Emissões de gases de efeito estufa de energia podem cair 40%


Proposta está em relatório da USP e do WRI que será lançado nesta 2ª, às vésperas de o Brasil anunciar metas da COP de Paris

Por Giovana Girardi
As emissões de gases de efeito estufa de energia foram as que mais cresceram no Brasil nos últimos 20 anos Foto: REUTERS

SÃO PAULO - As emissões de gases de efeito estufa de energia foram as que mais cresceram no Brasil nos últimos 20 anos e são as que mais devem expandir-se nos próximos 15, por causa do aumento na demanda de energia e transporte no Brasil. Mas poderia ser o contrário. Investimentos em energia renovável, eficiência energética, transporte coletivo e redução de subsídios para combustíveis fósseis têm o potencial de reduzir as emissões do setor em pelo menos 40%.

É o que sugere um relatório feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo e do World Resources Institute (WRI), obtido com exclusividade pelo Estado, que será lançado nesta segunda-feira, 21. O trabalho leva em consideração que o Plano Decenal de Energia do governo federal (período de 2014 a 2023), orçado em R$ 1 trilhão, prevê a destinação de mais de 70% dos investimentos no setor para os combustíveis fósseis. Somente 22% iriam para energias renováveis.

O grupo, liderado por Oswaldo Lucon, professor convidado do Instituto de Energia e Ambiente da USP, considera também que a porcentagem de energias renováveis na matriz energética brasileira vem caindo. De 2009 a 2014, a participação diminuiu de 47% para 39,4%.É maior que a média mundial – de 13% –, mas tende a cair ainda mais se todo o investimento previsto for mesmo para os fósseis.

“Enquanto as grandes economias do mundo estão trabalhando para abandonar a matriz energética fóssil, nós vemos o Brasil ainda em uma tendência de investir nisso. O que propomos no relatório é que haja uma mudança: não renovar os subsídios para gasolina; investir em pesquisa e desenvolvimento para termos tecnologia para expandir as energias solar e eólica; aumentar o investimento público nessas energias; remover barreiras fiscais; retomar o investimento em biocombustível”, afirma Rachel Biderman, diretora do WRI no Brasil.

Combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás natural, são o principal motor, em todo o mundo, de emissões de gases que provocam o aquecimento global. No Brasil, o maior problema sempre foram as emissões provenientes do desmatamento da Amazônia, mas com a redução de mais de 80% nos últimos dez anos da perda florestal, o setor de energia, junto com a agropecuária, passou ter um papel mais crítico.

O alerta é feito a uma semana do prazo que o governo brasileiro estabeleceu para divulgar seu conjunto de metas de redução de emissões para a Conferência do Clima de Paris. O relatório lembra que as emissões de energia estão em constante crescimento. De acordo com o inventário de emissões do Ministério da Ciência e Tecnologia, entre 1990 e 2011, as emissões do setor subiram 117%. Já as de uso da terra (nome técnico para o desmatamento), entre2005 e 2011, tiveram uma queda de 71%.

Orçamento de carbono. O relatório “Oportunidades e Desafios para Aumentar Sinergias entre as Políticas Climáticas e Energéticas no Brasil” trabalha com o conceito de orçamento de carbono – a quantidade máxima de gases de efeito estufa que o planeta inteiro pode emitir até 2100 para manter o aquecimento do planeta em no máximo mais 2°C em relação à temperatura da Terra no período pré-Revolução Industrial.

Segundo cálculos do IPCC (o painel científico do clima ligado à ONU), esse montante é de 1 mil gigatoneladas (Gt) de CO -equivalente (medida que unifica o peso de todos os gases de efeito estufa) até o fim do século. O grupo de cientistas não detalhou, porém, a fatia desse bolo para cada país. Lucon e equipe avaliaram, então, estudos paralelos feitos nos últimos anos com esse intuito, como os da Agência Ambiental de Estocolmo e da Agência Internacional de Energia.

Esses trabalhos sugerem um limite para o Brasil entre 19,8 Gt CO2-eq e 41,4 Gt CO2-eq, com a maioria variando entre 20 e 30 Gt CO2-eq. Em 2013, as emissões brasileiras estavam na ordem de 1,59 Gt, de acordo com o Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa.

“Esse orçamento significa que, em média, as emissões brasileiras por ano tem de ficar entre 0,5 e 0,75 Gt CO2-eq. Só que no ritmo atual de emissões estouramos nossa meta entre 2024 e 2035”, afirma Lucon. “É isso que tem na conta bancária de carbono. Se gastar mais, cai no cheque especial e em mais de 2°C de aquecimento”, diz.

Recomendações. O relatório recomenda uma série de medidas para reduzir as emissões do setor: melhorar a eficiência de combustível e investir na transição para modais de transporte de baixo carbono; criar incentivos e sistemas para avaliar e aprimorar a eficiência nas indústrias através do uso de métricas de carbono; e priorizar fontes modernas de energias renováveis, especialmente energia eólica e energia solar, e ao mesmo tempo lidar com os desafios apresentados pelos projetos hidroelétricos de larga escala.

