Espaços públicos, caminhadas e urbanidade.

Em Goiás, a minha Flip


Por Mauro Calliari

 

Pirenópolis. Foto: Mauro Calliari
continua após a publicidade

Paraty acabou de hospedar a Flip. O encontro sobre letras e livros atraiu multidões, gerou debates interessantes, conversas inteligentes, alguma polêmica e muitas festas pela cidade.

Nos mesmos dias, por acaso, estive num cenário parecido mas muito mais vazio, as cidades históricas de estado de Goiás, especialmente Goiás Velho e Pirenópolis.

Levei alguns livros e acabei fazendo minha própria Flip, ou a Flig, a feira do livro de Goiás.

continua após a publicidade

O primeiro deles foi Raízes do Brasil, do Sergio Buarque de Holanda, que me ajudou a pensar na cidade colonial por onde eu caminhava. Há um capítulo em que ele compara as cidades construídas na América Colonial sob ocupação espanhola e portuguesa.

As espanholas, como Lima ou Cidade do México e tantas outras, foram construídas com a firme intenção de espelhar o poder do império espanhol, penetrando no interior do continente e construindo suas cidades a partir de uma praça central, e de um rigoroso plano em xadrez.

continua após a publicidade
Casario na cidade de Goiás. Foto: Mauro Calliari

No Brasil, ao contrário, nos primeiros séculos, o esforço português estava na extração e as cidades tiveram um desenvolvimento modesto, irregular.

Daí a famosa comparação: o semeador e o ladrilhador.

continua após a publicidade

O espanhol, como um ladrilhador, aplicaria seu modelo a qualquer cenário, buscando a regularidade do traçado desde o México até a Argentina.

O português, ao contrário, semearia suas cidades por aí, e elas floresceriam quase organicamente, respeitando curvas de nível e o relevo.

continua após a publicidade
O Rio Vermelho, com a casa de Cora Coralina ao fundo, em Goiás. Foto: Mauro Calliari

O fato é que tanto Pirenópolis quanto Goiás convidam ao caminhar e a refletir sobre a vida nas cidades. Como outro livro que eu li, de Cora Coralina, a poeta que viveu na cidade de Goiás e que descreve assim a cidade:

"Goiás, minha cidade ...

continua após a publicidade

eu sou aquela amorosa

de tuas ruas estreitas,

curtas,

indecisas,

entrando,

saindo

umas das outras."

A minha Flip/Flig foi assim, uma conversa direta com o Sergio Buarque de Holanda, Cora Coralina e outros autores, entremeada por passeios entre casas centenárias e encontros fortuitos.

Bar em Goiás. Foto: Mauro Calliari

Mas o maior prazer das cidades coloniais brasileiras é andar a pé tarde da noite, quando os bares fecham e as ruas ficam quase desertas.

É nessa hora que a gente ouve apenas o som dos pés batendo nas pedras e ecoando nas casas centenárias.

Andar pelo calçamento irregular exige concentração para não torcer o pé, mas dá um enorme prazer em farejar um passado que não vivemos, e que, mesmo assim, é parte de nós mesmos.

 

 

 

Pirenópolis. Foto: Mauro Calliari

Paraty acabou de hospedar a Flip. O encontro sobre letras e livros atraiu multidões, gerou debates interessantes, conversas inteligentes, alguma polêmica e muitas festas pela cidade.

Nos mesmos dias, por acaso, estive num cenário parecido mas muito mais vazio, as cidades históricas de estado de Goiás, especialmente Goiás Velho e Pirenópolis.

Levei alguns livros e acabei fazendo minha própria Flip, ou a Flig, a feira do livro de Goiás.

O primeiro deles foi Raízes do Brasil, do Sergio Buarque de Holanda, que me ajudou a pensar na cidade colonial por onde eu caminhava. Há um capítulo em que ele compara as cidades construídas na América Colonial sob ocupação espanhola e portuguesa.

