Interpretação crítica e científica das instituições e do comportamento político

Opinião|STF terá a chance de desemparedar o Brasil ao julgar a ‘PEC Kamikaze’ inconstitucional


Agenda populista de Bolsonaro parece infringir restrições legais, como a lei eleitoral, a lei de responsabilidade fiscal e o teto de gastos

Por Carlos Pereira
Atualização:

A estratégia de Bolsonaro de “emparedar” o Legislativo com sua agenda populista de sobrevivência eleitoral por meio de políticas de transferência de renda aos mais pobres e de subsídios a grupos específicos da sociedade, como caminhoneiros ou taxistas, foi muito bem-sucedida no Senado.

A votação da PEC 16 obteve a quase unanimidade dos senadores, com o apoio massivo dos partidos de oposição, inclusive do PT, que não tiveram alternativa a não ser votar favoravelmente ao governo. Os riscos e custos com os eleitores foram interpretados como proibitivos em um ano eleitoral.

Carlos Pereira: 'Agenda populista de Bolsonaro parece infringir restrições legais, como a lei eleitoral, a lei de responsabilidade fiscal e o teto de gastos' Foto: Adriano Machado/Reuters
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Mas será que o sucesso obtido no Senado, a ser possivelmente confirmado na Câmara dos Deputados, será também reproduzido na Suprema Corte, uma vez motivada?

Por um lado, o fato de a PEC ter sido aprovada pela quase unanimidade dos senadores e em um contexto de grande deterioração econômica poderia gerar uma espécie de autocontenção dos ministros do Supremo de não interferir diretamente nessa escolha conjunta do executivo e do legislativo.

A pressão sobre a Suprema Corte poderia aumentar com a ameaça de parlamentares do Centrão, embora até o momento não crível, de retaliar ao tentar aprovar outra PEC que permitiria o legislativo anular suas decisões sempre que elas não forem unânimes e houver alegação de extrapolação dos limites constitucionais pelo STF.

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Por outro lado, a PEC da sobrevivência de Bolsonaro, conhecida como Kamikaze, parece infringir restrições legais, como a lei eleitoral, a lei de responsabilidade fiscal e o teto de gastos. O que é mais grave, parece violar princípios constitucionais protegidos como cláusulas pétreas, como o da impessoalidade e o da igualdade ou “paridade de armas” entre candidatos. O STF precisará interpretar se a PEC tende a abolir essas exigências centrais implícitas no nosso sistema democrático.

Se este for o caso, é possível que o STF seja motivado (por exemplo, por um mandado de segurança de um parlamentar) antes mesmo que a Câmara se posicione sobre a PEC, como a jurisprudência do Supremo já reconhece. Existiriam, portanto, argumentos suficientes para que o STF interprete a PEC 16 inconstitucional.

O fato de a quase totalidade dos legisladores ter votado favoravelmente a PEC não significa necessariamente que eles estariam de acordo com ela. Sinalizaria fundamentalmente que os custos eleitorais para os parlamentares a rejeitarem seriam muito altos. Neste caso, ao considerar inconstitucional, o Supremo, na realidade, estaria realizando, mesmo que indiretamente, a preferência de senadores que votaram de forma favorável a PEC de forma estratégica, mas não sincera.

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O STF pode até não conseguir tirar os legisladores do paredão, mas terá a chance de impedir que o Brasil vá parar lá.

A estratégia de Bolsonaro de “emparedar” o Legislativo com sua agenda populista de sobrevivência eleitoral por meio de políticas de transferência de renda aos mais pobres e de subsídios a grupos específicos da sociedade, como caminhoneiros ou taxistas, foi muito bem-sucedida no Senado.

A votação da PEC 16 obteve a quase unanimidade dos senadores, com o apoio massivo dos partidos de oposição, inclusive do PT, que não tiveram alternativa a não ser votar favoravelmente ao governo. Os riscos e custos com os eleitores foram interpretados como proibitivos em um ano eleitoral.

