Discurso de Marina Silva na Convenção Nacional do PV - 10.06.2010


Companheiros, companheiras, podem se sentar. Muito obrigada.  Obrigada às minhas crianças e aos idosos. Em primeiro lugar, quero agradecer a Deus por estarmos aqui, e agradecer, de antemão, a todos os que estão aqui e os que nos acompanham pela internet – são milhares, neste momento, no Brasil e em vários lugares do mundo. Cumprimento, de um modo especial, meu querido amigo, companheiro que aceitou o desafio de junto comigo estar nessa jornada rumo à Presidência da República Federativa do Brasil, Guilherme Leal. Muito obrigada, Guilherme. Essa sua falta de jeito com a política só aumenta o nosso respeito por quem és e pelo que vai fazer como político, junto comigo, lá na Presidência da República.

Por Redação

 

Quando se vê um empresário muito tinhoso, muito acostumado à linguagem da política, é porque está nela há muito, mas, talvez, de forma repetida. Quem faz política com “P” maiúsculo não treina como falar, apenas faz como gostaria de ver os políticos fazendo. Foi isso o que você fez. Obrigada, Guilherme. O Guilherme fez uma fala muito bonita dizendo que, na lógica do século 20, nós não teríamos nos encontrado. De fato ele tem razão. Mas eu queria aqui fazer uma revelação: o empresário Guilherme Leal, que achamos sempre que ele é paulista, é filho de paraenses, comedor de açaí. Então, o nosso encontro também está nas origens, também está nas raízes que alimentam esse nosso coração. Quero cumprimentar o presidente do meu partido, o nosso companheiro Luiz França Penna. Muito obrigada Penna. Vocês, do Partido Verde, que construíram esse partido, durante esses 24 anos, para que hoje pudéssemos ser recebidos, partidários e não-partidários, nesta festa que é de todos os brasileiros.

 

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Cumprimento, de modo especial, uma pessoa que, para mim, é muito significativa, altamente significativa: meu pai, o velho Pedro Agostinho. Fique de pé, papai. Fique de pé um pouquinho, papai, Sr. Pedro Augusto da Silva. Obrigada papai, muito obrigada por você estar aqui. Quero cumprimentar esse homem, ele é responsável, na origem, por tudo o que está acontecendo. Ele deve se lembrar: no dia em que, com 16 anos, ainda com saúde frágil, não é para aumentar a pressão, tem 82 anos, com carinha de 81 – ele não vai gostar disso.  Lembra papai? Pai, vou estudar porque o meu sonho é de ser freira. Você quer ir agora ou na semana que vem? Se você não tivesse essa visão, essa cabeça, esse coração, eu, hoje, não estaria ocupando este lugar. Então, você, na origem, junto com todos aqueles que me ajudaram e a força do nosso Deus, também é responsável por isso. Agradeço à minha querida família, o meu sogro, Sr. Paulo, que está aqui junto com a minha sogra, Dona Neide, que virou uma quase mãe – perdi minha mãe aos 14 anos. Daí ser tão difícil esse homem ter deixado a sua segunda filha, a mais velha já havia se casado, deixar seus seis irmãos e ir para essa abençoada aventura que nos faz estar aqui.

 

Agradeço ao meu marido Fábio, à minha filha Shalon, ao meu filho Danilo, à minha filha Moara, à minha filha Maiara. Vocês são a principal assistência e sustentação de tudo o que sou, de tudo que faço. Obrigada por esse amor, por esse cuidado e, podem ter certeza, por essa doação – essa é uma família que se doa para que esse “palitinho”, em plena forma, esteja se colocando neste lugar de mantenedora de utopias. Agradeço às minhas irmãs Lúcia e Dóia que estão aqui representando as outras seis irmãs, somos sete irmãs. Ao meu irmão Arleir, o único homem da família e, por isso, um sofredor no meio de mulheres tão fortes. É um sobrevivente. Agradeço aos meus sobrinhos presentes, o Eudes, o Tiago, o André, a Andréia, enfim, a todos eles. Eles vieram representar uma família que é enorme – família de nordestinos não para de crescer nunca, é pior do que preá.

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Enfim, saúdo meus companheiros de partido, meus companheiros do Partido Verde. Cumprimento Alfredo Sirkis, que fez esse lindo discurso. Sirkis, muito obrigada, você até agora trouxe essa pré-campanha, como coordenador, e me disse que quando esse período chegasse você iria assumir essa tarefa no Rio de Janeiro, como coordenador e candidato a deputado federal que, se Deus quiser, será eleito. Cumprimento meu companheiro, futuro governador do Estado do Rio de Janeiro, sempre digo: meu professor Fernando Gabeira. Obrigada, Gabeira, por você ser quem é. Cumprimento um dos idealizadores persistente, do convite para que eu entrasse no PV, quase inconveniente, meu companheiro candidato ao governo de Pernambuco, Xavier. Cumprimento as mulheres do Partido Verde na pessoa de minha companheira, Micarla, que fez esse lindo discurso. Obrigada, Micarla. Você é a primeira mulher do Partido Verde de capital da América Latina e Caribe. Você não é pouca coisa. Marcos Antônio Mroz, meu companheiro Fábio Feldman que representam, junto com o Gabeira, todos os candidatos a governador.

 

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Cumprimento aqueles que entraram no PV junto comigo, simbolicamente representados nas pessoas de Luciano Zicca, Adriana Ramos e Pedro Ivo. Agradeço e cumprimento as pessoas que pertencem a outros partidos, que sei temos muitos aqui. Cumprimento o coordenador desta campanha a partir de agora, meu companheiro do Ministério do Meio Ambiente que, com trajetórias igualmente diferentes, mas com o mesmo DNA do socioambientalismo. Ele me ajudou no Ministério do Meio Ambiente: João Paulo Capobianco. Obrigada, Capô. Cumprimento todas as mulheres na pessoa de minha recém-amiga, essa descoberta maravilhosa que cuida do programa de educação, Neca Setúbal, Agradeço a você, Neca, por tudo isso. Ricardo Young agradeço a você juntamente com o Álvaro, um grupo de empresários que assumiram a sustentabilidade como parte do seu envolvimento de vida empresarial com responsabilidade ambiental, social, colocando a ética como parte do seu fazer empresarial. Cumprimento meus companheiros da sociedade civil, associações, sindicatos, associações não-governamentais. Cumprimento também aqueles que representam o mundo acadêmico; os gestores públicos na pessoa do Eduardo Jorge. Agradeço a presença de todos os trabalhadores e trabalhadoras, profissionais liberais, à juventude tão bem representada aqui pelo idealizador do Movimento Marina Silva, Eduardo Rombauer. Obrigada, Dudu. Você, como todo jovem, tem a ousadia de antecipar o futuro. Agradeço aos intelectuais na pessoa do Dr. Paulo Sandroni, Eduardo Viola, José Eli da Veiga, Beto Ricardo e tantos outros que não tenho como mencionar.

 

Agradeço e cumprimento todas as crianças que me homenagearam – inclusive aquele jovem, que sentou na cadeira do vice-presidente, já colocando a que ele veio, na pessoa do Daniel, filho do Carlos Vicente, do Ives e da Iara. Quero cumprimentar todas as crianças. Uma saudação especial às pessoas que não estão presentes, mas que, igualmente, são importantes na minha vida: o bispo Dom Moacir Grecchi, alguém que foi responsável não só por muito do que aprendi na política, mas pela minha própria sobrevivência quando me ajudou a salvar a vida. Quero agradecer meus pastores, o pastor Sóstenes Apolo e a Pastora Valnice, a pastora Eliana, na pessoa deles, os que me dão sustentação, apoio espiritual e que me ensinaram que neste País laico a grande bênção é sermos um Estado laico para que possamos respeitar todos os que têm crença, todos os que têm crença diferente e todos aqueles que não têm. Isto é, de fato, uma grande conquista da nossa democracia. Por último, saúdo os 190 milhões de brasileiras e brasileiros, de todos os lugares, de todas as cores, de todas as raças, de todas as formas e de todas as graças deste Brasil diverso que temos, e que nos dá orgulho de sermos brasileiros.

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Meus irmãos e irmãs estamos aqui para um desafio, um desafio que deve, em primeiro lugar, colocar quais são as referências que me trazem e que nos fazem chegar até aqui. Não quero, Gabeira, Sirkis, Guilherme, meus companheiros e companheiras, fazer um discurso em que vocês não estejam incluídos, os que estão aqui, os que estão nos assistindo e os que ainda vão nos assistir. Baseio-me em alguns referenciais. O primeiro deles – aprendi com o Bispo Dom Mauro Morelli – lutar pelos que não são, pelos que não sabem, pelos que não podem, pelos que não têm, para que um dia saibam, possam e tenham. Outro referencial, penso no da juventude. Sempre digo que os jovens não se envolvem em projeto de poder pelo poder, Shalon, você que é a minha filha mais velha. Os jovens, as crianças se envolvem onde há o cheiro da mudança, da transformação; que é a transformação responsável baseada em engenharia, processos e estruturas concretas, mas não abrem mão de sonhar para ver mudar o futuro que a gente quer cada vez melhor para nossos filhos e netos. Eu quero agradecer a essa juventude que me trouxe até aqui, como sendo os primeiros a terem sonhado com essa idéia, Guilherme, de termos, hoje, uma candidatura. Este projeto está em cima de alguns pontos – não posso deixar de fazer, como professora de ensino médio, sempre como faço, primeiro, uma contextualização.

 

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Por isso, vou partir do Brasil que hoje temos, um Brasil que não precisa olvidar suas conquistas, mas também não precisa fazer uma apologia cega delas, esquecendo que ainda temos muitos desafios e de que ainda temos muitos erros a serem corrigidos. Temos que reconhecer que o Brasil dos últimos anos foi capaz de grandes conquistas, a começar pela conquista da democracia, vinte anos de democracia reconquistada e estabilizada na realidade do Brasil, dezesseis anos em que este País tem lutado por estabilidade econômica e conseguiu fazer com que tivéssemos uma situação em que há controle de inflação, em que a crise que atravessamos, ainda que tenha nos afetado, não nos abalou. E estamos de pé, crescendo cerca de 9% em relação ao ano passado, e com uma perspectiva boa de crescimento, ainda que ele precise ser ressignificado para que não continuemos no mesmo diapasão do desenvolvimento pelo desenvolvimento, do crescimento pelo crescimento.

 

Essa é uma conquista que não podemos esquecer. Temos que lembrar que temos uma sociedade civil que foi capaz de se tornar rigorosa, capaz de cobrar, capaz de apresentar propostas, de ajudar a implementá-las e de corrigi-las quando não estão no rumo certo.

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Essa sociedade civil, eu diria, cresceu juntamente com os formadores de opinião e foi capaz de construir algo nesses últimos 30 anos que irá surpreender a si mesma e surpreender o Brasil, surpreenderá, principalmente, aqueles que ficaram com a velha política, com uma única forma de tentar dar resposta para a vida das pessoas e para o Brasil.

 

Temos ainda outra conquista: a redução da pobreza. Vinte e cinco milhões de pessoas saíram da linha da pobreza nesses últimos oito anos. Isso não é muita coisa, não é pouca coisa. Não preciso, em hipótese alguma, porque sou candidata, agora, por outro partido, numa outra articulação, negar esse feito e essa grande conquista do operário Luiz Inácio Lula da Silva, que quebrou o paradigma. Antigamente se dizia: é preciso crescer para depois distribuir o bolo. O Lula mostrou que foi distribuindo que continuamos e que crescemos. Então, essa conquista não pode ser olvidada.

 

Eu não poderia deixar de falar do que eu disse, os desafios, os problemas, os erros ainda a serem corrigidos. Quais são eles? O erro da desigualdade e de oportunidades. Esse país gigante ainda tem 18% dos seus jovens analfabetos. Sei o que é ser analfabeto, o que é ver pela metade, escutar pela metade, sei o que é ter chegado em Rio Branco, com 16 anos, Guilherme, e ficar mais de vinte minutos olhando para um lado, olhando para o outro, para perguntar qual era o ônibus que ia para a Estação Experimental. Por que eu estava perguntando e por que eu tinha vergonha de fazer essa pergunta? A placa dizia Estação Experimental, mas para quem não sabia ler, a placa e nada era a mesma coisa. Tomei coragem e perguntei para um vendedor de rua: qual é o ônibus que se pega para ir à Estação Experimental? Obviamente, ele me olhou, sabendo que pela minha indumentária, pelas minhas mãozinhas sujas da fumaça de fazer o látex que fica preta como um carvão, ele sabia que eu era uma menina analfabeta do seringal.

 

Este país ainda tem desigualdade de oportunidades e ainda tem 18% dos seus jovens analfabetos. Este país ainda está com estagnação da qualidade do ensino. Quarenta por cento das crianças que entram no ensino fundamental não conseguem chegar até a oitava série. Precisamos superar este desafio. Justiça seja feita. Hoje, temos a sensibilidade de 100% das nossas crianças irem para a escola, mas a escola precisa ser criativa, produtiva, precisa valorizar os professores, precisa dar formação continuada, precisa valorizá-los econômica e simbolicamente para que sintamos orgulho de dar aulas. Este desafio ainda não foi superado no Brasil. Ainda temos um país que dilapida o seu imenso patrimônio natural. São milhões e milhões de hectares de florestas destruídas, são cem milhões de hectares de terras de áreas degradadas. Isto precisa ser corrigido, além de outras mazelas que precisamos cuidar. Neste momento que, ao invés de olhar para a floresta, para a biodiversidade, para os recursos hídricos, para as áreas que já foram degradadas, assumimos o compromisso de, com os empresários, com os trabalhadores, com o cidadão, com os cientistas, com os servidores públicos deste país, com os jovens e com todos ao que se dispõem em recuperarmos esse prejuízo.

 

As pessoas estão discutindo no Congresso como flexibilizar o Código Florestal para perdoar 40 milhões hectares de áreas devastadas ilegalmente. Não queremos isso para o Brasil. Não podemos esquecer de dar uma resposta para isso. Quando estamos aqui para reconhecer os acertos, temos que estar também para reconhecer os erros e os grandes desafios que temos pela frente.

 

Por último, em termos de desequilíbrio, temos um mundo em que as grandes cidades vivem um verdadeiro caos urbano. É só pensar em como mora a maioria dos pobres, sujeitos a todo o tipo de sofrimento, de falta de segurança e, ainda, vendo sua vidas serem ceifadas nos momentos das chuvas e das enchentes, pelos desastres ambientais; das pessoas que, como foi dito, para chegar ao trabalho levam horas, para voltar para casa, para o repouso, para o local de estudar, levam o mesmo tanto ou mais de tempo. Temos um desafio com as cidades: o da mobilidade, o de termos um ambiente saudável, onde uma política séria de cuidado e de combate aos graves problemas da insegurança ambiental façam com que olhemos para os problemas que estão acontecendo, hoje, no Brasil, não como sendo naturais, porque, em 2007, cerca de dois milhões e meio de pessoas foram afetadas pelas chuvas e pelos desabamentos. Em 2009, foram cinco milhões e meio. Dá para continuar tratando isso como um problema natural? Não dá. É falta de prevenção, é falta de estratégia, é falta de ética e de visão para proteger essas pessoas que vivem em condições tão frágeis.

