Como a conjuntura do País afeta o ambiente público e o empresarial

O papel do Congresso Nacional na privatização da Eletrobras


Por Redação

Marcela Machado, Doutora em Ciência Política. Professora visitante do Instituto de Ciência Política (IPOL) da Universidade de Brasília. Membro do Observatório do Congresso (OC-UNB)

Amanda Vitoria Lopes, Doutoranda no Instituto de Ciência Política (IPOL) da Universidade de Brasília. Membro do Observatório do Congresso (OC-UNB)

A deliberação legislativa da Medida Provisória 1.031/2021, destinada à privatização da Eletrobras, traz uma série de observações relevantes sobre o papel do Legislativo no processo decisório das políticas públicas no país. A Medida Provisória proposta pelo Executivo foi profundamente modificada pelo Congresso Nacional. As versões do Projeto de Lei de Conversão oriundas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal mantêm o cerne da proposta: a autorização para a privatização da empresa e suas operações.

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Tais modificações, porém, acrescentaram um alto volume de despesas para o poder público e benefícios tributários para setores específicos. Para dificultar a realização de vetos de suas propostas pelo Executivo, os parlamentares utilizaram artifícios do processo legislativo, como a inclusão de todas as demandas em um único e extenso parágrafo - em vez da subdivisão destas em incisos - a fim de unificar a demanda do governo federal com as exigências do Congresso. A impopularidade do Executivo em relação às denúncias de corrupção e da omissão no combate à pandemia apresentam-se enquanto obstáculos na negociação de sua agenda legislativa. Porém, a perda de força das posições expressas pelo Executivo pode estar associada a fatores que transcendem a conjuntura política imediata.

Desde meados de 2020, o governo Bolsonaro trabalha para atrair partidos do "centrão" para a sua base no Congresso Nacional. Para além da busca por maior governabilidade, aos moldes do presidencialismo de coalizão, o objetivo é barrar qualquer tentativa de interrupção precoce do seu mandato. Mesmo negando tais investidas, o governo federal destinou pastas ministeriais importantes para novos aliados, como a Secretaria de Governo (PL), o Ministério das Comunicações (PSD) e o Ministério da Cidadania (Republicanos). Em recentes tratativas, especula-se que a Casa Civil saia do comando de Luiz Eduardo Ramos para abrigar um aliado do "centrão", o senador Ciro Nogueira (PP-PI), até então primeiro representante do Senado Federal no primeiro escalão do governo federal.

Contudo, apesar da "coalizão de bastidores", o comportamento dos parlamentares da base do governo na MP da Eletrobras não parece refletir o debate acadêmico sobre o presidencialismo de coalizão. De um lado, um presidente atrás de um projeto nacional que seja capaz de gerar resultados econômicos que ensejem a sua reeleição. Do outro lado, os legisladores, que buscam extrair benefícios para seus redutos eleitorais. Nessa configuração, com o controle das finanças públicas e do orçamento, o presidente pode negociar, a custos aceitáveis, o apoio do Legislativo à sua agenda nacional em troca das demandas dos parlamentares.

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Em uma coalizão governamental, a agenda é formada coletivamente pelos partidos membros da coalizão com a anuência do Executivo. No entanto, na MP da Eletrobras, o que se pôde observar foi um amálgama entre a agenda de privatização e de diminuição do gasto público do governo federal com os interesses regionais dos parlamentares, o que poderá ocasionar na oneração do custo da energia elétrica para o consumidor.

Essa base fisiológica, que se aproxima do governo apenas quando os temas de seu interesse estão em pauta, é uma constante no governo Bolsonaro. O Poder Legislativo sempre teve um poderoso papel entre as instituições brasileiras, apresentando um maior protagonismo nas duas últimas legislaturas. A falta de tato político e a inexperiência com a máquina pública fizeram com que algumas questões inerentes ao Executivo fossem assumidas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. O Supremo Tribunal Federal também ganhou relevância, através das centenas de provocações levantadas por diversos atores políticos. Resta ao Executivo barganhar para se aproximar de figuras de relevância, que poderão retirar o governo de uma inércia governamental.

O caso da MP da Eletrobras, portanto, configura-se enquanto um exemplo de que motivações personalistas podem justificar a forma com que o Congresso se relaciona com o Executivo, utilizando-se do contexto político e do enfraquecimento do governo, devido principalmente ao insucesso no combate à pandemia, para fortalecer suas propostas e garantir seus interesses.

