Como a conjuntura do País afeta o ambiente público e o empresarial

O inferno é o limite


Por Redação

José Antonio G. de Pinho, Professor Titular Aposentado - Escola de Administração - UFBA. Pesquisador FGV - EAESP

Nos primórdios da televisão no Brasil, havia um programa chamado "O céu é o limite" que constava de perguntas sobre um determinado tema. O respondente era alguém expert naquele assunto e, à medida em que o programa avançava o concorrente acumulava prêmios. A ideia de que o céu era o limite indicava o teto onde o candidato podia chegar, ou seja, alcançar o grande prêmio.

No Brasil de hoje temos uma situação inversa. Temos um candidato que ganhou a eleição, está no exercício do seu mandato presidencial, e conduz o País não a um suposto céu, mas a um inferno certeiro. Na verdade já estamos nele, mas ainda podemos ir para camadas mais profundas, o que está ruim pode ficar pior, porque é o condutor que não tem limites.

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Nos últimos artigos neste espaço, temos defendido que Bolsonaro é um outlier.  O termo não significa obrigatoriamente alguém "fora de série", localizado no topo, mas também pode se referir a alguém no extremo de baixo. Era este o sentido dado nesses artigos. Sua trajetória nos tempos de caserna, onde não passou da patente média do oficialato, e sua saída da corporação em condições "estranhas", sua passagem pela Câmara Federal onde se abrigou no lúmpen legislativo, situado abaixo do baixo clero, tudo confirma sua condição anômala.

Com essas referências, não se podia esperar nada para melhor no exercício da Presidência. Muito pelo contrário, a expectativa era muito negativa, não só pelo seu histórico público como também pelo fato de uma vez investido no cargo acumularia muito mais poder, o que sempre esteve no seu horizonte de desejo. Seu programa de governo, se pode ser chamado assim, tem sido promover uma destruição lato sensu: as instituições da vida democrática e republicana, o meio ambiente, a Universidade, a Ciência, os valores da Modernidade, a vida em várias de suas manifestações.

Depois das manifestações do dia 7 de setembro, onde percebeu que excedeu os seus próprios limites, ao atacar ministros do STF, efetuou um recuo, lavrando uma declaração à Nação, não de próprio punho, mas vinda de um coach, um ghost writer, que se acreditava haver pendurado as chuteiras.

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Qual quê! Reiterou essa posição de outlier agora para todo o mundo ver na Assembleia da ONU. Dos líderes do G20, apenas ele, o brasileiro Jair Messias Bolsonaro, tristemente brasileiro, não estava vacinado, uma anomalia entre vinte. Esta condição já havia se manifestado no dia anterior quando o Presidente e sua trupe tiveram que fazer a refeição na calçada, novamente por não estar vacinado, jogando a moral e a imagem do Brasil na boca do esgoto. Um Presidente de rua.

Sua fala no lócus mais visível do conjunto das nações exibiu todo seu negacionismo, propagou fake news sobre a realidade brasileira, um verdadeiro "mentiracionismo", mentiu de forma deslavada e descarada, à luz do dia, e com exposição mundial. Mentiu sem constrangimentos, sem pudor, sem rubor na face, sem passar vergonha.

Toda a sua carreira política foi embasada em um micro cosmos, em um ambiente miliciano, onde a lógica das relações está assentada em um poder à margem da lei, e os conflitos são "resolvidos" nos parâmetros dessa ordem paralela. O que tem se verificado é que o ex-capitão mantém essa cabeça de miliciano no exercício da Presidência e, agora, a expõe ao mundo.

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O que defendemos neste breve escrito é que cada dia de Jair Bolsonaro no poder é mais um dia de avanço na destruição. Na contabilidade de sua sanha destruidora, já se encontra fração considerável das 600 mil mortes pelo COVID 19, pela sua recusa na compra de vacinas, o aumento de queimadas e desmatamento em vários biomas, na Amazônia principalmente, pelo deliberado sucateamento dos órgãos de controle existentes, como o caso do INPE.

Não ficam fora desta sanha também seus ataques recorrentes às instituições democráticas, além de investidas em outros setores da vida, como a criminosa recusa à vacina. Destruição é a palavra chave para entender Bolsonaro. Pensar que ainda restam cerca de 450 dias para o término de seu mandato, não dá para imaginar o quanto ainda pode fazer enquanto "a boiada passa". Vontade e desembaraço não lhe faltam. Assim, urge acelerar a abertura do processo de impeachment.

