Facada ainda reverbera na comunicação bolsonarista, dizem analistas


Um ano depois, interpretação do atentado é revisitada no discurso do presidente e de seu entorno

Por Túlio Kruse

“Quem mandou matar Bolsonaro?”, questionou seu filho Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro, há cinco dias em sua conta no Twitter. A mensagem foi replicada 2,6 mil vezes. Em outra, ressaltou que o autor do ataque, Adélio Bispo de Oliveira, foi filiado ao PSOL e afirmou: “Todos os bandidos do Brasil estão contra você e isso é cristalino”.

O então candidato do PSLJair Bolsonaro, em Juiz de Fora, há um ano Foto: Fabio Motta/Estadão
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Para analistas, o atentado contra o então candidato do PSL ainda reverbera na comunicação do presidente e seu entorno, mesmo um ano depois. Se durante a campanha o discurso bolsonarista já era pautado pelo enfrentamento à esquerda, a facada de Adélio Bispo serviu para cristalizar o clima de “nós contra eles”, eles dizem.

A cientista política Vera Chaia, da Pontifícia Universidade Católica (PUC), vê influência do atentado na “desconfiança” de Bolsonaro e seu entorno em relação ao que é dissonante no governo. “Ele tem um sentimento de perseguição”, diz Chaia. “Em relação a esse aspecto do atentado, ele não se conforma, acha que é preciso ter alguém por trás desse atentado.”

Em julho, a Justiça Federal considerou Adélio Bispo inimputável pelo crime, por causa de distúrbios mentais. O processo foi encerrado após a defesa do presidente não recorrer da decisão, mesmo após Bolsonaro dizer que havia um “circo armado” e que estava convencido de que houve pagamento para o ataque. A Polícia Federal ainda tem um inquérito aberto há quase um ano para investigar se Adélio foi orientado ao fazer o ataque, mas não apresentou conclusões.

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Ouça: 'O contexto político contou mais para vitória de Bolsonaro do que o episódio em si', avalia Carlos Melo

Segundo o psiquiatra Daniel Martins de Barros, o episódio da facada apenas reforçou convicções anteriores no entorno de Bolsonaro. Ele lembra, no entanto, que outras situações também serviram de pretexto para reforçar a tônica de enfrentamento ao establishment – das queimadas na Amazônia até mudanças de layout no Instagram.

“Para qualquer coisa que aconteça, eles colocam interpretações algo conspiratórias”, diz Barros. “Tudo que o cerca é colocado nessa lógica do ‘nós contra eles’, que é a lógica binária que pauta a estratégica política deles. Essa é uma lógica que é anterior à facada, e continua depois.”

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Rumos da campanha

Especialistas consultados pelo Estado concordam que o ataque a Bolsonaro mudou os rumos da corrida eleitoral. Ao interromper os ataques de adversários em um momento em que a rejeição ao candidato do PSL crescia, além do tempo de exposição espontânea na cobertura de sua recuperação, o atentado praticamente garantiu Bolsonaro no segundo turno.

Adelio Bispo do Santos, agressor que confessou a facada emBolsonaro, chegou a ser enviado a presídio de segurança máxima; hoje está internado em hospital de custódia Foto: REUTERS/Ricardo Moraes
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“Se a facada não matou Bolsonaro, ela matou a campanha dos adversários”, diz o cientista político Jairo Pimentel, do Centro de Política e Economia do Setor Público (Cepesp) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). "Era um momento em que Bolsonaro estava sofrendo muitas críticas, sobretudo na televisão com a campanha do (ex-governador de São Paulo, Geraldo) Alckmin, que tinha maior tempo de TV e estava usando seu arsenal contra ele.

