Com vai e vem da Cracolândia, comerciantes alternam 'alívio' e 'preocupação'


'Mas a gente sabe que, infelizmente, se melhorou para a gente, piorou para outras pessoas', diz dono de bar na região

Por Felipe Resk e Marco Antônio Carvalho

SÃO PAULO - Para uns, um alívio. Para outros, preocupação. Asaída de usuários de drogas da Praça Princesa Isabel, onde ficaram por um mês, para as proximidades da Praça Júlio Prestes, na noite desta quarta-feira, 21, impactou de forma diferente a vida de moradores e comerciantes da região central de São Paulo. Mesmo estando separados por apenas 500 metros.

Polícia faz ronda na Praça Princesa Isabel após usuários de droga migrarem para a rua Helvétia Foto: Felipe Rau/Estadão

Para Elaine Xavier, de 42 anos, proprietária de um restaurante na Alameda Cleveland, a situação "mudou para pior" da noite para o dia. Ao abrir as portas, na manhã desta quinta-feira, 22, ela podia ver os usuários que se voltavam a se aglomer a poucos metros de distância. "Meu Deus, vai começar tudo de novo", pensou.

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Conhecida como "Praça do Cachimbo", a Júlio Prestes está localizada dentro da área do antigo quadrilátero da Cracolândia, de onde os usuários haviam saído após a megaoperação policial realizada no dia 21 de maio. "Eles ficam entrando aqui no comércio, abordando os clientes para pedir dinheiro e ameaçando roubar se a gente não der nada", afirma Elaine.

Dependentes químicos voltaram à antiga Cracolândia

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Migração de usuários de droga para antigo 'fluxo'

Foto: Felipe Rau/Estadão
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Migração de usuários de droga para antigo 'fluxo'

Foto: Felipe Rau/Estadão
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Migração de usuários de droga para antigo 'fluxo'

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Migração de usuários de droga para antigo 'fluxo'

Foto: Felipe Rau/Estadão

Segundo ela, outro problema é que os dependentes químicos utilizam ruas e calçadas das imediações para fazer suas necessidades. "É um mau cheiro insuportável", diz. "Estava muito mais tranquilo, mais limpo e seguro durante o mês que eles passaram fora daqui."

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Funcionário de um estacionamento na mesma via, Jean Bezerra, de 21 anos, também reclama da sensação insegurança. "Com eles de novo aí, muita gente tem medo de vir para cá", afirma. "A gente se sente inseguro. Quando tem qualquer confusão, precisa fechar a porta depressa porque, se tiver aberto, eles invadem."

Já nas imediações da Princesa Isabel, o clima é de alívio. "Para a gente, foi bem melhor", diz a representante de vendas Sandra Viana, de 44 anos, que mora atrás da praça e diz ter sido vítima de um assalto no mês passado.

Na ocasião, ela havia saído de casa para passear com as suas duas cadelas da raça pug, quando foi abordada por um homem que estava no fluxo. "Ele pediu meu celular, as cachorras avançaram nele e eu terminei caindo no chão", conta, mostrando as feridas no braço direito.

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"Já dá para ver a diferença hoje (quinta) mesmo", diz o comerciante Vitório Martins, de 47 anos, dono de um bar na Avenida Conselheiro Nébias. "O mês passado foi muito difícil, o movimento caiu 70%. Só a presença deles já inibe os clientes", afirma. "Mas a gente sabe que, infelizmente, se melhorou para a gente, piorou para outras pessoas."

Migração

No novo local, não há tendas ou barracas e os usuários dormem em colchões e caixas de papelão. Também há carroças e carrinhos de supermercado, que servem até como fogão improvisado. Alguns deles usam guarda-sóis para tentar se esconder ao consumir crack. Outros andam livremente com o cachimbo na mão.

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A concentração na Júlio Prestes é menor do que a da Princesa Isabel. Segundo a Prefeitura, o número de usuários já estava caindo por causa da internação de dependentes químicos, que somavam 427 até a segunda-feira, 19. 

Apesar de estarem em uma área da "antiga Cracolândia", os usuários não ocupam a Alameda Dino Bueno, onde o fluxo era mais forte. No cruzamento com a Helvétia, viaturas da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana (GCM) montam guarda e impedem o acesso de dependetes químicos. Ao contrário de antes, também não há imóveis ocupados.

