Professor titular de Teoria Política da Unesp, Marco Aurélio Nogueira escreve mensalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|Deixar sangrar: o risco


O perigo que nos ameaça vem da falta de governança, do atrito artificial criado entre alas, pessoas e autoridades

Por Marco Aurélio Nogueira

Depois que Rodrigo Maia, presidente da Câmara, disse em entrevista que questões como CPIs ou impeachment "têm que ser olhadas com muita cautela" porque aumentarão as incertezas sobre a economia e deslocarão o foco do coronavírus, muito concluíram que uma boa ideia é deixar o presidente "sangrar".

Por que antecipar as coisas? Com quais forças e ideias, com qual plano estratégico? São perguntas difíceis, decisivas, dramáticas. Ninguém as está respondendo.

Há algumas variantes nessa situação. Existem os que pensam que o presidente não é o principal problema do País, mas sim o neoliberalismo de Paulo Guedes, ponta de lança da desmontagem da indústria nacional e da limagem atroz dos trabalhadores. Há também os que acham melhor ter um presidente fraco, pois ele chegará fraco às próximas eleições e será mais facilmente derrotado nas urnas. Há os militares que hoje dominam o Planalto e acreditam ter condições de controlar o presidente. Há os políticos, que temem ser ultrapassados pelos fatos que derivariam de uma renúncia forçada.

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São conjeturas que integram cálculos discutíveis e se sustentam em preceitos mais doutrinários do que propriamente políticos.

Consideremos o perigo neoliberal. O suposto é que ele tem força e conta com o apoio ativo do presidente da Câmara, dos empresários, da classe média cansada do Estado e até das FFAA. Mas o neoliberalismo não está em declínio no mundo, não é uma pauta superada, não ficou ainda mais fragilizado com a pandemia? Ele sobreviveria no Brasil só porque há uma gama de interesses localizados que torce por ele por falta de opção melhor?

Acontece que o fiador do neoliberalismo de Paulo Guedes é o presidente. Isso foi dito com todas as letras ontem, na porta do Palácio. O ministro não tem divergências com os militares e está mais forte do que nunca, disse Bolsonaro, garantindo que Guedes é "o homem que decide a economia no Brasil. Ele nos dá o norte, nos dá recomendações e o que nós realmente devemos seguir". O ministro poderá ser substituído por algum outro "neoliberal" de plantão se o presidente assim o quiser. A ideia permanecerá.

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Donde uma conclusão: só será possível questionar o neoliberalismo na economia se não houver Bolsonaro. Enquanto ele se mantiver, será esse o programa econômico. Até porque o bloco presidencial não tem outra opção, não sabe o que propor de diferente.

O problema, portanto, precisa ser tratado como um todo. O perigo que nos ameaça vem da falta de governança, do atrito artificial criado entre alas, pessoas e autoridades, da exasperação provocativa com que se atua durante uma pandemia extremamente grave, da falta de atenção, apoio e empatia com a população, da desinformação que só faz crescer. A guerra cultural e política posta em prática pelo bolsonarismo é um problema, talvez o principal problema do País, porque tudo a tem como parâmetro e é ela que organiza a correlação de forças. Não é o neoliberalismo, por mais que ele seja de alguma ajuda.

As cartas estão sendo embaralhadas. O jogo precisa avançar.

Depois que Rodrigo Maia, presidente da Câmara, disse em entrevista que questões como CPIs ou impeachment "têm que ser olhadas com muita cautela" porque aumentarão as incertezas sobre a economia e deslocarão o foco do coronavírus, muito concluíram que uma boa ideia é deixar o presidente "sangrar".

Por que antecipar as coisas? Com quais forças e ideias, com qual plano estratégico? São perguntas difíceis, decisivas, dramáticas. Ninguém as está respondendo.

Há algumas variantes nessa situação. Existem os que pensam que o presidente não é o principal problema do País, mas sim o neoliberalismo de Paulo Guedes, ponta de lança da desmontagem da indústria nacional e da limagem atroz dos trabalhadores. Há também os que acham melhor ter um presidente fraco, pois ele chegará fraco às próximas eleições e será mais facilmente derrotado nas urnas. Há os militares que hoje dominam o Planalto e acreditam ter condições de controlar o presidente. Há os políticos, que temem ser ultrapassados pelos fatos que derivariam de uma renúncia forçada.

