Dilma no meio do redemoinho


Nas últimas semanas, a crise econômica e a crise política no Brasil vêm se reforçando mutuamente

Por The Economist

Se os animais têm faro para perceber quando um ser humano está com medo, os mercados financeiros farejam de longe a paralisia e a divisão interna de um governo. Foi o que aconteceu com o Brasil no fim de setembro. Em quinze dias o real se desvalorizou 10% ante o dólar - de R$ 3,80, a moeda americana passou a ser cotada a R$ 4,20. Só quando o Banco Central entrou em ação, vendendo dólares, foi que as coisas se acalmaram um pouco. O rebuliço começou em 9 de setembro, com o anúncio de que a Standard & Poor's havia tirado o grau de investimento do Brasil, rebaixando seus títulos para o nível especulativo. A agência de classificação de risco reagia às evidências de que o ajuste fiscal do governo brasileiro começava a fazer água. Em novembro do ano passado, depois de se reeleger com uma vitória apertada, a presidente Dilma Rousseff sinalizou mudanças na política econômica. Em seus primeiros quatro anos na Presidência, o descontrole nos gastos fez a dívida pública chegar a 60% do PIB. Por isso, Dilma nomeou o ortodoxo Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, que estabeleceu como meta um superávit primário (isto é, antes do pagamento de juros) de 1,2% do PIB para este ano (frente ao déficit de 0,6% observado em 2014) e de 2% para o ano que vem. Segundo Levy, a meta seria atingida com cortes nos gastos discricionários (em itens como financiamento estudantil e habitacional) do governo federal e com a eliminação de algumas desonerações tributárias. Mas o novo ministro subestimou a gravidade da recessão - a economia brasileira deve sofrer retração de 3% este ano - e a consequente queda na arrecadação. Desastrosamente, em vez de aprofundar os cortes, Levy preferiu relaxar as metas. Ao elaborar a proposta orçamentária de 2016, a equipe econômica enfiou os pés pelas mãos, anunciando num primeiro momento um orçamento deficitário, para voltar atrás quando a S&P rebaixou a nota de crédito do País. Em Brasília, todos sabem que Levy defendia medidas mais austeras. Mas a presidente não o apoiou. Dilma se converteu com relutância à disciplina fiscal - e mesmo que estivesse mais convicta de seus benefícios, já não dispõe de autoridade para implementá-la na marra. Seu controle sobre o Congresso, onde os agora necessários cortes de despesas obrigatórias (como aposentadorias e transferências constitucionais, por exemplo) teriam de ser aprovados, esvaiu-se. Além disso, dois fatores contribuem para fazer de Dilma uma presidente extremamente impopular. O primeiro é o grotesco escândalo da Petrobrás, em que o PT e partidos aliados do governo são acusados de desviar cerca de US$ 4 bilhões. O segundo é que a recessão começa a corroer o padrão de vida dos brasileiros. O País vem perdendo 100 mil empregos formais por mês, observa Eduardo Giannetti. O economista, que assessorou a oposicionista Marina Silva nas eleições presidenciais de 2010 e 2014, diz que "as pessoas estão preocupadíssimas com o futuro". Mais do que arrumar a economia, a prioridade de Dilma agora é garantir, semana a semana, sua sobrevivência no cargo. Ainda este mês o Tribunal de Contas da União (TCU) deve rejeitar as contas de 2014 do governo federal. E o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) investiga se a campanha à reeleição da presidente foi financiada com recursos desviados da Petrobrás. Ambos os casos têm potencial para deflagrar um processo de impeachment. A oposição diz que já tem a maioria simples necessária para dar início ao processo na Câmara, embora ainda não conte com o apoio de dois terços dos deputados para aprová-lo e fazê-lo seguir para o Senado. Assim, o objetivo da presidente esta semana foi evitar que o PMDB abandonasse o barco: o principal sócio do PT na base de apoio ao governo foi convidado a ocupar pastas mais importantes num ministério mais enxuto. É possível que Dilma consiga seguir aos trancos e barrancos até 2018. Peemedebistas e oposicionistas hesitam diante da ideia de tirá-la do cargo e herdar uma economia em pandarecos. Mesmo assim, o risco de que nos próximos meses a presidente perca as condições de governar é real. Só um aperto fiscal convincente é capaz de restaurar a confiança na moeda e permitir que o Banco Central reduza os juros, abrindo as portas para a recuperação econômica. Mas o PT não esconde sua repulsa às políticas de Levy. E, hipocritamente, a oposição de centro-direita tem votado contra as medidas de austeridade em que diz acreditar. Dilma sustenta que o impeachment seria um "golpe". Isso não é verdade. Seria, no frigir dos ovos, o reconhecimento de que seu segundo mandato foi conquistado com base na falsa promessa de que o governo daria continuidade aos investimentos sociais. O próprio PT tentou (sem sucesso) iniciar um processo de impeachment contra Fernando Henrique Cardoso meses depois de o ex-presidente se reeleger. Apesar disso, sem provas inequívocas, o impeachment resultaria em divisões profundas na sociedade brasileira. Dilma também alude a seu passado de guerrilheira que resistiu à tortura para afirmar que jamais cederia a pressões para renunciar. Mas se a crise econômica se agravar, sua posição pode ficar insustentável. Em levantamento por telefone realizado recentemente pela Ideia Inteligência, das 20 mil pessoas entrevistadas, 64% disseram achar que a presidente não concluirá seu mandato. Nesse grupo, 60% acreditam que Dilma vai acabar renunciando. Começa a parecer que talvez tenham razão. © 2015 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR ALEXANDRE HUBNER, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.  