O Brasil já viu e agora o mundo vê que o presidente está nu. Neste quadro tétrico onde fica cada dia mais visível a incompetência, incapacidade e a irresponsabilidade do Presidente, cabe perguntar quem ainda o sustenta no poder?

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O cenário atual pode ser pintado da seguinte maneira: o empresariado já está desembarcando do apoio originalmente dado ao capitão, o grupo de Evangélicos ainda ao seu lado, apesar de defecções, não teria capacidade de mobilização suficiente para sustentá-lo no poder, e o grupode devotos radicais e fiéis não tem se mostrado encorpado o suficiente para alimentar as intenções golpistas de seu líder.

As ruas, apesar de todo marketing oficial, evidenciaram ser um grupo bem menor do que o apregoado.Restam, a nosso ver, dois segmentos que respondem pelo apoio ao Presidente e que ainda resistem ao seu impeachment: os parlamentares do Centrão e os militares aninhados nos ministérios e empresas estatais, com soldos vitaminados, que se locupletam desse apoio oportunista, assumindo que estes não representam as FFAA.

Esses dois segmentos tem lógicas diferenciadas de ação política, por conta da natureza das duas instituições. Fica difícil imaginar as FFAA se opondo, militarmente, a deflagração de um processo de impeachment e sua concretização, pois isso representaria chancelar, através do alto generalato, a atuação do capitão reformado. A lógica do Centrão é bem diferente.

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Como um grupo de partidos políticos que se situa ao Centro Direita no espectro político com caráter fisiológico, tem liberdade para se movimentar ora à esquerda, ora à direita, sem qualquer constrangimento oferecendo apoio político (votos no Legislativo) para dirigentes em apuros, a expressão mais podre do presidencialismo de coalizão.

No caso presente, o partido com maior protagonismo é o PP, que ocupa três posições chave no tabuleiro que sustenta Bolsonaro no Palácio do Planalto: Arthur Lira, presidente da Câmara, o que detém a chave da gaveta onde dormem os pedidos de impeachment, Ciro Nogueira, Presidente do PP, e agora Ministro e o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros. Esse apoio exige uma contrapartida por parte do contratante, o que vem na forma de emendas parlamentares, indicações para cargos públicos além de ações de baixa transparência.

Esse contrato tem caráter instável e pode ser denunciado a qualquer momento. Focando na parte contratada, esta faz uma avaliação contínua da viabilidade de se manter a parceria. Quando entender que se esgotaram as fontes de extração e/ou quando sente que está em risco seu interesse futuro, ela rompe o contrato de forma unilateral.  Está assim a sustentação do governo Bolsonaro nas mãos do Centrão, mais ainda do PP e mais ainda no gatekeeper Arthur Lira.

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Deste modo, para evitar a sanha destrutiva e incontrolável do Presidente, urge colocar pressão sobre Lira sinalizando que a manutenção de Bolsonaro no cargo representa a continuidade do caminho para o inferno sendo Arthur Lira acompanhante e cúmplice do bolsonóquio. A sociedade brasileira não pode ficar à mercê dos interesses comerciais do PP e de seus dirigentes para se livrar da rota do inferno.

José Antonio G. de Pinho, Professor Titular Aposentado - Escola de Administração - UFBA. Pesquisador FGV - EAESP

Nos primórdios da televisão no Brasil, havia um programa chamado "O céu é o limite" que constava de perguntas sobre um determinado tema. O respondente era alguém expert naquele assunto e, à medida em que o programa avançava o concorrente acumulava prêmios. A ideia de que o céu era o limite indicava o teto onde o candidato podia chegar, ou seja, alcançar o grande prêmio.

No Brasil de hoje temos uma situação inversa. Temos um candidato que ganhou a eleição, está no exercício do seu mandato presidencial, e conduz o País não a um suposto céu, mas a um inferno certeiro. Na verdade já estamos nele, mas ainda podemos ir para camadas mais profundas, o que está ruim pode ficar pior, porque é o condutor que não tem limites.

