Correndo atrás do vento

Opinião|A história das quase histórias


Por Luiz Henrique Matos

Foi um caderno cheio de histórias, anotações, desenhos e ideias aleatórias. A maioria ainda incompletas, fragmentos de algo com algum potencial de texto. No mínimo, memórias de um tempo a serem revisitadas no futuro.

Foi comprado em uma papelaria de rua em Roma um ano antes. Capa dura azul, folhas levemente amareladas, pautas finas e discretas. Um belo caderno (para quem se dá o trabalho de apreciar esse tipo de coisa).

Foi levado em uma outra viagem, o caderno. No fundo da mochila, ao lado de um livro de contos ainda não lido, de uma caneta quase gasta, um pacote de chicletes, lenços de papel, algum dinheiro e um passaporte. A tralha toda foi deixada no chão de uma aeronave durante o voo.

continua após a publicidade

Foi encontrada molhada, a mochila. Ao fim da viagem, por motivos ainda sem explicação, o fundo de couro e toda parte de baixo estava em sopa. O chão da aeronave estava seco, a almofada da poltrona também, mas a velha mala, não.

Foi esvaziada às pressas ainda no táxi. Estavam secos o passaporte, o dinheiro todo, o pacote de chicletes, caneta e lenços de papel. Estavam inteiramente molhados o caderno azul e o livro de contos. A água foi sorvida pelo papel, que já começava a estufar as encadernações.

Foram colocados em uma mesa seca no hotel à luz do sol e de uma luminária. As folhas cuidadosamente sendo viradas ao longo das horas para secarem. Mas, enquanto o tempo restaurava a condição das páginas, a umidade consumia e misturava a tinta e as palavras impressas.

continua após a publicidade

Foram se perdendo ao longo de três dias a tinta, as anotações, os desenhos, as ideias e as histórias. As quase histórias que agora ali pereciam.

Foi comprado um caderno novo, dias depois, em uma loja de estação de trem em Berna. Pautas finas, folhas levemente amareladas, a coisa toda. Capa preta. Nas primeiras páginas, a tinta de caneta azul pousa agora em um relato sobre um livro cujos contos nunca serão lidos e preserva a memória de um caderno de notas com as dezenas de histórias que se perderam afogadas em suas páginas.

-- (No Twitter: @lhomatos)

Foi um caderno cheio de histórias, anotações, desenhos e ideias aleatórias. A maioria ainda incompletas, fragmentos de algo com algum potencial de texto. No mínimo, memórias de um tempo a serem revisitadas no futuro.

Foi comprado em uma papelaria de rua em Roma um ano antes. Capa dura azul, folhas levemente amareladas, pautas finas e discretas. Um belo caderno (para quem se dá o trabalho de apreciar esse tipo de coisa).

Foi levado em uma outra viagem, o caderno. No fundo da mochila, ao lado de um livro de contos ainda não lido, de uma caneta quase gasta, um pacote de chicletes, lenços de papel, algum dinheiro e um passaporte. A tralha toda foi deixada no chão de uma aeronave durante o voo.

Foi encontrada molhada, a mochila. Ao fim da viagem, por motivos ainda sem explicação, o fundo de couro e toda parte de baixo estava em sopa. O chão da aeronave estava seco, a almofada da poltrona também, mas a velha mala, não.

Foi esvaziada às pressas ainda no táxi. Estavam secos o passaporte, o dinheiro todo, o pacote de chicletes, caneta e lenços de papel. Estavam inteiramente molhados o caderno azul e o livro de contos. A água foi sorvida pelo papel, que já começava a estufar as encadernações.

Foram colocados em uma mesa seca no hotel à luz do sol e de uma luminária. As folhas cuidadosamente sendo viradas ao longo das horas para secarem. Mas, enquanto o tempo restaurava a condição das páginas, a umidade consumia e misturava a tinta e as palavras impressas.

Foram se perdendo ao longo de três dias a tinta, as anotações, os desenhos, as ideias e as histórias. As quase histórias que agora ali pereciam.

Foi comprado um caderno novo, dias depois, em uma loja de estação de trem em Berna. Pautas finas, folhas levemente amareladas, a coisa toda. Capa preta. Nas primeiras páginas, a tinta de caneta azul pousa agora em um relato sobre um livro cujos contos nunca serão lidos e preserva a memória de um caderno de notas com as dezenas de histórias que se perderam afogadas em suas páginas.

