São Jorge caiu do cavalo


Por JOSÉ DE SOUZA MARTINS

São Jorge ainda pode ser visto, lá longe, nas noites de lua cheia, montado em seu cavalo, de lança em punho, matando o dragão da maldade. No século 19, uma vez ao ano, o santo guerreiro fazia-nos a graça de aparecer na procissão de Corpus Christi, aqui mesmo na nossa São Paulo. Exibia-se em procissão alheia. Enquanto o bispo desfilava solenemente sob o pálio, levando erguido o ostensório com a hóstia, símbolo da comunhão e da paz, o santo da Capadócia, símbolo da guerra e do poder, fingia humildade para exibir o que a muitos parecia descabida e vaidosa sensualidade. O São Jorge de que falo é uma escultura do século 18, de bigodinho revirado para cima. Ostentava armadura pesada e desfilava em vistoso corcel, esse sim de verdade, pelas ruas ainda coloniais da cidade calmamente caipira e antiga. Acompanhava-o um séquito de homens que, segurando fitas, o mantinham sobre a cela, em posição garbosa. Exibiam-se também. Numa dessas, o pesado santo, de mais de cem quilos, deslizou sobre a montaria e caiu sobre a cabeça de um de seus acólitos, matando-o.A autoridade policial não teve dúvida: prendeu-o. Foi processado por homicídio, sentenciando-o o juiz ao que era, de fato, prisão perpétua, dando-lhe por menagem a velha catedral de São Paulo. A lei punha fim à sua figuração pública. Servia de pretexto a sentimentos anticlericais e republicanos que se difundiam na época. É que São Jorge fora patrono da monarquia portuguesa e permanecera entre nós, infiltrado, como patrono da monarquia brasileira que, no fundo era a mesma. Exibia nas procissões mais do que a santidade que um papa, mais tarde, diria não ter, o lusitanismo que representava. Muitos patriotas achavam que tanto São Jorge quando Dom Pedro II nada mais eram do que sobrevivências da dominação portuguesa.Quem pagou foi o santo. Ao confiná-lo na igreja da Sé, confinavam a Igreja, começando a bani-la das ruas para afirmar que a rua era pública, mas não tanto, e que poder havia um só, o da lei. Santo homicida era tão criminoso quanto qualquer mortal que eventualmente tirasse a vida alheia, mesmo por acidente. Quando a catedral velha foi demolida para alargamento da Praça da Sé e construção da nova catedral, São Jorge, com outros belos objetos de arte sacra, foi removido para a Cúria, onde, nos anos 1950, o conheci, resignado em seu confinamento. Acabou no Museu de Arte Sacra, em boa hora para lá mandado por Dom Paulo Evaristo Arns, quando cedeu ao governo do Estado o precioso acervo de arte das velhas igrejas de São Paulo. Acervo reunido e salvo por Dom Duarte Leopoldo e Silva, nosso primeiro arcebispo, alarmado com a iconoclastia dos padres da Romanização, que combatiam o catolicismo culturalmente brasileiro e caipira que nos vinha de tempos antigos. O preso recebe visitas...