Se os animais têm faro para perceber quando um ser humano está com medo, os mercados financeiros farejam de longe a paralisia e a divisão interna de um governo. Foi o que aconteceu com o Brasil no fim de setembro. Em quinze dias o real se desvalorizou 10% ante o dólar - de R$ 3,80, a moeda americana passou a ser cotada a R$ 4,20. Só quando o Banco Central entrou em ação, vendendo dólares, foi que as coisas se acalmaram um pouco. O rebuliço começou em 9 de setembro, com o anúncio de que a Standard & Poor's havia tirado o grau de investimento do Brasil, rebaixando seus títulos para o nível especulativo. A agência de classificação de risco reagia às evidências de que o ajuste fiscal do governo brasileiro começava a fazer água. Em novembro do ano passado, depois de se reeleger com uma vitória apertada, a presidente Dilma Rousseff sinalizou mudanças na política econômica. Em seus primeiros quatro anos na Presidência, o descontrole nos gastos fez a dívida pública chegar a 60% do PIB. Por isso, Dilma nomeou o ortodoxo Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, que estabeleceu como meta um superávit primário (isto é, antes do pagamento de juros) de 1,2% do PIB para este ano (frente ao déficit de 0,6% observado em 2014) e de 2% para o ano que vem. Segundo Levy, a meta seria atingida com cortes nos gastos discricionários (em itens como financiamento estudantil e habitacional) do governo federal e com a eliminação de algumas desonerações tributárias. Mas o novo ministro subestimou a gravidade da recessão - a economia brasileira deve sofrer retração de 3% este ano - e a consequente queda na arrecadação. Desastrosamente, em vez de aprofundar os cortes, Levy preferiu relaxar as metas. Ao elaborar a proposta orçamentária de 2016, a equipe econômica enfiou os pés pelas mãos, anunciando num primeiro momento um orçamento deficitário, para voltar atrás quando a S&P rebaixou a nota de crédito do País. Em Brasília, todos sabem que Levy defendia medidas mais austeras. Mas a presidente não o apoiou. Dilma se converteu com relutância à disciplina fiscal - e mesmo que estivesse mais convicta de seus benefícios, já não dispõe de autoridade para implementá-la na marra. Seu controle sobre o Congresso, onde os agora necessários cortes de despesas obrigatórias (como aposentadorias e transferências constitucionais, por exemplo) teriam de ser aprovados, esvaiu-se. Além disso, dois fatores contribuem para fazer de Dilma uma presidente extremamente impopular. O primeiro é o grotesco escândalo da Petrobrás, em que o PT e partidos aliados do governo são acusados de desviar cerca de US$ 4 bilhões. O segundo é que a recessão começa a corroer o padrão de vida dos brasileiros. O País vem perdendo 100 mil empregos formais por mês, observa Eduardo Giannetti. O economista, que assessorou a oposicionista Marina Silva nas eleições presidenciais de 2010 e 2014, diz que "as pessoas estão preocupadíssimas com o futuro". Mais do que arrumar a economia, a prioridade de Dilma agora é garantir, semana a semana, sua sobrevivência no cargo. Ainda este mês o Tribunal de Contas da União (TCU) deve rejeitar as contas de 2014 do governo federal. E o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) investiga se a campanha à reeleição da presidente foi financiada com recursos desviados da Petrobrás. Ambos os casos têm potencial para deflagrar um processo de impeachment. A oposição diz que já tem a maioria simples necessária para dar início ao processo na Câmara, embora ainda não conte com o apoio de dois terços dos deputados para aprová-lo e fazê-lo seguir para o Senado. Assim, o objetivo da presidente esta semana foi evitar que o PMDB abandonasse o barco: o principal sócio do