A GCM e a PM afirmam que a migração para lá ocorreu de forma "espontânea". Segundo relato de GCMs, um homem subiu em um dos brinquedos da Princesa Isabel, por volta das 22 horas, e anunciou que todos deixariam o lugar.

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Os usuários, então, começaram a recolher seus pertences. Imediatamente, a praça foi ocupada por equipes de limpeza da Prefeitura, além de integrantes da GCM e da PM.

Outros fatores teriam influenciado

Como a Princesa Isabel está localizada entre avenidas de grande movimentação, como a Rio Branco e a Duque de Caxias, os usuários ficam mais expostos - o que se agravou com a instalação de iluminação nova na praça.

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Recentemente, a Prefeitura também adotou a estratégia de limpar o lugar com jatos d'água, duas vezes por dia, transformando a praça em um verdadeiro "lamaçal". A medida será mantida no novo endereço. "Estava violento, a polícia reprimia muito", diz um usuário.

Para investigadores, uma hipótese é de que o fluxo atendeu à ordem de traficantes para sair da Princesa Isabel, uma vez que a presença ostensiva da polícia teria atrapalhado o tráfico. Desde a megaoperação, 130 pessoas foram presas e 14 menores, apreendidos. Os policiais também recolheram R$ 91 mil e 56,7 quilos de drogas.

O secretário da Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho, diz que a ordem do crime organizado é uma "suposição", mas defende que a ação estava sendo "sufocada". "Que o tráfico está com atuação dificultada, está: e vai continuar mais difícil ainda. Não vai ter trégua no combate a esse crime."

SÃO PAULO - Para uns, um alívio. Para outros, preocupação. Asaída de usuários de drogas da Praça Princesa Isabel, onde ficaram por um mês, para as proximidades da Praça Júlio Prestes, na noite desta quarta-feira, 21, impactou de forma diferente a vida de moradores e comerciantes da região central de São Paulo. Mesmo estando separados por apenas 500 metros.

Polícia faz ronda na Praça Princesa Isabel após usuários de droga migrarem para a rua Helvétia Foto: Felipe Rau/Estadão

Para Elaine Xavier, de 42 anos, proprietária de um restaurante na Alameda Cleveland, a situação "mudou para pior" da noite para o dia. Ao abrir as portas, na manhã desta quinta-feira, 22, ela podia ver os usuários que se voltavam a se aglomer a poucos metros de distância. "Meu Deus, vai começar tudo de novo", pensou.

Conhecida como "Praça do Cachimbo", a Júlio Prestes está localizada dentro da área do antigo quadrilátero da Cracolândia, de onde os usuários haviam saído após a megaoperação policial realizada no dia 21 de maio. "Eles ficam entrando aqui no comércio, abordando os clientes para pedir dinheiro e ameaçando roubar se a gente não der nada", afirma Elaine.

Dependentes químicos voltaram à antiga Cracolândia

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Segundo ela, outro problema é que os dependentes químicos utilizam ruas e calçadas das imediações para fazer suas necessidades. "É um mau cheiro insuportável", diz. "Estava muito mais tranquilo, mais limpo e seguro durante o mês que eles passaram fora daqui."

Funcionário de um estacionamento na mesma via, Jean Bezerra, de 21 anos, também reclama da sensação insegurança. "Com eles de novo aí, muita gente tem medo de vir para cá", afirma. "A gente se sente inseguro. Quando tem qualquer confusão, precisa fechar a porta depressa porque, se tiver aberto, eles invadem."

Já nas imediações da Princesa Isabel, o clima é de alívio. "Para a gente, foi bem melhor", diz a representante de vendas Sandra Viana, de 44 anos, que mora atrás da praça e diz ter sido vítima de um assalto no mês passado.

Na ocasião, ela havia saído de casa para passear com as suas duas cadelas da raça pug, quando foi abordada por um homem que estava no fluxo. "Ele pediu meu celular, as cachorras avançaram nele e eu terminei caindo no chão", conta, mostrando as feridas no braço direito.

"Já dá para ver a diferença hoje (quinta) mesmo", diz o comerciante Vitório Martins, de 47 anos, dono de um bar na Avenida Conselheiro Nébias. "O mês passado foi muito difícil, o movimento caiu 70%. Só a presença deles já inibe os clientes", afirma. "Mas a gente sabe que, infelizmente, se melhorou para a gente, piorou para outras pessoas."