São Jorge ainda pode ser visto, lá longe, nas noites de lua cheia, montado em seu cavalo, de lança em punho, matando o dragão da maldade. No século 19, uma vez ao ano, o santo guerreiro fazia-nos a graça de aparecer na procissão de Corpus Christi, aqui mesmo na nossa São Paulo. Exibia-se em procissão alheia. Enquanto o bispo desfilava solenemente sob o pálio, levando erguido o ostensório com a hóstia, símbolo da comunhão e da paz, o santo da Capadócia, símbolo da guerra e do poder, fingia humildade para exibir o que a muitos parecia descabida e vaidosa sensualidade. O São Jorge de que falo é uma escultura do século 18, de bigodinho revirado para cima. Ostentava armadura pesada e desfilava em vistoso corcel, esse sim de verdade, pelas ruas ainda coloniais da cidade calmamente caipira e antiga. Acompanhava-o um séquito de homens que, segurando fitas, o mantinham sobre a cela, em posição garbosa. Exibiam-se também. Numa dessas, o pesado santo, de mais de cem quilos, deslizou sobre a montaria e caiu sobre a cabeça de um de seus acólitos, matando-o.A autoridade policial não teve dúvida: prendeu-o. Foi processado por homicídio, sentenciando-o o juiz ao que era, de fato, prisão perpétua, dando-lhe por menagem a velha catedral de São Paulo. A lei punha fim à sua figuração pública. Servia de pretexto a sentimentos anticlericais e republicanos que se difundiam na época. É que São Jorge fora patrono da monarquia portuguesa e permanecera entre nós, infiltrado, como patrono da monarquia brasileira que, no fundo era a mesma. Exibia nas procissões mais do que a santidade que um papa, mais tarde, diria não ter, o lusitanismo que representava. Muitos patriotas achavam que tanto São Jorge quando Dom Pedro II nada mais eram do que sobrevivências da dominação portuguesa.Quem pagou foi o santo. Ao confiná-lo na igreja da Sé, confinavam a Igreja, começando a bani-la das ruas para afirmar que a rua era pública, mas não tanto, e que poder havia um só, o da lei. Santo homicida era tão criminoso quanto qualquer mortal que eventualmente tirasse a vida alheia, mesmo por acidente. Quando a catedral velha foi demolida para alargamento da Praça da Sé e construção da nova catedral, São Jorge, com outros belos objetos de arte sacra, foi removido para a Cúria, onde, nos anos 1950, o conheci, resignado em seu confinamento. Acabou no Museu de Arte Sacra, em boa hora para lá mandado por Dom Paulo Evaristo Arns, quando cedeu ao governo do Estado o precioso acervo de arte das velhas igrejas de São Paulo. Acervo reunido e salvo por Dom Duarte Leopoldo e Silva, nosso primeiro arcebispo, alarmado com a iconoclastia dos padres da Romanização, que combatiam o catolicismo culturalmente brasileiro e caipira que nos vinha de tempos antigos. O preso recebe visitas...

São Jorge ainda pode ser visto, lá longe, nas noites de lua cheia, montado em seu cavalo, de lança em punho, matando o dragão da maldade. No século 19, uma vez ao ano, o santo guerreiro fazia-nos a graça de aparecer na procissão de Corpus Christi, aqui mesmo na nossa São Paulo. Exibia-se em procissão alheia. Enquanto o bispo desfilava solenemente sob o pálio, levando erguido o ostensório com a hóstia, símbolo da comunhão e da paz, o santo da Capadócia, símbolo da guerra e do poder, fingia humildade para exibir o que a muitos parecia descabida e vaidosa sensualidade. O São Jorge de que falo é uma escultura do século 18, de bigodinho revirado para cima. Ostentava armadura pesada e desfilava em vistoso corcel, esse sim de verdade, pelas ruas ainda coloniais da cidade calmamente caipira e antiga. Acompanhava-o um séquito de homens que, segurando fitas, o mantinham sobre a cela, em posição garbosa. Exibiam-se também. Numa dessas, o pesado santo, de mais de cem quilos, deslizou sobre a montaria e caiu sobre a cabeça de um de seus acólitos, matando-o.A autoridade policial não teve dúvida: prendeu-o. Foi processado por homicídio, sentenciando-o o juiz ao que era, de fato, prisão perpétua, dando-lhe por menagem a velha catedral de São Paulo. A lei punha fim à sua figuração pública. Servia de pretexto a sentimentos anticlericais e republicanos que se difundiam na época. É que São Jorge fora patrono da monarquia portuguesa e permanecera entre nós, infiltrado, como patrono da monarquia brasileira que, no fundo era a mesma. Exibia nas procissões mais do que a santidade que um papa, mais tarde, diria não ter, o lusitanismo que representava. Muitos patriotas achavam que tanto São Jorge quando Dom Pedro II nada mais eram do que sobrevivências da dominação portuguesa.Quem pagou foi o santo. Ao confiná-lo na igreja da Sé, confinavam a Igreja, começando a bani-la das ruas para afirmar que a rua era pública, mas não tanto, e que poder havia um só, o da lei. Santo homicida era tão criminoso quanto qualquer mortal que eventualmente tirasse a vida alheia, mesmo por acidente. Quando a catedral velha foi demolida para alargamento da Praça da Sé e construção da nova catedral, São Jorge, com outros belos objetos de arte sacra, foi removido para a Cúria, onde, nos anos 1950, o conheci, resignado em seu confinamento. Acabou no Museu de Arte Sacra, em boa hora para lá mandado por Dom Paulo Evaristo Arns, quando cedeu ao governo do Estado o precioso acervo de arte das velhas igrejas de São Paulo. Acervo reunido e salvo por Dom Duarte Leopoldo e Silva, nosso primeiro arcebispo, alarmado com a iconoclastia dos padres da Romanização, que combatiam o catolicismo culturalmente brasileiro e caipira que nos vinha de tempos antigos. O preso recebe visitas...