Nos últimos artigos neste espaço, temos defendido que Bolsonaro é um outlier.  O termo não significa obrigatoriamente alguém "fora de série", localizado no topo, mas também pode se referir a alguém no extremo de baixo. Era este o sentido dado nesses artigos. Sua trajetória nos tempos de caserna, onde não passou da patente média do oficialato, e sua saída da corporação em condições "estranhas", sua passagem pela Câmara Federal onde se abrigou no lúmpen legislativo, situado abaixo do baixo clero, tudo confirma sua condição anômala.

Com essas referências, não se podia esperar nada para melhor no exercício da Presidência. Muito pelo contrário, a expectativa era muito negativa, não só pelo seu histórico público como também pelo fato de uma vez investido no cargo acumularia muito mais poder, o que sempre esteve no seu horizonte de desejo. Seu programa de governo, se pode ser chamado assim, tem sido promover uma destruição lato sensu: as instituições da vida democrática e republicana, o meio ambiente, a Universidade, a Ciência, os valores da Modernidade, a vida em várias de suas manifestações.

Depois das manifestações do dia 7 de setembro, onde percebeu que excedeu os seus próprios limites, ao atacar ministros do STF, efetuou um recuo, lavrando uma declaração à Nação, não de próprio punho, mas vinda de um coach, um ghost writer, que se acreditava haver pendurado as chuteiras.

Qual quê! Reiterou essa posição de outlier agora para todo o mundo ver na Assembleia da ONU. Dos líderes do G20, apenas ele, o brasileiro Jair Messias Bolsonaro, tristemente brasileiro, não estava vacinado, uma anomalia entre vinte. Esta condição já havia se manifestado no dia anterior quando o Presidente e sua trupe tiveram que fazer a refeição na calçada, novamente por não estar vacinado, jogando a moral e a imagem do Brasil na boca do esgoto. Um Presidente de rua.

Sua fala no lócus mais visível do conjunto das nações exibiu todo seu negacionismo, propagou fake news sobre a realidade brasileira, um verdadeiro "mentiracionismo", mentiu de forma deslavada e descarada, à luz do dia, e com exposição mundial. Mentiu sem constrangimentos, sem pudor, sem rubor na face, sem passar vergonha.

Toda a sua carreira política foi embasada em um micro cosmos, em um ambiente miliciano, onde a lógica das relações está assentada em um poder à margem da lei, e os conflitos são "resolvidos" nos parâmetros dessa ordem paralela. O que tem se verificado é que o ex-capitão mantém essa cabeça de miliciano no exercício da Presidência e, agora, a expõe ao mundo.

O que defendemos neste breve escrito é que cada dia de Jair Bolsonaro no poder é mais um dia de avanço na destruição. Na contabilidade de sua sanha destruidora, já se encontra fração considerável das 600 mil mortes pelo COVID 19, pela sua recusa na compra de vacinas, o aumento de queimadas e desmatamento em vários biomas, na Amazônia principalmente, pelo deliberado sucateamento dos órgãos de controle existentes, como o caso do INPE.

Não ficam fora desta sanha também seus ataques recorrentes às instituições democráticas, além de investidas em outros setores da vida, como a criminosa recusa à vacina. Destruição é a palavra chave para entender Bolsonaro. Pensar que ainda restam cerca de 450 dias para o término de seu mandato, não dá para imaginar o quanto ainda pode fazer enquanto "a boiada passa". Vontade e desembaraço não lhe faltam. Assim, urge acelerar a abertura do processo de impeachment.

O Brasil já viu e agora o mundo vê que o presidente está nu. Neste quadro tétrico onde fica cada dia mais visível a incompetência, incapacidade e a irresponsabilidade do Presidente, cabe perguntar quem ainda o sustenta no poder?

O cenário atual pode ser pintado da seguinte maneira: o empresariado já está desembarcando do apoio originalmente dado ao capitão, o grupo de Evangélicos ainda ao seu lado, apesar de defecções, não teria capacidade de mobilização suficiente para sustentá-lo no poder, e o grupode devotos radicais e fiéis não tem se mostrado encorpado o suficiente para alimentar as intenções golpistas de seu líder.

As ruas, apesar de todo marketing oficial, evidenciaram ser um grupo bem menor do que o apregoado.Restam, a nosso ver, dois segmentos que respondem pelo apoio ao Presidente e que ainda resistem ao seu impeachment: os parlamentares do Centrão e os militares aninhados nos ministérios e empresas estatais, com soldos vitaminados, que se locupletam desse apoio oportunista, assumindo que estes não representam as FFAA.