Migração

No novo local, não há tendas ou barracas e os usuários dormem em colchões e caixas de papelão. Também há carroças e carrinhos de supermercado, que servem até como fogão improvisado. Alguns deles usam guarda-sóis para tentar se esconder ao consumir crack. Outros andam livremente com o cachimbo na mão.

A concentração na Júlio Prestes é menor do que a da Princesa Isabel. Segundo a Prefeitura, o número de usuários já estava caindo por causa da internação de dependentes químicos, que somavam 427 até a segunda-feira, 19. 

Apesar de estarem em uma área da "antiga Cracolândia", os usuários não ocupam a Alameda Dino Bueno, onde o fluxo era mais forte. No cruzamento com a Helvétia, viaturas da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana (GCM) montam guarda e impedem o acesso de dependetes químicos. Ao contrário de antes, também não há imóveis ocupados.

A GCM e a PM afirmam que a migração para lá ocorreu de forma "espontânea". Segundo relato de GCMs, um homem subiu em um dos brinquedos da Princesa Isabel, por volta das 22 horas, e anunciou que todos deixariam o lugar.

Os usuários, então, começaram a recolher seus pertences. Imediatamente, a praça foi ocupada por equipes de limpeza da Prefeitura, além de integrantes da GCM e da PM.

Outros fatores teriam influenciado

Como a Princesa Isabel está localizada entre avenidas de grande movimentação, como a Rio Branco e a Duque de Caxias, os usuários ficam mais expostos - o que se agravou com a instalação de iluminação nova na praça.

Recentemente, a Prefeitura também adotou a estratégia de limpar o lugar com jatos d'água, duas vezes por dia, transformando a praça em um verdadeiro "lamaçal". A medida será mantida no novo endereço. "Estava violento, a polícia reprimia muito", diz um usuário.

Para investigadores, uma hipótese é de que o fluxo atendeu à ordem de traficantes para sair da Princesa Isabel, uma vez que a presença ostensiva da polícia teria atrapalhado o tráfico. Desde a megaoperação, 130 pessoas foram presas e 14 menores, apreendidos. Os policiais também recolheram R$ 91 mil e 56,7 quilos de drogas.

O secretário da Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho, diz que a ordem do crime organizado é uma "suposição", mas defende que a ação estava sendo "sufocada". "Que o tráfico está com atuação dificultada, está: e vai continuar mais difícil ainda. Não vai ter trégua no combate a esse crime."

SÃO PAULO - Para uns, um alívio. Para outros, preocupação. Asaída de usuários de drogas da Praça Princesa Isabel, onde ficaram por um mês, para as proximidades da Praça Júlio Prestes, na noite desta quarta-feira, 21, impactou de forma diferente a vida de moradores e comerciantes da região central de São Paulo. Mesmo estando separados por apenas 500 metros.

Polícia faz ronda na Praça Princesa Isabel após usuários de droga migrarem para a rua Helvétia Foto: Felipe Rau/Estadão

Para Elaine Xavier, de 42 anos, proprietária de um restaurante na Alameda Cleveland, a situação "mudou para pior" da noite para o dia. Ao abrir as portas, na manhã desta quinta-feira, 22, ela podia ver os usuários que se voltavam a se aglomer a poucos metros de distância. "Meu Deus, vai começar tudo de novo", pensou.

Conhecida como "Praça do Cachimbo", a Júlio Prestes está localizada dentro da área do antigo quadrilátero da Cracolândia, de onde os usuários haviam saído após a megaoperação policial realizada no dia 21 de maio. "Eles ficam entrando aqui no comércio, abordando os clientes para pedir dinheiro e ameaçando roubar se a gente não der nada", afirma Elaine.

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Segundo ela, outro problema é que os dependentes químicos utilizam ruas e calçadas das imediações para fazer suas necessidades. "É um mau cheiro insuportável", diz. "Estava muito mais tranquilo, mais limpo e seguro durante o mês que eles passaram fora daqui."

Funcionário de um estacionamento na mesma via, Jean Bezerra, de 21 anos, também reclama da sensação insegurança. "Com eles de novo aí, muita gente tem medo de vir para cá", afirma. "A gente se sente inseguro. Quando tem qualquer confusão, precisa fechar a porta depressa porque, se tiver aberto, eles invadem."

