Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

Táxi x Uber - no fio da navalha ou da Gillete?


O livro "Os contos e os vigários - uma história da trapaça no Brasil" lançado em 2010 por José Augusto Dias Júnior vai inspirar esse texto. Cinco dias de férias em Natal-RN e devorei suas quase 300 páginas. O primeiro ponto que me chamou a atenção está associado ao que o autor batizou de a "mais inesperada das ameaças de greve". Era o medo do novo, sentido pelo que pode tirar o agente de sua zona de conforto. O autor conta que em 1938 "barbeiros paulistanos decidiram organizar uma mobilização contra certa inovação que em muito lhes vinha prejudicando a vida e os negócios (...) O grande inimigo da categoria (...) era o artefato inventado pelo norte-americano King Camp Gillette em 1895 (...) Era contra essa invenção que se revoltavam agora tanto proprietários quanto empregados de barbearias. A trajetória de sucesso do aparelinho era também a de um relativo declínio dos estabelecimentos acostumados a receber diariamente os mesmos clientes".

Por Humberto Dantas

Em pleno século XXI o fato narrado acima parece anedótico, ou no mínimo se assemelha a uma fantasia do autor. Não é. Aparelinhos de barbear, inicialmente manuais e com o passar do tempo elétricos também, são itens essenciais na vida de qualquer sujeito que se barbeia ou depila. Rara deve ser a casa que não tem algo semelhante estocado, assim como é incomum o hábito, hoje, de sair de casa cotidianamente e passar na barbearia para uma escanhoada. De tão estapafúrdia que é a passagem fiquei pensando no peso da história em relação a determinados casos recentes. De imediato, ao ler o livro, troquei a Gillette pelo Uber e os sindicalizados barbeiros pelos organizados, e por vezes furiosos, taxistas. Daqui cerca de 80 anos algumas cidades brasileiras terão motivos de sobra para rirem dos fatos? Acharemos os taxistas tão "alienados" quanto os barbeiros? Estarão eles fadados à condição atual dos "escanhoadores"? A coisa parece mais complexa.

E difícil dizer, mas num país em parte "parado no tempo", em que ainda existem frentistas em praticamente todos os postos de gasolina e cobradores nos ônibus, tudo é possível. Fato é que as reivindicações mais ácidas dos taxistas estiveram associadas à ilegalidade do aplicativo - e tentativa de legalização. Ilegalidade? Ok. Inclusive o Uber precisa explicar a tal "tarifa dinâmica" e há quem diga, nas instituições de defesa do consumidor, que é difícil regular algo que ainda é considerado ilegal. Mas voltemos aos taxistas. Como parte de uma categoria que sobrevive à margem da lei pode reivindicar que a lei seja cumprida? Em passagem que nada tem de relação com a greve dos barbeiros, mas que nos serve aqui também, o autor do livro nos lembra a célebre frase: "aos amigos tudo, aos inimigos a lei". Pois é. Motoristas comercializam alvarás, por exemplo. Alugam ou os vendem escancaradamente. Dia desses entrei num táxi e o motorista me contou, sem qualquer constrangimento e em poucos segundos de conversa, que comprara seu alvará de um policial (isso mesmo!) faz 20 anos e agora estava o vendendo, para um colega de ponto, a preço de irmão - mais de R$ 100 mil. O aluguel também é bem comum, e a diária sai por algo em torno de R$ 160 em São Paulo.

O preço praticado pelo taxista paulistano realmente é "camarada", sobretudo se comparado com outras cidades. O problema é que o alvará não pode ser comercializado, pois é uma concessão pública que não pertence ao proprietário, mas sim é utilizada por ele. Em Campo Grande, Mato Grosso, o Top Mídia News mostra que a "venda" de um alvará pode chegar a R$ 700 mil, e que 17 microempresas controlam cerca de um quarto dos táxis da cidade. Até mesmo regra questionável, como aquela que aponta que uma mesma família pode ter até 30 táxis, é burlada. Segundo fonte da reportagem, um "cidadão" chamado Moacir possui entre 55 e 60 carros - isso equivaleria a mais de 10% da frota legal de toda a capital do Mato Grosso do Sul. No Rio de Janeiro os escândalos não são diferentes, um empresário e sua família, de acordo com O Globo, controlam quase 400 carros. Em Porto Alegre, segundo o Sul 21, a realidade é ainda mais grave: traficantes, inspirados em cartéis colombianos, utilizavam cerca de 13 alvarás para lavar dinheiro e cometer crimes ainda mais graves.

