Bem, já ouvi meu pai falar do assunto. Sem que ninguém lhe perguntasse, sem esconder um certo orgulho pela declaração, disse um dia que quer ter "tudo" doado. O que "sobrar" , já explicou, quer ver destinado para as aulas de anatomia das faculdades de medicina.
Incomodou ( e penso que incomoda um pouco ainda), mas esse tipo de conversa, apresentar decisões de maneira clara e objetiva, deveria ser algo cada vez mais natural para todos nós simplesmente por uma questão de cidadania.
Nossos índices de doações efetivas por milhão de habitantes são vergonhosos, apesar da melhora nos últimos anos: 8,6 contra 35 na Espanha, mostram os últimos dados do Ministério da Saúde. Claro que há graves problemas, como ausência de equipes para abordagem das famílias com morte encefálica, abordagem incorreta, fora do prazo, poucas equipes transplantadoras para o tamanho do País. Mas o conhecimento e a decisão sobre a doação podem sim ajudar todas essas engrenagens a andar.
Informações didáticas sobre quem pode e como doar já estão no site da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, que lançou campanha com o ótimo mote "Doar e Receber. Dois lados da mesma viagem", adaptado da música "Encontros e Despedidas", de Milton Nascimento. Também o Ministério da Saúde iniciou nesta semana campanha sobre o tema.
E você, já refletiu sobre doar ou não seus órgãos? Eu já. "Aproveitem o que puderem!", como disse meu pai.