Na audiência desta segunda-feira, 23, no âmbito da ação penal a que responde como réu por crime de lavagem de dinheiro por meio da compra de joias sofisticadas, o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) desafiou abertamente o juiz Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Criminal Federal, que, ao final da audiência, ordenou sua transferência para uma prisão federal fora do Rio.
O peemedebista declarou ter adquirido as joias 'em datas comemorativas' com dinheiro de caixa 2 de campanhas eleitorais.
E partiu para uma provocação direta e ostensiva ao magistrado que o condenou em duas ações penais a quase 60 anos de prisão. "Não se lava dinheiro comprando joias. Vossa Excelência tem um relativo conhecimento sobre o assunto e sua família mexe com bijuterias, senão me engano é a maior empresa de bijuterias do Estado, então Vossa Excelência conhece essa..."
O juiz o interrompeu. "Eu discordo da sua..."
Mas Cabral seguiu na ofensiva, revelando conhecimento de detalhes da rotina do magistrado. "São as informações que me chegaram."
O juiz insistiu com o interrogatório. "Eu acho melhor fazer pergunta porque não quero saber do histórico da minha família, nem estou interessado em saber. O sr. comprou essas joias?"
"Comprei as joias, fruto de caixa 2 de campanha que Vossa Excelência não acredita. Eu fui o maior arrecadador, não foi fruto de propinas, o meu governo não foi uma organização criminosa. O sr. fala de uma maneira desdenhosa que eu não aceito."
"Aqui não tem desdém, mas tem que ter respeito", advertiu Marcelo Bretas.
"Mas tá tendo todo o respeito", esquivou-se Cabral.
"Para começar isso não está nem nesse processo", ponderou o magistrado.
Cabral voltou à carga e não poupou nem seus acusadores. "Eu sei Excelência, mas o raciocínio, eu leio os processos, eu leio a criatividade do Ministério Público em fatiá los em 12, 15, 16, 17 processos."
Outra vez atacou o juiz. "O sr. tá encontrando em mim uma possibilidade de gerar uma projeção pessoal, me fazendo um calvário, me fazendo um calvário, claramente."
O juiz argumentou. "Não recebi com bons olhos o interesse manifestado do acusado em informar que minha família trabalha com bijuteria, por exemplo, isso é o tipo da coisa que pode sublinarmente ser entendido como algum tipo de ameaça."
"Ameaça? Eu tô preso", retrucou o ex-governador. "Eu tô preso, Excelência."
"O sr está preso."