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Uma boiada saudável


Por José Renato Nalini
José Renato Nalini. Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

O Brasil tem números que espantam o resto do planeta. Por exemplo: possuímos mais Faculdades de Direito do que a soma de todas as outras existentes no mundo inteiro; isso já nos garantiu o pódio no ranking da judicialização: chegamos a ter 100 milhões de processos em curso; temos 265 milhões de mobiles, para uma população de cerca de 212 milhões de pessoas; somos a terceira população carcerária da Terra.

Poderíamos prosseguir, porque estatísticas não faltam. Mas vamos ficar na boiada, tão presente no discurso hoje em dia. Possuímos mais gado do que gente. Isso é bom? Para quem ganha dinheiro com carne é. Para o planeta pode não ser. Pois o gado vacum produz gás metano que acaba com a camada de ozônio e apressa a chegada do inferno que nos haverá de matar.

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Enquanto isso não chega, outras considerações podem ser feitas e raramente merecem atenção da mídia espontânea, sempre atenta à cadeia de anunciantes.

A ciência, embora desprestigiada, é sábia. Trabalha com a verdade. E não é de hoje que estuda as enfermidades que nos levam para o cemitério. Ou para o crematório, como se queira.

Hoje, a doença bacteriana mais terrível e fora de controle é a fasciite necrotizante. As bactérias se nutrem do enfermo, de dentro para fora, devorando suas entranhas. No lugar delas, fica um resíduo carnudo e venenoso( consultar Gawande, Atul, Complications: a surgeon's notes on na imperfect Science, NY, 2002, p.234).

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Tem início com leve mal estar, acompanhado de erupção cutânea e febre. Em seguida, total deterioração. A autópsia revela que a vítima foi inteiramente consumida. Por enquanto, o único tratamento é a cirurgia de excisão radical, que consiste em remoção completa das áreas infectadas. Mas 70% dos pacientes morrem. Quem sobrevive fica um fiapo: mortalmente desfigurado.

A origem da infecção é a bactéria estreptococo A, em geral causadora de faringite séptica. Mas por motivos ignorados, algumas bactérias atravessam o revestimento da garganta e chegam ao corpo, causando nele a pior devastação. Resistem a antibióticos e mais de mil casos ocorrem por ano, só nos Estados Unidos. Ninguém pode assegurar que esse número não venha a crescer.

Também a meningite continua a atingir 10% dos jovens e 30% dos adolescentes. Eles portam a bactéria meningocócica mortal, mas ela pode permanecer inofensiva na garganta. Pequeno percentual tem o azar de vê-la invadir a corrente sanguínea e matar o contaminado. Alguém está saudável no café da manhã e morto à noite.

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Haveria êxito maior no combate às bactérias, se não desperdiçássemos nossas armas com o gado. As estimativas mostram que 70% dos antibióticos utilizados no mundo são destinados ao gado. Para estimular o crescimento, eles são consumidos juntamente com a ração. Há uma certeza de que eles ajudam a prevenir infecções. Por isso é que as bactérias têm um campo de experiência muito exitoso para desenvolver resistência aos antibióticos.

A ganância não aprende com a experiência. Isso já aconteceu com a penicilina. Em 1952 ela era eficaz contra todas as variações de bactérias estafilococo. Os otimistas acreditaram que estavam eliminadas as doenças infecciosas. Só que 90% das variedades desenvolveram imunidade à penicilina. E a chamada "staphylococus aureus", resistente à meticilina, passou a vitimar muitas pessoas.

Os laboratórios capricharam e criaram a vancomicina. Mas em 1997, um hospital em Tóquio registrou o surgimento de uma variedade que resistia também ao novo medicamento. A infecção se espalhou por outros seis hospitais japoneses, em alguns meses.

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Os micróbios ganham a guerra contra os humanos. Nos Estados Unidos, mais de catorze mil pessoas morrem por ano de infecção hospitalar. E a indústria farmacêutica faz parte da cadeia. Por que produzir antibiótico, destinado ao consumo durante alguns dias, se é muito mais lucrativo fabricar antidepressivo, utilizado durante anos a fio?