PT na base de apoio ao governo foi convidado a ocupar pastas mais importantes num ministério mais enxuto. É possível que Dilma consiga seguir aos trancos e barrancos até 2018. Peemedebistas e oposicionistas hesitam diante da ideia de tirá-la do cargo e herdar uma economia em pandarecos. Mesmo assim, o risco de que nos próximos meses a presidente perca as condições de governar é real. Só um aperto fiscal convincente é capaz de restaurar a confiança na moeda e permitir que o Banco Central reduza os juros, abrindo as portas para a recuperação econômica. Mas o PT não esconde sua repulsa às políticas de Levy. E, hipocritamente, a oposição de centro-direita tem votado contra as medidas de austeridade em que diz acreditar. Dilma sustenta que o impeachment seria um "golpe". Isso não é verdade. Seria, no frigir dos ovos, o reconhecimento de que seu segundo mandato foi conquistado com base na falsa promessa de que o governo daria continuidade aos investimentos sociais. O próprio PT tentou (sem sucesso) iniciar um processo de impeachment contra Fernando Henrique Cardoso meses depois de o ex-presidente se reeleger. Apesar disso, sem provas inequívocas, o impeachment resultaria em divisões profundas na sociedade brasileira. Dilma também alude a seu passado de guerrilheira que resistiu à tortura para afirmar que jamais cederia a pressões para renunciar. Mas se a crise econômica se agravar, sua posição pode ficar insustentável. Em levantamento por telefone realizado recentemente pela Ideia Inteligência, das 20 mil pessoas entrevistadas, 64% disseram achar que a presidente não concluirá seu mandato. Nesse grupo, 60% acreditam que Dilma vai acabar renunciando. Começa a parecer que talvez tenham razão. © 2015 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR ALEXANDRE HUBNER, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.  

Se os animais têm faro para perceber quando um ser humano está com medo, os mercados financeiros farejam de longe a paralisia e a divisão interna de um governo. Foi o que aconteceu com o Brasil no fim de setembro. Em quinze dias o real se desvalorizou 10% ante o dólar - de R$ 3,80, a moeda americana passou a ser cotada a R$ 4,20. Só quando o Banco Central entrou em ação, vendendo dólares, foi que as coisas se acalmaram um pouco. O rebuliço começou em 9 de setembro, com o anúncio de que a Standard & Poor's havia tirado o grau de investimento do Brasil, rebaixando seus títulos para o nível especulativo. A agência de classificação de risco reagia às evidências de que o ajuste fiscal do governo brasileiro começava a fazer água. Em novembro do ano passado, depois de se reeleger com uma vitória apertada, a presidente Dilma Rousseff sinalizou mudanças na política econômica. Em seus primeiros quatro anos na Presidência, o descontrole nos gastos fez a dívida pública chegar a 60% do PIB. Por isso, Dilma nomeou o ortodoxo Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, que estabeleceu como meta um superávit primário (isto é, antes do pagamento de juros) de 1,2% do PIB para este ano (frente ao déficit de 0,6% observado em 2014) e de 2% para o ano que vem. Segundo Levy, a meta seria atingida com cortes nos gastos discricionários (em itens como financiamento estudantil e habitacional) do governo federal e com a eliminação de algumas desonerações tributárias. Mas o novo ministro subestimou a gravidade da recessão - a economia brasileira deve sofrer retração de 3% este ano - e a consequente queda na arrecadação. Desastrosamente, em vez de aprofundar os cortes, Levy preferiu relaxar as metas. Ao elaborar a proposta orçamentária de 2016, a equipe econômica enfiou os pés pelas mãos, anunciando num primeiro momento um orçamento