dos garçons. Por lá, quase todo frequentador tem uma lembrança de sentar ao lado ou de trocar ideias como celebridades importantes da música ou do teatro. 

O sucesso do Filial fez os irmãos Altman abrirem outras casas na Vila Madalena, como o Genésio, Genial e Mundial.

A COPA E A VIRADA

A maré começou a virar em 2014. A Copa do Mundo no Brasil é considerada um ponto controverso na história da Vila Madalena. Durante a Copa, o bairro se transformou no local em que milhares de pessoas se reuniam para comemorar ou simplesmente beber. 

O que era para ser bom (ótimo, aliás) acabou plantando a semente da mudança de perfil de clientes e dos bares da Vila (principalmente em ruas como Aspicuelta, Fidalga, Fradique Coutinho e Mourato Coelho). 

Saía de cena uma boemia mais romântica, mais ligada ao chopinho, MPB e petiscos. No lugar dela, instalou-se um clima de agitação, de balada e a música sertaneja (ou funk).

Esse movimento varreu muitas casas da Vila Madalena. Quando a pandemia chegou, obrigando o Filial a fechar suas portas, a situação já não era confortável. Foi neste contexto que, ainda em 2018, a Fábrica dos Bares e os irmãos Altman iniciaram conversas sobre a venda do bar. 

Agora, a Vila Madalena ensaia aquilo que parece uma tentativa de convivência equilibrada e pacífica entre a romântica tradição do passado e o seu presente barulhento. Aos 22 anos de idade, a volta do Filial pode marcar uma nova era para o bairro.

Segundo o cronista Paulo Mendes Campos, recordar os bares mortos “é contar a história de uma cidade”. Nada mais justo, portanto, do que recontar essa história quando um bar renasce – e que simbolicamente promete reabrir suas portas no dia em que a cidade de São Paulo irá completar 468 anos. 

Cairê Aoas, sócio da Fábrica de Bares: 'A história do Filial é linda Foto: Helcio Nagamine/ESTADAO

No próximo dia 25, o Bar Filial, um ícone da Vila Madalena e da boemia paulistana, voltará à ativa. A casa, que já foi reduto de artistas, jornalistas e intelectuais, estava fechada desde julho de 2020, quando a pandemia inviabilizou o negócio.

Quem viveu o Filial não esquece da hospitalidade de garçons como Joaquim (que tinha o dom de adivinhar os pedidos), Ailton (que transformava cada cliente em um membro da família), Tião e Bandeira. É provável também que não saia da memória o sabor do chope paulista (chope claro com colarinho do chope escuro) tirado pelo Zezão ou do clássico caldinho de feijão (curador de ressacas). No Filial, não era raro encontrar personalidades como Paulinho da Viola (quando passava por São Paulo), Seu Jorge, Maria Rita, Ivan Lins, Eduardo Gudin e muitos outros. 

Em sua nova encarnação, o Filial não será mais um bar dos irmãos Altman (Arnaldo, Ricardo, Helton e Ronen). A casa passa a ser administrada pela Fábrica de Bares, um gigante do setor que já é responsável pelo Bar Brahma, Bar Léo, Riviera Bar (com reabertura prevista para fevereiro) e outros.

“A história do Filial é muito linda. A gente se policia para não interferir nesta história ou naquilo que os clientes esperam encontrar. Nosso trabalho é potencializar aquilo que o bar já tinha de bom e conservar sua alma, sua essência”, garantiu Cairê Aoas, sócio da Fábrica de Bares. 

Além do mesmo endereço (Rua Fidalga 254), o novo Filial terá o mesmo tamanho e cara (inclusive com os quadros e ilustrações espalhados pela parede). Além disso, a tradição de atravessar a madrugada de portas abertas irá se manter.

Mas algumas coisas vão mudar – principalmente a estrutura da cozinha. Aliás, é da cozinha que vem uma das grandes atualizações do Filial. O chef Romulo Morente, do premiado Bar Moela, será responsável pelas novidades do menu. Sanduíche de Lula apimentada e língua à parmegiana estão entre as pedidas. 