Para piorar, a ciência descobre que inúmeras outras doenças têm origem bacteriana. Foi em Perth, na Austrália que, em 1983, o médico Barry Marshall descobriu que muitas espécies de câncer de estômago e a maioria das úlceras estomacais são causados pela bactéria helicobacter pylori.

Coteje-se o interesse de quem extermina a floresta para plantar soja, que também é utilizada para alimentar o gado e a preservação, cujo intuito é garantir a vida para as futuras gerações e estará explicado porque o mercado faz opção pela eliminação da mata.

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Tudo concorre, portanto, para que o Brasil tenha uma boiada saudável, bem cuidada, com o controle adequado de sua linhagem - o gado é denominado P.O. - puro de origem - enquanto a população nem tanto. As vozes que clamam no deserto não se fazem ouvir. Afinal, para a composição do PIB não entram a saúde, o desalento, o desemprego, a falta de saneamento básico, a falta de moradia. Interessa é preservar a balança comercial.

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras - 2019-2020

 

José Renato Nalini. Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

O Brasil tem números que espantam o resto do planeta. Por exemplo: possuímos mais Faculdades de Direito do que a soma de todas as outras existentes no mundo inteiro; isso já nos garantiu o pódio no ranking da judicialização: chegamos a ter 100 milhões de processos em curso; temos 265 milhões de mobiles, para uma população de cerca de 212 milhões de pessoas; somos a terceira população carcerária da Terra.

Poderíamos prosseguir, porque estatísticas não faltam. Mas vamos ficar na boiada, tão presente no discurso hoje em dia. Possuímos mais gado do que gente. Isso é bom? Para quem ganha dinheiro com carne é. Para o planeta pode não ser. Pois o gado vacum produz gás metano que acaba com a camada de ozônio e apressa a chegada do inferno que nos haverá de matar.

Enquanto isso não chega, outras considerações podem ser feitas e raramente merecem atenção da mídia espontânea, sempre atenta à cadeia de anunciantes.

A ciência, embora desprestigiada, é sábia. Trabalha com a verdade. E não é de hoje que estuda as enfermidades que nos levam para o cemitério. Ou para o crematório, como se queira.

Hoje, a doença bacteriana mais terrível e fora de controle é a fasciite necrotizante. As bactérias se nutrem do enfermo, de dentro para fora, devorando suas entranhas. No lugar delas, fica um resíduo carnudo e venenoso( consultar Gawande, Atul, Complications: a surgeon's notes on na imperfect Science, NY, 2002, p.234).

Tem início com leve mal estar, acompanhado de erupção cutânea e febre. Em seguida, total deterioração. A autópsia revela que a vítima foi inteiramente consumida. Por enquanto, o único tratamento é a cirurgia de excisão radical, que consiste em remoção completa das áreas infectadas. Mas 70% dos pacientes morrem. Quem sobrevive fica um fiapo: mortalmente desfigurado.

A origem da infecção é a bactéria estreptococo A, em geral causadora de faringite séptica. Mas por motivos ignorados, algumas bactérias atravessam o revestimento da garganta e chegam ao corpo, causando nele a pior devastação. Resistem a antibióticos e mais de mil casos ocorrem por ano, só nos Estados Unidos. Ninguém pode assegurar que esse número não venha a crescer.

Também a meningite continua a atingir 10% dos jovens e 30% dos adolescentes. Eles portam a bactéria meningocócica mortal, mas ela pode permanecer inofensiva na garganta. Pequeno percentual tem o azar de vê-la invadir a corrente sanguínea e matar o contaminado. Alguém está saudável no café da manhã e morto à noite.

Haveria êxito maior no combate às bactérias, se não desperdiçássemos nossas armas com o gado. As estimativas mostram que 70% dos antibióticos utilizados no mundo são destinados ao gado. Para estimular o crescimento, eles são consumidos juntamente com a ração. Há uma certeza de que eles ajudam a prevenir infecções. Por isso é que as bactérias têm um campo de experiência muito exitoso para desenvolver resistência aos antibióticos.