 

Feito o diagnóstico, eu gostaria de falar mais algumas questões. Reiteramos várias vezes que estamos juntos pelo Brasil que queremos. Gostei muito desse nosso slogan, dessa nossa frase convocatória. Por que gostei? “Juntos pelo Brasil que queremos”: as pessoas têm cobrado a mim e ao Guilherme, dos nossos apoiadores de campanha, enfim, dos nossos simpatizantes, que não temos política de aliança – pensando as políticas de aliança apenas como o velho cálculo pragmático: quem tem mais palanque, quem tem mais recursos, quem acha que tem mais votos porque se sente dono dos votos, então, diz a si mesmo, façamos um acordo, uma aliança e vamos dizer para o povo: fique em casa que, agora, vamos debater o que interessa a nós e, no dia 3 de outubro, vocês votem naqueles que decidirmos serem os melhores para vocês. Não temos esse tipo de aliança. Queremos sim fazer alianças com os núcleos vivos da sociedade, com os empresários, com os jovens, com as mulheres, com os idosos, com os índios, com os negros, com todos os brasileiros e brasileiras.

 

Este palanque está dividido em duas partes e, no meio, há um sanduíche. Isso é um símbolo. Não adianta achar que vai olhar só para trás, não tem como olhar só para frente. É preciso olhar para trás e para a frente ao mesmo tempo. Para trás, para aprender com os erros do passado e para consolidar as conquistas desse passado; para a frente, para não repetir os erros e para conquistar aquilo que ainda não foi conquistado. Por isso que, simbolicamente, estamos assim. Não há como olhar só para o passado ou só para o futuro, tem que ser para as duas coisas, e isso é perfeitamente possível. Por que estamos aqui, homens, mulheres, jovens, todos? Gostei muito de ter aqui o meu amigo Leonardo Boff. Obrigada, Leonardo, sei o sacrifício que fez para vir aqui, veio de aviãozinho. O Tiago – esses dois homens de barba branca, de cabelos brancos, vieram nos prestar um pouco de suas sabedorias e alegrias, com a espiritualidade, a filosofia e a poesia.

 

Temos aqui todas as coisas. Temos aqueles que põem a mão na mó e sabem dela tirar o pó do mais fino trigo para alimentar este país, como é o empresário Guilherme Leal. Estamos ricos dessa diversidade. Nossa aliança é de novo tipo. Por isso, estarmos “juntos pelo Brasil que queremos” é muito importante. O Brasil da economia de baixo carbono. Um dia desses um jornalista brincou comigo: tem-se que fazer um dicionário, o “marinês”, fizeram até uma matéria muito engraçada sobre essa estória do “marinês”, mas se não criarmos o novo na linguagem, na cultura, nos processos e nas estruturas, vamos ficar no mesmo lugar. É por isso que o mundo inteiro fala de economia de baixo carbono. O que é isso? É uma economia que não tem que ter tanta emissão de CO² para poder produzir a energia, o arroz, o feijão, para poder fazer com que o ônibus chegue até seu trabalho. A economia de baixo carbono é aquela que é capaz de produzir mais utilizando e destruindo cada vez menos os nossos recursos naturais.

 

Este é o Brasil que queremos. Um Brasil que tenha uma educação de qualidade, que seja colocada como a prioridade das prioridades. Como já falei anteriormente: isso é para mim um compromisso visceral de vida – hoje estou aqui graças a Deus, aos que me ajudaram e à educação. Ela precisa ser mais do que um direito, precisa ser uma força alavancadora da economia, alavancadora do conhecimento, da inovação, da tecnologia, do que faz melhorar o presente e sonhar que o futuro pode ser cada vez melhor. Isso a gente consegue com a educação. Sei que precisamos continuar enfrentando as desigualdades. Os 25 milhões que saíram da linha da pobreza já é um grande feito. Sei disso porque fui vice-presidente da Comissão de Combate à Pobreza e conheci os lugares mais pobres deste país. Foi, ali, que começou a surgir o Bolsa Família. Hoje, tenho a felicidade de ter o economista Ricardo Paes de Barros, que não está presente, porque é quinta-feira, está trabalhando no Ipea, liderando um programa social que chamamos Programa Social de Terceira Geração, que cria oportunidades para que todos possam desenvolver suas potencialidades. Todos nós as temos, o que nos faltam são as oportunidades.

 

Foi graças às frestas da educação que minha vida mudou, foi graças à educação de qualidade que um filho de classe média paulista, vindo de uma boa universidade federal, a USP, tornou-se um dos empresários mais prósperos do Brasil. Isso não se constitui ainda uma regra, foi uma exceção. Não estamos aqui exibindo nossas trajetórias para dizer como dizem os conservadores, os reacionários: “Olha como nós vencemos? Se for trabalhador, se for interessado, se não for preguiçoso, vai vencer.”Isso não é verdade, é uma agulha no palheiro que passa por essa fresta. Ele, com o FGTS dele, lá, na garagem da casa dele – olha, gente, cuidado, não vão todos saírem sacando todo o FGTS e botando uma empresa de cosméticos na garagem para não acabar com o cabelo dos outros por aí,  tem uma ciência por trás disso, é só uma brincadeira. É isso que fez nossas trajetórias se encontrarem agora: igualdade de oportunidades para as pessoas, política social de terceira geração, saímos da cesta básica, fomos para um bom programa de transferência de renda e, agora, vamos para um bom programa que mobiliza a sociedade brasileira, porque, junto com essa política, terá que vir um outro tipo de Estado, sair da idéia de Estado provedor, que faz as coisas para as pessoas, para um Estado mobilizador, que faz as coisas com as pessoas. Não é fazer para os pobres; é com os pobres que temos que fazer.

 

O Bolsa Família está nos ensinando isso, vamos aprofundar aquilo que chamamos de programa de terceira geração. Queremos ser um Brasil próspero, um Brasil sustentável em todas as suas dimensões, na sua dimensão econômica, social, cultural, política, na sua dimensão ética e na sua dimensão estética – porque não dizer? Quero homenagear na pessoa do Hélio e do André Danilo, a diversidade cultural deste país. Não temos que ter medo da diversidade, da liberdade de idéias, da liberdade de expressão, mas a expressão de todas as idéias para que não incorramos no erro de que o que pode se expressar são apenas algumas idéias.  Todas as idéias devem ser respeitadas, debatidas democraticamente.

 

As diretrizes do programa de governo que temos – não vou cansar vocês, há uma publicação que todos receberão–, ainda não é o programa, são apenas as diretrizes. A partir daqui vamos abrir um grande debate. Os meios modernos de comunicação permitem que possamos, mais do que em nossas reuniões partidárias, do grupo técnico, onde os economistas, os educadores, onde as pessoas que estão ajudando a fazer o Programa de Governo, como o Tarso, Sandroni, Neca e tantos outros, além desses, vocês também vão poder participar sugerindo idéias, inclusive como fez o Presidente Obama, não é? Temos uma inspiração nessa aprendizagem.

 

Vou citar apenas as diretrizes: política cidadã, baseada em princípios e valores é o primeiro ponto; educação para a qualidade de vida, para formar os cidadãos e cidadãs de uma sociedade que cada vez mais se organiza em rede; economia sustentável, fazendo com que juntemos o melhor da tradição ao melhor da modernidade para dar as respostas, para produzir o emprego, a habitação, a energia, a infraestrutura, a arte e a cultura do Brasil que a gente quer; terceira geração de programas sociais. Qualidade de vida e bem-estar para todos os brasileiros.

 

Meus companheiros e companheiras, estou fazendo uma mistura desse roteiro para fugir da tentação de ler, porque as diretrizes estão muito bem organizadas, muito bem feitas – Sirkis e Capô lideraram esse processo, juntamente com o Tasso, Pedro Leitão e tantos outros, mas, para honrar o compromisso de vocês, fiz uma negociação com o roteiro, atendendo a um apelo do Sirkis que diz o tempo todo: “Pelo amor de Deus, não leia, faça um discurso de improviso.”  Confesso que se eu fosse ler seria mil vez pior do que aconteceu com o meu amigo Guilherme Leal, que, muito corretamente, disse para vocês que está se iniciando. Quero mais é agradecer.

 

Quem vem de onde vim, quem tem registrado na alma, no corpo, na memória, tantas coisas, tantas estórias e estórias, já fica agradecida só por estar aqui olhando para vocês. Enquanto falavam os nossos apoiadores, simbolizando nossa aliança, fiquei pensando: que convenção comportada! Parece que estamos em uma sala de conferência, vem o Hélio e faz a conferência dele, vem o Leonardo, o André Danilo, o Álvaro, o Dudu, a Neca, todos que falaram aqui. Depois vem uma segunda bateria, aqueles que fazem uma espécie de conferência política, e aí entra o Gabeira, o Sirkis, a Micarla, o Guiherme e agora eu. Por que será?

 

Que coisa maravilhosa, geralmente nas convenções é um barulho danado, as pessoas nem querem ouvir o que os candidatos estão dizendo, basta levantar a bandeira, basta aplaudir. Vocês estão prestando atenção, vocês estão mais do que vendo, vocês estão percebendo, estão mais do que escutando, estão compreendendo a urgência e a emergência de que este Brasil não pode mais ser adiado para amanhã. Ele começa agora. É por isso que não vamos aceitar o veredito do plebiscito. Não há veredito. Ele vai ser revogado pelo povo brasileiro, vai se entregar por inteiro ao Brasil que a gente quer.  Muito obrigada. Para esta cabocla, já é muita coisa.

 

Companheiros, vou concluir. Eu havia perguntado para os meus assessores: o que é um discurso razoável? Eles disseram: 30 minutos. Eu disse: 40 minutos. Eles disseram: 50. E eu já estou com medo de ter passado, não quero aqui descumprir o trato, porque esse auditório é alugado e tem horário para acabar. Obrigada por estarem aqui.

 

Fico olhando, Xavier, aquela Marina gordinha que foi para o carnaval com samba no pé, não sei como conseguiu rebolar, não tenho tantas reservas cambiais como ela, mas espero que todos vocês me emprestem suas reservas – alguns até têm demais, cuidado – sua força, sua energia. O pessoal diz: vocês não têm muito dinheiro. Eu disse: não custa caro um palanque no coração. Um palanque no coração faz com que o palhaço suba aqui e faça seu improviso, criando uma situação, Zequinha. Eu queria aqui dizer, na tua pessoa e do nosso líder, o Edson Duarte, que vocês têm feito uma luta de gigantes na defesa na defesa do Código Florestal. Obrigada, Zequinha, obrigada Fábio Feldmann, por você terem colocado o artigo 225 que protege os rios, as florestas, a terra, o ar, e tudo o que nela há.

 

O Brasil, nos últimos 16 anos, teve a oportunidade de ter como Presidente da República duas pessoas profundamente marcadas por suas vidas e trajetórias públicas. O primeiro, um sociólogo bem sucedido, um homem filho da cátedra brasileira que se dispôs a servir o País num trincado e difícil terreno da política, onde poucos sobrevivem à velha lógica da “dita” e da “desdita”, mas com o Plano Real pôde dizer muita coisa, além do que precisamos corrigir, aquilo que precisa ser de fato desdito.

 

O segundo, um operário. Sobrevivente das mazelas do Brasil e de si mesmo, que se dispôs, a partir de suas próprias raízes, a alimentar e sustentar, por mais de duas décadas, o Brasil, com esperanças e sonhos, até ver a mesa posta das realidades mais expostas em dúvidas acertos e erros. Esses foram os presidentes Lula e Fernando Henrique, que não tenho problema de reconhecer e de criticar.

 

Fiquei no Governo durante cinco anos, nunca fiz um discurso fácil para o presidente dizendo: sim senhor, sim senhor, quando eu achava que o prejudicava e prejudicava o Brasil e prejudicava aquilo que são os interesses estratégicos da gestão pública, mas nunca me neguei a construir as melhores soluções para ajudá-los a fazer com que o Brasil saísse de 27 mil quilômetros quadrados de floresta devastada para sete mil no ano passado. Agradeço por ter feito parte desse governo.

 

Não posso deixar de dizer para vocês que estou aqui sem uma dorzinha no coração. É claro que estou. Sei que neste momento está tendo a convenção do Jorge, do Tião, dos meus companheiros de luta. Peço a Deus que eles continuem vitoriosos. Estamos separados momentaneamente, mas vamos nos encontrar no segundo turno, se Deus quiser. Eu disse que este país foi marcado pela trajetória de dois homens, um da cátedra e o outro da luta operária, que simbolizam a democracia brasileira. Quero agora falar para vocês uma coisa que fiz, para terminar aqui. Que marcas o povo brasileiro quer que tenha o próximo presidente ou a futura presidenta do Brasil? Que marcas dever ter? Essa resposta, por inteiro, só o povo brasileiro poderá dizer quando terminarem as eleições.

 

Não podemos ser ansiosos, não temos como entrar no coração do povo, deixemos que ele encante, se aquebrante, faça de novo tudo novo e dê a resposta no final das eleições. Enquanto o povo debate, dialoga, converge, diverge, se afasta, se junta e coliga, permitam só que,  no afã de ajudarem suas decisões, lhes diga:  Que marcas trago no peito? Que marcas trago nas mãos? Que marcas trago da condição feminina? Que marcas trago do chão? Que marcas trago das matas? Que marcas trago das atas, dos registros, dos porões? Que marcas trago em meus olhos e em meus sonhos, vontade, medo e paixões? Que marcas trago das cidades de encontro e separação? Que marcas trago da fé de quem crê para ver o quão este Brasil será gigante também pelas nossas mãos?

 

Por fim, que o coração que povo brasileiro quer ver dirigindo a República Federativa do Brasil, a partir do dia 1º de janeiro de 2011, seja o coração dos 190 milhões de brasileiros guiados por suas próprias decisões. Essas marcas, esses registros, é o quero que levem desta convenção.

 

Eu te agradeço, Guilherme, porque você está aqui.  Concluo dando um testemunho: tenho um amigo muito importante, é quase um irmão, meio filho, meio irmão, o Binho, o Governador do Acre. O Binho o Fábio, meu marido, conhece muito bem, trabalha com ele, é seu secretário. Ele foi uma pessoa muito importante na minha vida. Era um menino de classe média alta e eu uma menina igrejeira da comunidade de base que me vestia mal. Achavam que eu me vestia mal, eu me achava a maior charmosa, nos meus vestidinhos de chita que minha mãe fazia e achava que eu era tão bonita, mas o pessoal achava que eu era feia.

 

O Binho me pegou pela mão e me ensinou a transitar em lugares que eu não conseguia entrar sozinha, me ajudou a comprar os livros, me trazia para os congressos de juventude, essas coisas que o Eduardo e o pessoal aqui continuam fazendo. Agradeço imensamente a tudo o que o Binho me ensinou.

 

Estou aqui, agora, com 52 anos. A exemplo do que o Binho fez, lá no passado, quando me ensinou o que era música popular brasileira, sentou no chão comigo, botou o disco e foi me ensinar os vários gêneros de música do Brasil, porque eu só conhecia o forró e a música caipira. Foi o mediador cultural para mim.

 

Agora estou aqui com um novo mediador cultural, aos 52 anos, o empresário Guilherme Leal. Estamos fazendo esse par político. Ele está me ensinando muitas coisas, diz que está aprendendo muito comigo, mas a maior aprendizagem que temos é a aprendizagem com o Brasil. Estou muito feliz de estarmos aqui.

