O destempero que, aqui e ali, teima em conspirar contra a imagem do governador descolado que procura exibir, tem comprometido a gestão de Cabral, desde a tragédia de Angra dos Reis, passando pela ofensa dirigida a um favelado que cobrava mais ação social de seu governo, durante uma visita do então presidente Lula ao Rio, e desembocando na crise dos bombeiros.
Crise, aliás, que ganhou dimensão, com potencial para se alastrar pelo país, por imprevidência de um governo que dela já tinha conhecimento e, mesmo assim, a negligenciou.
Cabral deu a ordem inédita de prisão para mais de 400 bombeiros, que produziu estragos na popularidade obtida com a pacificação das favelas cariocas gerando uma solidariedade imediata da população à categoria.
O que leva um governador a tal agressividade contra a categoria mais querida, tida pela sociedade como averdadeira defesa civil, fazendo preceder a prisão de insultos públicos aos soldados grevistas?
Não se sabe, mas enquanto isso acontece, o Secretário de Segurança do Rio, José Maria Beltrame, artífice da operação de reocupação territorial dos morros pelo Estado, pelo afugentamento do tráfico e pela instalação das UPPs nas favelas, dá sinais de preocupação com a permanência de seu trabalho.
Beltrame chama a atenção para a necessidade de complementar a ação policial com um programa social capaz de sedimentar as bases de uma nova realidade nas áreas até há pouco conflagradas da cidade.
Chama a atenção do governo, porque só a ele cabe a responsabilidade pela extensão desse trabalho. Sem isso, adverte o Secretário, será muito difícil sustentar a conquista que conferiu a Cabral índices estupendos de aprovação.
Logo após o aviso do Secretário de Segurança, uma tragédia com sete mortos, entre as quais, a nora do governador, vítimas da queda de um helicóptero no sul da Bahia, descobre o véu de uma relação intensa e promíscua entre o governador e empresários com negócios prósperos em seu governo.
Um flagrante de invasão da fronteira entre público e privado, com jatinhos de empresários a serviço do governador para levá-lo a festas privadas sem qualquer vínculo com o interesse público.
Este, por sinal, afetado pelo vínculo de amizade entre governador e empresários, um dos quais, Fernando Cavendish, detém contratos milionários com a administração fluminense, cuja parcela sem licitação somou R$ 127 milhões em 2010.
Com ares de órfão do governo do ex-presidente Lula, o governador vai consumindo um capital de popularidade em velocidade espantosa, às vésperas de uma campanha municipal decisiva para a preservação de uma aliança entre governo e prefeitura até aqui positiva para o Rio de Janeiro.