Carlos Pereira: 'Agenda populista de Bolsonaro parece infringir restrições legais, como a lei eleitoral, a lei de responsabilidade fiscal e o teto de gastos' Foto: Adriano Machado/Reuters

Mas será que o sucesso obtido no Senado, a ser possivelmente confirmado na Câmara dos Deputados, será também reproduzido na Suprema Corte, uma vez motivada?

Por um lado, o fato de a PEC ter sido aprovada pela quase unanimidade dos senadores e em um contexto de grande deterioração econômica poderia gerar uma espécie de autocontenção dos ministros do Supremo de não interferir diretamente nessa escolha conjunta do executivo e do legislativo.

A pressão sobre a Suprema Corte poderia aumentar com a ameaça de parlamentares do Centrão, embora até o momento não crível, de retaliar ao tentar aprovar outra PEC que permitiria o legislativo anular suas decisões sempre que elas não forem unânimes e houver alegação de extrapolação dos limites constitucionais pelo STF.

Por outro lado, a PEC da sobrevivência de Bolsonaro, conhecida como Kamikaze, parece infringir restrições legais, como a lei eleitoral, a lei de responsabilidade fiscal e o teto de gastos. O que é mais grave, parece violar princípios constitucionais protegidos como cláusulas pétreas, como o da impessoalidade e o da igualdade ou “paridade de armas” entre candidatos. O STF precisará interpretar se a PEC tende a abolir essas exigências centrais implícitas no nosso sistema democrático.

Se este for o caso, é possível que o STF seja motivado (por exemplo, por um mandado de segurança de um parlamentar) antes mesmo que a Câmara se posicione sobre a PEC, como a jurisprudência do Supremo já reconhece. Existiriam, portanto, argumentos suficientes para que o STF interprete a PEC 16 inconstitucional.

O fato de a quase totalidade dos legisladores ter votado favoravelmente a PEC não significa necessariamente que eles estariam de acordo com ela. Sinalizaria fundamentalmente que os custos eleitorais para os parlamentares a rejeitarem seriam muito altos. Neste caso, ao considerar inconstitucional, o Supremo, na realidade, estaria realizando, mesmo que indiretamente, a preferência de senadores que votaram de forma favorável a PEC de forma estratégica, mas não sincera.

O STF pode até não conseguir tirar os legisladores do paredão, mas terá a chance de impedir que o Brasil vá parar lá.

A estratégia de Bolsonaro de “emparedar” o Legislativo com sua agenda populista de sobrevivência eleitoral por meio de políticas de transferência de renda aos mais pobres e de subsídios a grupos específicos da sociedade, como caminhoneiros ou taxistas, foi muito bem-sucedida no Senado.

A votação da PEC 16 obteve a quase unanimidade dos senadores, com o apoio massivo dos partidos de oposição, inclusive do PT, que não tiveram alternativa a não ser votar favoravelmente ao governo. Os riscos e custos com os eleitores foram interpretados como proibitivos em um ano eleitoral.

Carlos Pereira: 'Agenda populista de Bolsonaro parece infringir restrições legais, como a lei eleitoral, a lei de responsabilidade fiscal e o teto de gastos' Foto: Adriano Machado/Reuters

Mas será que o sucesso obtido no Senado, a ser possivelmente confirmado na Câmara dos Deputados, será também reproduzido na Suprema Corte, uma vez motivada?

Por um lado, o fato de a PEC ter sido aprovada pela quase unanimidade dos senadores e em um contexto de grande deterioração econômica poderia gerar uma espécie de autocontenção dos ministros do Supremo de não interferir diretamente nessa escolha conjunta do executivo e do legislativo.

A pressão sobre a Suprema Corte poderia aumentar com a ameaça de parlamentares do Centrão, embora até o momento não crível, de retaliar ao tentar aprovar outra PEC que permitiria o legislativo anular suas decisões sempre que elas não forem unânimes e houver alegação de extrapolação dos limites constitucionais pelo STF.

Por outro lado, a PEC da sobrevivência de Bolsonaro, conhecida como Kamikaze, parece infringir restrições legais, como a lei eleitoral, a lei de responsabilidade fiscal e o teto de gastos. O que é mais grave, parece violar princípios constitucionais protegidos como cláusulas pétreas, como o da impessoalidade e o da igualdade ou “paridade de armas” entre candidatos. O STF precisará interpretar se a PEC tende a abolir essas exigências centrais implícitas no nosso sistema democrático.