Marcela Machado, Doutora em Ciência Política. Professora visitante do Instituto de Ciência Política (IPOL) da Universidade de Brasília. Membro do Observatório do Congresso (OC-UNB)

Amanda Vitoria Lopes, Doutoranda no Instituto de Ciência Política (IPOL) da Universidade de Brasília. Membro do Observatório do Congresso (OC-UNB)

A deliberação legislativa da Medida Provisória 1.031/2021, destinada à privatização da Eletrobras, traz uma série de observações relevantes sobre o papel do Legislativo no processo decisório das políticas públicas no país. A Medida Provisória proposta pelo Executivo foi profundamente modificada pelo Congresso Nacional. As versões do Projeto de Lei de Conversão oriundas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal mantêm o cerne da proposta: a autorização para a privatização da empresa e suas operações.

Tais modificações, porém, acrescentaram um alto volume de despesas para o poder público e benefícios tributários para setores específicos. Para dificultar a realização de vetos de suas propostas pelo Executivo, os parlamentares utilizaram artifícios do processo legislativo, como a inclusão de todas as demandas em um único e extenso parágrafo - em vez da subdivisão destas em incisos - a fim de unificar a demanda do governo federal com as exigências do Congresso. A impopularidade do Executivo em relação às denúncias de corrupção e da omissão no combate à pandemia apresentam-se enquanto obstáculos na negociação de sua agenda legislativa. Porém, a perda de força das posições expressas pelo Executivo pode estar associada a fatores que transcendem a conjuntura política imediata.

Desde meados de 2020, o governo Bolsonaro trabalha para atrair partidos do "centrão" para a sua base no Congresso Nacional. Para além da busca por maior governabilidade, aos moldes do presidencialismo de coalizão, o objetivo é barrar qualquer tentativa de interrupção precoce do seu mandato. Mesmo negando tais investidas, o governo federal destinou pastas ministeriais importantes para novos aliados, como a Secretaria de Governo (PL), o Ministério das Comunicações (PSD) e o Ministério da Cidadania (Republicanos). Em recentes tratativas, especula-se que a Casa Civil saia do comando de Luiz Eduardo Ramos para abrigar um aliado do "centrão", o senador Ciro Nogueira (PP-PI), até então primeiro representante do Senado Federal no primeiro escalão do governo federal.

Contudo, apesar da "coalizão de bastidores", o comportamento dos parlamentares da base do governo na MP da Eletrobras não parece refletir o debate acadêmico sobre o presidencialismo de coalizão. De um lado, um presidente atrás de um projeto nacional que seja capaz de gerar resultados econômicos que ensejem a sua reeleição. Do outro lado, os legisladores, que buscam extrair benefícios para seus redutos eleitorais. Nessa configuração, com o controle das finanças públicas e do orçamento, o presidente pode negociar, a custos aceitáveis, o apoio do Legislativo à sua agenda nacional em troca das demandas dos parlamentares.

Em uma coalizão governamental, a agenda é formada coletivamente pelos partidos membros da coalizão com a anuência do Executivo. No entanto, na MP da Eletrobras, o que se pôde observar foi um amálgama entre a agenda de privatização e de diminuição do gasto público do governo federal com os interesses regionais dos parlamentares, o que poderá ocasionar na oneração do custo da energia elétrica para o consumidor.

Essa base fisiológica, que se aproxima do governo apenas quando os temas de seu interesse estão em pauta, é uma constante no governo Bolsonaro. O Poder Legislativo sempre teve um poderoso papel entre as instituições brasileiras, apresentando um maior protagonismo nas duas últimas legislaturas. A falta de tato político e a inexperiência com a máquina pública fizeram com que algumas questões inerentes ao Executivo fossem assumidas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. O Supremo Tribunal Federal também ganhou relevância, através das centenas de provocações levantadas por diversos atores políticos. Resta ao Executivo barganhar para se aproximar de figuras de relevância, que poderão retirar o governo de uma inércia governamental.

O caso da MP da Eletrobras, portanto, configura-se enquanto um exemplo de que motivações personalistas podem justificar a forma com que o Congresso se relaciona com o Executivo, utilizando-se do contexto político e do enfraquecimento do governo, devido principalmente ao insucesso no combate à pandemia, para fortalecer suas propostas e garantir seus interesses.

