Discurso de Bolsonaro sobre coronavírus é verdadeira tragédia, diz ex-ministro que combateu H1N1


José Gomes Temporão considera comunicação e transparência tão importantes quanto respiradores para combater a pandemia; presidente Jair Bolsonaro criticou o fechamento de escolas e comércios

Por Mateus Vargas

BRASÍLIA - Ministro da Saúde de 2007 a 2011 e pesquisador da Fiocruz, o médico sanitarista José Gomes Temporão disse ao Estado que considera uma “verdadeira tragédia” o discurso do presidente Jair Bolsonaro sobre a pandemia do novo coronavírus. Em pronunciamento exibido na terça-feira, Bolsonaro criticou o fechamento de escolas e comércio, atacou medidas de isolamento adotadas por Estados e municípios e afirmou que a imprensa é responsável por disseminar “histeria” sobre a doença.

Na avaliação do ex-ministro, a posição de Bolsonaro expõe uma falta de coesão dentro do governo, por destoar do tom adotado pelo Ministério da Saúde. “Acho que toda a medicina brasileira está envergonhada. É uma posição completamente irracional, irresponsável. Pode custar muitas vidas”, criticou Temporão.

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Ex-ministro da saúde, José Gomes Temporão (03/08/2018) Foto: Carlos Moura/SCO/STF

O médico comandou a Saúde na pandemia do H1N1 em 2009, quando o Brasil teve cerca de 2,1 mil mortes e 58 mil infectados. Para ele, os estudos mostram que a pandemia atual é mais agressiva. “Não pode ficar escondendo evidências, distorcendo fatos e minimizando. A humanidade nunca experimentou uma coisa como vivemos agora”, disse.

O ex-ministro considera a comunicação e transparência ferramentas tão importantes quanto respiradores e outros equipamentos médicos para combater a covid-19. Abaixo, os principais trechos da entrevista.

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Qual o impacto do pronunciamento feito na terça-feira pelo presidente Bolsonaro em rede nacional de TV?

Numa situação como a que vivemos, um dos princípios fundamentais do bom governo é a coesão, de princípios, estratégias e procedimentos. E transmitir para a sociedade, com transparência, o que está acontecendo e vai acontecer. Para que pessoas sejam informadas e possam se mobilizar, apoiando as decisões do governo.

O discurso de ontem do presidente da República vai exatamente na contramão de todos estes princípios. Demonstra falta de coesão, fragiliza o discurso do ministro (da Saúde, Luiz Henrique Mandetta) e de sua equipe técnica. Passa para sociedade uma visão contraditória. Pessoas passam a ficam perdidas e inseguras. Ministro fala uma coisa, presidente fala outra.

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Do ponto de vista de estratégia coesa, postura minimamente sólida, baseada em evidências científicas, o discurso de ontem foi uma verdadeira tragédia. É necessário que governo retome seu eixo de atuação em cima do que autoridades de saúde recomendam.

Como o senhor avalia especificamente o comportamento do presidente Bolsonaro?

Deplorável. Acho que toda a medicina brasileira está envergonhada. É uma posição completamente irracional, irresponsável. Pode custar muitas vidas. Espero que ele reveja essa posição. A humanidade nunca experimentou algo assim. A liderança máxima tem de passar tranquilidade. Não pode ficar escondendo evidências, distorcendo fatos e minimizando riscos. É o que o presidente está fazendo. Isso é muito lamentável.

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E as ações adotadas pelo Ministério da Saúde?

A condução que Mandetta e equipe vem dando é bastante coerente. Baseada em evidências científicas. Não tem nenhum reparo maior.

O que muda entre as pandemias do H1N1 e da covid-19?

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O sistema de saúde brasileiro lá, como neste momento, atuou muito bem. No primeiro momento, para impedir que casos importados se espalhem. Mas as diferenças são muitas. No H1N1, tínhamos medicamento. Duas drogas antivirais que puderam ser usadas para casos mais graves. Foi possível fazer vacina em tempo muito rápido.

A letalidade e o número de casos graves do H1N1 é muito mais baixa que do novo coronavírus. O número de pessoas que adoece, precisa de ventilação pulmonar, é significativamente menor na pandemia de 2009.

Uma outra diferença importante é a situação do sistema de saúde. Hoje estamos mais frágeis do ponto de vista financeiro. Com a emenda 95 (teto de gastos), de lá até o final de 2020 o orçamento do ministério perde algo como R$ 30 bilhões. A sustentabilidade do SUS, do ponto de vista financeiro, era melhor.