 

Que cada um de vocês possa levar o compromisso de estarmos juntos pelo Brasil que queremos. Que cada um que está nos assistindo pela internet possa assumir o compromisso pelo Brasil que queremos. Que cada homem, que cada mulher, que têm fé, possam rezar, os que não têm, que possam torcer para que a gente possa fazer com que, no dia 1º de janeiro de 2011, o Brasil possa ter a primeira mulher negra, de origem pobre, presidente da República Federativa do Brasil. Um grande abraço, um beijo no coração de vocês.

 

Quando se vê um empresário muito tinhoso, muito acostumado à linguagem da política, é porque está nela há muito, mas, talvez, de forma repetida. Quem faz política com “P” maiúsculo não treina como falar, apenas faz como gostaria de ver os políticos fazendo. Foi isso o que você fez. Obrigada, Guilherme. O Guilherme fez uma fala muito bonita dizendo que, na lógica do século 20, nós não teríamos nos encontrado. De fato ele tem razão. Mas eu queria aqui fazer uma revelação: o empresário Guilherme Leal, que achamos sempre que ele é paulista, é filho de paraenses, comedor de açaí. Então, o nosso encontro também está nas origens, também está nas raízes que alimentam esse nosso coração. Quero cumprimentar o presidente do meu partido, o nosso companheiro Luiz França Penna. Muito obrigada Penna. Vocês, do Partido Verde, que construíram esse partido, durante esses 24 anos, para que hoje pudéssemos ser recebidos, partidários e não-partidários, nesta festa que é de todos os brasileiros.

 

Cumprimento, de modo especial, uma pessoa que, para mim, é muito significativa, altamente significativa: meu pai, o velho Pedro Agostinho. Fique de pé, papai. Fique de pé um pouquinho, papai, Sr. Pedro Augusto da Silva. Obrigada papai, muito obrigada por você estar aqui. Quero cumprimentar esse homem, ele é responsável, na origem, por tudo o que está acontecendo. Ele deve se lembrar: no dia em que, com 16 anos, ainda com saúde frágil, não é para aumentar a pressão, tem 82 anos, com carinha de 81 – ele não vai gostar disso.  Lembra papai? Pai, vou estudar porque o meu sonho é de ser freira. Você quer ir agora ou na semana que vem? Se você não tivesse essa visão, essa cabeça, esse coração, eu, hoje, não estaria ocupando este lugar. Então, você, na origem, junto com todos aqueles que me ajudaram e a força do nosso Deus, também é responsável por isso. Agradeço à minha querida família, o meu sogro, Sr. Paulo, que está aqui junto com a minha sogra, Dona Neide, que virou uma quase mãe – perdi minha mãe aos 14 anos. Daí ser tão difícil esse homem ter deixado a sua segunda filha, a mais velha já havia se casado, deixar seus seis irmãos e ir para essa abençoada aventura que nos faz estar aqui.

 

Agradeço ao meu marido Fábio, à minha filha Shalon, ao meu filho Danilo, à minha filha Moara, à minha filha Maiara. Vocês são a principal assistência e sustentação de tudo o que sou, de tudo que faço. Obrigada por esse amor, por esse cuidado e, podem ter certeza, por essa doação – essa é uma família que se doa para que esse “palitinho”, em plena forma, esteja se colocando neste lugar de mantenedora de utopias. Agradeço às minhas irmãs Lúcia e Dóia que estão aqui representando as outras seis irmãs, somos sete irmãs. Ao meu irmão Arleir, o único homem da família e, por isso, um sofredor no meio de mulheres tão fortes. É um sobrevivente. Agradeço aos meus sobrinhos presentes, o Eudes, o Tiago, o André, a Andréia, enfim, a todos eles. Eles vieram representar uma família que é enorme – família de nordestinos não para de crescer nunca, é pior do que preá.

 

Enfim, saúdo meus companheiros de partido, meus companheiros do Partido Verde. Cumprimento Alfredo Sirkis, que fez esse lindo discurso. Sirkis, muito obrigada, você até agora trouxe essa pré-campanha, como coordenador, e me disse que quando esse período chegasse você iria assumir essa tarefa no Rio de Janeiro, como coordenador e candidato a deputado federal que, se Deus quiser, será eleito. Cumprimento meu companheiro, futuro governador do Estado do Rio de Janeiro, sempre digo: meu professor Fernando Gabeira. Obrigada, Gabeira, por você ser quem é. Cumprimento um dos idealizadores persistente, do convite para que eu entrasse no PV, quase inconveniente, meu companheiro candidato ao governo de Pernambuco, Xavier. Cumprimento as mulheres do Partido Verde na pessoa de minha companheira, Micarla, que fez esse lindo discurso. Obrigada, Micarla. Você é a primeira mulher do Partido Verde de capital da América Latina e Caribe. Você não é pouca coisa. Marcos Antônio Mroz, meu companheiro Fábio Feldman que representam, junto com o Gabeira, todos os candidatos a governador.

 

Cumprimento aqueles que entraram no PV junto comigo, simbolicamente representados nas pessoas de Luciano Zicca, Adriana Ramos e Pedro Ivo. Agradeço e cumprimento as pessoas que pertencem a outros partidos, que sei temos muitos aqui. Cumprimento o coordenador desta campanha a partir de agora, meu companheiro do Ministério do Meio Ambiente que, com trajetórias igualmente diferentes, mas com o mesmo DNA do socioambientalismo. Ele me ajudou no Ministério do Meio Ambiente: João Paulo Capobianco. Obrigada, Capô. Cumprimento todas as mulheres na pessoa de minha recém-amiga, essa descoberta maravilhosa que cuida do programa de educação, Neca Setúbal, Agradeço a você, Neca, por tudo isso. Ricardo Young agradeço a você juntamente com o Álvaro, um grupo de empresários que assumiram a sustentabilidade como parte do seu envolvimento de vida empresarial com responsabilidade ambiental, social, colocando a ética como parte do seu fazer empresarial. Cumprimento meus companheiros da sociedade civil, associações, sindicatos, associações não-governamentais. Cumprimento também aqueles que representam o mundo acadêmico; os gestores públicos na pessoa do Eduardo Jorge. Agradeço a presença de todos os trabalhadores e trabalhadoras, profissionais liberais, à juventude tão bem representada aqui pelo idealizador do Movimento Marina Silva, Eduardo Rombauer. Obrigada, Dudu. Você, como todo jovem, tem a ousadia de antecipar o futuro. Agradeço aos intelectuais na pessoa do Dr. Paulo Sandroni, Eduardo Viola, José Eli da Veiga, Beto Ricardo e tantos outros que não tenho como mencionar.

 

Agradeço e cumprimento todas as crianças que me homenagearam – inclusive aquele jovem, que sentou na cadeira do vice-presidente, já colocando a que ele veio, na pessoa do Daniel, filho do Carlos Vicente, do Ives e da Iara. Quero cumprimentar todas as crianças. Uma saudação especial às pessoas que não estão presentes, mas que, igualmente, são importantes na minha vida: o bispo Dom Moacir Grecchi, alguém que foi responsável não só por muito do que aprendi na política, mas pela minha própria sobrevivência quando me ajudou a salvar a vida. Quero agradecer meus pastores, o pastor Sóstenes Apolo e a Pastora Valnice, a pastora Eliana, na pessoa deles, os que me dão sustentação, apoio espiritual e que me ensinaram que neste País laico a grande bênção é sermos um Estado laico para que possamos respeitar todos os que têm crença, todos os que têm crença diferente e todos aqueles que não têm. Isto é, de fato, uma grande conquista da nossa democracia. Por último, saúdo os 190 milhões de brasileiras e brasileiros, de todos os lugares, de todas as cores, de todas as raças, de todas as formas e de todas as graças deste Brasil diverso que temos, e que nos dá orgulho de sermos brasileiros.

 

Meus irmãos e irmãs estamos aqui para um desafio, um desafio que deve, em primeiro lugar, colocar quais são as referências que me trazem e que nos fazem chegar até aqui. Não quero, Gabeira, Sirkis, Guilherme, meus companheiros e companheiras, fazer um discurso em que vocês não estejam incluídos, os que estão aqui, os que estão nos assistindo e os que ainda vão nos assistir. Baseio-me em alguns referenciais. O primeiro deles – aprendi com o Bispo Dom Mauro Morelli – lutar pelos que não são, pelos que não sabem, pelos que não podem, pelos que não têm, para que um dia saibam, possam e tenham. Outro referencial, penso no da juventude. Sempre digo que os jovens não se envolvem em projeto de poder pelo poder, Shalon, você que é a minha filha mais velha. Os jovens, as crianças se envolvem onde há o cheiro da mudança, da transformação; que é a transformação responsável baseada em engenharia, processos e estruturas concretas, mas não abrem mão de sonhar para ver mudar o futuro que a gente quer cada vez melhor para nossos filhos e netos. Eu quero agradecer a essa juventude que me trouxe até aqui, como sendo os primeiros a terem sonhado com essa idéia, Guilherme, de termos, hoje, uma candidatura. Este projeto está em cima de alguns pontos – não posso deixar de fazer, como professora de ensino médio, sempre como faço, primeiro, uma contextualização.

 

Por isso, vou partir do Brasil que hoje temos, um Brasil que não precisa olvidar suas conquistas, mas também não precisa fazer uma apologia cega delas, esquecendo que ainda temos muitos desafios e de que ainda temos muitos erros a serem corrigidos. Temos que reconhecer que o Brasil dos últimos anos foi capaz de grandes conquistas, a começar pela conquista da democracia, vinte anos de democracia reconquistada e estabilizada na realidade do Brasil, dezesseis anos em que este País tem lutado por estabilidade econômica e conseguiu fazer com que tivéssemos uma situação em que há controle de inflação, em que a crise que atravessamos, ainda que tenha nos afetado, não nos abalou. E estamos de pé, crescendo cerca de 9% em relação ao ano passado, e com uma perspectiva boa de crescimento, ainda que ele precise ser ressignificado para que não continuemos no mesmo diapasão do desenvolvimento pelo desenvolvimento, do crescimento pelo crescimento.

 

Essa é uma conquista que não podemos esquecer. Temos que lembrar que temos uma sociedade civil que foi capaz de se tornar rigorosa, capaz de cobrar, capaz de apresentar propostas, de ajudar a implementá-las e de corrigi-las quando não estão no rumo certo.

 

Essa sociedade civil, eu diria, cresceu juntamente com os formadores de opinião e foi capaz de construir algo nesses últimos 30 anos que irá surpreender a si mesma e surpreender o Brasil, surpreenderá, principalmente, aqueles que ficaram com a velha política, com uma única forma de tentar dar resposta para a vida das pessoas e para o Brasil.

 

Temos ainda outra conquista: a redução da pobreza. Vinte e cinco milhões de pessoas saíram da linha da pobreza nesses últimos oito anos. Isso não é muita coisa, não é pouca coisa. Não preciso, em hipótese alguma, porque sou candidata, agora, por outro partido, numa outra articulação, negar esse feito e essa grande conquista do operário Luiz Inácio Lula da Silva, que quebrou o paradigma. Antigamente se dizia: é preciso crescer para depois distribuir o bolo. O Lula mostrou que foi distribuindo que continuamos e que crescemos. Então, essa conquista não pode ser olvidada.

 

Eu não poderia deixar de falar do que eu disse, os desafios, os problemas, os erros ainda a serem corrigidos. Quais são eles? O erro da desigualdade e de oportunidades. Esse país gigante ainda tem 18% dos seus jovens analfabetos. Sei o que é ser analfabeto, o que é ver pela metade, escutar pela metade, sei o que é ter chegado em Rio Branco, com 16 anos, Guilherme, e ficar mais de vinte minutos olhando para um lado, olhando para o outro, para perguntar qual era o ônibus que ia para a Estação Experimental. Por que eu estava perguntando e por que eu tinha vergonha de fazer essa pergunta? A placa dizia Estação Experimental, mas para quem não sabia ler, a placa e nada era a mesma coisa. Tomei coragem e perguntei para um vendedor de rua: qual é o ônibus que se pega para ir à Estação Experimental? Obviamente, ele me olhou, sabendo que pela minha indumentária, pelas minhas mãozinhas sujas da fumaça de fazer o látex que fica preta como um carvão, ele sabia que eu era uma menina analfabeta do seringal.

 

Este país ainda tem desigualdade de oportunidades e ainda tem 18% dos seus jovens analfabetos. Este país ainda está com estagnação da qualidade do ensino. Quarenta por cento das crianças que entram no ensino fundamental não conseguem chegar até a oitava série. Precisamos superar este desafio. Justiça seja feita. Hoje, temos a sensibilidade de 100% das nossas crianças irem para a escola, mas a escola precisa ser criativa, produtiva, precisa valorizar os professores, precisa dar formação continuada, precisa valorizá-los econômica e simbolicamente para que sintamos orgulho de dar aulas. Este desafio ainda não foi superado no Brasil. Ainda temos um país que dilapida o seu imenso patrimônio natural. São milhões e milhões de hectares de florestas destruídas, são cem milhões de hectares de terras de áreas degradadas. Isto precisa ser corrigido, além de outras mazelas que precisamos cuidar. Neste momento que, ao invés de olhar para a floresta, para a biodiversidade, para os recursos hídricos, para as áreas que já foram degradadas, assumimos o compromisso de, com os empresários, com os trabalhadores, com o cidadão, com os cientistas, com os servidores públicos deste país, com os jovens e com todos ao que se dispõem em recuperarmos esse prejuízo.

 

As pessoas estão discutindo no Congresso como flexibilizar o Código Florestal para perdoar 40 milhões hectares de áreas devastadas ilegalmente. Não queremos isso para o Brasil. Não podemos esquecer de dar uma resposta para isso. Quando estamos aqui para reconhecer os acertos, temos que estar também para reconhecer os erros e os grandes desafios que temos pela frente.

 

Por último, em termos de desequilíbrio, temos um mundo em que as grandes cidades vivem um verdadeiro caos urbano. É só pensar em como mora a maioria dos pobres, sujeitos a todo o tipo de sofrimento, de falta de segurança e, ainda, vendo sua vidas serem ceifadas nos momentos das chuvas e das enchentes, pelos desastres ambientais; das pessoas que, como foi dito, para chegar ao trabalho levam horas, para voltar para casa, para o repouso, para o local de estudar, levam o mesmo tanto ou mais de tempo. Temos um desafio com as cidades: o da mobilidade, o de termos um ambiente saudável, onde uma política séria de cuidado e de combate aos graves problemas da insegurança ambiental façam com que olhemos para os problemas que estão acontecendo, hoje, no Brasil, não como sendo naturais, porque, em 2007, cerca de dois milhões e meio de pessoas foram afetadas pelas chuvas e pelos desabamentos. Em 2009, foram cinco milhões e meio. Dá para continuar tratando isso como um problema natural? Não dá. É falta de prevenção, é falta de estratégia, é falta de ética e de visão para proteger essas pessoas que vivem em condições tão frágeis.

