'Quebra de empreiteiras da Lava Jato trará risco sistêmico ao País', diz advogado


Walfrido Jorge Warde Júnior lançará livro com plano alternativo à leniência para empresas investigadas por desvios na Petrobrás: 'Se elas falirem, Brasil sucumbirá'

Por Tonia Machado

As 29 empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção na Petrobrás detêm os principais projetos de infraestrutura no País. Se condenadas, nenhuma poderá ser contratada novamente pelo governo, o que levaria muitas à falência. Para evitar que isso ocorra, seis delas já recorreram à Controladoria-Geral da União (CGU) para celebrar um acordo de leniência - espécie de delação premiada para pessoas jurídicas. Esse acordo, no entanto, pode ser feito apenas com a primeira empresa interessada. No livro Um plano de ação para o salvamento do projeto nacional de infraestrutura, que será lançado em 12 de novembro, os advogados Walfrido Jorge Warde Júnior, Gilberto Bercovici e José Francisco Siqueira Neto propõem uma alternativa a esse acordo. Em entrevista ao Estado, Walfrido Jorge explica a proposta, que já foi enviada ao governo e, segundo ele, é a única solução para as empreiteiras e também para a saúde econômica do País.

Walfrido Jorge Warde Junior, do escritório de advocacia Lehmann, Warde e Monteiro de Castro Foto: Gabriela Biló/Estadão

O que o projeto propõe?

continua após a publicidade

Que as empresas envolvidas no esquema de corrupção da Petrobrás paguem integralmente as indenizações e multas pelos prejuízos que deram à União e à estatal. Isso seria feito por meio das ações que elas possuem em projetos dos quais ganharam licitações. Por exemplo, projetos de aeroportos, sondas, termelétricas. Se, por exemplo, a empresa deve R$ 1 bilhão e tem o equivalente a esse valor distribuído em ações de projetos, ela as entrega à União e à Petrobrás, que vende essas ações no mercado de capitais. Se o valor total arrecadado com a venda somar R$ 1 bilhão, está tudo resolvido. Se faltar uma parte, a empresa deve pagar o restante. E o controle dos projetos passa para quem comprar as ações.Quem poderia comprar?

O mundo inteiro tem interesse em comprar essas ações. Como é um leilão, quem paga mais. Com exceção das empresas que as detinham anteriormente.Por que o sr. acredita que essa seja a melhor solução?

Ela permite que as empresas envolvidas paguem o que devem e, assim, possam voltar a contratar com o Estado. Ao mesmo tempo, permite que o Estado recobre o controle de projetos que são essenciais para o Brasil e vendam esses projetos no mercado de capitais para novos entrantes. Além disso, essa medida traz para o caixa da Petrobrás vários bilhões de reais que saíram por meio de contratos fraudulentos, superfaturados. Nenhuma outra solução existente na legislação é capaz de fazer isso.Não seria melhor punir as empresas e substituí-las?

continua após a publicidade

Atualmente, essas 29 empresas têm o controle dos principais projetos de infraestrutura brasileiros. Se elas sucumbirem, com elas sucumbem todos esses projetos e, ao mesmo tempo, um crédito brutal do Estado contra elas, que é garantido pelos bancos privados. Nos últimos anos, o Estado colocou por meio dos bancos públicos, por meio dos fundos de pensão, mais de R$ 1 trilhão nessas empresas. Se elas quebrarem, se criará um problema sistêmico de crédito para o Brasil. Além disso, muitas delas são excelentes sob o ponto de vista tecnológico e técnico. Há determinadas obras que só empresas brasileiras sabem fazer porque desenvolveram tecnologias para isso. Essas empresas também são contratantes de milhões de empregos. A falência delas aumentaria ainda mais o desemprego no País. Existe também a infraestrutura jurídica. Foram gastos bilhões de reais ao longo dos anos para fazer editais de licitação, leilões, contratos de concessão, contratos administrativos que têm como partes a União e essas empresas. Refazer essa malha de infraestrutura jurídica levaria anos.A permanência dessas empreiteiras não pode gerar uma sensação de que nada mudou?

