O jogo da democracia no Brasil e no mundo

A disputa inédita entre o ex e o atual


Ao que tudo indica, o foco da campanha de 2022 será nos corações

Por João Gabriel de Lima

Encontrei Antônio Lavareda em Lisboa no último 25 de abril, dia da Revolução dos Cravos. Na data nacional portuguesa, que comemora a vitória da democracia sobre uma ditadura, era natural que falássemos de eleições. Lavareda, um dos principais analistas políticos brasileiros, chamou a atenção para uma peculiaridade do pleito de outubro. Se o cenário mais provável se concretizar – com os votos convergindo para Lula e Bolsonaro, sem uma terceira via –, veremos a disputa entre um presidente em exercício e um ex. 

Trata-se de um caso inédito no Brasil e raro em democracias. Lavareda lembra que isso esteve perto de acontecer, recentemente, na Argentina e na França. Na Argentina, Cristina Kirchner preferiu ser vice de Alberto Fernández, exercendo seu poder nos bastidores, ainda que com incursões barulhentas à ribalta. Na França, Nicolas Sarkozy chegou a ensaiar uma candidatura pelos Republicanos, mas desistiu por enfrentar problemas na Justiça. 

Pré-candidato do PT participa de evento das centrais sindicais; bolsonaristas organizam ato em defesa de perdão a Daniel Silveira. Foto: Lula: André Dusek/Estadão | Bolsonaro: Gabriela Biló/Estadão
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O fenômeno tem suas implicações. “As campanhas elaborarão programas detalhados, mas eles terão um papel diminutíssimo na campanha, já que os eleitores conhecem bem os candidatos”, diz Antônio Lavareda. “Tudo isso explica a razão de as pesquisas espontâneas mostrarem uma convicção de voto tão precoce.” Lavareda é o entrevistado do minipodcast da semana – atravessado, com o perdão do leitor, pelos ruídos dos bondes de Lisboa. 

Lavareda analisa pesquisas desde 1985, quando colaborou com a campanha de Jarbas Vasconcelos à prefeitura do Recife. Ele é o autor do livro Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais, que mostra como as escolhas dos eleitores são muitas vezes guiadas pelos sentimentos – algo que, pelo que se viu até agora, poderá prevalecer no próximo pleito. 

Outro dado que as pesquisas mostram é a mudança da localização dos eleitores dentro do espectro político. O Brasil emergiu da ditadura militar com um viés à esquerda, até como reação aos anos de arbítrio. Hoje, a maior parte dos brasileiros a escolher um lado se define como de direita. 

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Num país de partidos com pouca densidade ideológica, tal escolha também tem um forte componente emocional. Por isso, na avaliação de Lavareda, a presença de Geraldo Alckmin é tão importante para Lula. “Torna-se inverossímil que Lula atire um coquetel molotov se Alckmin estiver sempre ao lado dele com um extintor de incêndio”, diz Lavareda, de forma jocosa – até porque Lula, em seus oito anos de governo, nunca atirou coquetéis molotov. 

Uma eleição é uma disputa por corações e mentes. Ao que tudo indica, o foco da campanha de 2022 será nos corações.

Para saber mais

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Mini-podcast com Antônio Lavareda 

Entrevista de Antônio Lavareda a José Fucs, do Estadão

ESCRITOR, PROFESSOR DA FAAP E DOUTORANDO EM CIÊNCIA POLÍTICA NA UNIVERSIDADE DE LISBOA

Encontrei Antônio Lavareda em Lisboa no último 25 de abril, dia da Revolução dos Cravos. Na data nacional portuguesa, que comemora a vitória da democracia sobre uma ditadura, era natural que falássemos de eleições. Lavareda, um dos principais analistas políticos brasileiros, chamou a atenção para uma peculiaridade do pleito de outubro. Se o cenário mais provável se concretizar – com os votos convergindo para Lula e Bolsonaro, sem uma terceira via –, veremos a disputa entre um presidente em exercício e um ex. 

Trata-se de um caso inédito no Brasil e raro em democracias. Lavareda lembra que isso esteve perto de acontecer, recentemente, na Argentina e na França. Na Argentina, Cristina Kirchner preferiu ser vice de Alberto Fernández, exercendo seu poder nos bastidores, ainda que com incursões barulhentas à ribalta. Na França, Nicolas Sarkozy chegou a ensaiar uma candidatura pelos Republicanos, mas desistiu por enfrentar problemas na Justiça. 