São conjeturas que integram cálculos discutíveis e se sustentam em preceitos mais doutrinários do que propriamente políticos.

Consideremos o perigo neoliberal. O suposto é que ele tem força e conta com o apoio ativo do presidente da Câmara, dos empresários, da classe média cansada do Estado e até das FFAA. Mas o neoliberalismo não está em declínio no mundo, não é uma pauta superada, não ficou ainda mais fragilizado com a pandemia? Ele sobreviveria no Brasil só porque há uma gama de interesses localizados que torce por ele por falta de opção melhor?

Acontece que o fiador do neoliberalismo de Paulo Guedes é o presidente. Isso foi dito com todas as letras ontem, na porta do Palácio. O ministro não tem divergências com os militares e está mais forte do que nunca, disse Bolsonaro, garantindo que Guedes é "o homem que decide a economia no Brasil. Ele nos dá o norte, nos dá recomendações e o que nós realmente devemos seguir". O ministro poderá ser substituído por algum outro "neoliberal" de plantão se o presidente assim o quiser. A ideia permanecerá.

Donde uma conclusão: só será possível questionar o neoliberalismo na economia se não houver Bolsonaro. Enquanto ele se mantiver, será esse o programa econômico. Até porque o bloco presidencial não tem outra opção, não sabe o que propor de diferente.

O problema, portanto, precisa ser tratado como um todo. O perigo que nos ameaça vem da falta de governança, do atrito artificial criado entre alas, pessoas e autoridades, da exasperação provocativa com que se atua durante uma pandemia extremamente grave, da falta de atenção, apoio e empatia com a população, da desinformação que só faz crescer. A guerra cultural e política posta em prática pelo bolsonarismo é um problema, talvez o principal problema do País, porque tudo a tem como parâmetro e é ela que organiza a correlação de forças. Não é o neoliberalismo, por mais que ele seja de alguma ajuda.

As cartas estão sendo embaralhadas. O jogo precisa avançar.

Depois que Rodrigo Maia, presidente da Câmara, disse em entrevista que questões como CPIs ou impeachment "têm que ser olhadas com muita cautela" porque aumentarão as incertezas sobre a economia e deslocarão o foco do coronavírus, muito concluíram que uma boa ideia é deixar o presidente "sangrar".

Por que antecipar as coisas? Com quais forças e ideias, com qual plano estratégico? São perguntas difíceis, decisivas, dramáticas. Ninguém as está respondendo.

Há algumas variantes nessa situação. Existem os que pensam que o presidente não é o principal problema do País, mas sim o neoliberalismo de Paulo Guedes, ponta de lança da desmontagem da indústria nacional e da limagem atroz dos trabalhadores. Há também os que acham melhor ter um presidente fraco, pois ele chegará fraco às próximas eleições e será mais facilmente derrotado nas urnas. Há os militares que hoje dominam o Planalto e acreditam ter condições de controlar o presidente. Há os políticos, que temem ser ultrapassados pelos fatos que derivariam de uma renúncia forçada.

São conjeturas que integram cálculos discutíveis e se sustentam em preceitos mais doutrinários do que propriamente políticos.

Consideremos o perigo neoliberal. O suposto é que ele tem força e conta com o apoio ativo do presidente da Câmara, dos empresários, da classe média cansada do Estado e até das FFAA. Mas o neoliberalismo não está em declínio no mundo, não é uma pauta superada, não ficou ainda mais fragilizado com a pandemia? Ele sobreviveria no Brasil só porque há uma gama de interesses localizados que torce por ele por falta de opção melhor?

Acontece que o fiador do neoliberalismo de Paulo Guedes é o presidente. Isso foi dito com todas as letras ontem, na porta do Palácio. O ministro não tem divergências com os militares e está mais forte do que nunca, disse Bolsonaro, garantindo que Guedes é "o homem que decide a economia no Brasil. Ele nos dá o norte, nos dá recomendações e o que nós realmente devemos seguir". O ministro poderá ser substituído por algum outro "neoliberal" de plantão se o presidente assim o quiser. A ideia permanecerá.