Não podemos querer dessas empresas mais do que a lei impõe a elas. Só se estivéssemos falando: olha, você me deve R$ 100, mas eu recebo R$ 50 e fico bonzinho, como alguns projetos, que são corruptelas da nossa solução no Congresso Nacional, pretendem. O que sugerimos não é quebrar multa e indenização. Propomos que elas paguem 100% do que a lei determina. Isso não é um projeto para salvar empreiteiras, mas para salvar a infraestrutura e a economia do Brasil.Esse acordo cobriria o prejuízo causado à União e à Petrobrás?

O dano declarado pela Petrobrás em seu balanço é de R$ 6,2 bilhões. Quem calcula a multa a ser paga pelas empresas é a União. Imagine que seja o dobro ou o triplo desse valor. Estamos falando em R$ 15 ou R$ 20 bilhões e 90% vai para o caixa da Petrobrás. É tudo o que ela precisa pra voltar à normalidade. Se daria uma resposta adequada aos investidores e seria a primeira vez na história, talvez mundial, em que um escândalo de corrupção foi resolvido, sob o ponto de vista econômico, tão rapidamente.

continua após a publicidade

Essa solução acabaria com o problema de corrupção entre essas empresas e o Estado, já que eles continuarão fechando negócios?

São duas coisas diferentes. Uma coisa é resolver o problema sistêmico que temos agora e que é um problema econômico. Há quem diga que o impacto da Lava Jato na economia é 10% de investimento bruto de capital e 3% do PIB. Isso é o impacto direto. Há também o indireto. No entorno dessas grandes empresas gravitam empresas médias e pequenas. Temos também a crise de crédito, que envolveria bancos, o Tesouro, o Fundo de Amparo ao Trabalhador, fundos de pensão. Não estamos olhando para o tamanho do problema que temos diante de nós. O problema emergencial é salvar a infraestrutura do Brasil e salvar a economia brasileira de todos esses riscos. A segunda coisa é o combate sistêmico à corrupção que, acredito, está bem colocado no Brasil. Estamos muito bem guarnecidos de instrumentos legais duríssimos.

Porque o sr. resolveu enviar o projeto ao governo?

continua após a publicidade

Estamos vendo que estamos nos aproximando do abismo e não temos nenhuma solução a não ser essa.

E o governo deu alguma resposta?

Conversamos com vários ministros de Estado e tivemos respaldo do ministro Joaquim Levy (Fazenda), que vem estudando o projeto. Ele escreveu um comentário altamente elogioso e favorável no livro.

continua após a publicidade

Em que termos acordos de leniência são feitos em outros países?

Em países de tradição anglo-saxônica normalmente tudo isso é muito bem definido. Pagou, está resolvido. Nos Estados Unidos, o acordo não significa que as pessoas não vão para a cadeia. Às vezes vão e ficam o resto da vida e também não significa que as multas sejam pequenas. São altíssimas. Muitas vezes obrigam a saída dessas empresas do mercado. Mas a tendência é de pragmatismo: de que adianta destruir um conglomerado empresarial, que dá empregos e é importante para a economia? Não se ganha com isso, se perde. Até porque, um conglomerado empresarial não pode responder integralmente pelo ato de dois ou três dirigentes que mal conduziram um negócio. É como se você destruísse o carro pela multa de trânsito que deve tomar o condutor. No máximo, se deve tirar o carro dele porque ele não é capaz de pagar a multa.

As 29 empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção na Petrobrás detêm os principais projetos de infraestrutura no País. Se condenadas, nenhuma poderá ser contratada novamente pelo governo, o que levaria muitas à falência. Para evitar que isso ocorra, seis delas já recorreram à Controladoria-Geral da União (CGU) para celebrar um acordo de leniência - espécie de delação premiada para pessoas jurídicas. Esse acordo, no entanto, pode ser feito apenas com a primeira empresa interessada. No livro Um plano de ação para o salvamento do projeto nacional de infraestrutura, que será lançado em 12 de novembro, os advogados Walfrido Jorge Warde Júnior, Gilberto Bercovici e José Francisco Siqueira Neto propõem uma alternativa a esse acordo. Em entrevista ao Estado, Walfrido Jorge explica a proposta, que já foi enviada ao governo e, segundo ele, é a única solução para as empreiteiras e também para a saúde econômica do País.

