Assim, o que levaria um jornal a afirmar, antes de tudo isso, no clímax da ansiedade, que não temos "clima para a Copa"? Pessoas de vários lugares do Brasil, vestidas com suas camisas amarelas, logo pensariam se tratar de um periódico de oposição ao governo federal, ou mal-humorado com os investimentos feitos para o torneio. Mas devemos lembrar que estou falando de Santa Catarina. Isso mesmo: o Jornal Leitura é catarinense. E então está explicado. Não há jogo da Copa no estado, e olha que injustiça: Santa Catarina tem três times na Série A do Brasileirão - Figueirense, Criciúma e Chapecoense. Além disso, duas outras equipes dão trabalho na Série B - Avaí e Joinville. Não mereciam sediar? Se a resposta for sim, claro que o jornal está magoado. Assim como boa parte das pessoas. No aeroporto de Florianópolis, dia 13 de junho, pouco vi do verde amarelo. O estado estaria mesmo afastado de tudo isso?
Esqueça. Não pense como se sua cabeça fosse uma Jabulani, ops, uma Brazuca. Não olhe para um país de milhões de quilômetros quadrados tentando encontrar o que aparece em sua janela. Interpretações antecipadas poderiam até achar que o estado estaria magoado, ávido por uma Copa que não lhe ofertou um estádio ou um novo aeroporto - algo que o governo precisa resolver urgentemente. Mas a tristeza é outra, e muito mais profunda. Realmente nossas leituras costumam ser impactadas por nossos mundos. Ou seja: muitos poderiam pensar que catarinenses se ressentem. Mas o motivo não é esse. Percebam! O Jornal Leitura fica em Riofarma e região - é isso o que diz o cabeçalho de suas páginas. Por lá, as cheias do Rio Negro atingiram cerca de 8 mil pessoas. O nível das águas estava 13,6 metros acima do normal. O que há para comemorar numa realidade como esta? Apenas o fato de naquele dia os afluentes estarem baixando, o que é algo muito mais importante que os gols de Neymar. Clima para a Copa, realmente, depende de aspectos expressivamente complexos. O mesmo poderia atingir São Paulo e sua seca, mas por aqui insistimos em fazer a festa, drenando o volume morto chamado de vivo e ressuscitando um espírito esportivo que não parece morrer nunca. Que os catarinenses voltem a sorrir logo. Não apenas com gols ou taças, mas principalmente com o restabelecimento do clima de suas dignidades.