A ganância não aprende com a experiência. Isso já aconteceu com a penicilina. Em 1952 ela era eficaz contra todas as variações de bactérias estafilococo. Os otimistas acreditaram que estavam eliminadas as doenças infecciosas. Só que 90% das variedades desenvolveram imunidade à penicilina. E a chamada "staphylococus aureus", resistente à meticilina, passou a vitimar muitas pessoas.

Os laboratórios capricharam e criaram a vancomicina. Mas em 1997, um hospital em Tóquio registrou o surgimento de uma variedade que resistia também ao novo medicamento. A infecção se espalhou por outros seis hospitais japoneses, em alguns meses.

Os micróbios ganham a guerra contra os humanos. Nos Estados Unidos, mais de catorze mil pessoas morrem por ano de infecção hospitalar. E a indústria farmacêutica faz parte da cadeia. Por que produzir antibiótico, destinado ao consumo durante alguns dias, se é muito mais lucrativo fabricar antidepressivo, utilizado durante anos a fio?

Para piorar, a ciência descobre que inúmeras outras doenças têm origem bacteriana. Foi em Perth, na Austrália que, em 1983, o médico Barry Marshall descobriu que muitas espécies de câncer de estômago e a maioria das úlceras estomacais são causados pela bactéria helicobacter pylori.

Coteje-se o interesse de quem extermina a floresta para plantar soja, que também é utilizada para alimentar o gado e a preservação, cujo intuito é garantir a vida para as futuras gerações e estará explicado porque o mercado faz opção pela eliminação da mata.

Tudo concorre, portanto, para que o Brasil tenha uma boiada saudável, bem cuidada, com o controle adequado de sua linhagem - o gado é denominado P.O. - puro de origem - enquanto a população nem tanto. As vozes que clamam no deserto não se fazem ouvir. Afinal, para a composição do PIB não entram a saúde, o desalento, o desemprego, a falta de saneamento básico, a falta de moradia. Interessa é preservar a balança comercial.

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras - 2019-2020

 

José Renato Nalini. Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

O Brasil tem números que espantam o resto do planeta. Por exemplo: possuímos mais Faculdades de Direito do que a soma de todas as outras existentes no mundo inteiro; isso já nos garantiu o pódio no ranking da judicialização: chegamos a ter 100 milhões de processos em curso; temos 265 milhões de mobiles, para uma população de cerca de 212 milhões de pessoas; somos a terceira população carcerária da Terra.

Poderíamos prosseguir, porque estatísticas não faltam. Mas vamos ficar na boiada, tão presente no discurso hoje em dia. Possuímos mais gado do que gente. Isso é bom? Para quem ganha dinheiro com carne é. Para o planeta pode não ser. Pois o gado vacum produz gás metano que acaba com a camada de ozônio e apressa a chegada do inferno que nos haverá de matar.

Enquanto isso não chega, outras considerações podem ser feitas e raramente merecem atenção da mídia espontânea, sempre atenta à cadeia de anunciantes.

A ciência, embora desprestigiada, é sábia. Trabalha com a verdade. E não é de hoje que estuda as enfermidades que nos levam para o cemitério. Ou para o crematório, como se queira.

Hoje, a doença bacteriana mais terrível e fora de controle é a fasciite necrotizante. As bactérias se nutrem do enfermo, de dentro para fora, devorando suas entranhas. No lugar delas, fica um resíduo carnudo e venenoso( consultar Gawande, Atul, Complications: a surgeon's notes on na imperfect Science, NY, 2002, p.234).

Tem início com leve mal estar, acompanhado de erupção cutânea e febre. Em seguida, total deterioração. A autópsia revela que a vítima foi inteiramente consumida. Por enquanto, o único tratamento é a cirurgia de excisão radical, que consiste em remoção completa das áreas infectadas. Mas 70% dos pacientes morrem. Quem sobrevive fica um fiapo: mortalmente desfigurado.