Walfrido Jorge Warde Junior, do escritório de advocacia Lehmann, Warde e Monteiro de Castro Foto: Gabriela Biló/Estadão

O que o projeto propõe?

Que as empresas envolvidas no esquema de corrupção da Petrobrás paguem integralmente as indenizações e multas pelos prejuízos que deram à União e à estatal. Isso seria feito por meio das ações que elas possuem em projetos dos quais ganharam licitações. Por exemplo, projetos de aeroportos, sondas, termelétricas. Se, por exemplo, a empresa deve R$ 1 bilhão e tem o equivalente a esse valor distribuído em ações de projetos, ela as entrega à União e à Petrobrás, que vende essas ações no mercado de capitais. Se o valor total arrecadado com a venda somar R$ 1 bilhão, está tudo resolvido. Se faltar uma parte, a empresa deve pagar o restante. E o controle dos projetos passa para quem comprar as ações.Quem poderia comprar?

O mundo inteiro tem interesse em comprar essas ações. Como é um leilão, quem paga mais. Com exceção das empresas que as detinham anteriormente.Por que o sr. acredita que essa seja a melhor solução?

Ela permite que as empresas envolvidas paguem o que devem e, assim, possam voltar a contratar com o Estado. Ao mesmo tempo, permite que o Estado recobre o controle de projetos que são essenciais para o Brasil e vendam esses projetos no mercado de capitais para novos entrantes. Além disso, essa medida traz para o caixa da Petrobrás vários bilhões de reais que saíram por meio de contratos fraudulentos, superfaturados. Nenhuma outra solução existente na legislação é capaz de fazer isso.Não seria melhor punir as empresas e substituí-las?

Atualmente, essas 29 empresas têm o controle dos principais projetos de infraestrutura brasileiros. Se elas sucumbirem, com elas sucumbem todos esses projetos e, ao mesmo tempo, um crédito brutal do Estado contra elas, que é garantido pelos bancos privados. Nos últimos anos, o Estado colocou por meio dos bancos públicos, por meio dos fundos de pensão, mais de R$ 1 trilhão nessas empresas. Se elas quebrarem, se criará um problema sistêmico de crédito para o Brasil. Além disso, muitas delas são excelentes sob o ponto de vista tecnológico e técnico. Há determinadas obras que só empresas brasileiras sabem fazer porque desenvolveram tecnologias para isso. Essas empresas também são contratantes de milhões de empregos. A falência delas aumentaria ainda mais o desemprego no País. Existe também a infraestrutura jurídica. Foram gastos bilhões de reais ao longo dos anos para fazer editais de licitação, leilões, contratos de concessão, contratos administrativos que têm como partes a União e essas empresas. Refazer essa malha de infraestrutura jurídica levaria anos.A permanência dessas empreiteiras não pode gerar uma sensação de que nada mudou?

Não podemos querer dessas empresas mais do que a lei impõe a elas. Só se estivéssemos falando: olha, você me deve R$ 100, mas eu recebo R$ 50 e fico bonzinho, como alguns projetos, que são corruptelas da nossa solução no Congresso Nacional, pretendem. O que sugerimos não é quebrar multa e indenização. Propomos que elas paguem 100% do que a lei determina. Isso não é um projeto para salvar empreiteiras, mas para salvar a infraestrutura e a economia do Brasil.Esse acordo cobriria o prejuízo causado à União e à Petrobrás?

O dano declarado pela Petrobrás em seu balanço é de R$ 6,2 bilhões. Quem calcula a multa a ser paga pelas empresas é a União. Imagine que seja o dobro ou o triplo desse valor. Estamos falando em R$ 15 ou R$ 20 bilhões e 90% vai para o caixa da Petrobrás. É tudo o que ela precisa pra voltar à normalidade. Se daria uma resposta adequada aos investidores e seria a primeira vez na história, talvez mundial, em que um escândalo de corrupção foi resolvido, sob o ponto de vista econômico, tão rapidamente.