Esses dois segmentos tem lógicas diferenciadas de ação política, por conta da natureza das duas instituições. Fica difícil imaginar as FFAA se opondo, militarmente, a deflagração de um processo de impeachment e sua concretização, pois isso representaria chancelar, através do alto generalato, a atuação do capitão reformado. A lógica do Centrão é bem diferente.

Como um grupo de partidos políticos que se situa ao Centro Direita no espectro político com caráter fisiológico, tem liberdade para se movimentar ora à esquerda, ora à direita, sem qualquer constrangimento oferecendo apoio político (votos no Legislativo) para dirigentes em apuros, a expressão mais podre do presidencialismo de coalizão.

No caso presente, o partido com maior protagonismo é o PP, que ocupa três posições chave no tabuleiro que sustenta Bolsonaro no Palácio do Planalto: Arthur Lira, presidente da Câmara, o que detém a chave da gaveta onde dormem os pedidos de impeachment, Ciro Nogueira, Presidente do PP, e agora Ministro e o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros. Esse apoio exige uma contrapartida por parte do contratante, o que vem na forma de emendas parlamentares, indicações para cargos públicos além de ações de baixa transparência.

Esse contrato tem caráter instável e pode ser denunciado a qualquer momento. Focando na parte contratada, esta faz uma avaliação contínua da viabilidade de se manter a parceria. Quando entender que se esgotaram as fontes de extração e/ou quando sente que está em risco seu interesse futuro, ela rompe o contrato de forma unilateral.  Está assim a sustentação do governo Bolsonaro nas mãos do Centrão, mais ainda do PP e mais ainda no gatekeeper Arthur Lira.

Deste modo, para evitar a sanha destrutiva e incontrolável do Presidente, urge colocar pressão sobre Lira sinalizando que a manutenção de Bolsonaro no cargo representa a continuidade do caminho para o inferno sendo Arthur Lira acompanhante e cúmplice do bolsonóquio. A sociedade brasileira não pode ficar à mercê dos interesses comerciais do PP e de seus dirigentes para se livrar da rota do inferno.

José Antonio G. de Pinho, Professor Titular Aposentado - Escola de Administração - UFBA. Pesquisador FGV - EAESP

Nos primórdios da televisão no Brasil, havia um programa chamado "O céu é o limite" que constava de perguntas sobre um determinado tema. O respondente era alguém expert naquele assunto e, à medida em que o programa avançava o concorrente acumulava prêmios. A ideia de que o céu era o limite indicava o teto onde o candidato podia chegar, ou seja, alcançar o grande prêmio.

No Brasil de hoje temos uma situação inversa. Temos um candidato que ganhou a eleição, está no exercício do seu mandato presidencial, e conduz o País não a um suposto céu, mas a um inferno certeiro. Na verdade já estamos nele, mas ainda podemos ir para camadas mais profundas, o que está ruim pode ficar pior, porque é o condutor que não tem limites.

Nos últimos artigos neste espaço, temos defendido que Bolsonaro é um outlier.  O termo não significa obrigatoriamente alguém "fora de série", localizado no topo, mas também pode se referir a alguém no extremo de baixo. Era este o sentido dado nesses artigos. Sua trajetória nos tempos de caserna, onde não passou da patente média do oficialato, e sua saída da corporação em condições "estranhas", sua passagem pela Câmara Federal onde se abrigou no lúmpen legislativo, situado abaixo do baixo clero, tudo confirma sua condição anômala.

Com essas referências, não se podia esperar nada para melhor no exercício da Presidência. Muito pelo contrário, a expectativa era muito negativa, não só pelo seu histórico público como também pelo fato de uma vez investido no cargo acumularia muito mais poder, o que sempre esteve no seu horizonte de desejo. Seu programa de governo, se pode ser chamado assim, tem sido promover uma destruição lato sensu: as instituições da vida democrática e republicana, o meio ambiente, a Universidade, a Ciência, os valores da Modernidade, a vida em várias de suas manifestações.

Depois das manifestações do dia 7 de setembro, onde percebeu que excedeu os seus próprios limites, ao atacar ministros do STF, efetuou um recuo, lavrando uma declaração à Nação, não de próprio punho, mas vinda de um coach, um ghost writer, que se acreditava haver pendurado as chuteiras.