Ele lembra que, uma vez garantido na segunda etapa da eleição, Bolsonaro tinha vantagens sobre Fernando Haddad (PT-SP), devido ao sentimento de antipetismo no eleitorado. “Fica a dúvida se ele foi eleito porque ele utilizou novas formas de comunicação, porque o contexto era favorável a alguém de fora do establishment, ou porque a facada tornou impossível que outras campanhas ganhassem corpo. Provavelmente é uma combinação desses três fatores.” / COLABOROU JULIA LINDNER

“Quem mandou matar Bolsonaro?”, questionou seu filho Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro, há cinco dias em sua conta no Twitter. A mensagem foi replicada 2,6 mil vezes. Em outra, ressaltou que o autor do ataque, Adélio Bispo de Oliveira, foi filiado ao PSOL e afirmou: “Todos os bandidos do Brasil estão contra você e isso é cristalino”.

O então candidato do PSLJair Bolsonaro, em Juiz de Fora, há um ano Foto: Fabio Motta/Estadão

Para analistas, o atentado contra o então candidato do PSL ainda reverbera na comunicação do presidente e seu entorno, mesmo um ano depois. Se durante a campanha o discurso bolsonarista já era pautado pelo enfrentamento à esquerda, a facada de Adélio Bispo serviu para cristalizar o clima de “nós contra eles”, eles dizem.

A cientista política Vera Chaia, da Pontifícia Universidade Católica (PUC), vê influência do atentado na “desconfiança” de Bolsonaro e seu entorno em relação ao que é dissonante no governo. “Ele tem um sentimento de perseguição”, diz Chaia. “Em relação a esse aspecto do atentado, ele não se conforma, acha que é preciso ter alguém por trás desse atentado.”

Em julho, a Justiça Federal considerou Adélio Bispo inimputável pelo crime, por causa de distúrbios mentais. O processo foi encerrado após a defesa do presidente não recorrer da decisão, mesmo após Bolsonaro dizer que havia um “circo armado” e que estava convencido de que houve pagamento para o ataque. A Polícia Federal ainda tem um inquérito aberto há quase um ano para investigar se Adélio foi orientado ao fazer o ataque, mas não apresentou conclusões.

Ouça: 'O contexto político contou mais para vitória de Bolsonaro do que o episódio em si', avalia Carlos Melo

Segundo o psiquiatra Daniel Martins de Barros, o episódio da facada apenas reforçou convicções anteriores no entorno de Bolsonaro. Ele lembra, no entanto, que outras situações também serviram de pretexto para reforçar a tônica de enfrentamento ao establishment – das queimadas na Amazônia até mudanças de layout no Instagram.

“Para qualquer coisa que aconteça, eles colocam interpretações algo conspiratórias”, diz Barros. “Tudo que o cerca é colocado nessa lógica do ‘nós contra eles’, que é a lógica binária que pauta a estratégica política deles. Essa é uma lógica que é anterior à facada, e continua depois.”

Rumos da campanha

Especialistas consultados pelo Estado concordam que o ataque a Bolsonaro mudou os rumos da corrida eleitoral. Ao interromper os ataques de adversários em um momento em que a rejeição ao candidato do PSL crescia, além do tempo de exposição espontânea na cobertura de sua recuperação, o atentado praticamente garantiu Bolsonaro no segundo turno.

Adelio Bispo do Santos, agressor que confessou a facada emBolsonaro, chegou a ser enviado a presídio de segurança máxima; hoje está internado em hospital de custódia Foto: REUTERS/Ricardo Moraes

“Se a facada não matou Bolsonaro, ela matou a campanha dos adversários”, diz o cientista político Jairo Pimentel, do Centro de Política e Economia do Setor Público (Cepesp) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). "Era um momento em que Bolsonaro estava sofrendo muitas críticas, sobretudo na televisão com a campanha do (ex-governador de São Paulo, Geraldo) Alckmin, que tinha maior tempo de TV e estava usando seu arsenal contra ele.