As espanholas, como Lima ou Cidade do México e tantas outras, foram construídas com a firme intenção de espelhar o poder do império espanhol, penetrando no interior do continente e construindo suas cidades a partir de uma praça central, e de um rigoroso plano em xadrez.

Casario na cidade de Goiás. Foto: Mauro Calliari

No Brasil, ao contrário, nos primeiros séculos, o esforço português estava na extração e as cidades tiveram um desenvolvimento modesto, irregular.

Daí a famosa comparação: o semeador e o ladrilhador.

O espanhol, como um ladrilhador, aplicaria seu modelo a qualquer cenário, buscando a regularidade do traçado desde o México até a Argentina.

O português, ao contrário, semearia suas cidades por aí, e elas floresceriam quase organicamente, respeitando curvas de nível e o relevo.

O Rio Vermelho, com a casa de Cora Coralina ao fundo, em Goiás. Foto: Mauro Calliari

O fato é que tanto Pirenópolis quanto Goiás convidam ao caminhar e a refletir sobre a vida nas cidades. Como outro livro que eu li, de Cora Coralina, a poeta que viveu na cidade de Goiás e que descreve assim a cidade:

"Goiás, minha cidade ...

eu sou aquela amorosa

de tuas ruas estreitas,

curtas,

indecisas,

entrando,

saindo

umas das outras."

A minha Flip/Flig foi assim, uma conversa direta com o Sergio Buarque de Holanda, Cora Coralina e outros autores, entremeada por passeios entre casas centenárias e encontros fortuitos.

Bar em Goiás. Foto: Mauro Calliari

Mas o maior prazer das cidades coloniais brasileiras é andar a pé tarde da noite, quando os bares fecham e as ruas ficam quase desertas.

É nessa hora que a gente ouve apenas o som dos pés batendo nas pedras e ecoando nas casas centenárias.

Andar pelo calçamento irregular exige concentração para não torcer o pé, mas dá um enorme prazer em farejar um passado que não vivemos, e que, mesmo assim, é parte de nós mesmos.

 

 

 

Pirenópolis. Foto: Mauro Calliari

Paraty acabou de hospedar a Flip. O encontro sobre letras e livros atraiu multidões, gerou debates interessantes, conversas inteligentes, alguma polêmica e muitas festas pela cidade.

Nos mesmos dias, por acaso, estive num cenário parecido mas muito mais vazio, as cidades históricas de estado de Goiás, especialmente Goiás Velho e Pirenópolis.

Levei alguns livros e acabei fazendo minha própria Flip, ou a Flig, a feira do livro de Goiás.

O primeiro deles foi Raízes do Brasil, do Sergio Buarque de Holanda, que me ajudou a pensar na cidade colonial por onde eu caminhava. Há um capítulo em que ele compara as cidades construídas na América Colonial sob ocupação espanhola e portuguesa.

As espanholas, como Lima ou Cidade do México e tantas outras, foram construídas com a firme intenção de espelhar o poder do império espanhol, penetrando no interior do continente e construindo suas cidades a partir de uma praça central, e de um rigoroso plano em xadrez.

Casario na cidade de Goiás. Foto: Mauro Calliari

No Brasil, ao contrário, nos primeiros séculos, o esforço português estava na extração e as cidades tiveram um desenvolvimento modesto, irregular.

Daí a famosa comparação: o semeador e o ladrilhador.

O espanhol, como um ladrilhador, aplicaria seu modelo a qualquer cenário, buscando a regularidade do traçado desde o México até a Argentina.

O português, ao contrário, semearia suas cidades por aí, e elas floresceriam quase organicamente, respeitando curvas de nível e o relevo.