deficitário, para voltar atrás quando a S&P rebaixou a nota de crédito do País. Em Brasília, todos sabem que Levy defendia medidas mais austeras. Mas a presidente não o apoiou. Dilma se converteu com relutância à disciplina fiscal - e mesmo que estivesse mais convicta de seus benefícios, já não dispõe de autoridade para implementá-la na marra. Seu controle sobre o Congresso, onde os agora necessários cortes de despesas obrigatórias (como aposentadorias e transferências constitucionais, por exemplo) teriam de ser aprovados, esvaiu-se. Além disso, dois fatores contribuem para fazer de Dilma uma presidente extremamente impopular. O primeiro é o grotesco escândalo da Petrobrás, em que o PT e partidos aliados do governo são acusados de desviar cerca de US$ 4 bilhões. O segundo é que a recessão começa a corroer o padrão de vida dos brasileiros. O País vem perdendo 100 mil empregos formais por mês, observa Eduardo Giannetti. O economista, que assessorou a oposicionista Marina Silva nas eleições presidenciais de 2010 e 2014, diz que "as pessoas estão preocupadíssimas com o futuro". Mais do que arrumar a economia, a prioridade de Dilma agora é garantir, semana a semana, sua sobrevivência no cargo. Ainda este mês o Tribunal de Contas da União (TCU) deve rejeitar as contas de 2014 do governo federal. E o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) investiga se a campanha à reeleição da presidente foi financiada com recursos desviados da Petrobrás. Ambos os casos têm potencial para deflagrar um processo de impeachment. A oposição diz que já tem a maioria simples necessária para dar início ao processo na Câmara, embora ainda não conte com o apoio de dois terços dos deputados para aprová-lo e fazê-lo seguir para o Senado. Assim, o objetivo da presidente esta semana foi evitar que o PMDB abandonasse o barco: o principal sócio do PT na base de apoio ao governo foi convidado a ocupar pastas mais importantes num ministério mais enxuto. É possível que Dilma consiga seguir aos trancos e barrancos até 2018. Peemedebistas e oposicionistas hesitam diante da ideia de tirá-la do cargo e herdar uma economia em pandarecos. Mesmo assim, o risco de que nos próximos meses a presidente perca as condições de governar é real. Só um aperto fiscal convincente é capaz de restaurar a confiança na moeda e permitir que o Banco Central reduza os juros, abrindo as portas para a recuperação econômica. Mas o PT não esconde sua repulsa às políticas de Levy. E, hipocritamente, a oposição de centro-direita tem votado contra as medidas de austeridade em que diz acreditar. Dilma sustenta que o impeachment seria um "golpe". Isso não é verdade. Seria, no frigir dos ovos, o reconhecimento de que seu segundo mandato foi conquistado com base na falsa promessa de que o governo daria continuidade aos investimentos sociais. O próprio PT tentou (sem sucesso) iniciar um processo de impeachment contra Fernando Henrique Cardoso meses depois de o ex-presidente se reeleger. Apesar disso, sem provas inequívocas, o impeachment resultaria em divisões profundas na sociedade brasileira. Dilma também alude a seu passado de guerrilheira que resistiu à tortura para afirmar que jamais cederia a pressões para renunciar. Mas se a crise econômica se agravar, sua posição pode ficar insustentável. Em levantamento por telefone realizado recentemente pela Ideia Inteligência, das 20 mil pessoas entrevistadas, 64% disseram achar que a presidente não concluirá seu mandato. Nesse grupo, 60% acreditam que Dilma vai acabar renunciando. Começa a parecer que talvez tenham razão. © 2015 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR ALEXANDRE HUBNER, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.  

