Neste contexto tão turbulento, porém, é interessante observar que começam a se delinear dois movimentos aparentemente antagônicos, acontecendo em paralelo, em diferentes segmentos do varejo.
Por um lado, o contexto indiscutivelmente desafiador vem colocando os gestores diante de decisões difíceis e de reinvenção de seus negócios. De fato, o que mais se tem observado no mercado é uma série de medidas envolvendo reduções drásticas de despesas e o adiamento de projetos importantes, para o redirecionamento de recursos para ações voltadas à digitalização dos negócios.
Por outro, porém, observa-se também que um grupo de empresas tem aproveitado o momento de dificuldades do mercado para a busca de oportunidades. Tal movimento vem acontecendo em diferentes segmentos do setor e com características bastante diferentes.
O primeiro segmento a ser destacado é o de eletrônicos e eletrodomésticos, no qual foram realizadas 24 aquisições apenas durante o período da pandemia e concentradas nos 3 principais players do setor. Tais transações chegaram a movimentar R$ 642 milhões em investimentos, tendo como foco principal a aquisição de plataformas que complementam os ecossistemas de varejo eletrônico existentes com novas soluções e inovações.
Outro segmento que teve grandes movimentações nesse período foi o de supermercados, um dos segmentos menos impactados pela pandemia e que teve um período bastante agitado de transações. Em uma frente observaram-se grandes operações envolvendo os seus principais players, as quais foram muito bem recebidas pelo mercado e reforçam a ênfase que o setor ainda dá ao varejo físico. Em paralelo, outros players relevantes, ainda que de menor porte, também têm se apresentado, organizando-se para a captação de recursos para financiar a expansão de suas lojas físicas.
Contrariando as expectativas, é interessante notar que até mesmo empresas de setores bastante impactados como os de academias e de vestuário têm estado ativas, exibindo transações relevantes. Nesses setores, o que se tem observado é a suspensão de planos de expansão orgânica no curto prazo, seguida de uma aceleração de movimentos de consolidação pelos players mais capitalizados, aproveitando-se da fragilidade de players mais afetados pelo contexto.
Fato é que a pandemia traz desafios, mas também oportunidades para empresas que conseguem ter uma leitura adequada do mercado e identificá-las. Não se deixar abalar pelas dificuldades do curto prazo, mantendo a atenção às oportunidades que se apresentam para acelerar o crescimento com a retomada econômica do pós-pandemia é uma estratégia que tem tudo para dar certo e render bons frutos aos acionistas.
*Fernando Lima Trambacos é professor dos cursos de Inteligência de Mercado no Varejo e Planejamento e Gestão Financeira no Varejo, da Fipecafi