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O que tivemos de avanço sobre redes sociais é uma revolução é gigantesca. O impacto é muito grande. Ajuda, porque pessoas se conectam em tempo real, mas por outro lado a disseminação de fake news, curas milagrosas, também se expandiu de forma expressiva.

Por que em 2009 não foram tomadas medidas tão restritivas como as de agora?

Houve muito ruído, no começo (em 2009), sobre fechar escolas e outras medidas. Mas não houve proposta para “fechar tudo”. Quando o H1N1 chegou, o que percebemos era que não era uma doença com muita diferença do que os vírus da gripe comum. Claro, tivemos óbitos, a população não tinha imunidade.

Temos agora também uma população mais envelhecida. A quantidade de idosos da população europeia é muito grande. Temos processo de envelhecimento no Brasil, mas a estrutura demográfica aqui é distinta. É muito especulativo o que pode acontecer aqui.

Agora, a doença atinge um número muito grande de pessoas em situação vulnerável, idosos e doentes. O sistema de saúde não dá conta de atender uma quantidade muito grande de pacientes. Nosso grande temor é como esse vírus pode se comportar aqui, onde cerca de 40 milhões vivem em condições muito mais precárias do que a média. Eu diria que é uma das nossas fragilidades.

BRASÍLIA - Ministro da Saúde de 2007 a 2011 e pesquisador da Fiocruz, o médico sanitarista José Gomes Temporão disse ao Estado que considera uma “verdadeira tragédia” o discurso do presidente Jair Bolsonaro sobre a pandemia do novo coronavírus. Em pronunciamento exibido na terça-feira, Bolsonaro criticou o fechamento de escolas e comércio, atacou medidas de isolamento adotadas por Estados e municípios e afirmou que a imprensa é responsável por disseminar “histeria” sobre a doença.

Na avaliação do ex-ministro, a posição de Bolsonaro expõe uma falta de coesão dentro do governo, por destoar do tom adotado pelo Ministério da Saúde. “Acho que toda a medicina brasileira está envergonhada. É uma posição completamente irracional, irresponsável. Pode custar muitas vidas”, criticou Temporão.

Ex-ministro da saúde, José Gomes Temporão (03/08/2018) Foto: Carlos Moura/SCO/STF

O médico comandou a Saúde na pandemia do H1N1 em 2009, quando o Brasil teve cerca de 2,1 mil mortes e 58 mil infectados. Para ele, os estudos mostram que a pandemia atual é mais agressiva. “Não pode ficar escondendo evidências, distorcendo fatos e minimizando. A humanidade nunca experimentou uma coisa como vivemos agora”, disse.

O ex-ministro considera a comunicação e transparência ferramentas tão importantes quanto respiradores e outros equipamentos médicos para combater a covid-19. Abaixo, os principais trechos da entrevista.

Qual o impacto do pronunciamento feito na terça-feira pelo presidente Bolsonaro em rede nacional de TV?

Numa situação como a que vivemos, um dos princípios fundamentais do bom governo é a coesão, de princípios, estratégias e procedimentos. E transmitir para a sociedade, com transparência, o que está acontecendo e vai acontecer. Para que pessoas sejam informadas e possam se mobilizar, apoiando as decisões do governo.

O discurso de ontem do presidente da República vai exatamente na contramão de todos estes princípios. Demonstra falta de coesão, fragiliza o discurso do ministro (da Saúde, Luiz Henrique Mandetta) e de sua equipe técnica. Passa para sociedade uma visão contraditória. Pessoas passam a ficam perdidas e inseguras. Ministro fala uma coisa, presidente fala outra.

Do ponto de vista de estratégia coesa, postura minimamente sólida, baseada em evidências científicas, o discurso de ontem foi uma verdadeira tragédia. É necessário que governo retome seu eixo de atuação em cima do que autoridades de saúde recomendam.

Como o senhor avalia especificamente o comportamento do presidente Bolsonaro?

Deplorável. Acho que toda a medicina brasileira está envergonhada. É uma posição completamente irracional, irresponsável. Pode custar muitas vidas. Espero que ele reveja essa posição. A humanidade nunca experimentou algo assim. A liderança máxima tem de passar tranquilidade. Não pode ficar escondendo evidências, distorcendo fatos e minimizando riscos. É o que o presidente está fazendo. Isso é muito lamentável.