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A fiscalização é nitidamente falha, os vereadores estão longe de qualquer atitude digna de seus cargos, e isso parece comum na imensa maioria das cidades brasileiras - não se restringindo apenas a serviços dessa natureza. Mas a questão é saber também quem está por detrás do Uber, por exemplo. Dia desses, numa rápida corrida, um motorista da versão X já reclamava estar sendo explorado. Ademais, devemos compreender se toda a reivindicação contrária ao Uber é apenas uma maneira de defender interesses bem questionáveis, que em 80 anos se tornarão anedóticos, ou se o assunto é mais complexo, a ponto de estarmos trafegando sobre algo que mereceria uma CPI nas bem omissas Câmaras Municipais e parece nos colocar sobre o fio de uma navalha. Ou seria de uma Gillette?

Em pleno século XXI o fato narrado acima parece anedótico, ou no mínimo se assemelha a uma fantasia do autor. Não é. Aparelinhos de barbear, inicialmente manuais e com o passar do tempo elétricos também, são itens essenciais na vida de qualquer sujeito que se barbeia ou depila. Rara deve ser a casa que não tem algo semelhante estocado, assim como é incomum o hábito, hoje, de sair de casa cotidianamente e passar na barbearia para uma escanhoada. De tão estapafúrdia que é a passagem fiquei pensando no peso da história em relação a determinados casos recentes. De imediato, ao ler o livro, troquei a Gillette pelo Uber e os sindicalizados barbeiros pelos organizados, e por vezes furiosos, taxistas. Daqui cerca de 80 anos algumas cidades brasileiras terão motivos de sobra para rirem dos fatos? Acharemos os taxistas tão "alienados" quanto os barbeiros? Estarão eles fadados à condição atual dos "escanhoadores"? A coisa parece mais complexa.

E difícil dizer, mas num país em parte "parado no tempo", em que ainda existem frentistas em praticamente todos os postos de gasolina e cobradores nos ônibus, tudo é possível. Fato é que as reivindicações mais ácidas dos taxistas estiveram associadas à ilegalidade do aplicativo - e tentativa de legalização. Ilegalidade? Ok. Inclusive o Uber precisa explicar a tal "tarifa dinâmica" e há quem diga, nas instituições de defesa do consumidor, que é difícil regular algo que ainda é considerado ilegal. Mas voltemos aos taxistas. Como parte de uma categoria que sobrevive à margem da lei pode reivindicar que a lei seja cumprida? Em passagem que nada tem de relação com a greve dos barbeiros, mas que nos serve aqui também, o autor do livro nos lembra a célebre frase: "aos amigos tudo, aos inimigos a lei". Pois é. Motoristas comercializam alvarás, por exemplo. Alugam ou os vendem escancaradamente. Dia desses entrei num táxi e o motorista me contou, sem qualquer constrangimento e em poucos segundos de conversa, que comprara seu alvará de um policial (isso mesmo!) faz 20 anos e agora estava o vendendo, para um colega de ponto, a preço de irmão - mais de R$ 100 mil. O aluguel também é bem comum, e a diária sai por algo em torno de R$ 160 em São Paulo.

O preço praticado pelo taxista paulistano realmente é "camarada", sobretudo se comparado com outras cidades. O problema é que o alvará não pode ser comercializado, pois é uma concessão pública que não pertence ao proprietário, mas sim é utilizada por ele. Em Campo Grande, Mato Grosso, o Top Mídia News mostra que a "venda" de um alvará pode chegar a R$ 700 mil, e que 17 microempresas controlam cerca de um quarto dos táxis da cidade. Até mesmo regra questionável, como aquela que aponta que uma mesma família pode ter até 30 táxis, é burlada. Segundo fonte da reportagem, um "cidadão" chamado Moacir possui entre 55 e 60 carros - isso equivaleria a mais de 10% da frota legal de toda a capital do Mato Grosso do Sul. No Rio de Janeiro os escândalos não são diferentes, um empresário e sua família, de acordo com O Globo, controlam quase 400 carros. Em Porto Alegre, segundo o Sul 21, a realidade é ainda mais grave: traficantes, inspirados em cartéis colombianos, utilizavam cerca de 13 alvarás para lavar dinheiro e cometer crimes ainda mais graves.