 

Feito o diagnóstico, eu gostaria de falar mais algumas questões. Reiteramos várias vezes que estamos juntos pelo Brasil que queremos. Gostei muito desse nosso slogan, dessa nossa frase convocatória. Por que gostei? “Juntos pelo Brasil que queremos”: as pessoas têm cobrado a mim e ao Guilherme, dos nossos apoiadores de campanha, enfim, dos nossos simpatizantes, que não temos política de aliança – pensando as políticas de aliança apenas como o velho cálculo pragmático: quem tem mais palanque, quem tem mais recursos, quem acha que tem mais votos porque se sente dono dos votos, então, diz a si mesmo, façamos um acordo, uma aliança e vamos dizer para o povo: fique em casa que, agora, vamos debater o que interessa a nós e, no dia 3 de outubro, vocês votem naqueles que decidirmos serem os melhores para vocês. Não temos esse tipo de aliança. Queremos sim fazer alianças com os núcleos vivos da sociedade, com os empresários, com os jovens, com as mulheres, com os idosos, com os índios, com os negros, com todos os brasileiros e brasileiras.

 

Este palanque está dividido em duas partes e, no meio, há um sanduíche. Isso é um símbolo. Não adianta achar que vai olhar só para trás, não tem como olhar só para frente. É preciso olhar para trás e para a frente ao mesmo tempo. Para trás, para aprender com os erros do passado e para consolidar as conquistas desse passado; para a frente, para não repetir os erros e para conquistar aquilo que ainda não foi conquistado. Por isso que, simbolicamente, estamos assim. Não há como olhar só para o passado ou só para o futuro, tem que ser para as duas coisas, e isso é perfeitamente possível. Por que estamos aqui, homens, mulheres, jovens, todos? Gostei muito de ter aqui o meu amigo Leonardo Boff. Obrigada, Leonardo, sei o sacrifício que fez para vir aqui, veio de aviãozinho. O Tiago – esses dois homens de barba branca, de cabelos brancos, vieram nos prestar um pouco de suas sabedorias e alegrias, com a espiritualidade, a filosofia e a poesia.

 

Temos aqui todas as coisas. Temos aqueles que põem a mão na mó e sabem dela tirar o pó do mais fino trigo para alimentar este país, como é o empresário Guilherme Leal. Estamos ricos dessa diversidade. Nossa aliança é de novo tipo. Por isso, estarmos “juntos pelo Brasil que queremos” é muito importante. O Brasil da economia de baixo carbono. Um dia desses um jornalista brincou comigo: tem-se que fazer um dicionário, o “marinês”, fizeram até uma matéria muito engraçada sobre essa estória do “marinês”, mas se não criarmos o novo na linguagem, na cultura, nos processos e nas estruturas, vamos ficar no mesmo lugar. É por isso que o mundo inteiro fala de economia de baixo carbono. O que é isso? É uma economia que não tem que ter tanta emissão de CO² para poder produzir a energia, o arroz, o feijão, para poder fazer com que o ônibus chegue até seu trabalho. A economia de baixo carbono é aquela que é capaz de produzir mais utilizando e destruindo cada vez menos os nossos recursos naturais.

 

Este é o Brasil que queremos. Um Brasil que tenha uma educação de qualidade, que seja colocada como a prioridade das prioridades. Como já falei anteriormente: isso é para mim um compromisso visceral de vida – hoje estou aqui graças a Deus, aos que me ajudaram e à educação. Ela precisa ser mais do que um direito, precisa ser uma força alavancadora da economia, alavancadora do conhecimento, da inovação, da tecnologia, do que faz melhorar o presente e sonhar que o futuro pode ser cada vez melhor. Isso a gente consegue com a educação. Sei que precisamos continuar enfrentando as desigualdades. Os 25 milhões que saíram da linha da pobreza já é um grande feito. Sei disso porque fui vice-presidente da Comissão de Combate à Pobreza e conheci os lugares mais pobres deste país. Foi, ali, que começou a surgir o Bolsa Família. Hoje, tenho a felicidade de ter o economista Ricardo Paes de Barros, que não está presente, porque é quinta-feira, está trabalhando no Ipea, liderando um programa social que chamamos Programa Social de Terceira Geração, que cria oportunidades para que todos possam desenvolver suas potencialidades. Todos nós as temos, o que nos faltam são as oportunidades.

 

Foi graças às frestas da educação que minha vida mudou, foi graças à educação de qualidade que um filho de classe média paulista, vindo de uma boa universidade federal, a USP, tornou-se um dos empresários mais prósperos do Brasil. Isso não se constitui ainda uma regra, foi uma exceção. Não estamos aqui exibindo nossas trajetórias para dizer como dizem os conservadores, os reacionários: “Olha como nós vencemos? Se for trabalhador, se for interessado, se não for preguiçoso, vai vencer.”Isso não é verdade, é uma agulha no palheiro que passa por essa fresta. Ele, com o FGTS dele, lá, na garagem da casa dele – olha, gente, cuidado, não vão todos saírem sacando todo o FGTS e botando uma empresa de cosméticos na garagem para não acabar com o cabelo dos outros por aí,  tem uma ciência por trás disso, é só uma brincadeira. É isso que fez nossas trajetórias se encontrarem agora: igualdade de oportunidades para as pessoas, política social de terceira geração, saímos da cesta básica, fomos para um bom programa de transferência de renda e, agora, vamos para um bom programa que mobiliza a sociedade brasileira, porque, junto com essa política, terá que vir um outro tipo de Estado, sair da idéia de Estado provedor, que faz as coisas para as pessoas, para um Estado mobilizador, que faz as coisas com as pessoas. Não é fazer para os pobres; é com os pobres que temos que fazer.

 

O Bolsa Família está nos ensinando isso, vamos aprofundar aquilo que chamamos de programa de terceira geração. Queremos ser um Brasil próspero, um Brasil sustentável em todas as suas dimensões, na sua dimensão econômica, social, cultural, política, na sua dimensão ética e na sua dimensão estética – porque não dizer? Quero homenagear na pessoa do Hélio e do André Danilo, a diversidade cultural deste país. Não temos que ter medo da diversidade, da liberdade de idéias, da liberdade de expressão, mas a expressão de todas as idéias para que não incorramos no erro de que o que pode se expressar são apenas algumas idéias.  Todas as idéias devem ser respeitadas, debatidas democraticamente.

 

As diretrizes do programa de governo que temos – não vou cansar vocês, há uma publicação que todos receberão–, ainda não é o programa, são apenas as diretrizes. A partir daqui vamos abrir um grande debate. Os meios modernos de comunicação permitem que possamos, mais do que em nossas reuniões partidárias, do grupo técnico, onde os economistas, os educadores, onde as pessoas que estão ajudando a fazer o Programa de Governo, como o Tarso, Sandroni, Neca e tantos outros, além desses, vocês também vão poder participar sugerindo idéias, inclusive como fez o Presidente Obama, não é? Temos uma inspiração nessa aprendizagem.

 

Vou citar apenas as diretrizes: política cidadã, baseada em princípios e valores é o primeiro ponto; educação para a qualidade de vida, para formar os cidadãos e cidadãs de uma sociedade que cada vez mais se organiza em rede; economia sustentável, fazendo com que juntemos o melhor da tradição ao melhor da modernidade para dar as respostas, para produzir o emprego, a habitação, a energia, a infraestrutura, a arte e a cultura do Brasil que a gente quer; terceira geração de programas sociais. Qualidade de vida e bem-estar para todos os brasileiros.

 

Meus companheiros e companheiras, estou fazendo uma mistura desse roteiro para fugir da tentação de ler, porque as diretrizes estão muito bem organizadas, muito bem feitas – Sirkis e Capô lideraram esse processo, juntamente com o Tasso, Pedro Leitão e tantos outros, mas, para honrar o compromisso de vocês, fiz uma negociação com o roteiro, atendendo a um apelo do Sirkis que diz o tempo todo: “Pelo amor de Deus, não leia, faça um discurso de improviso.”  Confesso que se eu fosse ler seria mil vez pior do que aconteceu com o meu amigo Guilherme Leal, que, muito corretamente, disse para vocês que está se iniciando. Quero mais é agradecer.

 

Quem vem de onde vim, quem tem registrado na alma, no corpo, na memória, tantas coisas, tantas estórias e estórias, já fica agradecida só por estar aqui olhando para vocês. Enquanto falavam os nossos apoiadores, simbolizando nossa aliança, fiquei pensando: que convenção comportada! Parece que estamos em uma sala de conferência, vem o Hélio e faz a conferência dele, vem o Leonardo, o André Danilo, o Álvaro, o Dudu, a Neca, todos que falaram aqui. Depois vem uma segunda bateria, aqueles que fazem uma espécie de conferência política, e aí entra o Gabeira, o Sirkis, a Micarla, o Guiherme e agora eu. Por que será?

 

Que coisa maravilhosa, geralmente nas convenções é um barulho danado, as pessoas nem querem ouvir o que os candidatos estão dizendo, basta levantar a bandeira, basta aplaudir. Vocês estão prestando atenção, vocês estão mais do que vendo, vocês estão percebendo, estão mais do que escutando, estão compreendendo a urgência e a emergência de que este Brasil não pode mais ser adiado para amanhã. Ele começa agora. É por isso que não vamos aceitar o veredito do plebiscito. Não há veredito. Ele vai ser revogado pelo povo brasileiro, vai se entregar por inteiro ao Brasil que a gente quer.  Muito obrigada. Para esta cabocla, já é muita coisa.

 

Companheiros, vou concluir. Eu havia perguntado para os meus assessores: o que é um discurso razoável? Eles disseram: 30 minutos. Eu disse: 40 minutos. Eles disseram: 50. E eu já estou com medo de ter passado, não quero aqui descumprir o trato, porque esse auditório é alugado e tem horário para acabar. Obrigada por estarem aqui.

 

Fico olhando, Xavier, aquela Marina gordinha que foi para o carnaval com samba no pé, não sei como conseguiu rebolar, não tenho tantas reservas cambiais como ela, mas espero que todos vocês me emprestem suas reservas – alguns até têm demais, cuidado – sua força, sua energia. O pessoal diz: vocês não têm muito dinheiro. Eu disse: não custa caro um palanque no coração. Um palanque no coração faz com que o palhaço suba aqui e faça seu improviso, criando uma situação, Zequinha. Eu queria aqui dizer, na tua pessoa e do nosso líder, o Edson Duarte, que vocês têm feito uma luta de gigantes na defesa na defesa do Código Florestal. Obrigada, Zequinha, obrigada Fábio Feldmann, por você terem colocado o artigo 225 que protege os rios, as florestas, a terra, o ar, e tudo o que nela há.

 

O Brasil, nos últimos 16 anos, teve a oportunidade de ter como Presidente da República duas pessoas profundamente marcadas por suas vidas e trajetórias públicas. O primeiro, um sociólogo bem sucedido, um homem filho da cátedra brasileira que se dispôs a servir o País num trincado e difícil terreno da política, onde poucos sobrevivem à velha lógica da “dita” e da “desdita”, mas com o Plano Real pôde dizer muita coisa, além do que precisamos corrigir, aquilo que precisa ser de fato desdito.

 

O segundo, um operário. Sobrevivente das mazelas do Brasil e de si mesmo, que se dispôs, a partir de suas próprias raízes, a alimentar e sustentar, por mais de duas décadas, o Brasil, com esperanças e sonhos, até ver a mesa posta das realidades mais expostas em dúvidas acertos e erros. Esses foram os presidentes Lula e Fernando Henrique, que não tenho problema de reconhecer e de criticar.

 

Fiquei no Governo durante cinco anos, nunca fiz um discurso fácil para o presidente dizendo: sim senhor, sim senhor, quando eu achava que o prejudicava e prejudicava o Brasil e prejudicava aquilo que são os interesses estratégicos da gestão pública, mas nunca me neguei a construir as melhores soluções para ajudá-los a fazer com que o Brasil saísse de 27 mil quilômetros quadrados de floresta devastada para sete mil no ano passado. Agradeço por ter feito parte desse governo.

 

Não posso deixar de dizer para vocês que estou aqui sem uma dorzinha no coração. É claro que estou. Sei que neste momento está tendo a convenção do Jorge, do Tião, dos meus companheiros de luta. Peço a Deus que eles continuem vitoriosos. Estamos separados momentaneamente, mas vamos nos encontrar no segundo turno, se Deus quiser. Eu disse que este país foi marcado pela trajetória de dois homens, um da cátedra e o outro da luta operária, que simbolizam a democracia brasileira. Quero agora falar para vocês uma coisa que fiz, para terminar aqui. Que marcas o povo brasileiro quer que tenha o próximo presidente ou a futura presidenta do Brasil? Que marcas dever ter? Essa resposta, por inteiro, só o povo brasileiro poderá dizer quando terminarem as eleições.

 

Não podemos ser ansiosos, não temos como entrar no coração do povo, deixemos que ele encante, se aquebrante, faça de novo tudo novo e dê a resposta no final das eleições. Enquanto o povo debate, dialoga, converge, diverge, se afasta, se junta e coliga, permitam só que,  no afã de ajudarem suas decisões, lhes diga:  Que marcas trago no peito? Que marcas trago nas mãos? Que marcas trago da condição feminina? Que marcas trago do chão? Que marcas trago das matas? Que marcas trago das atas, dos registros, dos porões? Que marcas trago em meus olhos e em meus sonhos, vontade, medo e paixões? Que marcas trago das cidades de encontro e separação? Que marcas trago da fé de quem crê para ver o quão este Brasil será gigante também pelas nossas mãos?

 

Por fim, que o coração que povo brasileiro quer ver dirigindo a República Federativa do Brasil, a partir do dia 1º de janeiro de 2011, seja o coração dos 190 milhões de brasileiros guiados por suas próprias decisões. Essas marcas, esses registros, é o quero que levem desta convenção.

 

Eu te agradeço, Guilherme, porque você está aqui.  Concluo dando um testemunho: tenho um amigo muito importante, é quase um irmão, meio filho, meio irmão, o Binho, o Governador do Acre. O Binho o Fábio, meu marido, conhece muito bem, trabalha com ele, é seu secretário. Ele foi uma pessoa muito importante na minha vida. Era um menino de classe média alta e eu uma menina igrejeira da comunidade de base que me vestia mal. Achavam que eu me vestia mal, eu me achava a maior charmosa, nos meus vestidinhos de chita que minha mãe fazia e achava que eu era tão bonita, mas o pessoal achava que eu era feia.

 

O Binho me pegou pela mão e me ensinou a transitar em lugares que eu não conseguia entrar sozinha, me ajudou a comprar os livros, me trazia para os congressos de juventude, essas coisas que o Eduardo e o pessoal aqui continuam fazendo. Agradeço imensamente a tudo o que o Binho me ensinou.

 

Estou aqui, agora, com 52 anos. A exemplo do que o Binho fez, lá no passado, quando me ensinou o que era música popular brasileira, sentou no chão comigo, botou o disco e foi me ensinar os vários gêneros de música do Brasil, porque eu só conhecia o forró e a música caipira. Foi o mediador cultural para mim.

 

Agora estou aqui com um novo mediador cultural, aos 52 anos, o empresário Guilherme Leal. Estamos fazendo esse par político. Ele está me ensinando muitas coisas, diz que está aprendendo muito comigo, mas a maior aprendizagem que temos é a aprendizagem com o Brasil. Estou muito feliz de estarmos aqui.