Se este for o caso, é possível que o STF seja motivado (por exemplo, por um mandado de segurança de um parlamentar) antes mesmo que a Câmara se posicione sobre a PEC, como a jurisprudência do Supremo já reconhece. Existiriam, portanto, argumentos suficientes para que o STF interprete a PEC 16 inconstitucional.

O fato de a quase totalidade dos legisladores ter votado favoravelmente a PEC não significa necessariamente que eles estariam de acordo com ela. Sinalizaria fundamentalmente que os custos eleitorais para os parlamentares a rejeitarem seriam muito altos. Neste caso, ao considerar inconstitucional, o Supremo, na realidade, estaria realizando, mesmo que indiretamente, a preferência de senadores que votaram de forma favorável a PEC de forma estratégica, mas não sincera.

O STF pode até não conseguir tirar os legisladores do paredão, mas terá a chance de impedir que o Brasil vá parar lá.

A estratégia de Bolsonaro de “emparedar” o Legislativo com sua agenda populista de sobrevivência eleitoral por meio de políticas de transferência de renda aos mais pobres e de subsídios a grupos específicos da sociedade, como caminhoneiros ou taxistas, foi muito bem-sucedida no Senado.

A votação da PEC 16 obteve a quase unanimidade dos senadores, com o apoio massivo dos partidos de oposição, inclusive do PT, que não tiveram alternativa a não ser votar favoravelmente ao governo. Os riscos e custos com os eleitores foram interpretados como proibitivos em um ano eleitoral.

Carlos Pereira: 'Agenda populista de Bolsonaro parece infringir restrições legais, como a lei eleitoral, a lei de responsabilidade fiscal e o teto de gastos' Foto: Adriano Machado/Reuters

Mas será que o sucesso obtido no Senado, a ser possivelmente confirmado na Câmara dos Deputados, será também reproduzido na Suprema Corte, uma vez motivada?

Por um lado, o fato de a PEC ter sido aprovada pela quase unanimidade dos senadores e em um contexto de grande deterioração econômica poderia gerar uma espécie de autocontenção dos ministros do Supremo de não interferir diretamente nessa escolha conjunta do executivo e do legislativo.

A pressão sobre a Suprema Corte poderia aumentar com a ameaça de parlamentares do Centrão, embora até o momento não crível, de retaliar ao tentar aprovar outra PEC que permitiria o legislativo anular suas decisões sempre que elas não forem unânimes e houver alegação de extrapolação dos limites constitucionais pelo STF.

Por outro lado, a PEC da sobrevivência de Bolsonaro, conhecida como Kamikaze, parece infringir restrições legais, como a lei eleitoral, a lei de responsabilidade fiscal e o teto de gastos. O que é mais grave, parece violar princípios constitucionais protegidos como cláusulas pétreas, como o da impessoalidade e o da igualdade ou “paridade de armas” entre candidatos. O STF precisará interpretar se a PEC tende a abolir essas exigências centrais implícitas no nosso sistema democrático.

Se este for o caso, é possível que o STF seja motivado (por exemplo, por um mandado de segurança de um parlamentar) antes mesmo que a Câmara se posicione sobre a PEC, como a jurisprudência do Supremo já reconhece. Existiriam, portanto, argumentos suficientes para que o STF interprete a PEC 16 inconstitucional.

O fato de a quase totalidade dos legisladores ter votado favoravelmente a PEC não significa necessariamente que eles estariam de acordo com ela. Sinalizaria fundamentalmente que os custos eleitorais para os parlamentares a rejeitarem seriam muito altos. Neste caso, ao considerar inconstitucional, o Supremo, na realidade, estaria realizando, mesmo que indiretamente, a preferência de senadores que votaram de forma favorável a PEC de forma estratégica, mas não sincera.

O STF pode até não conseguir tirar os legisladores do paredão, mas terá a chance de impedir que o Brasil vá parar lá.

Opinião por Carlos Pereira

Cientista político e professor titular da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE) e sênior fellow do CEBRI.

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