SÃO PAULO - Para produzir as vacinas contra a gripe, os cientistas do Instituto Butantã, contrariando ditado popular, precisaram contar com o ovo dentro da galinha. O processo de fabricação das doses que começarão a ser distribuídas nesta terça-feira, 12, na rede pública exigiu não só o trabalho 24 horas de 500 funcionários, mas também a fecundação de 54 milhões de ovos, necessários para o cultivo dos vírus usados no imunizante.
É no interior de ovos fecundados, contendo embriões com exatos 11 dias, que são injetadas amostras do vírus H1N1 e das outras duas cepas da gripe incluídas na vacina: H3N2 e B. Durante pelo menos 72 horas, os ovos ficam em período de incubação, quando o vírus injetado se multiplica no líquido que envolve o pintinho. “Cada ovo rende o equivalente a três doses de apenas um dos vírus, e como a vacina protege contra três tipos, precisamos repetir esse processo com cada cepa, o que exige 54 milhões de ovos para produzir as 54 milhões de doses da vacina trivalente que fornecemos para o Ministério da Saúde”, explica Marcelo de Franco, diretor substituto do Butantã.
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Após as 72 horas de incubação, o líquido é retirado do ovo e purificado, para que apenas as amostras de vírus sejam extraídas. “Em seguida, a gente inicia um processo para matar o vírus, para que ele seja fragmentado e fique sem atividade.”
Para conseguir entregar todas as doses encomendadas pelo ministério, o instituto começou o trabalho cedo, muito antes de os paulistas serem pegos de surpresa por um surto antecipado de gripe H1N1 no Estado. A produção das vacinas é iniciada em setembro, após a Organização Mundial da Saúde (OMS) definir quais tipos de vírus estão mais circulantes e, portanto, devem constar na vacina.
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Antecipação. Com toda a complexidade do processo de produção, o Butantã encarou um desafio ao ter de antecipar a entrega de alguns lotes da vacina por causa do surto fora de época em São Paulo, que já matou 70 pessoas. Como não era possível pular etapas, o instituto resolveu adotar um turno extra de trabalho, de madrugada, no setor de envasamento das doses, conforme mostrou o Estado no dia 2.
Com isso, conseguiu adiantar em quase duas semanas a entrega de 16 milhões de doses, parte delas voltadas para a antecipação da vacinação em São Paulo, que começou na última segunda para os profissionais de saúde e será iniciada nesta segunda-feira, 11, para idosos, gestantes e crianças de 6 meses a 5 anos.
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Tecnologia. O conhecimento sobre o processo de produção da vacina contra a influenza foi transferido da francesa Sanofi Pasteur para o Butantã por meio de um acordo iniciado em 1999 e concluído em 2012. Naquele ano, o instituto inaugurou em São Paulo uma fábrica específica para a produção da vacina da gripe, a maior da América Latina exclusiva para a doença. Desde então, o número de doses produzidas nacionalmente vem aumentando, passando de 7 milhões no primeiro ano para o número atual.
“Essa fábrica foi pensada para produzir 20 milhões de doses por ano, mas fizemos investimentos, aumentamos turnos de trabalho e descobrimos formas mais eficazes de produzir o vírus, por isso hoje produzimos mais do que o dobro”, diz Jorge Kalil, diretor do instituto.