Marcela Machado, Doutora em Ciência Política. Professora visitante do Instituto de Ciência Política (IPOL) da Universidade de Brasília. Membro do Observatório do Congresso (OC-UNB)

Amanda Vitoria Lopes, Doutoranda no Instituto de Ciência Política (IPOL) da Universidade de Brasília. Membro do Observatório do Congresso (OC-UNB)

A deliberação legislativa da Medida Provisória 1.031/2021, destinada à privatização da Eletrobras, traz uma série de observações relevantes sobre o papel do Legislativo no processo decisório das políticas públicas no país. A Medida Provisória proposta pelo Executivo foi profundamente modificada pelo Congresso Nacional. As versões do Projeto de Lei de Conversão oriundas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal mantêm o cerne da proposta: a autorização para a privatização da empresa e suas operações.

Tais modificações, porém, acrescentaram um alto volume de despesas para o poder público e benefícios tributários para setores específicos. Para dificultar a realização de vetos de suas propostas pelo Executivo, os parlamentares utilizaram artifícios do processo legislativo, como a inclusão de todas as demandas em um único e extenso parágrafo - em vez da subdivisão destas em incisos - a fim de unificar a demanda do governo federal com as exigências do Congresso. A impopularidade do Executivo em relação às denúncias de corrupção e da omissão no combate à pandemia apresentam-se enquanto obstáculos na negociação de sua agenda legislativa. Porém, a perda de força das posições expressas pelo Executivo pode estar associada a fatores que transcendem a conjuntura política imediata.

Desde meados de 2020, o governo Bolsonaro trabalha para atrair partidos do "centrão" para a sua base no Congresso Nacional. Para além da busca por maior governabilidade, aos moldes do presidencialismo de coalizão, o objetivo é barrar qualquer tentativa de interrupção precoce do seu mandato. Mesmo negando tais investidas, o governo federal destinou pastas ministeriais importantes para novos aliados, como a Secretaria de Governo (PL), o Ministério das Comunicações (PSD) e o Ministério da Cidadania (Republicanos). Em recentes tratativas, especula-se que a Casa Civil saia do comando de Luiz Eduardo Ramos para abrigar um aliado do "centrão", o senador Ciro Nogueira (PP-PI), até então primeiro representante do Senado Federal no primeiro escalão do governo federal.

Contudo, apesar da "coalizão de bastidores", o comportamento dos parlamentares da base do governo na MP da Eletrobras não parece refletir o debate acadêmico sobre o presidencialismo de coalizão. De um lado, um presidente atrás de um projeto nacional que seja capaz de gerar resultados econômicos que ensejem a sua reeleição. Do outro lado, os legisladores, que buscam extrair benefícios para seus redutos eleitorais. Nessa configuração, com o controle das finanças públicas e do orçamento, o presidente pode negociar, a custos aceitáveis, o apoio do Legislativo à sua agenda nacional em troca das demandas dos parlamentares.

Em uma coalizão governamental, a agenda é formada coletivamente pelos partidos membros da coalizão com a anuência do Executivo. No entanto, na MP da Eletrobras, o que se pôde observar foi um amálgama entre a agenda de privatização e de diminuição do gasto público do governo federal com os interesses regionais dos parlamentares, o que poderá ocasionar na oneração do custo da energia elétrica para o consumidor.

Essa base fisiológica, que se aproxima do governo apenas quando os temas de seu interesse estão em pauta, é uma constante no governo Bolsonaro. O Poder Legislativo sempre teve um poderoso papel entre as instituições brasileiras, apresentando um maior protagonismo nas duas últimas legislaturas. A falta de tato político e a inexperiência com a máquina pública fizeram com que algumas questões inerentes ao Executivo fossem assumidas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. O Supremo Tribunal Federal também ganhou relevância, através das centenas de provocações levantadas por diversos atores políticos. Resta ao Executivo barganhar para se aproximar de figuras de relevância, que poderão retirar o governo de uma inércia governamental.

O caso da MP da Eletrobras, portanto, configura-se enquanto um exemplo de que motivações personalistas podem justificar a forma com que o Congresso se relaciona com o Executivo, utilizando-se do contexto político e do enfraquecimento do governo, devido principalmente ao insucesso no combate à pandemia, para fortalecer suas propostas e garantir seus interesses.