E as ações adotadas pelo Ministério da Saúde?

A condução que Mandetta e equipe vem dando é bastante coerente. Baseada em evidências científicas. Não tem nenhum reparo maior.

O que muda entre as pandemias do H1N1 e da covid-19?

O sistema de saúde brasileiro lá, como neste momento, atuou muito bem. No primeiro momento, para impedir que casos importados se espalhem. Mas as diferenças são muitas. No H1N1, tínhamos medicamento. Duas drogas antivirais que puderam ser usadas para casos mais graves. Foi possível fazer vacina em tempo muito rápido.

A letalidade e o número de casos graves do H1N1 é muito mais baixa que do novo coronavírus. O número de pessoas que adoece, precisa de ventilação pulmonar, é significativamente menor na pandemia de 2009.

Uma outra diferença importante é a situação do sistema de saúde. Hoje estamos mais frágeis do ponto de vista financeiro. Com a emenda 95 (teto de gastos), de lá até o final de 2020 o orçamento do ministério perde algo como R$ 30 bilhões. A sustentabilidade do SUS, do ponto de vista financeiro, era melhor.

O que tivemos de avanço sobre redes sociais é uma revolução é gigantesca. O impacto é muito grande. Ajuda, porque pessoas se conectam em tempo real, mas por outro lado a disseminação de fake news, curas milagrosas, também se expandiu de forma expressiva.

Por que em 2009 não foram tomadas medidas tão restritivas como as de agora?

Houve muito ruído, no começo (em 2009), sobre fechar escolas e outras medidas. Mas não houve proposta para “fechar tudo”. Quando o H1N1 chegou, o que percebemos era que não era uma doença com muita diferença do que os vírus da gripe comum. Claro, tivemos óbitos, a população não tinha imunidade.

Temos agora também uma população mais envelhecida. A quantidade de idosos da população europeia é muito grande. Temos processo de envelhecimento no Brasil, mas a estrutura demográfica aqui é distinta. É muito especulativo o que pode acontecer aqui.

Agora, a doença atinge um número muito grande de pessoas em situação vulnerável, idosos e doentes. O sistema de saúde não dá conta de atender uma quantidade muito grande de pacientes. Nosso grande temor é como esse vírus pode se comportar aqui, onde cerca de 40 milhões vivem em condições muito mais precárias do que a média. Eu diria que é uma das nossas fragilidades.

BRASÍLIA - Ministro da Saúde de 2007 a 2011 e pesquisador da Fiocruz, o médico sanitarista José Gomes Temporão disse ao Estado que considera uma “verdadeira tragédia” o discurso do presidente Jair Bolsonaro sobre a pandemia do novo coronavírus. Em pronunciamento exibido na terça-feira, Bolsonaro criticou o fechamento de escolas e comércio, atacou medidas de isolamento adotadas por Estados e municípios e afirmou que a imprensa é responsável por disseminar “histeria” sobre a doença.

Na avaliação do ex-ministro, a posição de Bolsonaro expõe uma falta de coesão dentro do governo, por destoar do tom adotado pelo Ministério da Saúde. “Acho que toda a medicina brasileira está envergonhada. É uma posição completamente irracional, irresponsável. Pode custar muitas vidas”, criticou Temporão.

Ex-ministro da saúde, José Gomes Temporão (03/08/2018) Foto: Carlos Moura/SCO/STF

O médico comandou a Saúde na pandemia do H1N1 em 2009, quando o Brasil teve cerca de 2,1 mil mortes e 58 mil infectados. Para ele, os estudos mostram que a pandemia atual é mais agressiva. “Não pode ficar escondendo evidências, distorcendo fatos e minimizando. A humanidade nunca experimentou uma coisa como vivemos agora”, disse.

O ex-ministro considera a comunicação e transparência ferramentas tão importantes quanto respiradores e outros equipamentos médicos para combater a covid-19. Abaixo, os principais trechos da entrevista.

Qual o impacto do pronunciamento feito na terça-feira pelo presidente Bolsonaro em rede nacional de TV?

Numa situação como a que vivemos, um dos princípios fundamentais do bom governo é a coesão, de princípios, estratégias e procedimentos. E transmitir para a sociedade, com transparência, o que está acontecendo e vai acontecer. Para que pessoas sejam informadas e possam se mobilizar, apoiando as decisões do governo.