A fiscalização é nitidamente falha, os vereadores estão longe de qualquer atitude digna de seus cargos, e isso parece comum na imensa maioria das cidades brasileiras - não se restringindo apenas a serviços dessa natureza. Mas a questão é saber também quem está por detrás do Uber, por exemplo. Dia desses, numa rápida corrida, um motorista da versão X já reclamava estar sendo explorado. Ademais, devemos compreender se toda a reivindicação contrária ao Uber é apenas uma maneira de defender interesses bem questionáveis, que em 80 anos se tornarão anedóticos, ou se o assunto é mais complexo, a ponto de estarmos trafegando sobre algo que mereceria uma CPI nas bem omissas Câmaras Municipais e parece nos colocar sobre o fio de uma navalha. Ou seria de uma Gillette?

Em pleno século XXI o fato narrado acima parece anedótico, ou no mínimo se assemelha a uma fantasia do autor. Não é. Aparelinhos de barbear, inicialmente manuais e com o passar do tempo elétricos também, são itens essenciais na vida de qualquer sujeito que se barbeia ou depila. Rara deve ser a casa que não tem algo semelhante estocado, assim como é incomum o hábito, hoje, de sair de casa cotidianamente e passar na barbearia para uma escanhoada. De tão estapafúrdia que é a passagem fiquei pensando no peso da história em relação a determinados casos recentes. De imediato, ao ler o livro, troquei a Gillette pelo Uber e os sindicalizados barbeiros pelos organizados, e por vezes furiosos, taxistas. Daqui cerca de 80 anos algumas cidades brasileiras terão motivos de sobra para rirem dos fatos? Acharemos os taxistas tão "alienados" quanto os barbeiros? Estarão eles fadados à condição atual dos "escanhoadores"? A coisa parece mais complexa.

E difícil dizer, mas num país em parte "parado no tempo", em que ainda existem frentistas em praticamente todos os postos de gasolina e cobradores nos ônibus, tudo é possível. Fato é que as reivindicações mais ácidas dos taxistas estiveram associadas à ilegalidade do aplicativo - e tentativa de legalização. Ilegalidade? Ok. Inclusive o Uber precisa explicar a tal "tarifa dinâmica" e há quem diga, nas instituições de defesa do consumidor, que é difícil regular algo que ainda é considerado ilegal. Mas voltemos aos taxistas. Como parte de uma categoria que sobrevive à margem da lei pode reivindicar que a lei seja cumprida? Em passagem que nada tem de relação com a greve dos barbeiros, mas que nos serve aqui também, o autor do livro nos lembra a célebre frase: "aos amigos tudo, aos inimigos a lei". Pois é. Motoristas comercializam alvarás, por exemplo. Alugam ou os vendem escancaradamente. Dia desses entrei num táxi e o motorista me contou, sem qualquer constrangimento e em poucos segundos de conversa, que comprara seu alvará de um policial (isso mesmo!) faz 20 anos e agora estava o vendendo, para um colega de ponto, a preço de irmão - mais de R$ 100 mil. O aluguel também é bem comum, e a diária sai por algo em torno de R$ 160 em São Paulo.

O preço praticado pelo taxista paulistano realmente é "camarada", sobretudo se comparado com outras cidades. O problema é que o alvará não pode ser comercializado, pois é uma concessão pública que não pertence ao proprietário, mas sim é utilizada por ele. Em Campo Grande, Mato Grosso, o Top Mídia News mostra que a "venda" de um alvará pode chegar a R$ 700 mil, e que 17 microempresas controlam cerca de um quarto dos táxis da cidade. Até mesmo regra questionável, como aquela que aponta que uma mesma família pode ter até 30 táxis, é burlada. Segundo fonte da reportagem, um "cidadão" chamado Moacir possui entre 55 e 60 carros - isso equivaleria a mais de 10% da frota legal de toda a capital do Mato Grosso do Sul. No Rio de Janeiro os escândalos não são diferentes, um empresário e sua família, de acordo com O Globo, controlam quase 400 carros. Em Porto Alegre, segundo o Sul 21, a realidade é ainda mais grave: traficantes, inspirados em cartéis colombianos, utilizavam cerca de 13 alvarás para lavar dinheiro e cometer crimes ainda mais graves.

A fiscalização é nitidamente falha, os vereadores estão longe de qualquer atitude digna de seus cargos, e isso parece comum na imensa maioria das cidades brasileiras - não se restringindo apenas a serviços dessa natureza. Mas a questão é saber também quem está por detrás do Uber, por exemplo. Dia desses, numa rápida corrida, um motorista da versão X já reclamava estar sendo explorado. Ademais, devemos compreender se toda a reivindicação contrária ao Uber é apenas uma maneira de defender interesses bem questionáveis, que em 80 anos se tornarão anedóticos, ou se o assunto é mais complexo, a ponto de estarmos trafegando sobre algo que mereceria uma CPI nas bem omissas Câmaras Municipais e parece nos colocar sobre o fio de uma navalha. Ou seria de uma Gillette?

