Os argentinos vão às urnas neste domingo, 18, em meio a uma profunda crise econômica e financeira, para uma eleição que pode ter importantes consequências para o Brasil. De um lado, o ministro da Economia, Sergio Massa, com o apoio tácito do governo brasileiro; de outro, o candidato de direita Javier Milei, com o apoio escancarado da família Bolsonaro.
Se fosse apenas para emular a polarização política do Brasil, a eleição na Argentina teria uma relevância menor do que em anos passados; não mais que uma fonte de entretenimento para os aficionados em política e história. Apesar da forte relação comercial entre os dois países, não há um grande temor de contágio nos mercados brasileiros com o agravamento da crise econômica na Argentina. A inflação acelerada e os controles cambiais são problemas que afetam principalmente os próprios argentinos, sem repercussões sistêmicas para o Brasil.
Porém, há um importante elemento a mais em jogo neste ano: o futuro do Mercosul, e o acordo comercial com a União Europeia. A eleição na Argentina coincide com uma janela de oportunidade valiosa para a conclusão do acordo, após mais de 20 anos de negociações.
A derrota de Bolsonaro e a virada na política ambiental brasileira reacendeu o interesse dos europeus no acordo. Lula também defendeu o aumento do comércio com a Europa como uma prioridade estratégica de sua política externa. Por isso, diplomatas de ambos os lados têm trabalhado ao longo de 2023, e de forma particularmente intensa nas últimas semanas, para concluir as tratativas. Mas há um problema: segundo os europeus, se o acordo não for fechado neste ano, as negociações esfriarão em 2024, quando haverá eleições para o Parlamento Europeu.
Nesse contexto, a eleição na Argentina é vista com apreensão em Brasília. Na equipe econômica, existe o temor de que a vitória de Milei possa interromper todo o processo – não por uma resistência do candidato ao livre comércio, mas por sua forte oposição ao Mercosul e ao próprio Lula, a quem Milei chama de corrupto e comunista. Além disso, há uma preocupação de que, mesmo que Milei evite interferir na negociação, seu governo seja disfuncional, sem maioria parlamentar e com forte oposição nas ruas, e isso acabe prejudicando a implementação de um eventual acordo – atrasando ou mesmo inviabilizando as fases seguintes do acordo comercial.
No fim de semana, a Argentina começará a dar a resposta. Por ora, resta apenas a incerteza, pois as pesquisas têm sido muito pouco confiáveis. As sondagens mais recentes indicam Milei à frente, mas o resultado do primeiro turno mostrou que Massa chegou à reta final, de forma surpreendente, com um ligeiro favoritismo. Lula e o governo brasileiro acompanharão com atenção.