O Rio Vermelho, com a casa de Cora Coralina ao fundo, em Goiás. Foto: Mauro Calliari

O fato é que tanto Pirenópolis quanto Goiás convidam ao caminhar e a refletir sobre a vida nas cidades. Como outro livro que eu li, de Cora Coralina, a poeta que viveu na cidade de Goiás e que descreve assim a cidade:

"Goiás, minha cidade ...

eu sou aquela amorosa

de tuas ruas estreitas,

curtas,

indecisas,

entrando,

saindo

umas das outras."

A minha Flip/Flig foi assim, uma conversa direta com o Sergio Buarque de Holanda, Cora Coralina e outros autores, entremeada por passeios entre casas centenárias e encontros fortuitos.

Bar em Goiás. Foto: Mauro Calliari

Mas o maior prazer das cidades coloniais brasileiras é andar a pé tarde da noite, quando os bares fecham e as ruas ficam quase desertas.

É nessa hora que a gente ouve apenas o som dos pés batendo nas pedras e ecoando nas casas centenárias.

Andar pelo calçamento irregular exige concentração para não torcer o pé, mas dá um enorme prazer em farejar um passado que não vivemos, e que, mesmo assim, é parte de nós mesmos.

 

 

 

Pirenópolis. Foto: Mauro Calliari

Paraty acabou de hospedar a Flip. O encontro sobre letras e livros atraiu multidões, gerou debates interessantes, conversas inteligentes, alguma polêmica e muitas festas pela cidade.

Nos mesmos dias, por acaso, estive num cenário parecido mas muito mais vazio, as cidades históricas de estado de Goiás, especialmente Goiás Velho e Pirenópolis.

Levei alguns livros e acabei fazendo minha própria Flip, ou a Flig, a feira do livro de Goiás.

O primeiro deles foi Raízes do Brasil, do Sergio Buarque de Holanda, que me ajudou a pensar na cidade colonial por onde eu caminhava. Há um capítulo em que ele compara as cidades construídas na América Colonial sob ocupação espanhola e portuguesa.

As espanholas, como Lima ou Cidade do México e tantas outras, foram construídas com a firme intenção de espelhar o poder do império espanhol, penetrando no interior do continente e construindo suas cidades a partir de uma praça central, e de um rigoroso plano em xadrez.

Casario na cidade de Goiás. Foto: Mauro Calliari

No Brasil, ao contrário, nos primeiros séculos, o esforço português estava na extração e as cidades tiveram um desenvolvimento modesto, irregular.

Daí a famosa comparação: o semeador e o ladrilhador.

O espanhol, como um ladrilhador, aplicaria seu modelo a qualquer cenário, buscando a regularidade do traçado desde o México até a Argentina.

O português, ao contrário, semearia suas cidades por aí, e elas floresceriam quase organicamente, respeitando curvas de nível e o relevo.

O Rio Vermelho, com a casa de Cora Coralina ao fundo, em Goiás. Foto: Mauro Calliari

O fato é que tanto Pirenópolis quanto Goiás convidam ao caminhar e a refletir sobre a vida nas cidades. Como outro livro que eu li, de Cora Coralina, a poeta que viveu na cidade de Goiás e que descreve assim a cidade:

"Goiás, minha cidade ...

eu sou aquela amorosa

de tuas ruas estreitas,

curtas,

indecisas,

entrando,

saindo

umas das outras."

A minha Flip/Flig foi assim, uma conversa direta com o Sergio Buarque de Holanda, Cora Coralina e outros autores, entremeada por passeios entre casas centenárias e encontros fortuitos.

Bar em Goiás. Foto: Mauro Calliari

Mas o maior prazer das cidades coloniais brasileiras é andar a pé tarde da noite, quando os bares fecham e as ruas ficam quase desertas.

É nessa hora que a gente ouve apenas o som dos pés batendo nas pedras e ecoando nas casas centenárias.

Andar pelo calçamento irregular exige concentração para não torcer o pé, mas dá um enorme prazer em farejar um passado que não vivemos, e que, mesmo assim, é parte de nós mesmos.

 

 

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.