Se os animais têm faro para perceber quando um ser humano está com medo, os mercados financeiros farejam de longe a paralisia e a divisão interna de um governo. Foi o que aconteceu com o Brasil no fim de setembro. Em quinze dias o real se desvalorizou 10% ante o dólar - de R$ 3,80, a moeda americana passou a ser cotada a R$ 4,20. Só quando o Banco Central entrou em ação, vendendo dólares, foi que as coisas se acalmaram um pouco. O rebuliço começou em 9 de setembro, com o anúncio de que a Standard & Poor's havia tirado o grau de investimento do Brasil, rebaixando seus títulos para o nível especulativo. A agência de classificação de risco reagia às evidências de que o ajuste fiscal do governo brasileiro começava a fazer água. Em novembro do ano passado, depois de se reeleger com uma vitória apertada, a presidente Dilma Rousseff sinalizou mudanças na política econômica. Em seus primeiros quatro anos na Presidência, o descontrole nos gastos fez a dívida pública chegar a 60% do PIB. Por isso, Dilma nomeou o ortodoxo Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, que estabeleceu como meta um superávit primário (isto é, antes do pagamento de juros) de 1,2% do PIB para este ano (frente ao déficit de 0,6% observado em 2014) e de 2% para o ano que vem. Segundo Levy, a meta seria atingida com cortes nos gastos discricionários (em itens como financiamento estudantil e habitacional) do governo federal e com a eliminação de algumas desonerações tributárias. Mas o novo ministro subestimou a gravidade da recessão - a economia brasileira deve sofrer retração de 3% este ano - e a consequente queda na arrecadação. Desastrosamente, em vez de aprofundar os cortes, Levy preferiu relaxar as metas. Ao elaborar a proposta orçamentária de 2016, a equipe econômica enfiou os pés pelas mãos, anunciando num primeiro momento um orçamento deficitário, para voltar atrás quando a S&P rebaixou a nota de crédito do País. Em Brasília, todos sabem que Levy defendia medidas mais austeras. Mas a presidente não o apoiou. Dilma se converteu com relutância à disciplina fiscal - e mesmo que estivesse mais convicta de seus benefícios, já não dispõe de autoridade para implementá-la na marra. Seu controle sobre o Congresso, onde os agora necessários cortes de despesas obrigatórias (como aposentadorias e transferências constitucionais, por exemplo) teriam de ser aprovados, esvaiu-se. Além disso, dois fatores contribuem para fazer de Dilma uma presidente extremamente impopular. O primeiro é o grotesco escândalo da Petrobrás, em que o PT e partidos aliados do governo são acusados de desviar cerca de US$ 4 bilhões. O segundo é que a recessão começa a corroer o padrão de vida dos brasileiros. O País vem perdendo 100 mil empregos formais por mês, observa Eduardo Giannetti. O economista, que assessorou a oposicionista Marina Silva nas eleições presidenciais de 2010 e 2014, diz que "as pessoas estão preocupadíssimas com o futuro". Mais do que arrumar a economia, a prioridade de Dilma agora é garantir, semana a semana, sua sobrevivência no cargo. Ainda este mês o Tribunal de Contas da União (TCU) deve rejeitar as contas de 2014 do governo federal. E o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) investiga se a campanha à reeleição da presidente foi financiada com recursos desviados da Petrobrás. Ambos os casos têm potencial para deflagrar um processo de impeachment. A oposição diz que já tem a maioria simples necessária para dar início ao processo na Câmara, embora ainda não conte com o apoio de dois terços dos deputados para aprová-lo e fazê-lo seguir para o Senado. Assim, o objetivo da presidente esta semana foi evitar que o PMDB abandonasse o barco: o principal sócio do PT na base de apoio ao governo foi convidado a ocupar pastas mais importantes num ministério mais enxuto. É possível que Dilma consiga seguir aos trancos e barrancos até 2018. Peemedebistas e oposicionistas hesitam diante da ideia de tirá-la do cargo e herdar uma economia em pandarecos. Mesmo assim, o risco de que nos próximos meses a presidente perca as condições de governar é real. Só um aperto fiscal convincente é capaz de restaurar a confiança na moeda e permitir que o Banco Central reduza os juros, abrindo as portas para a recuperação econômica. Mas o PT não esconde sua repulsa às políticas de Levy. E, hipocritamente, a oposição de centro-direita tem votado contra as medidas de austeridade em que diz acreditar. Dilma sustenta que o impeachment seria um "golpe". Isso não é verdade. Seria, no frigir dos ovos, o reconhecimento de que seu segundo mandato foi conquistado com base na falsa promessa de que o governo daria continuidade aos investimentos sociais. O próprio PT tentou (sem sucesso) iniciar um processo de impeachment contra Fernando Henrique Cardoso meses depois de o ex-presidente se reeleger. Apesar disso, sem provas inequívocas, o impeachment resultaria em divisões profundas na sociedade brasileira. Dilma também alude a seu passado de guerrilheira que resistiu à tortura para afirmar que jamais cederia a pressões para renunciar. Mas se a crise econômica se agravar, sua posição pode ficar insustentável. Em levantamento por telefone realizado recentemente pela Ideia Inteligência, das 20 mil pessoas entrevistadas, 64% disseram achar que a presidente não concluirá seu mandato. Nesse grupo, 60% acreditam que Dilma vai acabar renunciando. Começa a parecer que talvez tenham razão. © 2015 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR ALEXANDRE HUBNER, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.  

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