O vereador e presidente afastado da Câmara de Ribeirão Preto Walter Gomes (PTB) caiu no grampo da Polícia Federal oferecendo emprego público para a filha, Gislaine, sem concurso. A moça, no entanto, recusou a boquinha de monitora de escola no bairro Simioni, zona norte da cidade, por considerar baixo o salário.
"Nossa, paizinho, ganhar R$ 1,6 mil", refugou Gislaine.
"R$ 1,9 mil mais o tíquete", corrigiu o vereador.
"R$ 1,9 mil, desconta, sai R$ 1.550", retrucou Gislaine.
"Minha filha, então vai ganhar R$ 800 pra limpar casa. Enquanto todo mundo tá pedindo pra arrumar (emprego), pra você R$ 2 mil é pouco."
"Não é R$ 2 mil, paizinho!"
Walter Gomes é alvo da Operação Sevandija, deflagrada há uma semana pela PF em atuação conjunta com o Ministério Público do Estado para estancar rombo estimado em R$ 203 milhões nos cofres públicos.
Sevandija investiga fraudes em licitações da Câmara e da Prefeitura de Ribeirão Preto, gestão Dárcy Vera (PSD) - ela sofreu buscas em sua residência e em seu gabinete no Palácio Rio Granco, sede do Executivo municipal.
Por ordem judicial, nove vereadores foram afastados das funções, entre eles Walter Gomes- em seu gabinete, a PF encontrou R$ 14,2 mil em dinheiro vivo.
Os grampos que pegaram o petebista foram divulgados pelo site Ribeirão Preto Online.
Em uma conversa com a filha, Gislaine, o vereador diz a ela da vaga na Secretaria da Educação. Mas ela se revela inconformada com o holerite.
Ante a recusa da filha em pegar a boquinha, Walter Gomes se inquieta.
"Com o tíquete dá mais de R$ 2 mil, tá bom? Tá ruim minha filha? Tem só umas 3 mil pessoas querendo isso aí. É só ela não querer. Pra ganhar do jeito que Gislaine ganha, sem trabalhar minha filha, só no outro mundo!"
Gislaine argumenta, ainda. "Então, eu ganho R$ 3 mil sem trabalhar. Agora eu vou trabalhar o dia inteiro pra ganhar R$ 1,5 mil?"