 

Que cada um de vocês possa levar o compromisso de estarmos juntos pelo Brasil que queremos. Que cada um que está nos assistindo pela internet possa assumir o compromisso pelo Brasil que queremos. Que cada homem, que cada mulher, que têm fé, possam rezar, os que não têm, que possam torcer para que a gente possa fazer com que, no dia 1º de janeiro de 2011, o Brasil possa ter a primeira mulher negra, de origem pobre, presidente da República Federativa do Brasil. Um grande abraço, um beijo no coração de vocês.

 

Quando se vê um empresário muito tinhoso, muito acostumado à linguagem da política, é porque está nela há muito, mas, talvez, de forma repetida. Quem faz política com “P” maiúsculo não treina como falar, apenas faz como gostaria de ver os políticos fazendo. Foi isso o que você fez. Obrigada, Guilherme. O Guilherme fez uma fala muito bonita dizendo que, na lógica do século 20, nós não teríamos nos encontrado. De fato ele tem razão. Mas eu queria aqui fazer uma revelação: o empresário Guilherme Leal, que achamos sempre que ele é paulista, é filho de paraenses, comedor de açaí. Então, o nosso encontro também está nas origens, também está nas raízes que alimentam esse nosso coração. Quero cumprimentar o presidente do meu partido, o nosso companheiro Luiz França Penna. Muito obrigada Penna. Vocês, do Partido Verde, que construíram esse partido, durante esses 24 anos, para que hoje pudéssemos ser recebidos, partidários e não-partidários, nesta festa que é de todos os brasileiros.

 

Cumprimento, de modo especial, uma pessoa que, para mim, é muito significativa, altamente significativa: meu pai, o velho Pedro Agostinho. Fique de pé, papai. Fique de pé um pouquinho, papai, Sr. Pedro Augusto da Silva. Obrigada papai, muito obrigada por você estar aqui. Quero cumprimentar esse homem, ele é responsável, na origem, por tudo o que está acontecendo. Ele deve se lembrar: no dia em que, com 16 anos, ainda com saúde frágil, não é para aumentar a pressão, tem 82 anos, com carinha de 81 – ele não vai gostar disso.  Lembra papai? Pai, vou estudar porque o meu sonho é de ser freira. Você quer ir agora ou na semana que vem? Se você não tivesse essa visão, essa cabeça, esse coração, eu, hoje, não estaria ocupando este lugar. Então, você, na origem, junto com todos aqueles que me ajudaram e a força do nosso Deus, também é responsável por isso. Agradeço à minha querida família, o meu sogro, Sr. Paulo, que está aqui junto com a minha sogra, Dona Neide, que virou uma quase mãe – perdi minha mãe aos 14 anos. Daí ser tão difícil esse homem ter deixado a sua segunda filha, a mais velha já havia se casado, deixar seus seis irmãos e ir para essa abençoada aventura que nos faz estar aqui.

 

Agradeço ao meu marido Fábio, à minha filha Shalon, ao meu filho Danilo, à minha filha Moara, à minha filha Maiara. Vocês são a principal assistência e sustentação de tudo o que sou, de tudo que faço. Obrigada por esse amor, por esse cuidado e, podem ter certeza, por essa doação – essa é uma família que se doa para que esse “palitinho”, em plena forma, esteja se colocando neste lugar de mantenedora de utopias. Agradeço às minhas irmãs Lúcia e Dóia que estão aqui representando as outras seis irmãs, somos sete irmãs. Ao meu irmão Arleir, o único homem da família e, por isso, um sofredor no meio de mulheres tão fortes. É um sobrevivente. Agradeço aos meus sobrinhos presentes, o Eudes, o Tiago, o André, a Andréia, enfim, a todos eles. Eles vieram representar uma família que é enorme – família de nordestinos não para de crescer nunca, é pior do que preá.

 

Enfim, saúdo meus companheiros de partido, meus companheiros do Partido Verde. Cumprimento Alfredo Sirkis, que fez esse lindo discurso. Sirkis, muito obrigada, você até agora trouxe essa pré-campanha, como coordenador, e me disse que quando esse período chegasse você iria assumir essa tarefa no Rio de Janeiro, como coordenador e candidato a deputado federal que, se Deus quiser, será eleito. Cumprimento meu companheiro, futuro governador do Estado do Rio de Janeiro, sempre digo: meu professor Fernando Gabeira. Obrigada, Gabeira, por você ser quem é. Cumprimento um dos idealizadores persistente, do convite para que eu entrasse no PV, quase inconveniente, meu companheiro candidato ao governo de Pernambuco, Xavier. Cumprimento as mulheres do Partido Verde na pessoa de minha companheira, Micarla, que fez esse lindo discurso. Obrigada, Micarla. Você é a primeira mulher do Partido Verde de capital da América Latina e Caribe. Você não é pouca coisa. Marcos Antônio Mroz, meu companheiro Fábio Feldman que representam, junto com o Gabeira, todos os candidatos a governador.

 

Cumprimento aqueles que entraram no PV junto comigo, simbolicamente representados nas pessoas de Luciano Zicca, Adriana Ramos e Pedro Ivo. Agradeço e cumprimento as pessoas que pertencem a outros partidos, que sei temos muitos aqui. Cumprimento o coordenador desta campanha a partir de agora, meu companheiro do Ministério do Meio Ambiente que, com trajetórias igualmente diferentes, mas com o mesmo DNA do socioambientalismo. Ele me ajudou no Ministério do Meio Ambiente: João Paulo Capobianco. Obrigada, Capô. Cumprimento todas as mulheres na pessoa de minha recém-amiga, essa descoberta maravilhosa que cuida do programa de educação, Neca Setúbal, Agradeço a você, Neca, por tudo isso. Ricardo Young agradeço a você juntamente com o Álvaro, um grupo de empresários que assumiram a sustentabilidade como parte do seu envolvimento de vida empresarial com responsabilidade ambiental, social, colocando a ética como parte do seu fazer empresarial. Cumprimento meus companheiros da sociedade civil, associações, sindicatos, associações não-governamentais. Cumprimento também aqueles que representam o mundo acadêmico; os gestores públicos na pessoa do Eduardo Jorge. Agradeço a presença de todos os trabalhadores e trabalhadoras, profissionais liberais, à juventude tão bem representada aqui pelo idealizador do Movimento Marina Silva, Eduardo Rombauer. Obrigada, Dudu. Você, como todo jovem, tem a ousadia de antecipar o futuro. Agradeço aos intelectuais na pessoa do Dr. Paulo Sandroni, Eduardo Viola, José Eli da Veiga, Beto Ricardo e tantos outros que não tenho como mencionar.

 

Agradeço e cumprimento todas as crianças que me homenagearam – inclusive aquele jovem, que sentou na cadeira do vice-presidente, já colocando a que ele veio, na pessoa do Daniel, filho do Carlos Vicente, do Ives e da Iara. Quero cumprimentar todas as crianças. Uma saudação especial às pessoas que não estão presentes, mas que, igualmente, são importantes na minha vida: o bispo Dom Moacir Grecchi, alguém que foi responsável não só por muito do que aprendi na política, mas pela minha própria sobrevivência quando me ajudou a salvar a vida. Quero agradecer meus pastores, o pastor Sóstenes Apolo e a Pastora Valnice, a pastora Eliana, na pessoa deles, os que me dão sustentação, apoio espiritual e que me ensinaram que neste País laico a grande bênção é sermos um Estado laico para que possamos respeitar todos os que têm crença, todos os que têm crença diferente e todos aqueles que não têm. Isto é, de fato, uma grande conquista da nossa democracia. Por último, saúdo os 190 milhões de brasileiras e brasileiros, de todos os lugares, de todas as cores, de todas as raças, de todas as formas e de todas as graças deste Brasil diverso que temos, e que nos dá orgulho de sermos brasileiros.

 

Meus irmãos e irmãs estamos aqui para um desafio, um desafio que deve, em primeiro lugar, colocar quais são as referências que me trazem e que nos fazem chegar até aqui. Não quero, Gabeira, Sirkis, Guilherme, meus companheiros e companheiras, fazer um discurso em que vocês não estejam incluídos, os que estão aqui, os que estão nos assistindo e os que ainda vão nos assistir. Baseio-me em alguns referenciais. O primeiro deles – aprendi com o Bispo Dom Mauro Morelli – lutar pelos que não são, pelos que não sabem, pelos que não podem, pelos que não têm, para que um dia saibam, possam e tenham. Outro referencial, penso no da juventude. Sempre digo que os jovens não se envolvem em projeto de poder pelo poder, Shalon, você que é a minha filha mais velha. Os jovens, as crianças se envolvem onde há o cheiro da mudança, da transformação; que é a transformação responsável baseada em engenharia, processos e estruturas concretas, mas não abrem mão de sonhar para ver mudar o futuro que a gente quer cada vez melhor para nossos filhos e netos. Eu quero agradecer a essa juventude que me trouxe até aqui, como sendo os primeiros a terem sonhado com essa idéia, Guilherme, de termos, hoje, uma candidatura. Este projeto está em cima de alguns pontos – não posso deixar de fazer, como professora de ensino médio, sempre como faço, primeiro, uma contextualização.

 

Por isso, vou partir do Brasil que hoje temos, um Brasil que não precisa olvidar suas conquistas, mas também não precisa fazer uma apologia cega delas, esquecendo que ainda temos muitos desafios e de que ainda temos muitos erros a serem corrigidos. Temos que reconhecer que o Brasil dos últimos anos foi capaz de grandes conquistas, a começar pela conquista da democracia, vinte anos de democracia reconquistada e estabilizada na realidade do Brasil, dezesseis anos em que este País tem lutado por estabilidade econômica e conseguiu fazer com que tivéssemos uma situação em que há controle de inflação, em que a crise que atravessamos, ainda que tenha nos afetado, não nos abalou. E estamos de pé, crescendo cerca de 9% em relação ao ano passado, e com uma perspectiva boa de crescimento, ainda que ele precise ser ressignificado para que não continuemos no mesmo diapasão do desenvolvimento pelo desenvolvimento, do crescimento pelo crescimento.

 

Essa é uma conquista que não podemos esquecer. Temos que lembrar que temos uma sociedade civil que foi capaz de se tornar rigorosa, capaz de cobrar, capaz de apresentar propostas, de ajudar a implementá-las e de corrigi-las quando não estão no rumo certo.

 

Essa sociedade civil, eu diria, cresceu juntamente com os formadores de opinião e foi capaz de construir algo nesses últimos 30 anos que irá surpreender a si mesma e surpreender o Brasil, surpreenderá, principalmente, aqueles que ficaram com a velha política, com uma única forma de tentar dar resposta para a vida das pessoas e para o Brasil.

 

Temos ainda outra conquista: a redução da pobreza. Vinte e cinco milhões de pessoas saíram da linha da pobreza nesses últimos oito anos. Isso não é muita coisa, não é pouca coisa. Não preciso, em hipótese alguma, porque sou candidata, agora, por outro partido, numa outra articulação, negar esse feito e essa grande conquista do operário Luiz Inácio Lula da Silva, que quebrou o paradigma. Antigamente se dizia: é preciso crescer para depois distribuir o bolo. O Lula mostrou que foi distribuindo que continuamos e que crescemos. Então, essa conquista não pode ser olvidada.

 

Eu não poderia deixar de falar do que eu disse, os desafios, os problemas, os erros ainda a serem corrigidos. Quais são eles? O erro da desigualdade e de oportunidades. Esse país gigante ainda tem 18% dos seus jovens analfabetos. Sei o que é ser analfabeto, o que é ver pela metade, escutar pela metade, sei o que é ter chegado em Rio Branco, com 16 anos, Guilherme, e ficar mais de vinte minutos olhando para um lado, olhando para o outro, para perguntar qual era o ônibus que ia para a Estação Experimental. Por que eu estava perguntando e por que eu tinha vergonha de fazer essa pergunta? A placa dizia Estação Experimental, mas para quem não sabia ler, a placa e nada era a mesma coisa. Tomei coragem e perguntei para um vendedor de rua: qual é o ônibus que se pega para ir à Estação Experimental? Obviamente, ele me olhou, sabendo que pela minha indumentária, pelas minhas mãozinhas sujas da fumaça de fazer o látex que fica preta como um carvão, ele sabia que eu era uma menina analfabeta do seringal.

 

Este país ainda tem desigualdade de oportunidades e ainda tem 18% dos seus jovens analfabetos. Este país ainda está com estagnação da qualidade do ensino. Quarenta por cento das crianças que entram no ensino fundamental não conseguem chegar até a oitava série. Precisamos superar este desafio. Justiça seja feita. Hoje, temos a sensibilidade de 100% das nossas crianças irem para a escola, mas a escola precisa ser criativa, produtiva, precisa valorizar os professores, precisa dar formação continuada, precisa valorizá-los econômica e simbolicamente para que sintamos orgulho de dar aulas. Este desafio ainda não foi superado no Brasil. Ainda temos um país que dilapida o seu imenso patrimônio natural. São milhões e milhões de hectares de florestas destruídas, são cem milhões de hectares de terras de áreas degradadas. Isto precisa ser corrigido, além de outras mazelas que precisamos cuidar. Neste momento que, ao invés de olhar para a floresta, para a biodiversidade, para os recursos hídricos, para as áreas que já foram degradadas, assumimos o compromisso de, com os empresários, com os trabalhadores, com o cidadão, com os cientistas, com os servidores públicos deste país, com os jovens e com todos ao que se dispõem em recuperarmos esse prejuízo.

 

As pessoas estão discutindo no Congresso como flexibilizar o Código Florestal para perdoar 40 milhões hectares de áreas devastadas ilegalmente. Não queremos isso para o Brasil. Não podemos esquecer de dar uma resposta para isso. Quando estamos aqui para reconhecer os acertos, temos que estar também para reconhecer os erros e os grandes desafios que temos pela frente.

 

Por último, em termos de desequilíbrio, temos um mundo em que as grandes cidades vivem um verdadeiro caos urbano. É só pensar em como mora a maioria dos pobres, sujeitos a todo o tipo de sofrimento, de falta de segurança e, ainda, vendo sua vidas serem ceifadas nos momentos das chuvas e das enchentes, pelos desastres ambientais; das pessoas que, como foi dito, para chegar ao trabalho levam horas, para voltar para casa, para o repouso, para o local de estudar, levam o mesmo tanto ou mais de tempo. Temos um desafio com as cidades: o da mobilidade, o de termos um ambiente saudável, onde uma política séria de cuidado e de combate aos graves problemas da insegurança ambiental façam com que olhemos para os problemas que estão acontecendo, hoje, no Brasil, não como sendo naturais, porque, em 2007, cerca de dois milhões e meio de pessoas foram afetadas pelas chuvas e pelos desabamentos. Em 2009, foram cinco milhões e meio. Dá para continuar tratando isso como um problema natural? Não dá. É falta de prevenção, é falta de estratégia, é falta de ética e de visão para proteger essas pessoas que vivem em condições tão frágeis.