O discurso de ontem do presidente da República vai exatamente na contramão de todos estes princípios. Demonstra falta de coesão, fragiliza o discurso do ministro (da Saúde, Luiz Henrique Mandetta) e de sua equipe técnica. Passa para sociedade uma visão contraditória. Pessoas passam a ficam perdidas e inseguras. Ministro fala uma coisa, presidente fala outra.

Do ponto de vista de estratégia coesa, postura minimamente sólida, baseada em evidências científicas, o discurso de ontem foi uma verdadeira tragédia. É necessário que governo retome seu eixo de atuação em cima do que autoridades de saúde recomendam.

Como o senhor avalia especificamente o comportamento do presidente Bolsonaro?

Deplorável. Acho que toda a medicina brasileira está envergonhada. É uma posição completamente irracional, irresponsável. Pode custar muitas vidas. Espero que ele reveja essa posição. A humanidade nunca experimentou algo assim. A liderança máxima tem de passar tranquilidade. Não pode ficar escondendo evidências, distorcendo fatos e minimizando riscos. É o que o presidente está fazendo. Isso é muito lamentável.

E as ações adotadas pelo Ministério da Saúde?

A condução que Mandetta e equipe vem dando é bastante coerente. Baseada em evidências científicas. Não tem nenhum reparo maior.

O que muda entre as pandemias do H1N1 e da covid-19?

O sistema de saúde brasileiro lá, como neste momento, atuou muito bem. No primeiro momento, para impedir que casos importados se espalhem. Mas as diferenças são muitas. No H1N1, tínhamos medicamento. Duas drogas antivirais que puderam ser usadas para casos mais graves. Foi possível fazer vacina em tempo muito rápido.

A letalidade e o número de casos graves do H1N1 é muito mais baixa que do novo coronavírus. O número de pessoas que adoece, precisa de ventilação pulmonar, é significativamente menor na pandemia de 2009.

Uma outra diferença importante é a situação do sistema de saúde. Hoje estamos mais frágeis do ponto de vista financeiro. Com a emenda 95 (teto de gastos), de lá até o final de 2020 o orçamento do ministério perde algo como R$ 30 bilhões. A sustentabilidade do SUS, do ponto de vista financeiro, era melhor.

O que tivemos de avanço sobre redes sociais é uma revolução é gigantesca. O impacto é muito grande. Ajuda, porque pessoas se conectam em tempo real, mas por outro lado a disseminação de fake news, curas milagrosas, também se expandiu de forma expressiva.

Por que em 2009 não foram tomadas medidas tão restritivas como as de agora?

Houve muito ruído, no começo (em 2009), sobre fechar escolas e outras medidas. Mas não houve proposta para “fechar tudo”. Quando o H1N1 chegou, o que percebemos era que não era uma doença com muita diferença do que os vírus da gripe comum. Claro, tivemos óbitos, a população não tinha imunidade.

Temos agora também uma população mais envelhecida. A quantidade de idosos da população europeia é muito grande. Temos processo de envelhecimento no Brasil, mas a estrutura demográfica aqui é distinta. É muito especulativo o que pode acontecer aqui.

Agora, a doença atinge um número muito grande de pessoas em situação vulnerável, idosos e doentes. O sistema de saúde não dá conta de atender uma quantidade muito grande de pacientes. Nosso grande temor é como esse vírus pode se comportar aqui, onde cerca de 40 milhões vivem em condições muito mais precárias do que a média. Eu diria que é uma das nossas fragilidades.

BRASÍLIA - Ministro da Saúde de 2007 a 2011 e pesquisador da Fiocruz, o médico sanitarista José Gomes Temporão disse ao Estado que considera uma “verdadeira tragédia” o discurso do presidente Jair Bolsonaro sobre a pandemia do novo coronavírus. Em pronunciamento exibido na terça-feira, Bolsonaro criticou o fechamento de escolas e comércio, atacou medidas de isolamento adotadas por Estados e municípios e afirmou que a imprensa é responsável por disseminar “histeria” sobre a doença.

Na avaliação do ex-ministro, a posição de Bolsonaro expõe uma falta de coesão dentro do governo, por destoar do tom adotado pelo Ministério da Saúde. “Acho que toda a medicina brasileira está envergonhada. É uma posição completamente irracional, irresponsável. Pode custar muitas vidas”, criticou Temporão.