COQUETÉIS

No universo dos alcoólicos, além do tradicional chope Brahma, há uma lista respeitável de cachaças. Coquetéis clássicos também devem sair do balcão. O Filial vai retomar uma ação que se iniciou em 2016, o Festival de Caipirinhas. Em suas três edições, contou com caipirinhas criadas por bartenders renomados como Jean Ponce, Marcelo Serrano, Marquinhos Felix e aquele que é considerado a pedra fundamental da coquetelaria brasileira, o Mestre Derivan. Aliás, Derivan será o responsável pela supervisão do novo festival.

Símbolo dos tempos em que o bar e a Vila Madalena eram mais ligados à MPB, chopinhos e petiscos Foto: Daniel Teixeira/ESTADÃO

Rodas de samba e choro, que estiveram presentes nos últimos anos da casa, também irão entrar para a programação oficial – que deve ser divulgada em breve.

Cogitou-se convidar os antigos garçons para retomarem seus postos no Filial. De acordo com Aoas, a volta ainda não aconteceu porque eles já estariam empregados em outros bares – mas existe, sim, conversas para que ao menos uma ou duas lendas do Filial voltem à casa.

Outra novidade é Luana Bouvié, 25 anos, que será responsável por “tirar” o chope da casa, função em que ainda não encontramos muitas mulheres. “Espero que as pessoas se sintam inspiradas por me verem nessa função de chopeira e que abra novos postos de trabalho para mulheres. Em pleno 2022, ainda existem muitos lugares que não oferecem oportunidades igualitárias para homens e mulheres”, disse Luana – que não frequentou o Filial antigo.

Apesar da reabertura estar marcada para uma data importante (25 de janeiro, aniversário de São Paulo), ela será discreta e sem muito estardalhaço. O motivo, claro, a pandemia da covid e o avanço da variante Ômicron. Todos os protocolos de saúde, como uso obrigatório de máscara, distanciamento entre as mesas e álcool em gel, serão rigidamente seguidos.

HISTÓRIA

No começo dos anos 1980, os irmãos Arnaldo, Ricardo e Helton pegaram dinheiro emprestado de um tio para o Clube do Choro. Em 1984, o trio abriria o lendário Vou Vivendo – já na Vila Madalena, mais especificamente, na Avenida Pedroso de Morais (que na época era considerada a Ipanema Paulistana). 

No Vou Vivendo, Lenine tocou pela primeira vez em São Paulo. Passaram por lá nomes como Guinga, Chico César, Zeca Baleiro, Arrigo Barnabé e toda a chamada vanguarda paulistana.

Em 1997, o Vou Vivendo fechou. Mas, três anos depois, os três irmãos, e mais o caçula Ronen, inauguraram o Filial. Não demorou para que o bar, de estilo carioca, fosse considerado a cara de São Paulo e o espírito da Vila Madalena.

Difícil encontrar jornalistas de São Paulo, que hoje estão na casa dos 30 a 60 anos, que não tenham feito reuniões de pauta informais nas mesas do Filial. Difícil encontrar também quem não tenha uma boa lembrança dos garçons. Por lá, quase todo frequentador tem uma lembrança de sentar ao lado ou de trocar ideias como celebridades importantes da música ou do teatro. 

O sucesso do Filial fez os irmãos Altman abrirem outras casas na Vila Madalena, como o Genésio, Genial e Mundial.

A COPA E A VIRADA

A maré começou a virar em 2014. A Copa do Mundo no Brasil é considerada um ponto controverso na história da Vila Madalena. Durante a Copa, o bairro se transformou no local em que milhares de pessoas se reuniam para comemorar ou simplesmente beber. 

O que era para ser bom (ótimo, aliás) acabou plantando a semente da mudança de perfil de clientes e dos bares da Vila (principalmente em ruas como Aspicuelta, Fidalga, Fradique Coutinho e Mourato Coelho). 

Saía de cena uma boemia mais romântica, mais ligada ao chopinho, MPB e petiscos. No lugar dela, instalou-se um clima de agitação, de balada e a música sertaneja (ou funk).

Esse movimento varreu muitas casas da Vila Madalena. Quando a pandemia chegou, obrigando o Filial a fechar suas portas, a situação já não era confortável. Foi neste contexto que, ainda em 2018, a Fábrica dos Bares e os irmãos Altman iniciaram conversas sobre a venda do bar. 

Agora, a Vila Madalena ensaia aquilo que parece uma tentativa de convivência equilibrada e pacífica entre a romântica tradição do passado e o seu presente barulhento. Aos 22 anos de idade, a volta do Filial pode marcar uma nova era para o bairro.

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