A origem da infecção é a bactéria estreptococo A, em geral causadora de faringite séptica. Mas por motivos ignorados, algumas bactérias atravessam o revestimento da garganta e chegam ao corpo, causando nele a pior devastação. Resistem a antibióticos e mais de mil casos ocorrem por ano, só nos Estados Unidos. Ninguém pode assegurar que esse número não venha a crescer.

Também a meningite continua a atingir 10% dos jovens e 30% dos adolescentes. Eles portam a bactéria meningocócica mortal, mas ela pode permanecer inofensiva na garganta. Pequeno percentual tem o azar de vê-la invadir a corrente sanguínea e matar o contaminado. Alguém está saudável no café da manhã e morto à noite.

Haveria êxito maior no combate às bactérias, se não desperdiçássemos nossas armas com o gado. As estimativas mostram que 70% dos antibióticos utilizados no mundo são destinados ao gado. Para estimular o crescimento, eles são consumidos juntamente com a ração. Há uma certeza de que eles ajudam a prevenir infecções. Por isso é que as bactérias têm um campo de experiência muito exitoso para desenvolver resistência aos antibióticos.

A ganância não aprende com a experiência. Isso já aconteceu com a penicilina. Em 1952 ela era eficaz contra todas as variações de bactérias estafilococo. Os otimistas acreditaram que estavam eliminadas as doenças infecciosas. Só que 90% das variedades desenvolveram imunidade à penicilina. E a chamada "staphylococus aureus", resistente à meticilina, passou a vitimar muitas pessoas.

Os laboratórios capricharam e criaram a vancomicina. Mas em 1997, um hospital em Tóquio registrou o surgimento de uma variedade que resistia também ao novo medicamento. A infecção se espalhou por outros seis hospitais japoneses, em alguns meses.

Os micróbios ganham a guerra contra os humanos. Nos Estados Unidos, mais de catorze mil pessoas morrem por ano de infecção hospitalar. E a indústria farmacêutica faz parte da cadeia. Por que produzir antibiótico, destinado ao consumo durante alguns dias, se é muito mais lucrativo fabricar antidepressivo, utilizado durante anos a fio?

Para piorar, a ciência descobre que inúmeras outras doenças têm origem bacteriana. Foi em Perth, na Austrália que, em 1983, o médico Barry Marshall descobriu que muitas espécies de câncer de estômago e a maioria das úlceras estomacais são causados pela bactéria helicobacter pylori.

Coteje-se o interesse de quem extermina a floresta para plantar soja, que também é utilizada para alimentar o gado e a preservação, cujo intuito é garantir a vida para as futuras gerações e estará explicado porque o mercado faz opção pela eliminação da mata.

Tudo concorre, portanto, para que o Brasil tenha uma boiada saudável, bem cuidada, com o controle adequado de sua linhagem - o gado é denominado P.O. - puro de origem - enquanto a população nem tanto. As vozes que clamam no deserto não se fazem ouvir. Afinal, para a composição do PIB não entram a saúde, o desalento, o desemprego, a falta de saneamento básico, a falta de moradia. Interessa é preservar a balança comercial.

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras - 2019-2020

 

José Renato Nalini. Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

O Brasil tem números que espantam o resto do planeta. Por exemplo: possuímos mais Faculdades de Direito do que a soma de todas as outras existentes no mundo inteiro; isso já nos garantiu o pódio no ranking da judicialização: chegamos a ter 100 milhões de processos em curso; temos 265 milhões de mobiles, para uma população de cerca de 212 milhões de pessoas; somos a terceira população carcerária da Terra.

Poderíamos prosseguir, porque estatísticas não faltam. Mas vamos ficar na boiada, tão presente no discurso hoje em dia. Possuímos mais gado do que gente. Isso é bom? Para quem ganha dinheiro com carne é. Para o planeta pode não ser. Pois o gado vacum produz gás metano que acaba com a camada de ozônio e apressa a chegada do inferno que nos haverá de matar.

Enquanto isso não chega, outras considerações podem ser feitas e raramente merecem atenção da mídia espontânea, sempre atenta à cadeia de anunciantes.