Em pleno século XXI o fato narrado acima parece anedótico, ou no mínimo se assemelha a uma fantasia do autor. Não é. Aparelinhos de barbear, inicialmente manuais e com o passar do tempo elétricos também, são itens essenciais na vida de qualquer sujeito que se barbeia ou depila. Rara deve ser a casa que não tem algo semelhante estocado, assim como é incomum o hábito, hoje, de sair de casa cotidianamente e passar na barbearia para uma escanhoada. De tão estapafúrdia que é a passagem fiquei pensando no peso da história em relação a determinados casos recentes. De imediato, ao ler o livro, troquei a Gillette pelo Uber e os sindicalizados barbeiros pelos organizados, e por vezes furiosos, taxistas. Daqui cerca de 80 anos algumas cidades brasileiras terão motivos de sobra para rirem dos fatos? Acharemos os taxistas tão "alienados" quanto os barbeiros? Estarão eles fadados à condição atual dos "escanhoadores"? A coisa parece mais complexa.

E difícil dizer, mas num país em parte "parado no tempo", em que ainda existem frentistas em praticamente todos os postos de gasolina e cobradores nos ônibus, tudo é possível. Fato é que as reivindicações mais ácidas dos taxistas estiveram associadas à ilegalidade do aplicativo - e tentativa de legalização. Ilegalidade? Ok. Inclusive o Uber precisa explicar a tal "tarifa dinâmica" e há quem diga, nas instituições de defesa do consumidor, que é difícil regular algo que ainda é considerado ilegal. Mas voltemos aos taxistas. Como parte de uma categoria que sobrevive à margem da lei pode reivindicar que a lei seja cumprida? Em passagem que nada tem de relação com a greve dos barbeiros, mas que nos serve aqui também, o autor do livro nos lembra a célebre frase: "aos amigos tudo, aos inimigos a lei". Pois é. Motoristas comercializam alvarás, por exemplo. Alugam ou os vendem escancaradamente. Dia desses entrei num táxi e o motorista me contou, sem qualquer constrangimento e em poucos segundos de conversa, que comprara seu alvará de um policial (isso mesmo!) faz 20 anos e agora estava o vendendo, para um colega de ponto, a preço de irmão - mais de R$ 100 mil. O aluguel também é bem comum, e a diária sai por algo em torno de R$ 160 em São Paulo.

O preço praticado pelo taxista paulistano realmente é "camarada", sobretudo se comparado com outras cidades. O problema é que o alvará não pode ser comercializado, pois é uma concessão pública que não pertence ao proprietário, mas sim é utilizada por ele. Em Campo Grande, Mato Grosso, o Top Mídia News mostra que a "venda" de um alvará pode chegar a R$ 700 mil, e que 17 microempresas controlam cerca de um quarto dos táxis da cidade. Até mesmo regra questionável, como aquela que aponta que uma mesma família pode ter até 30 táxis, é burlada. Segundo fonte da reportagem, um "cidadão" chamado Moacir possui entre 55 e 60 carros - isso equivaleria a mais de 10% da frota legal de toda a capital do Mato Grosso do Sul. No Rio de Janeiro os escândalos não são diferentes, um empresário e sua família, de acordo com O Globo, controlam quase 400 carros. Em Porto Alegre, segundo o Sul 21, a realidade é ainda mais grave: traficantes, inspirados em cartéis colombianos, utilizavam cerca de 13 alvarás para lavar dinheiro e cometer crimes ainda mais graves.

A fiscalização é nitidamente falha, os vereadores estão longe de qualquer atitude digna de seus cargos, e isso parece comum na imensa maioria das cidades brasileiras - não se restringindo apenas a serviços dessa natureza. Mas a questão é saber também quem está por detrás do Uber, por exemplo. Dia desses, numa rápida corrida, um motorista da versão X já reclamava estar sendo explorado. Ademais, devemos compreender se toda a reivindicação contrária ao Uber é apenas uma maneira de defender interesses bem questionáveis, que em 80 anos se tornarão anedóticos, ou se o assunto é mais complexo, a ponto de estarmos trafegando sobre algo que mereceria uma CPI nas bem omissas Câmaras Municipais e parece nos colocar sobre o fio de uma navalha. Ou seria de uma Gillette?

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