Todo dia, a mesma rotina. Logo que chega o jornal, por volta das 6 horas, o aposentado Cláudio dos Santos Salles, de 92 anos, começa a ler, do início ao fim, as notícias e anúncios do Estado. Nada lhe escapa. Só depois de conferir tudo, sua mulher, Odila, e as outras pessoas da família – filhos, netos e noras – pegam os cadernos que lhes interessam.
No domingo, a disputa é grande, porque estão todos em casa, na Vila Amália, zona norte da capital. “Faz mais de 50 anos que leio o Estadão, não consigo ler outro jornal”, diz Salles, que se aposentou como jornalista, mas foi também agente da Polícia Federal no período mais duro da repressão durante o regime militar. “Foi um tempo difícil, imagine que certa vez tive de fazer uma diligência no Mosteiro de São Bento, para apurar denúncia de que havia monges comunistas lá dentro.”
Política e o noticiário da cidade são as seções que mais interessam a Salles, ao lado dos registros de ocorrências policiais. Ele acompanhou as denúncias de corrupção no governo, mas não gostou do impeachment de Dilma Rousseff. “Não foi justo.” Fala como leitor, pois diz não ter partido político. “Gosto do jornal, porque ele é imparcial.”
Como jornalista, trabalhou mais em revistas, mas sempre teve vontade de ser repórter do Estadão. Uma vez, visitou a sede do jornal na Marginal do Tietê. Saiu encantado com a redação.