-- (No Twitter: @lhomatos)

Foi um caderno cheio de histórias, anotações, desenhos e ideias aleatórias. A maioria ainda incompletas, fragmentos de algo com algum potencial de texto. No mínimo, memórias de um tempo a serem revisitadas no futuro.

Foi comprado em uma papelaria de rua em Roma um ano antes. Capa dura azul, folhas levemente amareladas, pautas finas e discretas. Um belo caderno (para quem se dá o trabalho de apreciar esse tipo de coisa).

Foi levado em uma outra viagem, o caderno. No fundo da mochila, ao lado de um livro de contos ainda não lido, de uma caneta quase gasta, um pacote de chicletes, lenços de papel, algum dinheiro e um passaporte. A tralha toda foi deixada no chão de uma aeronave durante o voo.

Foi encontrada molhada, a mochila. Ao fim da viagem, por motivos ainda sem explicação, o fundo de couro e toda parte de baixo estava em sopa. O chão da aeronave estava seco, a almofada da poltrona também, mas a velha mala, não.

Foi esvaziada às pressas ainda no táxi. Estavam secos o passaporte, o dinheiro todo, o pacote de chicletes, caneta e lenços de papel. Estavam inteiramente molhados o caderno azul e o livro de contos. A água foi sorvida pelo papel, que já começava a estufar as encadernações.

Foram colocados em uma mesa seca no hotel à luz do sol e de uma luminária. As folhas cuidadosamente sendo viradas ao longo das horas para secarem. Mas, enquanto o tempo restaurava a condição das páginas, a umidade consumia e misturava a tinta e as palavras impressas.

Foram se perdendo ao longo de três dias a tinta, as anotações, os desenhos, as ideias e as histórias. As quase histórias que agora ali pereciam.

Foi comprado um caderno novo, dias depois, em uma loja de estação de trem em Berna. Pautas finas, folhas levemente amareladas, a coisa toda. Capa preta. Nas primeiras páginas, a tinta de caneta azul pousa agora em um relato sobre um livro cujos contos nunca serão lidos e preserva a memória de um caderno de notas com as dezenas de histórias que se perderam afogadas em suas páginas.

-- (No Twitter: @lhomatos)

Foi um caderno cheio de histórias, anotações, desenhos e ideias aleatórias. A maioria ainda incompletas, fragmentos de algo com algum potencial de texto. No mínimo, memórias de um tempo a serem revisitadas no futuro.

Foi comprado em uma papelaria de rua em Roma um ano antes. Capa dura azul, folhas levemente amareladas, pautas finas e discretas. Um belo caderno (para quem se dá o trabalho de apreciar esse tipo de coisa).

Foi levado em uma outra viagem, o caderno. No fundo da mochila, ao lado de um livro de contos ainda não lido, de uma caneta quase gasta, um pacote de chicletes, lenços de papel, algum dinheiro e um passaporte. A tralha toda foi deixada no chão de uma aeronave durante o voo.

Foi encontrada molhada, a mochila. Ao fim da viagem, por motivos ainda sem explicação, o fundo de couro e toda parte de baixo estava em sopa. O chão da aeronave estava seco, a almofada da poltrona também, mas a velha mala, não.

Foi esvaziada às pressas ainda no táxi. Estavam secos o passaporte, o dinheiro todo, o pacote de chicletes, caneta e lenços de papel. Estavam inteiramente molhados o caderno azul e o livro de contos. A água foi sorvida pelo papel, que já começava a estufar as encadernações.

Foram colocados em uma mesa seca no hotel à luz do sol e de uma luminária. As folhas cuidadosamente sendo viradas ao longo das horas para secarem. Mas, enquanto o tempo restaurava a condição das páginas, a umidade consumia e misturava a tinta e as palavras impressas.

Foram se perdendo ao longo de três dias a tinta, as anotações, os desenhos, as ideias e as histórias. As quase histórias que agora ali pereciam.

Foi comprado um caderno novo, dias depois, em uma loja de estação de trem em Berna. Pautas finas, folhas levemente amareladas, a coisa toda. Capa preta. Nas primeiras páginas, a tinta de caneta azul pousa agora em um relato sobre um livro cujos contos nunca serão lidos e preserva a memória de um caderno de notas com as dezenas de histórias que se perderam afogadas em suas páginas.

-- (No Twitter: @lhomatos)

Opinião por Luiz Henrique Matos

É escritor e publicitário. Autor dos livros “Enquanto a gente se distrai, o tempo foge” e "Nem que a vaca tussa!" e criador do canal Frases de Crianças.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.