Essa solução acabaria com o problema de corrupção entre essas empresas e o Estado, já que eles continuarão fechando negócios?

São duas coisas diferentes. Uma coisa é resolver o problema sistêmico que temos agora e que é um problema econômico. Há quem diga que o impacto da Lava Jato na economia é 10% de investimento bruto de capital e 3% do PIB. Isso é o impacto direto. Há também o indireto. No entorno dessas grandes empresas gravitam empresas médias e pequenas. Temos também a crise de crédito, que envolveria bancos, o Tesouro, o Fundo de Amparo ao Trabalhador, fundos de pensão. Não estamos olhando para o tamanho do problema que temos diante de nós. O problema emergencial é salvar a infraestrutura do Brasil e salvar a economia brasileira de todos esses riscos. A segunda coisa é o combate sistêmico à corrupção que, acredito, está bem colocado no Brasil. Estamos muito bem guarnecidos de instrumentos legais duríssimos.

Porque o sr. resolveu enviar o projeto ao governo?

Estamos vendo que estamos nos aproximando do abismo e não temos nenhuma solução a não ser essa.

E o governo deu alguma resposta?

Conversamos com vários ministros de Estado e tivemos respaldo do ministro Joaquim Levy (Fazenda), que vem estudando o projeto. Ele escreveu um comentário altamente elogioso e favorável no livro.

Em que termos acordos de leniência são feitos em outros países?

Em países de tradição anglo-saxônica normalmente tudo isso é muito bem definido. Pagou, está resolvido. Nos Estados Unidos, o acordo não significa que as pessoas não vão para a cadeia. Às vezes vão e ficam o resto da vida e também não significa que as multas sejam pequenas. São altíssimas. Muitas vezes obrigam a saída dessas empresas do mercado. Mas a tendência é de pragmatismo: de que adianta destruir um conglomerado empresarial, que dá empregos e é importante para a economia? Não se ganha com isso, se perde. Até porque, um conglomerado empresarial não pode responder integralmente pelo ato de dois ou três dirigentes que mal conduziram um negócio. É como se você destruísse o carro pela multa de trânsito que deve tomar o condutor. No máximo, se deve tirar o carro dele porque ele não é capaz de pagar a multa.

As 29 empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção na Petrobrás detêm os principais projetos de infraestrutura no País. Se condenadas, nenhuma poderá ser contratada novamente pelo governo, o que levaria muitas à falência. Para evitar que isso ocorra, seis delas já recorreram à Controladoria-Geral da União (CGU) para celebrar um acordo de leniência - espécie de delação premiada para pessoas jurídicas. Esse acordo, no entanto, pode ser feito apenas com a primeira empresa interessada. No livro Um plano de ação para o salvamento do projeto nacional de infraestrutura, que será lançado em 12 de novembro, os advogados Walfrido Jorge Warde Júnior, Gilberto Bercovici e José Francisco Siqueira Neto propõem uma alternativa a esse acordo. Em entrevista ao Estado, Walfrido Jorge explica a proposta, que já foi enviada ao governo e, segundo ele, é a única solução para as empreiteiras e também para a saúde econômica do País.

Walfrido Jorge Warde Junior, do escritório de advocacia Lehmann, Warde e Monteiro de Castro Foto: Gabriela Biló/Estadão

O que o projeto propõe?

Que as empresas envolvidas no esquema de corrupção da Petrobrás paguem integralmente as indenizações e multas pelos prejuízos que deram à União e à estatal. Isso seria feito por meio das ações que elas possuem em projetos dos quais ganharam licitações. Por exemplo, projetos de aeroportos, sondas, termelétricas. Se, por exemplo, a empresa deve R$ 1 bilhão e tem o equivalente a esse valor distribuído em ações de projetos, ela as entrega à União e à Petrobrás, que vende essas ações no mercado de capitais. Se o valor total arrecadado com a venda somar R$ 1 bilhão, está tudo resolvido. Se faltar uma parte, a empresa deve pagar o restante. E o controle dos projetos passa para quem comprar as ações.Quem poderia comprar?