 

Feito o diagnóstico, eu gostaria de falar mais algumas questões. Reiteramos várias vezes que estamos juntos pelo Brasil que queremos. Gostei muito desse nosso slogan, dessa nossa frase convocatória. Por que gostei? “Juntos pelo Brasil que queremos”: as pessoas têm cobrado a mim e ao Guilherme, dos nossos apoiadores de campanha, enfim, dos nossos simpatizantes, que não temos política de aliança – pensando as políticas de aliança apenas como o velho cálculo pragmático: quem tem mais palanque, quem tem mais recursos, quem acha que tem mais votos porque se sente dono dos votos, então, diz a si mesmo, façamos um acordo, uma aliança e vamos dizer para o povo: fique em casa que, agora, vamos debater o que interessa a nós e, no dia 3 de outubro, vocês votem naqueles que decidirmos serem os melhores para vocês. Não temos esse tipo de aliança. Queremos sim fazer alianças com os núcleos vivos da sociedade, com os empresários, com os jovens, com as mulheres, com os idosos, com os índios, com os negros, com todos os brasileiros e brasileiras.

 

Este palanque está dividido em duas partes e, no meio, há um sanduíche. Isso é um símbolo. Não adianta achar que vai olhar só para trás, não tem como olhar só para frente. É preciso olhar para trás e para a frente ao mesmo tempo. Para trás, para aprender com os erros do passado e para consolidar as conquistas desse passado; para a frente, para não repetir os erros e para conquistar aquilo que ainda não foi conquistado. Por isso que, simbolicamente, estamos assim. Não há como olhar só para o passado ou só para o futuro, tem que ser para as duas coisas, e isso é perfeitamente possível. Por que estamos aqui, homens, mulheres, jovens, todos? Gostei muito de ter aqui o meu amigo Leonardo Boff. Obrigada, Leonardo, sei o sacrifício que fez para vir aqui, veio de aviãozinho. O Tiago – esses dois homens de barba branca, de cabelos brancos, vieram nos prestar um pouco de suas sabedorias e alegrias, com a espiritualidade, a filosofia e a poesia.

 

Temos aqui todas as coisas. Temos aqueles que põem a mão na mó e sabem dela tirar o pó do mais fino trigo para alimentar este país, como é o empresário Guilherme Leal. Estamos ricos dessa diversidade. Nossa aliança é de novo tipo. Por isso, estarmos “juntos pelo Brasil que queremos” é muito importante. O Brasil da economia de baixo carbono. Um dia desses um jornalista brincou comigo: tem-se que fazer um dicionário, o “marinês”, fizeram até uma matéria muito engraçada sobre essa estória do “marinês”, mas se não criarmos o novo na linguagem, na cultura, nos processos e nas estruturas, vamos ficar no mesmo lugar. É por isso que o mundo inteiro fala de economia de baixo carbono. O que é isso? É uma economia que não tem que ter tanta emissão de CO² para poder produzir a energia, o arroz, o feijão, para poder fazer com que o ônibus chegue até seu trabalho. A economia de baixo carbono é aquela que é capaz de produzir mais utilizando e destruindo cada vez menos os nossos recursos naturais.

 

Este é o Brasil que queremos. Um Brasil que tenha uma educação de qualidade, que seja colocada como a prioridade das prioridades. Como já falei anteriormente: isso é para mim um compromisso visceral de vida – hoje estou aqui graças a Deus, aos que me ajudaram e à educação. Ela precisa ser mais do que um direito, precisa ser uma força alavancadora da economia, alavancadora do conhecimento, da inovação, da tecnologia, do que faz melhorar o presente e sonhar que o futuro pode ser cada vez melhor. Isso a gente consegue com a educação. Sei que precisamos continuar enfrentando as desigualdades. Os 25 milhões que saíram da linha da pobreza já é um grande feito. Sei disso porque fui vice-presidente da Comissão de Combate à Pobreza e conheci os lugares mais pobres deste país. Foi, ali, que começou a surgir o Bolsa Família. Hoje, tenho a felicidade de ter o economista Ricardo Paes de Barros, que não está presente, porque é quinta-feira, está trabalhando no Ipea, liderando um programa social que chamamos Programa Social de Terceira Geração, que cria oportunidades para que todos possam desenvolver suas potencialidades. Todos nós as temos, o que nos faltam são as oportunidades.

 

Foi graças às frestas da educação que minha vida mudou, foi graças à educação de qualidade que um filho de classe média paulista, vindo de uma boa universidade federal, a USP, tornou-se um dos empresários mais prósperos do Brasil. Isso não se constitui ainda uma regra, foi uma exceção. Não estamos aqui exibindo nossas trajetórias para dizer como dizem os conservadores, os reacionários: “Olha como nós vencemos? Se for trabalhador, se for interessado, se não for preguiçoso, vai vencer.”Isso não é verdade, é uma agulha no palheiro que passa por essa fresta. Ele, com o FGTS dele, lá, na garagem da casa dele – olha, gente, cuidado, não vão todos saírem sacando todo o FGTS e botando uma empresa de cosméticos na garagem para não acabar com o cabelo dos outros por aí,  tem uma ciência por trás disso, é só uma brincadeira. É isso que fez nossas trajetórias se encontrarem agora: igualdade de oportunidades para as pessoas, política social de terceira geração, saímos da cesta básica, fomos para um bom programa de transferência de renda e, agora, vamos para um bom programa que mobiliza a sociedade brasileira, porque, junto com essa política, terá que vir um outro tipo de Estado, sair da idéia de Estado provedor, que faz as coisas para as pessoas, para um Estado mobilizador, que faz as coisas com as pessoas. Não é fazer para os pobres; é com os pobres que temos que fazer.

 

O Bolsa Família está nos ensinando isso, vamos aprofundar aquilo que chamamos de programa de terceira geração. Queremos ser um Brasil próspero, um Brasil sustentável em todas as suas dimensões, na sua dimensão econômica, social, cultural, política, na sua dimensão ética e na sua dimensão estética – porque não dizer? Quero homenagear na pessoa do Hélio e do André Danilo, a diversidade cultural deste país. Não temos que ter medo da diversidade, da liberdade de idéias, da liberdade de expressão, mas a expressão de todas as idéias para que não incorramos no erro de que o que pode se expressar são apenas algumas idéias.  Todas as idéias devem ser respeitadas, debatidas democraticamente.

 

As diretrizes do programa de governo que temos – não vou cansar vocês, há uma publicação que todos receberão–, ainda não é o programa, são apenas as diretrizes. A partir daqui vamos abrir um grande debate. Os meios modernos de comunicação permitem que possamos, mais do que em nossas reuniões partidárias, do grupo técnico, onde os economistas, os educadores, onde as pessoas que estão ajudando a fazer o Programa de Governo, como o Tarso, Sandroni, Neca e tantos outros, além desses, vocês também vão poder participar sugerindo idéias, inclusive como fez o Presidente Obama, não é? Temos uma inspiração nessa aprendizagem.

 

Vou citar apenas as diretrizes: política cidadã, baseada em princípios e valores é o primeiro ponto; educação para a qualidade de vida, para formar os cidadãos e cidadãs de uma sociedade que cada vez mais se organiza em rede; economia sustentável, fazendo com que juntemos o melhor da tradição ao melhor da modernidade para dar as respostas, para produzir o emprego, a habitação, a energia, a infraestrutura, a arte e a cultura do Brasil que a gente quer; terceira geração de programas sociais. Qualidade de vida e bem-estar para todos os brasileiros.

 

Meus companheiros e companheiras, estou fazendo uma mistura desse roteiro para fugir da tentação de ler, porque as diretrizes estão muito bem organizadas, muito bem feitas – Sirkis e Capô lideraram esse processo, juntamente com o Tasso, Pedro Leitão e tantos outros, mas, para honrar o compromisso de vocês, fiz uma negociação com o roteiro, atendendo a um apelo do Sirkis que diz o tempo todo: “Pelo amor de Deus, não leia, faça um discurso de improviso.”  Confesso que se eu fosse ler seria mil vez pior do que aconteceu com o meu amigo Guilherme Leal, que, muito corretamente, disse para vocês que está se iniciando. Quero mais é agradecer.

 

Quem vem de onde vim, quem tem registrado na alma, no corpo, na memória, tantas coisas, tantas estórias e estórias, já fica agradecida só por estar aqui olhando para vocês. Enquanto falavam os nossos apoiadores, simbolizando nossa aliança, fiquei pensando: que convenção comportada! Parece que estamos em uma sala de conferência, vem o Hélio e faz a conferência dele, vem o Leonardo, o André Danilo, o Álvaro, o Dudu, a Neca, todos que falaram aqui. Depois vem uma segunda bateria, aqueles que fazem uma espécie de conferência política, e aí entra o Gabeira, o Sirkis, a Micarla, o Guiherme e agora eu. Por que será?

 

Que coisa maravilhosa, geralmente nas convenções é um barulho danado, as pessoas nem querem ouvir o que os candidatos estão dizendo, basta levantar a bandeira, basta aplaudir. Vocês estão prestando atenção, vocês estão mais do que vendo, vocês estão percebendo, estão mais do que escutando, estão compreendendo a urgência e a emergência de que este Brasil não pode mais ser adiado para amanhã. Ele começa agora. É por isso que não vamos aceitar o veredito do plebiscito. Não há veredito. Ele vai ser revogado pelo povo brasileiro, vai se entregar por inteiro ao Brasil que a gente quer.  Muito obrigada. Para esta cabocla, já é muita coisa.

 

Companheiros, vou concluir. Eu havia perguntado para os meus assessores: o que é um discurso razoável? Eles disseram: 30 minutos. Eu disse: 40 minutos. Eles disseram: 50. E eu já estou com medo de ter passado, não quero aqui descumprir o trato, porque esse auditório é alugado e tem horário para acabar. Obrigada por estarem aqui.

 

Fico olhando, Xavier, aquela Marina gordinha que foi para o carnaval com samba no pé, não sei como conseguiu rebolar, não tenho tantas reservas cambiais como ela, mas espero que todos vocês me emprestem suas reservas – alguns até têm demais, cuidado – sua força, sua energia. O pessoal diz: vocês não têm muito dinheiro. Eu disse: não custa caro um palanque no coração. Um palanque no coração faz com que o palhaço suba aqui e faça seu improviso, criando uma situação, Zequinha. Eu queria aqui dizer, na tua pessoa e do nosso líder, o Edson Duarte, que vocês têm feito uma luta de gigantes na defesa na defesa do Código Florestal. Obrigada, Zequinha, obrigada Fábio Feldmann, por você terem colocado o artigo 225 que protege os rios, as florestas, a terra, o ar, e tudo o que nela há.

 

O Brasil, nos últimos 16 anos, teve a oportunidade de ter como Presidente da República duas pessoas profundamente marcadas por suas vidas e trajetórias públicas. O primeiro, um sociólogo bem sucedido, um homem filho da cátedra brasileira que se dispôs a servir o País num trincado e difícil terreno da política, onde poucos sobrevivem à velha lógica da “dita” e da “desdita”, mas com o Plano Real pôde dizer muita coisa, além do que precisamos corrigir, aquilo que precisa ser de fato desdito.

 

O segundo, um operário. Sobrevivente das mazelas do Brasil e de si mesmo, que se dispôs, a partir de suas próprias raízes, a alimentar e sustentar, por mais de duas décadas, o Brasil, com esperanças e sonhos, até ver a mesa posta das realidades mais expostas em dúvidas acertos e erros. Esses foram os presidentes Lula e Fernando Henrique, que não tenho problema de reconhecer e de criticar.

 

Fiquei no Governo durante cinco anos, nunca fiz um discurso fácil para o presidente dizendo: sim senhor, sim senhor, quando eu achava que o prejudicava e prejudicava o Brasil e prejudicava aquilo que são os interesses estratégicos da gestão pública, mas nunca me neguei a construir as melhores soluções para ajudá-los a fazer com que o Brasil saísse de 27 mil quilômetros quadrados de floresta devastada para sete mil no ano passado. Agradeço por ter feito parte desse governo.

 

Não posso deixar de dizer para vocês que estou aqui sem uma dorzinha no coração. É claro que estou. Sei que neste momento está tendo a convenção do Jorge, do Tião, dos meus companheiros de luta. Peço a Deus que eles continuem vitoriosos. Estamos separados momentaneamente, mas vamos nos encontrar no segundo turno, se Deus quiser. Eu disse que este país foi marcado pela trajetória de dois homens, um da cátedra e o outro da luta operária, que simbolizam a democracia brasileira. Quero agora falar para vocês uma coisa que fiz, para terminar aqui. Que marcas o povo brasileiro quer que tenha o próximo presidente ou a futura presidenta do Brasil? Que marcas dever ter? Essa resposta, por inteiro, só o povo brasileiro poderá dizer quando terminarem as eleições.

 

Não podemos ser ansiosos, não temos como entrar no coração do povo, deixemos que ele encante, se aquebrante, faça de novo tudo novo e dê a resposta no final das eleições. Enquanto o povo debate, dialoga, converge, diverge, se afasta, se junta e coliga, permitam só que,  no afã de ajudarem suas decisões, lhes diga:  Que marcas trago no peito? Que marcas trago nas mãos? Que marcas trago da condição feminina? Que marcas trago do chão? Que marcas trago das matas? Que marcas trago das atas, dos registros, dos porões? Que marcas trago em meus olhos e em meus sonhos, vontade, medo e paixões? Que marcas trago das cidades de encontro e separação? Que marcas trago da fé de quem crê para ver o quão este Brasil será gigante também pelas nossas mãos?

 

Por fim, que o coração que povo brasileiro quer ver dirigindo a República Federativa do Brasil, a partir do dia 1º de janeiro de 2011, seja o coração dos 190 milhões de brasileiros guiados por suas próprias decisões. Essas marcas, esses registros, é o quero que levem desta convenção.

 

Eu te agradeço, Guilherme, porque você está aqui.  Concluo dando um testemunho: tenho um amigo muito importante, é quase um irmão, meio filho, meio irmão, o Binho, o Governador do Acre. O Binho o Fábio, meu marido, conhece muito bem, trabalha com ele, é seu secretário. Ele foi uma pessoa muito importante na minha vida. Era um menino de classe média alta e eu uma menina igrejeira da comunidade de base que me vestia mal. Achavam que eu me vestia mal, eu me achava a maior charmosa, nos meus vestidinhos de chita que minha mãe fazia e achava que eu era tão bonita, mas o pessoal achava que eu era feia.

 

O Binho me pegou pela mão e me ensinou a transitar em lugares que eu não conseguia entrar sozinha, me ajudou a comprar os livros, me trazia para os congressos de juventude, essas coisas que o Eduardo e o pessoal aqui continuam fazendo. Agradeço imensamente a tudo o que o Binho me ensinou.

 

Estou aqui, agora, com 52 anos. A exemplo do que o Binho fez, lá no passado, quando me ensinou o que era música popular brasileira, sentou no chão comigo, botou o disco e foi me ensinar os vários gêneros de música do Brasil, porque eu só conhecia o forró e a música caipira. Foi o mediador cultural para mim.

 

Agora estou aqui com um novo mediador cultural, aos 52 anos, o empresário Guilherme Leal. Estamos fazendo esse par político. Ele está me ensinando muitas coisas, diz que está aprendendo muito comigo, mas a maior aprendizagem que temos é a aprendizagem com o Brasil. Estou muito feliz de estarmos aqui.

 

Que cada um de vocês possa levar o compromisso de estarmos juntos pelo Brasil que queremos. Que cada um que está nos assistindo pela internet possa assumir o compromisso pelo Brasil que queremos. Que cada homem, que cada mulher, que têm fé, possam rezar, os que não têm, que possam torcer para que a gente possa fazer com que, no dia 1º de janeiro de 2011, o Brasil possa ter a primeira mulher negra, de origem pobre, presidente da República Federativa do Brasil. Um grande abraço, um beijo no coração de vocês.