Qual quê! Reiterou essa posição de outlier agora para todo o mundo ver na Assembleia da ONU. Dos líderes do G20, apenas ele, o brasileiro Jair Messias Bolsonaro, tristemente brasileiro, não estava vacinado, uma anomalia entre vinte. Esta condição já havia se manifestado no dia anterior quando o Presidente e sua trupe tiveram que fazer a refeição na calçada, novamente por não estar vacinado, jogando a moral e a imagem do Brasil na boca do esgoto. Um Presidente de rua.

Sua fala no lócus mais visível do conjunto das nações exibiu todo seu negacionismo, propagou fake news sobre a realidade brasileira, um verdadeiro "mentiracionismo", mentiu de forma deslavada e descarada, à luz do dia, e com exposição mundial. Mentiu sem constrangimentos, sem pudor, sem rubor na face, sem passar vergonha.

Toda a sua carreira política foi embasada em um micro cosmos, em um ambiente miliciano, onde a lógica das relações está assentada em um poder à margem da lei, e os conflitos são "resolvidos" nos parâmetros dessa ordem paralela. O que tem se verificado é que o ex-capitão mantém essa cabeça de miliciano no exercício da Presidência e, agora, a expõe ao mundo.

O que defendemos neste breve escrito é que cada dia de Jair Bolsonaro no poder é mais um dia de avanço na destruição. Na contabilidade de sua sanha destruidora, já se encontra fração considerável das 600 mil mortes pelo COVID 19, pela sua recusa na compra de vacinas, o aumento de queimadas e desmatamento em vários biomas, na Amazônia principalmente, pelo deliberado sucateamento dos órgãos de controle existentes, como o caso do INPE.

Não ficam fora desta sanha também seus ataques recorrentes às instituições democráticas, além de investidas em outros setores da vida, como a criminosa recusa à vacina. Destruição é a palavra chave para entender Bolsonaro. Pensar que ainda restam cerca de 450 dias para o término de seu mandato, não dá para imaginar o quanto ainda pode fazer enquanto "a boiada passa". Vontade e desembaraço não lhe faltam. Assim, urge acelerar a abertura do processo de impeachment.

O Brasil já viu e agora o mundo vê que o presidente está nu. Neste quadro tétrico onde fica cada dia mais visível a incompetência, incapacidade e a irresponsabilidade do Presidente, cabe perguntar quem ainda o sustenta no poder?

O cenário atual pode ser pintado da seguinte maneira: o empresariado já está desembarcando do apoio originalmente dado ao capitão, o grupo de Evangélicos ainda ao seu lado, apesar de defecções, não teria capacidade de mobilização suficiente para sustentá-lo no poder, e o grupode devotos radicais e fiéis não tem se mostrado encorpado o suficiente para alimentar as intenções golpistas de seu líder.

As ruas, apesar de todo marketing oficial, evidenciaram ser um grupo bem menor do que o apregoado.Restam, a nosso ver, dois segmentos que respondem pelo apoio ao Presidente e que ainda resistem ao seu impeachment: os parlamentares do Centrão e os militares aninhados nos ministérios e empresas estatais, com soldos vitaminados, que se locupletam desse apoio oportunista, assumindo que estes não representam as FFAA.

Esses dois segmentos tem lógicas diferenciadas de ação política, por conta da natureza das duas instituições. Fica difícil imaginar as FFAA se opondo, militarmente, a deflagração de um processo de impeachment e sua concretização, pois isso representaria chancelar, através do alto generalato, a atuação do capitão reformado. A lógica do Centrão é bem diferente.

Como um grupo de partidos políticos que se situa ao Centro Direita no espectro político com caráter fisiológico, tem liberdade para se movimentar ora à esquerda, ora à direita, sem qualquer constrangimento oferecendo apoio político (votos no Legislativo) para dirigentes em apuros, a expressão mais podre do presidencialismo de coalizão.

No caso presente, o partido com maior protagonismo é o PP, que ocupa três posições chave no tabuleiro que sustenta Bolsonaro no Palácio do Planalto: Arthur Lira, presidente da Câmara, o que detém a chave da gaveta onde dormem os pedidos de impeachment, Ciro Nogueira, Presidente do PP, e agora Ministro e o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros. Esse apoio exige uma contrapartida por parte do contratante, o que vem na forma de emendas parlamentares, indicações para cargos públicos além de ações de baixa transparência.