O mundo inteiro tem interesse em comprar essas ações. Como é um leilão, quem paga mais. Com exceção das empresas que as detinham anteriormente.Por que o sr. acredita que essa seja a melhor solução?

Ela permite que as empresas envolvidas paguem o que devem e, assim, possam voltar a contratar com o Estado. Ao mesmo tempo, permite que o Estado recobre o controle de projetos que são essenciais para o Brasil e vendam esses projetos no mercado de capitais para novos entrantes. Além disso, essa medida traz para o caixa da Petrobrás vários bilhões de reais que saíram por meio de contratos fraudulentos, superfaturados. Nenhuma outra solução existente na legislação é capaz de fazer isso.Não seria melhor punir as empresas e substituí-las?

Atualmente, essas 29 empresas têm o controle dos principais projetos de infraestrutura brasileiros. Se elas sucumbirem, com elas sucumbem todos esses projetos e, ao mesmo tempo, um crédito brutal do Estado contra elas, que é garantido pelos bancos privados. Nos últimos anos, o Estado colocou por meio dos bancos públicos, por meio dos fundos de pensão, mais de R$ 1 trilhão nessas empresas. Se elas quebrarem, se criará um problema sistêmico de crédito para o Brasil. Além disso, muitas delas são excelentes sob o ponto de vista tecnológico e técnico. Há determinadas obras que só empresas brasileiras sabem fazer porque desenvolveram tecnologias para isso. Essas empresas também são contratantes de milhões de empregos. A falência delas aumentaria ainda mais o desemprego no País. Existe também a infraestrutura jurídica. Foram gastos bilhões de reais ao longo dos anos para fazer editais de licitação, leilões, contratos de concessão, contratos administrativos que têm como partes a União e essas empresas. Refazer essa malha de infraestrutura jurídica levaria anos.A permanência dessas empreiteiras não pode gerar uma sensação de que nada mudou?

Não podemos querer dessas empresas mais do que a lei impõe a elas. Só se estivéssemos falando: olha, você me deve R$ 100, mas eu recebo R$ 50 e fico bonzinho, como alguns projetos, que são corruptelas da nossa solução no Congresso Nacional, pretendem. O que sugerimos não é quebrar multa e indenização. Propomos que elas paguem 100% do que a lei determina. Isso não é um projeto para salvar empreiteiras, mas para salvar a infraestrutura e a economia do Brasil.Esse acordo cobriria o prejuízo causado à União e à Petrobrás?

O dano declarado pela Petrobrás em seu balanço é de R$ 6,2 bilhões. Quem calcula a multa a ser paga pelas empresas é a União. Imagine que seja o dobro ou o triplo desse valor. Estamos falando em R$ 15 ou R$ 20 bilhões e 90% vai para o caixa da Petrobrás. É tudo o que ela precisa pra voltar à normalidade. Se daria uma resposta adequada aos investidores e seria a primeira vez na história, talvez mundial, em que um escândalo de corrupção foi resolvido, sob o ponto de vista econômico, tão rapidamente.

Essa solução acabaria com o problema de corrupção entre essas empresas e o Estado, já que eles continuarão fechando negócios?

São duas coisas diferentes. Uma coisa é resolver o problema sistêmico que temos agora e que é um problema econômico. Há quem diga que o impacto da Lava Jato na economia é 10% de investimento bruto de capital e 3% do PIB. Isso é o impacto direto. Há também o indireto. No entorno dessas grandes empresas gravitam empresas médias e pequenas. Temos também a crise de crédito, que envolveria bancos, o Tesouro, o Fundo de Amparo ao Trabalhador, fundos de pensão. Não estamos olhando para o tamanho do problema que temos diante de nós. O problema emergencial é salvar a infraestrutura do Brasil e salvar a economia brasileira de todos esses riscos. A segunda coisa é o combate sistêmico à corrupção que, acredito, está bem colocado no Brasil. Estamos muito bem guarnecidos de instrumentos legais duríssimos.

Porque o sr. resolveu enviar o projeto ao governo?

Estamos vendo que estamos nos aproximando do abismo e não temos nenhuma solução a não ser essa.