 

Quando se vê um empresário muito tinhoso, muito acostumado à linguagem da política, é porque está nela há muito, mas, talvez, de forma repetida. Quem faz política com “P” maiúsculo não treina como falar, apenas faz como gostaria de ver os políticos fazendo. Foi isso o que você fez. Obrigada, Guilherme. O Guilherme fez uma fala muito bonita dizendo que, na lógica do século 20, nós não teríamos nos encontrado. De fato ele tem razão. Mas eu queria aqui fazer uma revelação: o empresário Guilherme Leal, que achamos sempre que ele é paulista, é filho de paraenses, comedor de açaí. Então, o nosso encontro também está nas origens, também está nas raízes que alimentam esse nosso coração. Quero cumprimentar o presidente do meu partido, o nosso companheiro Luiz França Penna. Muito obrigada Penna. Vocês, do Partido Verde, que construíram esse partido, durante esses 24 anos, para que hoje pudéssemos ser recebidos, partidários e não-partidários, nesta festa que é de todos os brasileiros.

 

Cumprimento, de modo especial, uma pessoa que, para mim, é muito significativa, altamente significativa: meu pai, o velho Pedro Agostinho. Fique de pé, papai. Fique de pé um pouquinho, papai, Sr. Pedro Augusto da Silva. Obrigada papai, muito obrigada por você estar aqui. Quero cumprimentar esse homem, ele é responsável, na origem, por tudo o que está acontecendo. Ele deve se lembrar: no dia em que, com 16 anos, ainda com saúde frágil, não é para aumentar a pressão, tem 82 anos, com carinha de 81 – ele não vai gostar disso.  Lembra papai? Pai, vou estudar porque o meu sonho é de ser freira. Você quer ir agora ou na semana que vem? Se você não tivesse essa visão, essa cabeça, esse coração, eu, hoje, não estaria ocupando este lugar. Então, você, na origem, junto com todos aqueles que me ajudaram e a força do nosso Deus, também é responsável por isso. Agradeço à minha querida família, o meu sogro, Sr. Paulo, que está aqui junto com a minha sogra, Dona Neide, que virou uma quase mãe – perdi minha mãe aos 14 anos. Daí ser tão difícil esse homem ter deixado a sua segunda filha, a mais velha já havia se casado, deixar seus seis irmãos e ir para essa abençoada aventura que nos faz estar aqui.

 

Agradeço ao meu marido Fábio, à minha filha Shalon, ao meu filho Danilo, à minha filha Moara, à minha filha Maiara. Vocês são a principal assistência e sustentação de tudo o que sou, de tudo que faço. Obrigada por esse amor, por esse cuidado e, podem ter certeza, por essa doação – essa é uma família que se doa para que esse “palitinho”, em plena forma, esteja se colocando neste lugar de mantenedora de utopias. Agradeço às minhas irmãs Lúcia e Dóia que estão aqui representando as outras seis irmãs, somos sete irmãs. Ao meu irmão Arleir, o único homem da família e, por isso, um sofredor no meio de mulheres tão fortes. É um sobrevivente. Agradeço aos meus sobrinhos presentes, o Eudes, o Tiago, o André, a Andréia, enfim, a todos eles. Eles vieram representar uma família que é enorme – família de nordestinos não para de crescer nunca, é pior do que preá.

 

Enfim, saúdo meus companheiros de partido, meus companheiros do Partido Verde. Cumprimento Alfredo Sirkis, que fez esse lindo discurso. Sirkis, muito obrigada, você até agora trouxe essa pré-campanha, como coordenador, e me disse que quando esse período chegasse você iria assumir essa tarefa no Rio de Janeiro, como coordenador e candidato a deputado federal que, se Deus quiser, será eleito. Cumprimento meu companheiro, futuro governador do Estado do Rio de Janeiro, sempre digo: meu professor Fernando Gabeira. Obrigada, Gabeira, por você ser quem é. Cumprimento um dos idealizadores persistente, do convite para que eu entrasse no PV, quase inconveniente, meu companheiro candidato ao governo de Pernambuco, Xavier. Cumprimento as mulheres do Partido Verde na pessoa de minha companheira, Micarla, que fez esse lindo discurso. Obrigada, Micarla. Você é a primeira mulher do Partido Verde de capital da América Latina e Caribe. Você não é pouca coisa. Marcos Antônio Mroz, meu companheiro Fábio Feldman que representam, junto com o Gabeira, todos os candidatos a governador.

 

Cumprimento aqueles que entraram no PV junto comigo, simbolicamente representados nas pessoas de Luciano Zicca, Adriana Ramos e Pedro Ivo. Agradeço e cumprimento as pessoas que pertencem a outros partidos, que sei temos muitos aqui. Cumprimento o coordenador desta campanha a partir de agora, meu companheiro do Ministério do Meio Ambiente que, com trajetórias igualmente diferentes, mas com o mesmo DNA do socioambientalismo. Ele me ajudou no Ministério do Meio Ambiente: João Paulo Capobianco. Obrigada, Capô. Cumprimento todas as mulheres na pessoa de minha recém-amiga, essa descoberta maravilhosa que cuida do programa de educação, Neca Setúbal, Agradeço a você, Neca, por tudo isso. Ricardo Young agradeço a você juntamente com o Álvaro, um grupo de empresários que assumiram a sustentabilidade como parte do seu envolvimento de vida empresarial com responsabilidade ambiental, social, colocando a ética como parte do seu fazer empresarial. Cumprimento meus companheiros da sociedade civil, associações, sindicatos, associações não-governamentais. Cumprimento também aqueles que representam o mundo acadêmico; os gestores públicos na pessoa do Eduardo Jorge. Agradeço a presença de todos os trabalhadores e trabalhadoras, profissionais liberais, à juventude tão bem representada aqui pelo idealizador do Movimento Marina Silva, Eduardo Rombauer. Obrigada, Dudu. Você, como todo jovem, tem a ousadia de antecipar o futuro. Agradeço aos intelectuais na pessoa do Dr. Paulo Sandroni, Eduardo Viola, José Eli da Veiga, Beto Ricardo e tantos outros que não tenho como mencionar.

 

Agradeço e cumprimento todas as crianças que me homenagearam – inclusive aquele jovem, que sentou na cadeira do vice-presidente, já colocando a que ele veio, na pessoa do Daniel, filho do Carlos Vicente, do Ives e da Iara. Quero cumprimentar todas as crianças. Uma saudação especial às pessoas que não estão presentes, mas que, igualmente, são importantes na minha vida: o bispo Dom Moacir Grecchi, alguém que foi responsável não só por muito do que aprendi na política, mas pela minha própria sobrevivência quando me ajudou a salvar a vida. Quero agradecer meus pastores, o pastor Sóstenes Apolo e a Pastora Valnice, a pastora Eliana, na pessoa deles, os que me dão sustentação, apoio espiritual e que me ensinaram que neste País laico a grande bênção é sermos um Estado laico para que possamos respeitar todos os que têm crença, todos os que têm crença diferente e todos aqueles que não têm. Isto é, de fato, uma grande conquista da nossa democracia. Por último, saúdo os 190 milhões de brasileiras e brasileiros, de todos os lugares, de todas as cores, de todas as raças, de todas as formas e de todas as graças deste Brasil diverso que temos, e que nos dá orgulho de sermos brasileiros.

 

Meus irmãos e irmãs estamos aqui para um desafio, um desafio que deve, em primeiro lugar, colocar quais são as referências que me trazem e que nos fazem chegar até aqui. Não quero, Gabeira, Sirkis, Guilherme, meus companheiros e companheiras, fazer um discurso em que vocês não estejam incluídos, os que estão aqui, os que estão nos assistindo e os que ainda vão nos assistir. Baseio-me em alguns referenciais. O primeiro deles – aprendi com o Bispo Dom Mauro Morelli – lutar pelos que não são, pelos que não sabem, pelos que não podem, pelos que não têm, para que um dia saibam, possam e tenham. Outro referencial, penso no da juventude. Sempre digo que os jovens não se envolvem em projeto de poder pelo poder, Shalon, você que é a minha filha mais velha. Os jovens, as crianças se envolvem onde há o cheiro da mudança, da transformação; que é a transformação responsável baseada em engenharia, processos e estruturas concretas, mas não abrem mão de sonhar para ver mudar o futuro que a gente quer cada vez melhor para nossos filhos e netos. Eu quero agradecer a essa juventude que me trouxe até aqui, como sendo os primeiros a terem sonhado com essa idéia, Guilherme, de termos, hoje, uma candidatura. Este projeto está em cima de alguns pontos – não posso deixar de fazer, como professora de ensino médio, sempre como faço, primeiro, uma contextualização.

 

Por isso, vou partir do Brasil que hoje temos, um Brasil que não precisa olvidar suas conquistas, mas também não precisa fazer uma apologia cega delas, esquecendo que ainda temos muitos desafios e de que ainda temos muitos erros a serem corrigidos. Temos que reconhecer que o Brasil dos últimos anos foi capaz de grandes conquistas, a começar pela conquista da democracia, vinte anos de democracia reconquistada e estabilizada na realidade do Brasil, dezesseis anos em que este País tem lutado por estabilidade econômica e conseguiu fazer com que tivéssemos uma situação em que há controle de inflação, em que a crise que atravessamos, ainda que tenha nos afetado, não nos abalou. E estamos de pé, crescendo cerca de 9% em relação ao ano passado, e com uma perspectiva boa de crescimento, ainda que ele precise ser ressignificado para que não continuemos no mesmo diapasão do desenvolvimento pelo desenvolvimento, do crescimento pelo crescimento.

 

Essa é uma conquista que não podemos esquecer. Temos que lembrar que temos uma sociedade civil que foi capaz de se tornar rigorosa, capaz de cobrar, capaz de apresentar propostas, de ajudar a implementá-las e de corrigi-las quando não estão no rumo certo.

 

Essa sociedade civil, eu diria, cresceu juntamente com os formadores de opinião e foi capaz de construir algo nesses últimos 30 anos que irá surpreender a si mesma e surpreender o Brasil, surpreenderá, principalmente, aqueles que ficaram com a velha política, com uma única forma de tentar dar resposta para a vida das pessoas e para o Brasil.

 

Temos ainda outra conquista: a redução da pobreza. Vinte e cinco milhões de pessoas saíram da linha da pobreza nesses últimos oito anos. Isso não é muita coisa, não é pouca coisa. Não preciso, em hipótese alguma, porque sou candidata, agora, por outro partido, numa outra articulação, negar esse feito e essa grande conquista do operário Luiz Inácio Lula da Silva, que quebrou o paradigma. Antigamente se dizia: é preciso crescer para depois distribuir o bolo. O Lula mostrou que foi distribuindo que continuamos e que crescemos. Então, essa conquista não pode ser olvidada.

 

Eu não poderia deixar de falar do que eu disse, os desafios, os problemas, os erros ainda a serem corrigidos. Quais são eles? O erro da desigualdade e de oportunidades. Esse país gigante ainda tem 18% dos seus jovens analfabetos. Sei o que é ser analfabeto, o que é ver pela metade, escutar pela metade, sei o que é ter chegado em Rio Branco, com 16 anos, Guilherme, e ficar mais de vinte minutos olhando para um lado, olhando para o outro, para perguntar qual era o ônibus que ia para a Estação Experimental. Por que eu estava perguntando e por que eu tinha vergonha de fazer essa pergunta? A placa dizia Estação Experimental, mas para quem não sabia ler, a placa e nada era a mesma coisa. Tomei coragem e perguntei para um vendedor de rua: qual é o ônibus que se pega para ir à Estação Experimental? Obviamente, ele me olhou, sabendo que pela minha indumentária, pelas minhas mãozinhas sujas da fumaça de fazer o látex que fica preta como um carvão, ele sabia que eu era uma menina analfabeta do seringal.

 

Este país ainda tem desigualdade de oportunidades e ainda tem 18% dos seus jovens analfabetos. Este país ainda está com estagnação da qualidade do ensino. Quarenta por cento das crianças que entram no ensino fundamental não conseguem chegar até a oitava série. Precisamos superar este desafio. Justiça seja feita. Hoje, temos a sensibilidade de 100% das nossas crianças irem para a escola, mas a escola precisa ser criativa, produtiva, precisa valorizar os professores, precisa dar formação continuada, precisa valorizá-los econômica e simbolicamente para que sintamos orgulho de dar aulas. Este desafio ainda não foi superado no Brasil. Ainda temos um país que dilapida o seu imenso patrimônio natural. São milhões e milhões de hectares de florestas destruídas, são cem milhões de hectares de terras de áreas degradadas. Isto precisa ser corrigido, além de outras mazelas que precisamos cuidar. Neste momento que, ao invés de olhar para a floresta, para a biodiversidade, para os recursos hídricos, para as áreas que já foram degradadas, assumimos o compromisso de, com os empresários, com os trabalhadores, com o cidadão, com os cientistas, com os servidores públicos deste país, com os jovens e com todos ao que se dispõem em recuperarmos esse prejuízo.

 

As pessoas estão discutindo no Congresso como flexibilizar o Código Florestal para perdoar 40 milhões hectares de áreas devastadas ilegalmente. Não queremos isso para o Brasil. Não podemos esquecer de dar uma resposta para isso. Quando estamos aqui para reconhecer os acertos, temos que estar também para reconhecer os erros e os grandes desafios que temos pela frente.

 

Por último, em termos de desequilíbrio, temos um mundo em que as grandes cidades vivem um verdadeiro caos urbano. É só pensar em como mora a maioria dos pobres, sujeitos a todo o tipo de sofrimento, de falta de segurança e, ainda, vendo sua vidas serem ceifadas nos momentos das chuvas e das enchentes, pelos desastres ambientais; das pessoas que, como foi dito, para chegar ao trabalho levam horas, para voltar para casa, para o repouso, para o local de estudar, levam o mesmo tanto ou mais de tempo. Temos um desafio com as cidades: o da mobilidade, o de termos um ambiente saudável, onde uma política séria de cuidado e de combate aos graves problemas da insegurança ambiental façam com que olhemos para os problemas que estão acontecendo, hoje, no Brasil, não como sendo naturais, porque, em 2007, cerca de dois milhões e meio de pessoas foram afetadas pelas chuvas e pelos desabamentos. Em 2009, foram cinco milhões e meio. Dá para continuar tratando isso como um problema natural? Não dá. É falta de prevenção, é falta de estratégia, é falta de ética e de visão para proteger essas pessoas que vivem em condições tão frágeis.

 

Feito o diagnóstico, eu gostaria de falar mais algumas questões. Reiteramos várias vezes que estamos juntos pelo Brasil que queremos. Gostei muito desse nosso slogan, dessa nossa frase convocatória. Por que gostei? “Juntos pelo Brasil que queremos”: as pessoas têm cobrado a mim e ao Guilherme, dos nossos apoiadores de campanha, enfim, dos nossos simpatizantes, que não temos política de aliança – pensando as políticas de aliança apenas como o velho cálculo pragmático: quem tem mais palanque, quem tem mais recursos, quem acha que tem mais votos porque se sente dono dos votos, então, diz a si mesmo, façamos um acordo, uma aliança e vamos dizer para o povo: fique em casa que, agora, vamos debater o que interessa a nós e, no dia 3 de outubro, vocês votem naqueles que decidirmos serem os melhores para vocês. Não temos esse tipo de aliança. Queremos sim fazer alianças com os núcleos vivos da sociedade, com os empresários, com os jovens, com as mulheres, com os idosos, com os índios, com os negros, com todos os brasileiros e brasileiras.