A ciência, embora desprestigiada, é sábia. Trabalha com a verdade. E não é de hoje que estuda as enfermidades que nos levam para o cemitério. Ou para o crematório, como se queira.

Hoje, a doença bacteriana mais terrível e fora de controle é a fasciite necrotizante. As bactérias se nutrem do enfermo, de dentro para fora, devorando suas entranhas. No lugar delas, fica um resíduo carnudo e venenoso( consultar Gawande, Atul, Complications: a surgeon's notes on na imperfect Science, NY, 2002, p.234).

Tem início com leve mal estar, acompanhado de erupção cutânea e febre. Em seguida, total deterioração. A autópsia revela que a vítima foi inteiramente consumida. Por enquanto, o único tratamento é a cirurgia de excisão radical, que consiste em remoção completa das áreas infectadas. Mas 70% dos pacientes morrem. Quem sobrevive fica um fiapo: mortalmente desfigurado.

A origem da infecção é a bactéria estreptococo A, em geral causadora de faringite séptica. Mas por motivos ignorados, algumas bactérias atravessam o revestimento da garganta e chegam ao corpo, causando nele a pior devastação. Resistem a antibióticos e mais de mil casos ocorrem por ano, só nos Estados Unidos. Ninguém pode assegurar que esse número não venha a crescer.

Também a meningite continua a atingir 10% dos jovens e 30% dos adolescentes. Eles portam a bactéria meningocócica mortal, mas ela pode permanecer inofensiva na garganta. Pequeno percentual tem o azar de vê-la invadir a corrente sanguínea e matar o contaminado. Alguém está saudável no café da manhã e morto à noite.

Haveria êxito maior no combate às bactérias, se não desperdiçássemos nossas armas com o gado. As estimativas mostram que 70% dos antibióticos utilizados no mundo são destinados ao gado. Para estimular o crescimento, eles são consumidos juntamente com a ração. Há uma certeza de que eles ajudam a prevenir infecções. Por isso é que as bactérias têm um campo de experiência muito exitoso para desenvolver resistência aos antibióticos.

A ganância não aprende com a experiência. Isso já aconteceu com a penicilina. Em 1952 ela era eficaz contra todas as variações de bactérias estafilococo. Os otimistas acreditaram que estavam eliminadas as doenças infecciosas. Só que 90% das variedades desenvolveram imunidade à penicilina. E a chamada "staphylococus aureus", resistente à meticilina, passou a vitimar muitas pessoas.

Os laboratórios capricharam e criaram a vancomicina. Mas em 1997, um hospital em Tóquio registrou o surgimento de uma variedade que resistia também ao novo medicamento. A infecção se espalhou por outros seis hospitais japoneses, em alguns meses.

Os micróbios ganham a guerra contra os humanos. Nos Estados Unidos, mais de catorze mil pessoas morrem por ano de infecção hospitalar. E a indústria farmacêutica faz parte da cadeia. Por que produzir antibiótico, destinado ao consumo durante alguns dias, se é muito mais lucrativo fabricar antidepressivo, utilizado durante anos a fio?

Para piorar, a ciência descobre que inúmeras outras doenças têm origem bacteriana. Foi em Perth, na Austrália que, em 1983, o médico Barry Marshall descobriu que muitas espécies de câncer de estômago e a maioria das úlceras estomacais são causados pela bactéria helicobacter pylori.

Coteje-se o interesse de quem extermina a floresta para plantar soja, que também é utilizada para alimentar o gado e a preservação, cujo intuito é garantir a vida para as futuras gerações e estará explicado porque o mercado faz opção pela eliminação da mata.

Tudo concorre, portanto, para que o Brasil tenha uma boiada saudável, bem cuidada, com o controle adequado de sua linhagem - o gado é denominado P.O. - puro de origem - enquanto a população nem tanto. As vozes que clamam no deserto não se fazem ouvir. Afinal, para a composição do PIB não entram a saúde, o desalento, o desemprego, a falta de saneamento básico, a falta de moradia. Interessa é preservar a balança comercial.

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras - 2019-2020

 

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