Já nas imediações da Princesa Isabel, o clima é de alívio. "Para a gente, foi bem melhor", diz a representante de vendas Sandra Viana, de 44 anos, que mora atrás da praça e diz ter sido vítima de um assalto no mês passado.

Na ocasião, ela havia saído de casa para passear com as suas duas cadelas da raça pug, quando foi abordada por um homem que estava no fluxo. "Ele pediu meu celular, as cachorras avançaram nele e eu terminei caindo no chão", conta, mostrando as feridas no braço direito.

"Já dá para ver a diferença hoje (quinta) mesmo", diz o comerciante Vitório Martins, de 47 anos, dono de um bar na Avenida Conselheiro Nébias. "O mês passado foi muito difícil, o movimento caiu 70%. Só a presença deles já inibe os clientes", afirma. "Mas a gente sabe que, infelizmente, se melhorou para a gente, piorou para outras pessoas."

Migração

No novo local, não há tendas ou barracas e os usuários dormem em colchões e caixas de papelão. Também há carroças e carrinhos de supermercado, que servem até como fogão improvisado. Alguns deles usam guarda-sóis para tentar se esconder ao consumir crack. Outros andam livremente com o cachimbo na mão.

A concentração na Júlio Prestes é menor do que a da Princesa Isabel. Segundo a Prefeitura, o número de usuários já estava caindo por causa da internação de dependentes químicos, que somavam 427 até a segunda-feira, 19. 

Apesar de estarem em uma área da "antiga Cracolândia", os usuários não ocupam a Alameda Dino Bueno, onde o fluxo era mais forte. No cruzamento com a Helvétia, viaturas da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana (GCM) montam guarda e impedem o acesso de dependetes químicos. Ao contrário de antes, também não há imóveis ocupados.

A GCM e a PM afirmam que a migração para lá ocorreu de forma "espontânea". Segundo relato de GCMs, um homem subiu em um dos brinquedos da Princesa Isabel, por volta das 22 horas, e anunciou que todos deixariam o lugar.

Os usuários, então, começaram a recolher seus pertences. Imediatamente, a praça foi ocupada por equipes de limpeza da Prefeitura, além de integrantes da GCM e da PM.

Outros fatores teriam influenciado

Como a Princesa Isabel está localizada entre avenidas de grande movimentação, como a Rio Branco e a Duque de Caxias, os usuários ficam mais expostos - o que se agravou com a instalação de iluminação nova na praça.

Recentemente, a Prefeitura também adotou a estratégia de limpar o lugar com jatos d'água, duas vezes por dia, transformando a praça em um verdadeiro "lamaçal". A medida será mantida no novo endereço. "Estava violento, a polícia reprimia muito", diz um usuário.

Para investigadores, uma hipótese é de que o fluxo atendeu à ordem de traficantes para sair da Princesa Isabel, uma vez que a presença ostensiva da polícia teria atrapalhado o tráfico. Desde a megaoperação, 130 pessoas foram presas e 14 menores, apreendidos. Os policiais também recolheram R$ 91 mil e 56,7 quilos de drogas.

O secretário da Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho, diz que a ordem do crime organizado é uma "suposição", mas defende que a ação estava sendo "sufocada". "Que o tráfico está com atuação dificultada, está: e vai continuar mais difícil ainda. Não vai ter trégua no combate a esse crime."

SÃO PAULO - Para uns, um alívio. Para outros, preocupação. Asaída de usuários de drogas da Praça Princesa Isabel, onde ficaram por um mês, para as proximidades da Praça Júlio Prestes, na noite desta quarta-feira, 21, impactou de forma diferente a vida de moradores e comerciantes da região central de São Paulo. Mesmo estando separados por apenas 500 metros.

Polícia faz ronda na Praça Princesa Isabel após usuários de droga migrarem para a rua Helvétia Foto: Felipe Rau/Estadão

Para Elaine Xavier, de 42 anos, proprietária de um restaurante na Alameda Cleveland, a situação "mudou para pior" da noite para o dia. Ao abrir as portas, na manhã desta quinta-feira, 22, ela podia ver os usuários que se voltavam a se aglomer a poucos metros de distância. "Meu Deus, vai começar tudo de novo", pensou.