Pré-candidato do PT participa de evento das centrais sindicais; bolsonaristas organizam ato em defesa de perdão a Daniel Silveira. Foto: Lula: André Dusek/Estadão | Bolsonaro: Gabriela Biló/Estadão

O fenômeno tem suas implicações. “As campanhas elaborarão programas detalhados, mas eles terão um papel diminutíssimo na campanha, já que os eleitores conhecem bem os candidatos”, diz Antônio Lavareda. “Tudo isso explica a razão de as pesquisas espontâneas mostrarem uma convicção de voto tão precoce.” Lavareda é o entrevistado do minipodcast da semana – atravessado, com o perdão do leitor, pelos ruídos dos bondes de Lisboa. 

Lavareda analisa pesquisas desde 1985, quando colaborou com a campanha de Jarbas Vasconcelos à prefeitura do Recife. Ele é o autor do livro Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais, que mostra como as escolhas dos eleitores são muitas vezes guiadas pelos sentimentos – algo que, pelo que se viu até agora, poderá prevalecer no próximo pleito. 

Outro dado que as pesquisas mostram é a mudança da localização dos eleitores dentro do espectro político. O Brasil emergiu da ditadura militar com um viés à esquerda, até como reação aos anos de arbítrio. Hoje, a maior parte dos brasileiros a escolher um lado se define como de direita. 

Num país de partidos com pouca densidade ideológica, tal escolha também tem um forte componente emocional. Por isso, na avaliação de Lavareda, a presença de Geraldo Alckmin é tão importante para Lula. “Torna-se inverossímil que Lula atire um coquetel molotov se Alckmin estiver sempre ao lado dele com um extintor de incêndio”, diz Lavareda, de forma jocosa – até porque Lula, em seus oito anos de governo, nunca atirou coquetéis molotov. 

Uma eleição é uma disputa por corações e mentes. Ao que tudo indica, o foco da campanha de 2022 será nos corações.

Para saber mais

Mini-podcast com Antônio Lavareda 

Entrevista de Antônio Lavareda a José Fucs, do Estadão

ESCRITOR, PROFESSOR DA FAAP E DOUTORANDO EM CIÊNCIA POLÍTICA NA UNIVERSIDADE DE LISBOA

Encontrei Antônio Lavareda em Lisboa no último 25 de abril, dia da Revolução dos Cravos. Na data nacional portuguesa, que comemora a vitória da democracia sobre uma ditadura, era natural que falássemos de eleições. Lavareda, um dos principais analistas políticos brasileiros, chamou a atenção para uma peculiaridade do pleito de outubro. Se o cenário mais provável se concretizar – com os votos convergindo para Lula e Bolsonaro, sem uma terceira via –, veremos a disputa entre um presidente em exercício e um ex. 

Trata-se de um caso inédito no Brasil e raro em democracias. Lavareda lembra que isso esteve perto de acontecer, recentemente, na Argentina e na França. Na Argentina, Cristina Kirchner preferiu ser vice de Alberto Fernández, exercendo seu poder nos bastidores, ainda que com incursões barulhentas à ribalta. Na França, Nicolas Sarkozy chegou a ensaiar uma candidatura pelos Republicanos, mas desistiu por enfrentar problemas na Justiça. 

Pré-candidato do PT participa de evento das centrais sindicais; bolsonaristas organizam ato em defesa de perdão a Daniel Silveira. Foto: Lula: André Dusek/Estadão | Bolsonaro: Gabriela Biló/Estadão

O fenômeno tem suas implicações. “As campanhas elaborarão programas detalhados, mas eles terão um papel diminutíssimo na campanha, já que os eleitores conhecem bem os candidatos”, diz Antônio Lavareda. “Tudo isso explica a razão de as pesquisas espontâneas mostrarem uma convicção de voto tão precoce.” Lavareda é o entrevistado do minipodcast da semana – atravessado, com o perdão do leitor, pelos ruídos dos bondes de Lisboa. 

Lavareda analisa pesquisas desde 1985, quando colaborou com a campanha de Jarbas Vasconcelos à prefeitura do Recife. Ele é o autor do livro Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais, que mostra como as escolhas dos eleitores são muitas vezes guiadas pelos sentimentos – algo que, pelo que se viu até agora, poderá prevalecer no próximo pleito. 

