Atualizada às 8h52
Por Andreza Matais, Julia Affonso, Ricardo Brandt e Fausto Macedo
A Polícia Federal deflagrou a 19ª fase da Operação Lava Jato mirando em pagamentos no exterior. O executivo José Antunes Sobrinho, um dos donos da Engevix, foi preso preventivamente em Santa Catarina. O lobista João Henriques, ligado ao PMDB, também foi preso.
José Antunes Sobrinho é suspeito de ter pago propinas em cima de contratos da empreiteira com a Eletronuclear que somavam R$ 140 milhões, entre 2011 e 2013. Os valores teriam sido pagos para a Aratec, empresa controlada pelo ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva. José Antunes será levado para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
A Engevix na Lava Jato
Othon Luiz foi preso em 28 de julho na Operação Radioatividade. Nome de grande prestígio na área, o almirante, no fim dos anos 1970 (governo general Ernesto Geisel) participou diretamente do projeto do submarino nuclear brasileiro.
+ Veja quais foram todas as fases da Operação Lava Jato
O alvo desta nova fase - denominada Nessun Dorma - são propinas que teriam sido pagas envolvendo a diretoria internacional da Petrobrás. Trinta e cinco policiais cumprem 11 mandados judiciais, sendo sete mandados de busca e apreensão, um mandado de prisão preventiva, um mandado de prisão temporária e dois mandados de condução coercitiva em Florianópolis, São Paulo e Rio de Janeiro.
+ Repasse de R$ 765 mil foi 'contribuição a projeto', diz José Antunes Sobrinho
+ Lava Jato rastreia contas de almirante da Eletronuclear no exterior
+ 'Nunca pedi propina', afirma Othon Luiz Pinheiro da Silva
Segundo a PF, a operação é um avanço das apurações das fases 15, 16 e 17 da Lava Jato. Um dos focos da investigação está relacionada aos denunciados da 15ª fase - Conexão Mônaco e de empreiteiras já investigadas na Lava Jato. Apura-se que investigados tenham intermediado pagamento de propina a agentes públicos e políticos no exterior, em decorrência de contratos celebrados na diretoria internacional da Petrobrás.
De acordo com a PF, uma das empresas sediadas no Brasil teria recebido cerca de R$ 20 milhões entre 2007 e 2013 de empreiteiras já investigadas na operação, sob acusação de pagamento de propinas para obtenção de favorecimento em contratos com a estatal.
+ Lava Jato chega a empresários e políticos mirando em operadores
+ Lema passou a ser 'conheça o caminho do dinheiro'
Em outro foco, a PF cumpre mandados de busca e de prisão preventiva de executivo relacionado à 16ª fase - Operação Radioatividade - e 17ª fase - Operação Pixuleco -, a partir dos elementos que o apontam como tendo realizado pagamentos de propina a agentes públicos já investigados nestas fases. Os presos serão levados para a Superintendência da PF em Curitiba.
+ 'Os contratos vinham prontos', diz filha de almirante da Eletronuclear
+ Empreiteira admite contratos de fachada para pagar almirante
COM A PALAVRA, CARLOS KAUFFMANN
1. José Antunes Sobrinho foi preso nesta data pelos mesmos fatos que originaram o processo criminal no âmbito da Eletronuclear, sobre os quais ele espontaneamente prestou esclarecimentos às autoridades competentes;
2. Causa perplexidade que a prisão tenha sido decretada durante a vigência do prazo de sua defesa, sem que tenha surgido prova ou fato novo que a justificasse;
3. Há vários meses o Grupo Engevix está colaborando com a Controladoria Geral da União - CGU, visando celebração de acordo de leniência, conforme previsto em lei.
4. José Antunes Sobrinho não procurou qualquer testemunha para produzir, ocultar ou alterar prova. Ao contrário, foi procurado por Vitor Colaviti, em julho passado, antes de saber que havia investigação, e se negou a discutir o tema;
5. A história profissional de José Antunes Sobrinho e de sua atuação perante a Eletronuclear estão detalhadas na defesa já apresentada para o Juiz Sergio Moro, cujo teor ainda não foi apreciado.
Carlos Kauffmann