Conhecida como "Praça do Cachimbo", a Júlio Prestes está localizada dentro da área do antigo quadrilátero da Cracolândia, de onde os usuários haviam saído após a megaoperação policial realizada no dia 21 de maio. "Eles ficam entrando aqui no comércio, abordando os clientes para pedir dinheiro e ameaçando roubar se a gente não der nada", afirma Elaine.

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Migração de usuários de droga para antigo 'fluxo'

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Segundo ela, outro problema é que os dependentes químicos utilizam ruas e calçadas das imediações para fazer suas necessidades. "É um mau cheiro insuportável", diz. "Estava muito mais tranquilo, mais limpo e seguro durante o mês que eles passaram fora daqui."

Funcionário de um estacionamento na mesma via, Jean Bezerra, de 21 anos, também reclama da sensação insegurança. "Com eles de novo aí, muita gente tem medo de vir para cá", afirma. "A gente se sente inseguro. Quando tem qualquer confusão, precisa fechar a porta depressa porque, se tiver aberto, eles invadem."

Já nas imediações da Princesa Isabel, o clima é de alívio. "Para a gente, foi bem melhor", diz a representante de vendas Sandra Viana, de 44 anos, que mora atrás da praça e diz ter sido vítima de um assalto no mês passado.

Na ocasião, ela havia saído de casa para passear com as suas duas cadelas da raça pug, quando foi abordada por um homem que estava no fluxo. "Ele pediu meu celular, as cachorras avançaram nele e eu terminei caindo no chão", conta, mostrando as feridas no braço direito.

"Já dá para ver a diferença hoje (quinta) mesmo", diz o comerciante Vitório Martins, de 47 anos, dono de um bar na Avenida Conselheiro Nébias. "O mês passado foi muito difícil, o movimento caiu 70%. Só a presença deles já inibe os clientes", afirma. "Mas a gente sabe que, infelizmente, se melhorou para a gente, piorou para outras pessoas."

Migração

No novo local, não há tendas ou barracas e os usuários dormem em colchões e caixas de papelão. Também há carroças e carrinhos de supermercado, que servem até como fogão improvisado. Alguns deles usam guarda-sóis para tentar se esconder ao consumir crack. Outros andam livremente com o cachimbo na mão.

A concentração na Júlio Prestes é menor do que a da Princesa Isabel. Segundo a Prefeitura, o número de usuários já estava caindo por causa da internação de dependentes químicos, que somavam 427 até a segunda-feira, 19. 

Apesar de estarem em uma área da "antiga Cracolândia", os usuários não ocupam a Alameda Dino Bueno, onde o fluxo era mais forte. No cruzamento com a Helvétia, viaturas da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana (GCM) montam guarda e impedem o acesso de dependetes químicos. Ao contrário de antes, também não há imóveis ocupados.

A GCM e a PM afirmam que a migração para lá ocorreu de forma "espontânea". Segundo relato de GCMs, um homem subiu em um dos brinquedos da Princesa Isabel, por volta das 22 horas, e anunciou que todos deixariam o lugar.

Os usuários, então, começaram a recolher seus pertences. Imediatamente, a praça foi ocupada por equipes de limpeza da Prefeitura, além de integrantes da GCM e da PM.

Outros fatores teriam influenciado

Como a Princesa Isabel está localizada entre avenidas de grande movimentação, como a Rio Branco e a Duque de Caxias, os usuários ficam mais expostos - o que se agravou com a instalação de iluminação nova na praça.

Recentemente, a Prefeitura também adotou a estratégia de limpar o lugar com jatos d'água, duas vezes por dia, transformando a praça em um verdadeiro "lamaçal". A medida será mantida no novo endereço. "Estava violento, a polícia reprimia muito", diz um usuário.

Para investigadores, uma hipótese é de que o fluxo atendeu à ordem de traficantes para sair da Princesa Isabel, uma vez que a presença ostensiva da polícia teria atrapalhado o tráfico. Desde a megaoperação, 130 pessoas foram presas e 14 menores, apreendidos. Os policiais também recolheram R$ 91 mil e 56,7 quilos de drogas.

O secretário da Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho, diz que a ordem do crime organizado é uma "suposição", mas defende que a ação estava sendo "sufocada". "Que o tráfico está com atuação dificultada, está: e vai continuar mais difícil ainda. Não vai ter trégua no combate a esse crime."

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