Outro dado que as pesquisas mostram é a mudança da localização dos eleitores dentro do espectro político. O Brasil emergiu da ditadura militar com um viés à esquerda, até como reação aos anos de arbítrio. Hoje, a maior parte dos brasileiros a escolher um lado se define como de direita. 

Num país de partidos com pouca densidade ideológica, tal escolha também tem um forte componente emocional. Por isso, na avaliação de Lavareda, a presença de Geraldo Alckmin é tão importante para Lula. “Torna-se inverossímil que Lula atire um coquetel molotov se Alckmin estiver sempre ao lado dele com um extintor de incêndio”, diz Lavareda, de forma jocosa – até porque Lula, em seus oito anos de governo, nunca atirou coquetéis molotov. 

Uma eleição é uma disputa por corações e mentes. Ao que tudo indica, o foco da campanha de 2022 será nos corações.

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Entrevista de Antônio Lavareda a José Fucs, do Estadão

ESCRITOR, PROFESSOR DA FAAP E DOUTORANDO EM CIÊNCIA POLÍTICA NA UNIVERSIDADE DE LISBOA

Encontrei Antônio Lavareda em Lisboa no último 25 de abril, dia da Revolução dos Cravos. Na data nacional portuguesa, que comemora a vitória da democracia sobre uma ditadura, era natural que falássemos de eleições. Lavareda, um dos principais analistas políticos brasileiros, chamou a atenção para uma peculiaridade do pleito de outubro. Se o cenário mais provável se concretizar – com os votos convergindo para Lula e Bolsonaro, sem uma terceira via –, veremos a disputa entre um presidente em exercício e um ex. 

Trata-se de um caso inédito no Brasil e raro em democracias. Lavareda lembra que isso esteve perto de acontecer, recentemente, na Argentina e na França. Na Argentina, Cristina Kirchner preferiu ser vice de Alberto Fernández, exercendo seu poder nos bastidores, ainda que com incursões barulhentas à ribalta. Na França, Nicolas Sarkozy chegou a ensaiar uma candidatura pelos Republicanos, mas desistiu por enfrentar problemas na Justiça. 

Pré-candidato do PT participa de evento das centrais sindicais; bolsonaristas organizam ato em defesa de perdão a Daniel Silveira. Foto: Lula: André Dusek/Estadão | Bolsonaro: Gabriela Biló/Estadão

O fenômeno tem suas implicações. “As campanhas elaborarão programas detalhados, mas eles terão um papel diminutíssimo na campanha, já que os eleitores conhecem bem os candidatos”, diz Antônio Lavareda. “Tudo isso explica a razão de as pesquisas espontâneas mostrarem uma convicção de voto tão precoce.” Lavareda é o entrevistado do minipodcast da semana – atravessado, com o perdão do leitor, pelos ruídos dos bondes de Lisboa. 

Lavareda analisa pesquisas desde 1985, quando colaborou com a campanha de Jarbas Vasconcelos à prefeitura do Recife. Ele é o autor do livro Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais, que mostra como as escolhas dos eleitores são muitas vezes guiadas pelos sentimentos – algo que, pelo que se viu até agora, poderá prevalecer no próximo pleito. 

Outro dado que as pesquisas mostram é a mudança da localização dos eleitores dentro do espectro político. O Brasil emergiu da ditadura militar com um viés à esquerda, até como reação aos anos de arbítrio. Hoje, a maior parte dos brasileiros a escolher um lado se define como de direita. 

Num país de partidos com pouca densidade ideológica, tal escolha também tem um forte componente emocional. Por isso, na avaliação de Lavareda, a presença de Geraldo Alckmin é tão importante para Lula. “Torna-se inverossímil que Lula atire um coquetel molotov se Alckmin estiver sempre ao lado dele com um extintor de incêndio”, diz Lavareda, de forma jocosa – até porque Lula, em seus oito anos de governo, nunca atirou coquetéis molotov. 

Uma eleição é uma disputa por corações e mentes. Ao que tudo indica, o foco da campanha de 2022 será nos corações.

Para saber mais

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Entrevista de Antônio Lavareda a José Fucs, do Estadão

ESCRITOR, PROFESSOR DA FAAP E DOUTORANDO EM CIÊNCIA POLÍTICA NA UNIVERSIDADE DE LISBOA

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