São Jorge ainda pode ser visto, lá longe, nas noites de lua cheia, montado em seu cavalo, de lança em punho, matando o dragão da maldade. No século 19, uma vez ao ano, o santo guerreiro fazia-nos a graça de aparecer na procissão de Corpus Christi, aqui mesmo na nossa São Paulo. Exibia-se em procissão alheia. Enquanto o bispo desfilava solenemente sob o pálio, levando erguido o ostensório com a hóstia, símbolo da comunhão e da paz, o santo da Capadócia, símbolo da guerra e do poder, fingia humildade para exibir o que a muitos parecia descabida e vaidosa sensualidade. O São Jorge de que falo é uma escultura do século 18, de bigodinho revirado para cima. Ostentava armadura pesada e desfilava em vistoso corcel, esse sim de verdade, pelas ruas ainda coloniais da cidade calmamente caipira e antiga. Acompanhava-o um séquito de homens que, segurando fitas, o mantinham sobre a cela, em posição garbosa. Exibiam-se também. Numa dessas, o pesado santo, de mais de cem quilos, deslizou sobre a montaria e caiu sobre a cabeça de um de seus acólitos, matando-o.A autoridade policial não teve dúvida: prendeu-o. Foi processado por homicídio, sentenciando-o o juiz ao que era, de fato, prisão perpétua, dando-lhe por menagem a velha catedral de São Paulo. A lei punha fim à sua figuração pública. Servia de pretexto a sentimentos anticlericais e republicanos que se difundiam na época. É que São Jorge fora patrono da monarquia portuguesa e permanecera entre nós, infiltrado, como patrono da monarquia brasileira que, no fundo era a mesma. Exibia nas procissões mais do que a santidade que um papa, mais tarde, diria não ter, o lusitanismo que representava. Muitos patriotas achavam que tanto São Jorge quando Dom Pedro II nada mais eram do que sobrevivências da dominação portuguesa.Quem pagou foi o santo. Ao confiná-lo na igreja da Sé, confinavam a Igreja, começando a bani-la das ruas para afirmar que a rua era pública, mas não tanto, e que poder havia um só, o da lei. Santo homicida era tão criminoso quanto qualquer mortal que eventualmente tirasse a vida alheia, mesmo por acidente. Quando a catedral velha foi demolida para alargamento da Praça da Sé e construção da nova catedral, São Jorge, com outros belos objetos de arte sacra, foi removido para a Cúria, onde, nos anos 1950, o conheci, resignado em seu confinamento. Acabou no Museu de Arte Sacra, em boa hora para lá mandado por Dom Paulo Evaristo Arns, quando cedeu ao governo do Estado o precioso acervo de arte das velhas igrejas de São Paulo. Acervo reunido e salvo por Dom Duarte Leopoldo e Silva, nosso primeiro arcebispo, alarmado com a iconoclastia dos padres da Romanização, que combatiam o catolicismo culturalmente brasileiro e caipira que nos vinha de tempos antigos. O preso recebe visitas...

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