E o governo deu alguma resposta?

Conversamos com vários ministros de Estado e tivemos respaldo do ministro Joaquim Levy (Fazenda), que vem estudando o projeto. Ele escreveu um comentário altamente elogioso e favorável no livro.

Em que termos acordos de leniência são feitos em outros países?

Em países de tradição anglo-saxônica normalmente tudo isso é muito bem definido. Pagou, está resolvido. Nos Estados Unidos, o acordo não significa que as pessoas não vão para a cadeia. Às vezes vão e ficam o resto da vida e também não significa que as multas sejam pequenas. São altíssimas. Muitas vezes obrigam a saída dessas empresas do mercado. Mas a tendência é de pragmatismo: de que adianta destruir um conglomerado empresarial, que dá empregos e é importante para a economia? Não se ganha com isso, se perde. Até porque, um conglomerado empresarial não pode responder integralmente pelo ato de dois ou três dirigentes que mal conduziram um negócio. É como se você destruísse o carro pela multa de trânsito que deve tomar o condutor. No máximo, se deve tirar o carro dele porque ele não é capaz de pagar a multa.

As 29 empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção na Petrobrás detêm os principais projetos de infraestrutura no País. Se condenadas, nenhuma poderá ser contratada novamente pelo governo, o que levaria muitas à falência. Para evitar que isso ocorra, seis delas já recorreram à Controladoria-Geral da União (CGU) para celebrar um acordo de leniência - espécie de delação premiada para pessoas jurídicas. Esse acordo, no entanto, pode ser feito apenas com a primeira empresa interessada. No livro Um plano de ação para o salvamento do projeto nacional de infraestrutura, que será lançado em 12 de novembro, os advogados Walfrido Jorge Warde Júnior, Gilberto Bercovici e José Francisco Siqueira Neto propõem uma alternativa a esse acordo. Em entrevista ao Estado, Walfrido Jorge explica a proposta, que já foi enviada ao governo e, segundo ele, é a única solução para as empreiteiras e também para a saúde econômica do País.

Walfrido Jorge Warde Junior, do escritório de advocacia Lehmann, Warde e Monteiro de Castro Foto: Gabriela Biló/Estadão

O que o projeto propõe?

Que as empresas envolvidas no esquema de corrupção da Petrobrás paguem integralmente as indenizações e multas pelos prejuízos que deram à União e à estatal. Isso seria feito por meio das ações que elas possuem em projetos dos quais ganharam licitações. Por exemplo, projetos de aeroportos, sondas, termelétricas. Se, por exemplo, a empresa deve R$ 1 bilhão e tem o equivalente a esse valor distribuído em ações de projetos, ela as entrega à União e à Petrobrás, que vende essas ações no mercado de capitais. Se o valor total arrecadado com a venda somar R$ 1 bilhão, está tudo resolvido. Se faltar uma parte, a empresa deve pagar o restante. E o controle dos projetos passa para quem comprar as ações.Quem poderia comprar?

O mundo inteiro tem interesse em comprar essas ações. Como é um leilão, quem paga mais. Com exceção das empresas que as detinham anteriormente.Por que o sr. acredita que essa seja a melhor solução?

Ela permite que as empresas envolvidas paguem o que devem e, assim, possam voltar a contratar com o Estado. Ao mesmo tempo, permite que o Estado recobre o controle de projetos que são essenciais para o Brasil e vendam esses projetos no mercado de capitais para novos entrantes. Além disso, essa medida traz para o caixa da Petrobrás vários bilhões de reais que saíram por meio de contratos fraudulentos, superfaturados. Nenhuma outra solução existente na legislação é capaz de fazer isso.Não seria melhor punir as empresas e substituí-las?