Donde uma conclusão: só será possível questionar o neoliberalismo na economia se não houver Bolsonaro. Enquanto ele se mantiver, será esse o programa econômico. Até porque o bloco presidencial não tem outra opção, não sabe o que propor de diferente.

O problema, portanto, precisa ser tratado como um todo. O perigo que nos ameaça vem da falta de governança, do atrito artificial criado entre alas, pessoas e autoridades, da exasperação provocativa com que se atua durante uma pandemia extremamente grave, da falta de atenção, apoio e empatia com a população, da desinformação que só faz crescer. A guerra cultural e política posta em prática pelo bolsonarismo é um problema, talvez o principal problema do País, porque tudo a tem como parâmetro e é ela que organiza a correlação de forças. Não é o neoliberalismo, por mais que ele seja de alguma ajuda.

As cartas estão sendo embaralhadas. O jogo precisa avançar.

Depois que Rodrigo Maia, presidente da Câmara, disse em entrevista que questões como CPIs ou impeachment "têm que ser olhadas com muita cautela" porque aumentarão as incertezas sobre a economia e deslocarão o foco do coronavírus, muito concluíram que uma boa ideia é deixar o presidente "sangrar".

Por que antecipar as coisas? Com quais forças e ideias, com qual plano estratégico? São perguntas difíceis, decisivas, dramáticas. Ninguém as está respondendo.

Há algumas variantes nessa situação. Existem os que pensam que o presidente não é o principal problema do País, mas sim o neoliberalismo de Paulo Guedes, ponta de lança da desmontagem da indústria nacional e da limagem atroz dos trabalhadores. Há também os que acham melhor ter um presidente fraco, pois ele chegará fraco às próximas eleições e será mais facilmente derrotado nas urnas. Há os militares que hoje dominam o Planalto e acreditam ter condições de controlar o presidente. Há os políticos, que temem ser ultrapassados pelos fatos que derivariam de uma renúncia forçada.

São conjeturas que integram cálculos discutíveis e se sustentam em preceitos mais doutrinários do que propriamente políticos.

Consideremos o perigo neoliberal. O suposto é que ele tem força e conta com o apoio ativo do presidente da Câmara, dos empresários, da classe média cansada do Estado e até das FFAA. Mas o neoliberalismo não está em declínio no mundo, não é uma pauta superada, não ficou ainda mais fragilizado com a pandemia? Ele sobreviveria no Brasil só porque há uma gama de interesses localizados que torce por ele por falta de opção melhor?

Acontece que o fiador do neoliberalismo de Paulo Guedes é o presidente. Isso foi dito com todas as letras ontem, na porta do Palácio. O ministro não tem divergências com os militares e está mais forte do que nunca, disse Bolsonaro, garantindo que Guedes é "o homem que decide a economia no Brasil. Ele nos dá o norte, nos dá recomendações e o que nós realmente devemos seguir". O ministro poderá ser substituído por algum outro "neoliberal" de plantão se o presidente assim o quiser. A ideia permanecerá.

Donde uma conclusão: só será possível questionar o neoliberalismo na economia se não houver Bolsonaro. Enquanto ele se mantiver, será esse o programa econômico. Até porque o bloco presidencial não tem outra opção, não sabe o que propor de diferente.

O problema, portanto, precisa ser tratado como um todo. O perigo que nos ameaça vem da falta de governança, do atrito artificial criado entre alas, pessoas e autoridades, da exasperação provocativa com que se atua durante uma pandemia extremamente grave, da falta de atenção, apoio e empatia com a população, da desinformação que só faz crescer. A guerra cultural e política posta em prática pelo bolsonarismo é um problema, talvez o principal problema do País, porque tudo a tem como parâmetro e é ela que organiza a correlação de forças. Não é o neoliberalismo, por mais que ele seja de alguma ajuda.

As cartas estão sendo embaralhadas. O jogo precisa avançar.

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