Ele lembra que, uma vez garantido na segunda etapa da eleição, Bolsonaro tinha vantagens sobre Fernando Haddad (PT-SP), devido ao sentimento de antipetismo no eleitorado. “Fica a dúvida se ele foi eleito porque ele utilizou novas formas de comunicação, porque o contexto era favorável a alguém de fora do establishment, ou porque a facada tornou impossível que outras campanhas ganhassem corpo. Provavelmente é uma combinação desses três fatores.” / COLABOROU JULIA LINDNER

“Quem mandou matar Bolsonaro?”, questionou seu filho Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro, há cinco dias em sua conta no Twitter. A mensagem foi replicada 2,6 mil vezes. Em outra, ressaltou que o autor do ataque, Adélio Bispo de Oliveira, foi filiado ao PSOL e afirmou: “Todos os bandidos do Brasil estão contra você e isso é cristalino”.

O então candidato do PSLJair Bolsonaro, em Juiz de Fora, há um ano Foto: Fabio Motta/Estadão

Para analistas, o atentado contra o então candidato do PSL ainda reverbera na comunicação do presidente e seu entorno, mesmo um ano depois. Se durante a campanha o discurso bolsonarista já era pautado pelo enfrentamento à esquerda, a facada de Adélio Bispo serviu para cristalizar o clima de “nós contra eles”, eles dizem.

A cientista política Vera Chaia, da Pontifícia Universidade Católica (PUC), vê influência do atentado na “desconfiança” de Bolsonaro e seu entorno em relação ao que é dissonante no governo. “Ele tem um sentimento de perseguição”, diz Chaia. “Em relação a esse aspecto do atentado, ele não se conforma, acha que é preciso ter alguém por trás desse atentado.”

Em julho, a Justiça Federal considerou Adélio Bispo inimputável pelo crime, por causa de distúrbios mentais. O processo foi encerrado após a defesa do presidente não recorrer da decisão, mesmo após Bolsonaro dizer que havia um “circo armado” e que estava convencido de que houve pagamento para o ataque. A Polícia Federal ainda tem um inquérito aberto há quase um ano para investigar se Adélio foi orientado ao fazer o ataque, mas não apresentou conclusões.

Ouça: 'O contexto político contou mais para vitória de Bolsonaro do que o episódio em si', avalia Carlos Melo

Segundo o psiquiatra Daniel Martins de Barros, o episódio da facada apenas reforçou convicções anteriores no entorno de Bolsonaro. Ele lembra, no entanto, que outras situações também serviram de pretexto para reforçar a tônica de enfrentamento ao establishment – das queimadas na Amazônia até mudanças de layout no Instagram.

“Para qualquer coisa que aconteça, eles colocam interpretações algo conspiratórias”, diz Barros. “Tudo que o cerca é colocado nessa lógica do ‘nós contra eles’, que é a lógica binária que pauta a estratégica política deles. Essa é uma lógica que é anterior à facada, e continua depois.”

Rumos da campanha

Especialistas consultados pelo Estado concordam que o ataque a Bolsonaro mudou os rumos da corrida eleitoral. Ao interromper os ataques de adversários em um momento em que a rejeição ao candidato do PSL crescia, além do tempo de exposição espontânea na cobertura de sua recuperação, o atentado praticamente garantiu Bolsonaro no segundo turno.

Adelio Bispo do Santos, agressor que confessou a facada emBolsonaro, chegou a ser enviado a presídio de segurança máxima; hoje está internado em hospital de custódia Foto: REUTERS/Ricardo Moraes

“Se a facada não matou Bolsonaro, ela matou a campanha dos adversários”, diz o cientista político Jairo Pimentel, do Centro de Política e Economia do Setor Público (Cepesp) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). "Era um momento em que Bolsonaro estava sofrendo muitas críticas, sobretudo na televisão com a campanha do (ex-governador de São Paulo, Geraldo) Alckmin, que tinha maior tempo de TV e estava usando seu arsenal contra ele.

Ele lembra que, uma vez garantido na segunda etapa da eleição, Bolsonaro tinha vantagens sobre Fernando Haddad (PT-SP), devido ao sentimento de antipetismo no eleitorado. “Fica a dúvida se ele foi eleito porque ele utilizou novas formas de comunicação, porque o contexto era favorável a alguém de fora do establishment, ou porque a facada tornou impossível que outras campanhas ganhassem corpo. Provavelmente é uma combinação desses três fatores.” / COLABOROU JULIA LINDNER

“Quem mandou matar Bolsonaro?”, questionou seu filho Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro, há cinco dias em sua conta no Twitter. A mensagem foi replicada 2,6 mil vezes. Em outra, ressaltou que o autor do ataque, Adélio Bispo de Oliveira, foi filiado ao PSOL e afirmou: “Todos os bandidos do Brasil estão contra você e isso é cristalino”.