Atualmente, essas 29 empresas têm o controle dos principais projetos de infraestrutura brasileiros. Se elas sucumbirem, com elas sucumbem todos esses projetos e, ao mesmo tempo, um crédito brutal do Estado contra elas, que é garantido pelos bancos privados. Nos últimos anos, o Estado colocou por meio dos bancos públicos, por meio dos fundos de pensão, mais de R$ 1 trilhão nessas empresas. Se elas quebrarem, se criará um problema sistêmico de crédito para o Brasil. Além disso, muitas delas são excelentes sob o ponto de vista tecnológico e técnico. Há determinadas obras que só empresas brasileiras sabem fazer porque desenvolveram tecnologias para isso. Essas empresas também são contratantes de milhões de empregos. A falência delas aumentaria ainda mais o desemprego no País. Existe também a infraestrutura jurídica. Foram gastos bilhões de reais ao longo dos anos para fazer editais de licitação, leilões, contratos de concessão, contratos administrativos que têm como partes a União e essas empresas. Refazer essa malha de infraestrutura jurídica levaria anos.A permanência dessas empreiteiras não pode gerar uma sensação de que nada mudou?

Não podemos querer dessas empresas mais do que a lei impõe a elas. Só se estivéssemos falando: olha, você me deve R$ 100, mas eu recebo R$ 50 e fico bonzinho, como alguns projetos, que são corruptelas da nossa solução no Congresso Nacional, pretendem. O que sugerimos não é quebrar multa e indenização. Propomos que elas paguem 100% do que a lei determina. Isso não é um projeto para salvar empreiteiras, mas para salvar a infraestrutura e a economia do Brasil.Esse acordo cobriria o prejuízo causado à União e à Petrobrás?

O dano declarado pela Petrobrás em seu balanço é de R$ 6,2 bilhões. Quem calcula a multa a ser paga pelas empresas é a União. Imagine que seja o dobro ou o triplo desse valor. Estamos falando em R$ 15 ou R$ 20 bilhões e 90% vai para o caixa da Petrobrás. É tudo o que ela precisa pra voltar à normalidade. Se daria uma resposta adequada aos investidores e seria a primeira vez na história, talvez mundial, em que um escândalo de corrupção foi resolvido, sob o ponto de vista econômico, tão rapidamente.

Essa solução acabaria com o problema de corrupção entre essas empresas e o Estado, já que eles continuarão fechando negócios?

São duas coisas diferentes. Uma coisa é resolver o problema sistêmico que temos agora e que é um problema econômico. Há quem diga que o impacto da Lava Jato na economia é 10% de investimento bruto de capital e 3% do PIB. Isso é o impacto direto. Há também o indireto. No entorno dessas grandes empresas gravitam empresas médias e pequenas. Temos também a crise de crédito, que envolveria bancos, o Tesouro, o Fundo de Amparo ao Trabalhador, fundos de pensão. Não estamos olhando para o tamanho do problema que temos diante de nós. O problema emergencial é salvar a infraestrutura do Brasil e salvar a economia brasileira de todos esses riscos. A segunda coisa é o combate sistêmico à corrupção que, acredito, está bem colocado no Brasil. Estamos muito bem guarnecidos de instrumentos legais duríssimos.

Porque o sr. resolveu enviar o projeto ao governo?

Estamos vendo que estamos nos aproximando do abismo e não temos nenhuma solução a não ser essa.

E o governo deu alguma resposta?

Conversamos com vários ministros de Estado e tivemos respaldo do ministro Joaquim Levy (Fazenda), que vem estudando o projeto. Ele escreveu um comentário altamente elogioso e favorável no livro.

Em que termos acordos de leniência são feitos em outros países?

Em países de tradição anglo-saxônica normalmente tudo isso é muito bem definido. Pagou, está resolvido. Nos Estados Unidos, o acordo não significa que as pessoas não vão para a cadeia. Às vezes vão e ficam o resto da vida e também não significa que as multas sejam pequenas. São altíssimas. Muitas vezes obrigam a saída dessas empresas do mercado. Mas a tendência é de pragmatismo: de que adianta destruir um conglomerado empresarial, que dá empregos e é importante para a economia? Não se ganha com isso, se perde. Até porque, um conglomerado empresarial não pode responder integralmente pelo ato de dois ou três dirigentes que mal conduziram um negócio. É como se você destruísse o carro pela multa de trânsito que deve tomar o condutor. No máximo, se deve tirar o carro dele porque ele não é capaz de pagar a multa.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.