Esse contrato tem caráter instável e pode ser denunciado a qualquer momento. Focando na parte contratada, esta faz uma avaliação contínua da viabilidade de se manter a parceria. Quando entender que se esgotaram as fontes de extração e/ou quando sente que está em risco seu interesse futuro, ela rompe o contrato de forma unilateral.  Está assim a sustentação do governo Bolsonaro nas mãos do Centrão, mais ainda do PP e mais ainda no gatekeeper Arthur Lira.

Deste modo, para evitar a sanha destrutiva e incontrolável do Presidente, urge colocar pressão sobre Lira sinalizando que a manutenção de Bolsonaro no cargo representa a continuidade do caminho para o inferno sendo Arthur Lira acompanhante e cúmplice do bolsonóquio. A sociedade brasileira não pode ficar à mercê dos interesses comerciais do PP e de seus dirigentes para se livrar da rota do inferno.

José Antonio G. de Pinho, Professor Titular Aposentado - Escola de Administração - UFBA. Pesquisador FGV - EAESP

Nos primórdios da televisão no Brasil, havia um programa chamado "O céu é o limite" que constava de perguntas sobre um determinado tema. O respondente era alguém expert naquele assunto e, à medida em que o programa avançava o concorrente acumulava prêmios. A ideia de que o céu era o limite indicava o teto onde o candidato podia chegar, ou seja, alcançar o grande prêmio.

No Brasil de hoje temos uma situação inversa. Temos um candidato que ganhou a eleição, está no exercício do seu mandato presidencial, e conduz o País não a um suposto céu, mas a um inferno certeiro. Na verdade já estamos nele, mas ainda podemos ir para camadas mais profundas, o que está ruim pode ficar pior, porque é o condutor que não tem limites.

Nos últimos artigos neste espaço, temos defendido que Bolsonaro é um outlier.  O termo não significa obrigatoriamente alguém "fora de série", localizado no topo, mas também pode se referir a alguém no extremo de baixo. Era este o sentido dado nesses artigos. Sua trajetória nos tempos de caserna, onde não passou da patente média do oficialato, e sua saída da corporação em condições "estranhas", sua passagem pela Câmara Federal onde se abrigou no lúmpen legislativo, situado abaixo do baixo clero, tudo confirma sua condição anômala.

Com essas referências, não se podia esperar nada para melhor no exercício da Presidência. Muito pelo contrário, a expectativa era muito negativa, não só pelo seu histórico público como também pelo fato de uma vez investido no cargo acumularia muito mais poder, o que sempre esteve no seu horizonte de desejo. Seu programa de governo, se pode ser chamado assim, tem sido promover uma destruição lato sensu: as instituições da vida democrática e republicana, o meio ambiente, a Universidade, a Ciência, os valores da Modernidade, a vida em várias de suas manifestações.

Depois das manifestações do dia 7 de setembro, onde percebeu que excedeu os seus próprios limites, ao atacar ministros do STF, efetuou um recuo, lavrando uma declaração à Nação, não de próprio punho, mas vinda de um coach, um ghost writer, que se acreditava haver pendurado as chuteiras.

Qual quê! Reiterou essa posição de outlier agora para todo o mundo ver na Assembleia da ONU. Dos líderes do G20, apenas ele, o brasileiro Jair Messias Bolsonaro, tristemente brasileiro, não estava vacinado, uma anomalia entre vinte. Esta condição já havia se manifestado no dia anterior quando o Presidente e sua trupe tiveram que fazer a refeição na calçada, novamente por não estar vacinado, jogando a moral e a imagem do Brasil na boca do esgoto. Um Presidente de rua.

Sua fala no lócus mais visível do conjunto das nações exibiu todo seu negacionismo, propagou fake news sobre a realidade brasileira, um verdadeiro "mentiracionismo", mentiu de forma deslavada e descarada, à luz do dia, e com exposição mundial. Mentiu sem constrangimentos, sem pudor, sem rubor na face, sem passar vergonha.

