A eleição de um presidente com reduzido tempo no horário gratuito de TV, estrutura partidária e com discurso anti-sistema em um país de 210 milhões de habitantes, rompendo um ciclo de seis eleições disputadas por dois partidos tradicionais, é o tema do recém-lançado Eleição disruptiva - Por que Bolsonaro foi eleito, livro de Maurício Moura e Juliano Corbellini.
Em 167 páginas, os autores avaliam a polarização durante a eleição entre o "Partido da Lava Jato" - como definem o discurso público adotado pelo então candidato do PSL contra a corrupção e os partidos tradicionais - e o lulismo. "Foi essa grande polarização que elegeu o Bolsonaro", disse o economista Maurício Moura, fundador do instituto de pesquisas Ideia Big Data e professor da Universidade George Washington, nos EUA. Ele também cita a rejeição ao PT como fator decisivo no pleito de 2018.
Para além dos aspectos da eleição, os autores destacam uma estrutura que deve permear as próximas eleições: as redes sociais e o celular. "Bolsonaro surfou muito bem nessa onda e conseguiu obter um conjunto de disseminadores orgânicos defendendo seus conteúdos. É difícil imaginar uma campanha daqui para frente que não passe pelo celular das pessoas", afirmou Moura.
Para Juliano Corbellini, doutor em ciência política e outro autor do livro, os efeitos da eleição já são sentidos nos primeiros meses de governo, que inaugura uma nova realidade em comparação com os presidentes anteriores, que governaram segundo a cartilha do presidencialismo de coalizão, buscando consensos para obter maiorias e, assim, governar.
“Nos governos de Fernando Henrique e Lula, os movimentos eram moderadores, buscavam o centro: FHC com o PFL, Lula buscou o PMDB. Eram movimentos para o centro e as mudanças eram feitas a partir de negociação e concessão”, avaliou Corbellini, que acredita que o estilo de Bolsonaro será sempre diferente. “Estimular o conflito me parece ser uma lógica estratégica do governo.”
Para Corbellini, a complexidade do grupo que elegeu Bolsonaro - que vai de evangélicos a liberais, pessoas decepcionadas com a segurança pública, defensores da flexibilização do porte de armas e críticos ao PT - torna mais difícil a tarefa de governar. "A lógica do presidente parece ser justamente ir alimentando pontualmente cada um desses grupos que o elegeram."