Marcela Machado, Doutora em Ciência Política. Professora visitante do Instituto de Ciência Política (IPOL) da Universidade de Brasília. Membro do Observatório do Congresso (OC-UNB)

Amanda Vitoria Lopes, Doutoranda no Instituto de Ciência Política (IPOL) da Universidade de Brasília. Membro do Observatório do Congresso (OC-UNB)

A deliberação legislativa da Medida Provisória 1.031/2021, destinada à privatização da Eletrobras, traz uma série de observações relevantes sobre o papel do Legislativo no processo decisório das políticas públicas no país. A Medida Provisória proposta pelo Executivo foi profundamente modificada pelo Congresso Nacional. As versões do Projeto de Lei de Conversão oriundas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal mantêm o cerne da proposta: a autorização para a privatização da empresa e suas operações.

Tais modificações, porém, acrescentaram um alto volume de despesas para o poder público e benefícios tributários para setores específicos. Para dificultar a realização de vetos de suas propostas pelo Executivo, os parlamentares utilizaram artifícios do processo legislativo, como a inclusão de todas as demandas em um único e extenso parágrafo - em vez da subdivisão destas em incisos - a fim de unificar a demanda do governo federal com as exigências do Congresso. A impopularidade do Executivo em relação às denúncias de corrupção e da omissão no combate à pandemia apresentam-se enquanto obstáculos na negociação de sua agenda legislativa. Porém, a perda de força das posições expressas pelo Executivo pode estar associada a fatores que transcendem a conjuntura política imediata.

Desde meados de 2020, o governo Bolsonaro trabalha para atrair partidos do "centrão" para a sua base no Congresso Nacional. Para além da busca por maior governabilidade, aos moldes do presidencialismo de coalizão, o objetivo é barrar qualquer tentativa de interrupção precoce do seu mandato. Mesmo negando tais investidas, o governo federal destinou pastas ministeriais importantes para novos aliados, como a Secretaria de Governo (PL), o Ministério das Comunicações (PSD) e o Ministério da Cidadania (Republicanos). Em recentes tratativas, especula-se que a Casa Civil saia do comando de Luiz Eduardo Ramos para abrigar um aliado do "centrão", o senador Ciro Nogueira (PP-PI), até então primeiro representante do Senado Federal no primeiro escalão do governo federal.

Contudo, apesar da "coalizão de bastidores", o comportamento dos parlamentares da base do governo na MP da Eletrobras não parece refletir o debate acadêmico sobre o presidencialismo de coalizão. De um lado, um presidente atrás de um projeto nacional que seja capaz de gerar resultados econômicos que ensejem a sua reeleição. Do outro lado, os legisladores, que buscam extrair benefícios para seus redutos eleitorais. Nessa configuração, com o controle das finanças públicas e do orçamento, o presidente pode negociar, a custos aceitáveis, o apoio do Legislativo à sua agenda nacional em troca das demandas dos parlamentares.

Em uma coalizão governamental, a agenda é formada coletivamente pelos partidos membros da coalizão com a anuência do Executivo. No entanto, na MP da Eletrobras, o que se pôde observar foi um amálgama entre a agenda de privatização e de diminuição do gasto público do governo federal com os interesses regionais dos parlamentares, o que poderá ocasionar na oneração do custo da energia elétrica para o consumidor.

Essa base fisiológica, que se aproxima do governo apenas quando os temas de seu interesse estão em pauta, é uma constante no governo Bolsonaro. O Poder Legislativo sempre teve um poderoso papel entre as instituições brasileiras, apresentando um maior protagonismo nas duas últimas legislaturas. A falta de tato político e a inexperiência com a máquina pública fizeram com que algumas questões inerentes ao Executivo fossem assumidas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. O Supremo Tribunal Federal também ganhou relevância, através das centenas de provocações levantadas por diversos atores políticos. Resta ao Executivo barganhar para se aproximar de figuras de relevância, que poderão retirar o governo de uma inércia governamental.

O caso da MP da Eletrobras, portanto, configura-se enquanto um exemplo de que motivações personalistas podem justificar a forma com que o Congresso se relaciona com o Executivo, utilizando-se do contexto político e do enfraquecimento do governo, devido principalmente ao insucesso no combate à pandemia, para fortalecer suas propostas e garantir seus interesses.

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