O então candidato do PSLJair Bolsonaro, em Juiz de Fora, há um ano Foto: Fabio Motta/Estadão

Para analistas, o atentado contra o então candidato do PSL ainda reverbera na comunicação do presidente e seu entorno, mesmo um ano depois. Se durante a campanha o discurso bolsonarista já era pautado pelo enfrentamento à esquerda, a facada de Adélio Bispo serviu para cristalizar o clima de “nós contra eles”, eles dizem.

A cientista política Vera Chaia, da Pontifícia Universidade Católica (PUC), vê influência do atentado na “desconfiança” de Bolsonaro e seu entorno em relação ao que é dissonante no governo. “Ele tem um sentimento de perseguição”, diz Chaia. “Em relação a esse aspecto do atentado, ele não se conforma, acha que é preciso ter alguém por trás desse atentado.”

Em julho, a Justiça Federal considerou Adélio Bispo inimputável pelo crime, por causa de distúrbios mentais. O processo foi encerrado após a defesa do presidente não recorrer da decisão, mesmo após Bolsonaro dizer que havia um “circo armado” e que estava convencido de que houve pagamento para o ataque. A Polícia Federal ainda tem um inquérito aberto há quase um ano para investigar se Adélio foi orientado ao fazer o ataque, mas não apresentou conclusões.

Ouça: 'O contexto político contou mais para vitória de Bolsonaro do que o episódio em si', avalia Carlos Melo

Segundo o psiquiatra Daniel Martins de Barros, o episódio da facada apenas reforçou convicções anteriores no entorno de Bolsonaro. Ele lembra, no entanto, que outras situações também serviram de pretexto para reforçar a tônica de enfrentamento ao establishment – das queimadas na Amazônia até mudanças de layout no Instagram.

“Para qualquer coisa que aconteça, eles colocam interpretações algo conspiratórias”, diz Barros. “Tudo que o cerca é colocado nessa lógica do ‘nós contra eles’, que é a lógica binária que pauta a estratégica política deles. Essa é uma lógica que é anterior à facada, e continua depois.”

Rumos da campanha

Especialistas consultados pelo Estado concordam que o ataque a Bolsonaro mudou os rumos da corrida eleitoral. Ao interromper os ataques de adversários em um momento em que a rejeição ao candidato do PSL crescia, além do tempo de exposição espontânea na cobertura de sua recuperação, o atentado praticamente garantiu Bolsonaro no segundo turno.

Adelio Bispo do Santos, agressor que confessou a facada emBolsonaro, chegou a ser enviado a presídio de segurança máxima; hoje está internado em hospital de custódia Foto: REUTERS/Ricardo Moraes

“Se a facada não matou Bolsonaro, ela matou a campanha dos adversários”, diz o cientista político Jairo Pimentel, do Centro de Política e Economia do Setor Público (Cepesp) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). "Era um momento em que Bolsonaro estava sofrendo muitas críticas, sobretudo na televisão com a campanha do (ex-governador de São Paulo, Geraldo) Alckmin, que tinha maior tempo de TV e estava usando seu arsenal contra ele.

Ele lembra que, uma vez garantido na segunda etapa da eleição, Bolsonaro tinha vantagens sobre Fernando Haddad (PT-SP), devido ao sentimento de antipetismo no eleitorado. “Fica a dúvida se ele foi eleito porque ele utilizou novas formas de comunicação, porque o contexto era favorável a alguém de fora do establishment, ou porque a facada tornou impossível que outras campanhas ganhassem corpo. Provavelmente é uma combinação desses três fatores.” / COLABOROU JULIA LINDNER

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