 

Este palanque está dividido em duas partes e, no meio, há um sanduíche. Isso é um símbolo. Não adianta achar que vai olhar só para trás, não tem como olhar só para frente. É preciso olhar para trás e para a frente ao mesmo tempo. Para trás, para aprender com os erros do passado e para consolidar as conquistas desse passado; para a frente, para não repetir os erros e para conquistar aquilo que ainda não foi conquistado. Por isso que, simbolicamente, estamos assim. Não há como olhar só para o passado ou só para o futuro, tem que ser para as duas coisas, e isso é perfeitamente possível. Por que estamos aqui, homens, mulheres, jovens, todos? Gostei muito de ter aqui o meu amigo Leonardo Boff. Obrigada, Leonardo, sei o sacrifício que fez para vir aqui, veio de aviãozinho. O Tiago – esses dois homens de barba branca, de cabelos brancos, vieram nos prestar um pouco de suas sabedorias e alegrias, com a espiritualidade, a filosofia e a poesia.

 

Temos aqui todas as coisas. Temos aqueles que põem a mão na mó e sabem dela tirar o pó do mais fino trigo para alimentar este país, como é o empresário Guilherme Leal. Estamos ricos dessa diversidade. Nossa aliança é de novo tipo. Por isso, estarmos “juntos pelo Brasil que queremos” é muito importante. O Brasil da economia de baixo carbono. Um dia desses um jornalista brincou comigo: tem-se que fazer um dicionário, o “marinês”, fizeram até uma matéria muito engraçada sobre essa estória do “marinês”, mas se não criarmos o novo na linguagem, na cultura, nos processos e nas estruturas, vamos ficar no mesmo lugar. É por isso que o mundo inteiro fala de economia de baixo carbono. O que é isso? É uma economia que não tem que ter tanta emissão de CO² para poder produzir a energia, o arroz, o feijão, para poder fazer com que o ônibus chegue até seu trabalho. A economia de baixo carbono é aquela que é capaz de produzir mais utilizando e destruindo cada vez menos os nossos recursos naturais.

 

Este é o Brasil que queremos. Um Brasil que tenha uma educação de qualidade, que seja colocada como a prioridade das prioridades. Como já falei anteriormente: isso é para mim um compromisso visceral de vida – hoje estou aqui graças a Deus, aos que me ajudaram e à educação. Ela precisa ser mais do que um direito, precisa ser uma força alavancadora da economia, alavancadora do conhecimento, da inovação, da tecnologia, do que faz melhorar o presente e sonhar que o futuro pode ser cada vez melhor. Isso a gente consegue com a educação. Sei que precisamos continuar enfrentando as desigualdades. Os 25 milhões que saíram da linha da pobreza já é um grande feito. Sei disso porque fui vice-presidente da Comissão de Combate à Pobreza e conheci os lugares mais pobres deste país. Foi, ali, que começou a surgir o Bolsa Família. Hoje, tenho a felicidade de ter o economista Ricardo Paes de Barros, que não está presente, porque é quinta-feira, está trabalhando no Ipea, liderando um programa social que chamamos Programa Social de Terceira Geração, que cria oportunidades para que todos possam desenvolver suas potencialidades. Todos nós as temos, o que nos faltam são as oportunidades.

 

Foi graças às frestas da educação que minha vida mudou, foi graças à educação de qualidade que um filho de classe média paulista, vindo de uma boa universidade federal, a USP, tornou-se um dos empresários mais prósperos do Brasil. Isso não se constitui ainda uma regra, foi uma exceção. Não estamos aqui exibindo nossas trajetórias para dizer como dizem os conservadores, os reacionários: “Olha como nós vencemos? Se for trabalhador, se for interessado, se não for preguiçoso, vai vencer.”Isso não é verdade, é uma agulha no palheiro que passa por essa fresta. Ele, com o FGTS dele, lá, na garagem da casa dele – olha, gente, cuidado, não vão todos saírem sacando todo o FGTS e botando uma empresa de cosméticos na garagem para não acabar com o cabelo dos outros por aí,  tem uma ciência por trás disso, é só uma brincadeira. É isso que fez nossas trajetórias se encontrarem agora: igualdade de oportunidades para as pessoas, política social de terceira geração, saímos da cesta básica, fomos para um bom programa de transferência de renda e, agora, vamos para um bom programa que mobiliza a sociedade brasileira, porque, junto com essa política, terá que vir um outro tipo de Estado, sair da idéia de Estado provedor, que faz as coisas para as pessoas, para um Estado mobilizador, que faz as coisas com as pessoas. Não é fazer para os pobres; é com os pobres que temos que fazer.

 

O Bolsa Família está nos ensinando isso, vamos aprofundar aquilo que chamamos de programa de terceira geração. Queremos ser um Brasil próspero, um Brasil sustentável em todas as suas dimensões, na sua dimensão econômica, social, cultural, política, na sua dimensão ética e na sua dimensão estética – porque não dizer? Quero homenagear na pessoa do Hélio e do André Danilo, a diversidade cultural deste país. Não temos que ter medo da diversidade, da liberdade de idéias, da liberdade de expressão, mas a expressão de todas as idéias para que não incorramos no erro de que o que pode se expressar são apenas algumas idéias.  Todas as idéias devem ser respeitadas, debatidas democraticamente.

 

As diretrizes do programa de governo que temos – não vou cansar vocês, há uma publicação que todos receberão–, ainda não é o programa, são apenas as diretrizes. A partir daqui vamos abrir um grande debate. Os meios modernos de comunicação permitem que possamos, mais do que em nossas reuniões partidárias, do grupo técnico, onde os economistas, os educadores, onde as pessoas que estão ajudando a fazer o Programa de Governo, como o Tarso, Sandroni, Neca e tantos outros, além desses, vocês também vão poder participar sugerindo idéias, inclusive como fez o Presidente Obama, não é? Temos uma inspiração nessa aprendizagem.

 

Vou citar apenas as diretrizes: política cidadã, baseada em princípios e valores é o primeiro ponto; educação para a qualidade de vida, para formar os cidadãos e cidadãs de uma sociedade que cada vez mais se organiza em rede; economia sustentável, fazendo com que juntemos o melhor da tradição ao melhor da modernidade para dar as respostas, para produzir o emprego, a habitação, a energia, a infraestrutura, a arte e a cultura do Brasil que a gente quer; terceira geração de programas sociais. Qualidade de vida e bem-estar para todos os brasileiros.

 

Meus companheiros e companheiras, estou fazendo uma mistura desse roteiro para fugir da tentação de ler, porque as diretrizes estão muito bem organizadas, muito bem feitas – Sirkis e Capô lideraram esse processo, juntamente com o Tasso, Pedro Leitão e tantos outros, mas, para honrar o compromisso de vocês, fiz uma negociação com o roteiro, atendendo a um apelo do Sirkis que diz o tempo todo: “Pelo amor de Deus, não leia, faça um discurso de improviso.”  Confesso que se eu fosse ler seria mil vez pior do que aconteceu com o meu amigo Guilherme Leal, que, muito corretamente, disse para vocês que está se iniciando. Quero mais é agradecer.

 

Quem vem de onde vim, quem tem registrado na alma, no corpo, na memória, tantas coisas, tantas estórias e estórias, já fica agradecida só por estar aqui olhando para vocês. Enquanto falavam os nossos apoiadores, simbolizando nossa aliança, fiquei pensando: que convenção comportada! Parece que estamos em uma sala de conferência, vem o Hélio e faz a conferência dele, vem o Leonardo, o André Danilo, o Álvaro, o Dudu, a Neca, todos que falaram aqui. Depois vem uma segunda bateria, aqueles que fazem uma espécie de conferência política, e aí entra o Gabeira, o Sirkis, a Micarla, o Guiherme e agora eu. Por que será?

 

Que coisa maravilhosa, geralmente nas convenções é um barulho danado, as pessoas nem querem ouvir o que os candidatos estão dizendo, basta levantar a bandeira, basta aplaudir. Vocês estão prestando atenção, vocês estão mais do que vendo, vocês estão percebendo, estão mais do que escutando, estão compreendendo a urgência e a emergência de que este Brasil não pode mais ser adiado para amanhã. Ele começa agora. É por isso que não vamos aceitar o veredito do plebiscito. Não há veredito. Ele vai ser revogado pelo povo brasileiro, vai se entregar por inteiro ao Brasil que a gente quer.  Muito obrigada. Para esta cabocla, já é muita coisa.

 

Companheiros, vou concluir. Eu havia perguntado para os meus assessores: o que é um discurso razoável? Eles disseram: 30 minutos. Eu disse: 40 minutos. Eles disseram: 50. E eu já estou com medo de ter passado, não quero aqui descumprir o trato, porque esse auditório é alugado e tem horário para acabar. Obrigada por estarem aqui.

 

Fico olhando, Xavier, aquela Marina gordinha que foi para o carnaval com samba no pé, não sei como conseguiu rebolar, não tenho tantas reservas cambiais como ela, mas espero que todos vocês me emprestem suas reservas – alguns até têm demais, cuidado – sua força, sua energia. O pessoal diz: vocês não têm muito dinheiro. Eu disse: não custa caro um palanque no coração. Um palanque no coração faz com que o palhaço suba aqui e faça seu improviso, criando uma situação, Zequinha. Eu queria aqui dizer, na tua pessoa e do nosso líder, o Edson Duarte, que vocês têm feito uma luta de gigantes na defesa na defesa do Código Florestal. Obrigada, Zequinha, obrigada Fábio Feldmann, por você terem colocado o artigo 225 que protege os rios, as florestas, a terra, o ar, e tudo o que nela há.

 

O Brasil, nos últimos 16 anos, teve a oportunidade de ter como Presidente da República duas pessoas profundamente marcadas por suas vidas e trajetórias públicas. O primeiro, um sociólogo bem sucedido, um homem filho da cátedra brasileira que se dispôs a servir o País num trincado e difícil terreno da política, onde poucos sobrevivem à velha lógica da “dita” e da “desdita”, mas com o Plano Real pôde dizer muita coisa, além do que precisamos corrigir, aquilo que precisa ser de fato desdito.

 

O segundo, um operário. Sobrevivente das mazelas do Brasil e de si mesmo, que se dispôs, a partir de suas próprias raízes, a alimentar e sustentar, por mais de duas décadas, o Brasil, com esperanças e sonhos, até ver a mesa posta das realidades mais expostas em dúvidas acertos e erros. Esses foram os presidentes Lula e Fernando Henrique, que não tenho problema de reconhecer e de criticar.

 

Fiquei no Governo durante cinco anos, nunca fiz um discurso fácil para o presidente dizendo: sim senhor, sim senhor, quando eu achava que o prejudicava e prejudicava o Brasil e prejudicava aquilo que são os interesses estratégicos da gestão pública, mas nunca me neguei a construir as melhores soluções para ajudá-los a fazer com que o Brasil saísse de 27 mil quilômetros quadrados de floresta devastada para sete mil no ano passado. Agradeço por ter feito parte desse governo.

 

Não posso deixar de dizer para vocês que estou aqui sem uma dorzinha no coração. É claro que estou. Sei que neste momento está tendo a convenção do Jorge, do Tião, dos meus companheiros de luta. Peço a Deus que eles continuem vitoriosos. Estamos separados momentaneamente, mas vamos nos encontrar no segundo turno, se Deus quiser. Eu disse que este país foi marcado pela trajetória de dois homens, um da cátedra e o outro da luta operária, que simbolizam a democracia brasileira. Quero agora falar para vocês uma coisa que fiz, para terminar aqui. Que marcas o povo brasileiro quer que tenha o próximo presidente ou a futura presidenta do Brasil? Que marcas dever ter? Essa resposta, por inteiro, só o povo brasileiro poderá dizer quando terminarem as eleições.

 

Não podemos ser ansiosos, não temos como entrar no coração do povo, deixemos que ele encante, se aquebrante, faça de novo tudo novo e dê a resposta no final das eleições. Enquanto o povo debate, dialoga, converge, diverge, se afasta, se junta e coliga, permitam só que,  no afã de ajudarem suas decisões, lhes diga:  Que marcas trago no peito? Que marcas trago nas mãos? Que marcas trago da condição feminina? Que marcas trago do chão? Que marcas trago das matas? Que marcas trago das atas, dos registros, dos porões? Que marcas trago em meus olhos e em meus sonhos, vontade, medo e paixões? Que marcas trago das cidades de encontro e separação? Que marcas trago da fé de quem crê para ver o quão este Brasil será gigante também pelas nossas mãos?

 

Por fim, que o coração que povo brasileiro quer ver dirigindo a República Federativa do Brasil, a partir do dia 1º de janeiro de 2011, seja o coração dos 190 milhões de brasileiros guiados por suas próprias decisões. Essas marcas, esses registros, é o quero que levem desta convenção.

 

Eu te agradeço, Guilherme, porque você está aqui.  Concluo dando um testemunho: tenho um amigo muito importante, é quase um irmão, meio filho, meio irmão, o Binho, o Governador do Acre. O Binho o Fábio, meu marido, conhece muito bem, trabalha com ele, é seu secretário. Ele foi uma pessoa muito importante na minha vida. Era um menino de classe média alta e eu uma menina igrejeira da comunidade de base que me vestia mal. Achavam que eu me vestia mal, eu me achava a maior charmosa, nos meus vestidinhos de chita que minha mãe fazia e achava que eu era tão bonita, mas o pessoal achava que eu era feia.

 

O Binho me pegou pela mão e me ensinou a transitar em lugares que eu não conseguia entrar sozinha, me ajudou a comprar os livros, me trazia para os congressos de juventude, essas coisas que o Eduardo e o pessoal aqui continuam fazendo. Agradeço imensamente a tudo o que o Binho me ensinou.

 

Estou aqui, agora, com 52 anos. A exemplo do que o Binho fez, lá no passado, quando me ensinou o que era música popular brasileira, sentou no chão comigo, botou o disco e foi me ensinar os vários gêneros de música do Brasil, porque eu só conhecia o forró e a música caipira. Foi o mediador cultural para mim.

 

Agora estou aqui com um novo mediador cultural, aos 52 anos, o empresário Guilherme Leal. Estamos fazendo esse par político. Ele está me ensinando muitas coisas, diz que está aprendendo muito comigo, mas a maior aprendizagem que temos é a aprendizagem com o Brasil. Estou muito feliz de estarmos aqui.

 

Que cada um de vocês possa levar o compromisso de estarmos juntos pelo Brasil que queremos. Que cada um que está nos assistindo pela internet possa assumir o compromisso pelo Brasil que queremos. Que cada homem, que cada mulher, que têm fé, possam rezar, os que não têm, que possam torcer para que a gente possa fazer com que, no dia 1º de janeiro de 2011, o Brasil possa ter a primeira mulher negra, de origem pobre, presidente da República Federativa do Brasil. Um grande abraço, um beijo no coração de vocês.

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