O súbito desfile de Dilma pelas ruas de São Paulo, após a entrega solene dos recursos federais, empresta o clima de campanha à programação presidencial, do "alto" dos 30% de aprovação do governo. Este age como se já tivesse resolvido a pauta reclamada nas ruas, como se as manifestações não fossem voltar. Vida que segue, anuncia simultaneamente a liberação de R$ 6 bilhões em emendas parlamentares.
Nesse caso, entra em cena o Secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, introduzindo o verniz que faltou à presidente no trato com o Legislativo. Agora, popularidade em baixa e base em rebelião, as emendas parlamentares subitamente tornaram-se legítimas e não se inserem no contexto do toma, lá,dá cá, utilizado todo o tempo pelo governo para desgastar o Congresso.
De fato, a emenda parlamentar é Lei e representa recursos para benfeitorias nas bases de deputados e senadores, mas é de há muito tempo sonegada pelos governos que, apertados orçamentariamente, fazem economia nas searas alheias. E justificam o contigenciamento com a velada versão de que as emendas são para os parlamentares e não para seus estados.
Pois ontem Carvalho , parte do governo que assim agiu até aqui, pediu pela "descriminalização" das emendas parlamentares, como se nunca tivesse ajudado a criminalizá-la. Efeitos da queda de aprovação do governo e da demonstração de força do PMDB, agora alvo de salamaleques segundo a orientação do ex-presidente Lula.
Não por acaso, quase ao mesmo tempo, o presidente do PT, Rui Falcão, extirpa da nota do partido as críticas ao PMDB e reafirma a decisão de tê-lo como aliado em 2014, inclusive renovando a chapa com Michel Temer na vice. Mas o problema é que , assim como o governo em relação ao mercado, o PT não inspira confiança em seus parceiros, o que reduz a chance de êxito das promessas.
Nesse contexto, não é de se esperar que a promessa da presidente Dilma de liberar os R$ 6 bilhões de emendas seja suficiente para produzir um recuo na disposição dos deputados de aprovar o orçamento impositivo, tirando as emendas do alcance da tesoura do Executivo. Pode até acalmar os ânimos, mas os deputados já sonharam o sonho da independência política que o orçamento impositivo traz.
Assim, chega-se de volta ao primeiro diagnóstico feito sobre o governo, anterior às manifestações das ruas: a questão maior é a crise econômica, cujo desenvolvimento e desfecho dita todo o resto. Governo em baixa e questionado pela população perde o poder impositivo. Este agora, reside na perspectiva de aprovação do orçamento impositivo, que inverte a relação de forças no difícil relacionamento entre os dois Poderes.