Ex-ministro da saúde, José Gomes Temporão (03/08/2018) Foto: Carlos Moura/SCO/STF

O médico comandou a Saúde na pandemia do H1N1 em 2009, quando o Brasil teve cerca de 2,1 mil mortes e 58 mil infectados. Para ele, os estudos mostram que a pandemia atual é mais agressiva. “Não pode ficar escondendo evidências, distorcendo fatos e minimizando. A humanidade nunca experimentou uma coisa como vivemos agora”, disse.

O ex-ministro considera a comunicação e transparência ferramentas tão importantes quanto respiradores e outros equipamentos médicos para combater a covid-19. Abaixo, os principais trechos da entrevista.

Qual o impacto do pronunciamento feito na terça-feira pelo presidente Bolsonaro em rede nacional de TV?

Numa situação como a que vivemos, um dos princípios fundamentais do bom governo é a coesão, de princípios, estratégias e procedimentos. E transmitir para a sociedade, com transparência, o que está acontecendo e vai acontecer. Para que pessoas sejam informadas e possam se mobilizar, apoiando as decisões do governo.

O discurso de ontem do presidente da República vai exatamente na contramão de todos estes princípios. Demonstra falta de coesão, fragiliza o discurso do ministro (da Saúde, Luiz Henrique Mandetta) e de sua equipe técnica. Passa para sociedade uma visão contraditória. Pessoas passam a ficam perdidas e inseguras. Ministro fala uma coisa, presidente fala outra.

Do ponto de vista de estratégia coesa, postura minimamente sólida, baseada em evidências científicas, o discurso de ontem foi uma verdadeira tragédia. É necessário que governo retome seu eixo de atuação em cima do que autoridades de saúde recomendam.

Como o senhor avalia especificamente o comportamento do presidente Bolsonaro?

Deplorável. Acho que toda a medicina brasileira está envergonhada. É uma posição completamente irracional, irresponsável. Pode custar muitas vidas. Espero que ele reveja essa posição. A humanidade nunca experimentou algo assim. A liderança máxima tem de passar tranquilidade. Não pode ficar escondendo evidências, distorcendo fatos e minimizando riscos. É o que o presidente está fazendo. Isso é muito lamentável.

E as ações adotadas pelo Ministério da Saúde?

A condução que Mandetta e equipe vem dando é bastante coerente. Baseada em evidências científicas. Não tem nenhum reparo maior.

O que muda entre as pandemias do H1N1 e da covid-19?

O sistema de saúde brasileiro lá, como neste momento, atuou muito bem. No primeiro momento, para impedir que casos importados se espalhem. Mas as diferenças são muitas. No H1N1, tínhamos medicamento. Duas drogas antivirais que puderam ser usadas para casos mais graves. Foi possível fazer vacina em tempo muito rápido.

A letalidade e o número de casos graves do H1N1 é muito mais baixa que do novo coronavírus. O número de pessoas que adoece, precisa de ventilação pulmonar, é significativamente menor na pandemia de 2009.

Uma outra diferença importante é a situação do sistema de saúde. Hoje estamos mais frágeis do ponto de vista financeiro. Com a emenda 95 (teto de gastos), de lá até o final de 2020 o orçamento do ministério perde algo como R$ 30 bilhões. A sustentabilidade do SUS, do ponto de vista financeiro, era melhor.

O que tivemos de avanço sobre redes sociais é uma revolução é gigantesca. O impacto é muito grande. Ajuda, porque pessoas se conectam em tempo real, mas por outro lado a disseminação de fake news, curas milagrosas, também se expandiu de forma expressiva.

Por que em 2009 não foram tomadas medidas tão restritivas como as de agora?

Houve muito ruído, no começo (em 2009), sobre fechar escolas e outras medidas. Mas não houve proposta para “fechar tudo”. Quando o H1N1 chegou, o que percebemos era que não era uma doença com muita diferença do que os vírus da gripe comum. Claro, tivemos óbitos, a população não tinha imunidade.

Temos agora também uma população mais envelhecida. A quantidade de idosos da população europeia é muito grande. Temos processo de envelhecimento no Brasil, mas a estrutura demográfica aqui é distinta. É muito especulativo o que pode acontecer aqui.

Agora, a doença atinge um número muito grande de pessoas em situação vulnerável, idosos e doentes. O sistema de saúde não dá conta de atender uma quantidade muito grande de pacientes. Nosso grande temor é como esse vírus pode se comportar aqui, onde cerca de 40 milhões vivem em condições muito mais precárias do que a média. Eu diria que é uma das nossas fragilidades.

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