Petistas e tucanos de ponta


Na batalha por corações e mentes, o PT perdeu a ponta da pirâmide econômica e o PSDB está cada vez mais dependente dela. Essa reviravolta numa parte pequena mas influente da sociedade brasileira ajuda a espalhar fagulhas entre os dois partidos. Pela primeira vez, há mais brasileiros com renda superior a 10 salários mínimos que se dizem tucanos do que petistas: 23% a 13%, segundo o Ibope. Não é nada trivial. Parece ter chegado ao fim uma supremacia de 15 anos do PT no segmento onde se concentram, por exemplo, leitores de jornais e revistas. A virada começou no auge da simpatia pelo PT, quando o então presidente Lula batia recordes de aprovação e a economia crescia num ritmo mais chinês que europeu. Em março de 2010, o PT atingiu seu pico de popularidade. Um em cada três brasileiros declarava simpatia pelo partido. Mas entre os eleitores mais ricos o petismo estava decadente havia anos. Desde junho de 2001, quando 35% do topo da pirâmide se disseram simpatizantes, o PT vinha com viés de baixa nesse extrato. O movimento custou a ser percebido porque o sobe e desce dos índices mascarava as tendências de longo prazo. Ao mesmo tempo, a perda dos eleitores com renda mais alta era compensada pelo crescimento do PT na base da pirâmide. Quando Dilma Rousseff assumiu sua candidatura à Presidência, no começo de 2010, a penetração petista na elite econômica já estava reduzida a 22%. Ao fim da campanha eleitoral, sete meses depois, a taxa havia caído para 16%. Hoje é de 13%. Apesar disso, a perda de simpatia do PT nada tem a ver com Dilma. O declínio nessa ponta vem dos câmbios da direção partidária que desembocaram, em 2005, no escândalo do mensalão. O desgaste é cumulativo. A cada disputa eleitoral os adversários tiram a casca da ferida e o PT sangra novamente. Foi assim em 2010 e em 2012 - com a ajuda do julgamento do mensalão pelo STF. Os ex-petistas do topo da pirâmide se espalharam. Muitos se desencantaram com a política e viraram sem-partido, outros migraram para pequenas legendas e alguns até tucanaram. Só a partir de 2010 o PSDB cresce entre quem tem renda superior a 10 salários mínimos - e apenas entre eles. Em menos de 3 anos, a preferência tucana pulou de 7% para 23% nessa elite, que passou a ter um peso muito maior entre os simpatizantes do partido. Ou seja, o PSDB percorreu o caminho do PT no sentido oposto. Em 2004, o professor David Samuels, da Universidade de Minnesota, escrevia que os petistas eram diferentes dos outros brasileiros: "São mais instruídos e politicamente conscientes do que a média. (…) Acreditam que a participação do indivíduo na política pode fazer diferença". Se houve tal diferenciação, ela se diluiu. O petismo perdeu influência justamente nas camadas citadas por Samuels. Ao mesmo tempo, absorveu lulistas - eleitores pragmáticos, cativados pela inclusão social via consumo. O resultado é que o petismo mudou. Com uma base menos rica, mais nordestina e, principalmente, mais numerosa, colecionou vitórias nas urnas. Mas, depende cada vez mais do vaivém da economia.

Por José Roberto de Toledo

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.