Toda a sua carreira política foi embasada em um micro cosmos, em um ambiente miliciano, onde a lógica das relações está assentada em um poder à margem da lei, e os conflitos são "resolvidos" nos parâmetros dessa ordem paralela. O que tem se verificado é que o ex-capitão mantém essa cabeça de miliciano no exercício da Presidência e, agora, a expõe ao mundo.

O que defendemos neste breve escrito é que cada dia de Jair Bolsonaro no poder é mais um dia de avanço na destruição. Na contabilidade de sua sanha destruidora, já se encontra fração considerável das 600 mil mortes pelo COVID 19, pela sua recusa na compra de vacinas, o aumento de queimadas e desmatamento em vários biomas, na Amazônia principalmente, pelo deliberado sucateamento dos órgãos de controle existentes, como o caso do INPE.

Não ficam fora desta sanha também seus ataques recorrentes às instituições democráticas, além de investidas em outros setores da vida, como a criminosa recusa à vacina. Destruição é a palavra chave para entender Bolsonaro. Pensar que ainda restam cerca de 450 dias para o término de seu mandato, não dá para imaginar o quanto ainda pode fazer enquanto "a boiada passa". Vontade e desembaraço não lhe faltam. Assim, urge acelerar a abertura do processo de impeachment.

O Brasil já viu e agora o mundo vê que o presidente está nu. Neste quadro tétrico onde fica cada dia mais visível a incompetência, incapacidade e a irresponsabilidade do Presidente, cabe perguntar quem ainda o sustenta no poder?

O cenário atual pode ser pintado da seguinte maneira: o empresariado já está desembarcando do apoio originalmente dado ao capitão, o grupo de Evangélicos ainda ao seu lado, apesar de defecções, não teria capacidade de mobilização suficiente para sustentá-lo no poder, e o grupode devotos radicais e fiéis não tem se mostrado encorpado o suficiente para alimentar as intenções golpistas de seu líder.

As ruas, apesar de todo marketing oficial, evidenciaram ser um grupo bem menor do que o apregoado.Restam, a nosso ver, dois segmentos que respondem pelo apoio ao Presidente e que ainda resistem ao seu impeachment: os parlamentares do Centrão e os militares aninhados nos ministérios e empresas estatais, com soldos vitaminados, que se locupletam desse apoio oportunista, assumindo que estes não representam as FFAA.

Esses dois segmentos tem lógicas diferenciadas de ação política, por conta da natureza das duas instituições. Fica difícil imaginar as FFAA se opondo, militarmente, a deflagração de um processo de impeachment e sua concretização, pois isso representaria chancelar, através do alto generalato, a atuação do capitão reformado. A lógica do Centrão é bem diferente.

Como um grupo de partidos políticos que se situa ao Centro Direita no espectro político com caráter fisiológico, tem liberdade para se movimentar ora à esquerda, ora à direita, sem qualquer constrangimento oferecendo apoio político (votos no Legislativo) para dirigentes em apuros, a expressão mais podre do presidencialismo de coalizão.

No caso presente, o partido com maior protagonismo é o PP, que ocupa três posições chave no tabuleiro que sustenta Bolsonaro no Palácio do Planalto: Arthur Lira, presidente da Câmara, o que detém a chave da gaveta onde dormem os pedidos de impeachment, Ciro Nogueira, Presidente do PP, e agora Ministro e o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros. Esse apoio exige uma contrapartida por parte do contratante, o que vem na forma de emendas parlamentares, indicações para cargos públicos além de ações de baixa transparência.

Esse contrato tem caráter instável e pode ser denunciado a qualquer momento. Focando na parte contratada, esta faz uma avaliação contínua da viabilidade de se manter a parceria. Quando entender que se esgotaram as fontes de extração e/ou quando sente que está em risco seu interesse futuro, ela rompe o contrato de forma unilateral.  Está assim a sustentação do governo Bolsonaro nas mãos do Centrão, mais ainda do PP e mais ainda no gatekeeper Arthur Lira.

Deste modo, para evitar a sanha destrutiva e incontrolável do Presidente, urge colocar pressão sobre Lira sinalizando que a manutenção de Bolsonaro no cargo representa a continuidade do caminho para o inferno sendo Arthur Lira acompanhante e cúmplice do bolsonóquio. A sociedade brasileira não pode ficar à mercê dos interesses comerciais do PP e de seus dirigentes para se livrar da rota do inferno.

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