O cálculo de que seria possível reduzir em pelo menos 40% das emissões é feito comparando essas medidas com o cenário previsto pelo plano decenal de energia. “A crise econômica deveria servir para uma revisão desses planos de modo que o País fique mais eficiente”, defende Lucon.

Por enquanto, a única meta de energia apresentada pelo governo brasileiro e que deve ser incluída na INDC é a ampliação da participação de renováveis na matriz energética (sem contar hidro) para uma faixa entre 28% e 33% até aquele ano. "Aumentar as renováveis a 33% do total é apenas uma parte da história. Se o total dobrar ou triplicar, as fósseis crescerão muito mais em termos absolutos (ainda que menos em termos relativos), comprometendo o espaço na atmosfera e por consequência os objetivos climáticos", complementa o pesquisador.

As emissões de gases de efeito estufa de energia foram as que mais cresceram no Brasil nos últimos 20 anos Foto: REUTERS

SÃO PAULO - As emissões de gases de efeito estufa de energia foram as que mais cresceram no Brasil nos últimos 20 anos e são as que mais devem expandir-se nos próximos 15, por causa do aumento na demanda de energia e transporte no Brasil. Mas poderia ser o contrário. Investimentos em energia renovável, eficiência energética, transporte coletivo e redução de subsídios para combustíveis fósseis têm o potencial de reduzir as emissões do setor em pelo menos 40%.

É o que sugere um relatório feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo e do World Resources Institute (WRI), obtido com exclusividade pelo Estado, que será lançado nesta segunda-feira, 21. O trabalho leva em consideração que o Plano Decenal de Energia do governo federal (período de 2014 a 2023), orçado em R$ 1 trilhão, prevê a destinação de mais de 70% dos investimentos no setor para os combustíveis fósseis. Somente 22% iriam para energias renováveis.

O grupo, liderado por Oswaldo Lucon, professor convidado do Instituto de Energia e Ambiente da USP, considera também que a porcentagem de energias renováveis na matriz energética brasileira vem caindo. De 2009 a 2014, a participação diminuiu de 47% para 39,4%.É maior que a média mundial – de 13% –, mas tende a cair ainda mais se todo o investimento previsto for mesmo para os fósseis.

“Enquanto as grandes economias do mundo estão trabalhando para abandonar a matriz energética fóssil, nós vemos o Brasil ainda em uma tendência de investir nisso. O que propomos no relatório é que haja uma mudança: não renovar os subsídios para gasolina; investir em pesquisa e desenvolvimento para termos tecnologia para expandir as energias solar e eólica; aumentar o investimento público nessas energias; remover barreiras fiscais; retomar o investimento em biocombustível”, afirma Rachel Biderman, diretora do WRI no Brasil.

Combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás natural, são o principal motor, em todo o mundo, de emissões de gases que provocam o aquecimento global. No Brasil, o maior problema sempre foram as emissões provenientes do desmatamento da Amazônia, mas com a redução de mais de 80% nos últimos dez anos da perda florestal, o setor de energia, junto com a agropecuária, passou ter um papel mais crítico.

O alerta é feito a uma semana do prazo que o governo brasileiro estabeleceu para divulgar seu conjunto de metas de redução de emissões para a Conferência do Clima de Paris. O relatório lembra que as emissões de energia estão em constante crescimento. De acordo com o inventário de emissões do Ministério da Ciência e Tecnologia, entre 1990 e 2011, as emissões do setor subiram 117%. Já as de uso da terra (nome técnico para o desmatamento), entre2005 e 2011, tiveram uma queda de 71%.

Orçamento de carbono. O relatório “Oportunidades e Desafios para Aumentar Sinergias entre as Políticas Climáticas e Energéticas no Brasil” trabalha com o conceito de orçamento de carbono – a quantidade máxima de gases de efeito estufa que o planeta inteiro pode emitir até 2100 para manter o aquecimento do planeta em no máximo mais 2°C em relação à temperatura da Terra no período pré-Revolução Industrial.

Segundo cálculos do IPCC (o painel científico do clima ligado à ONU), esse montante é de 1 mil gigatoneladas (Gt) de CO -equivalente (medida que unifica o peso de todos os gases de efeito estufa) até o fim do século. O grupo de cientistas não detalhou, porém, a fatia desse bolo para cada país. Lucon e equipe avaliaram, então, estudos paralelos feitos nos últimos anos com esse intuito, como os da Agência Ambiental de Estocolmo e da Agência Internacional de Energia.

Esses trabalhos sugerem um limite para o Brasil entre 19,8 Gt CO2-eq e 41,4 Gt CO2-eq, com a maioria variando entre 20 e 30 Gt CO2-eq. Em 2013, as emissões brasileiras estavam na ordem de 1,59 Gt, de acordo com o Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa.

“Esse orçamento significa que, em média, as emissões brasileiras por ano tem de ficar entre 0,5 e 0,75 Gt CO2-eq. Só que no ritmo atual de emissões estouramos nossa meta entre 2024 e 2035”, afirma Lucon. “É isso que tem na conta bancária de carbono. Se gastar mais, cai no cheque especial e em mais de 2°C de aquecimento”, diz.

Recomendações. O relatório recomenda uma série de medidas para reduzir as emissões do setor: melhorar a eficiência de combustível e investir na transição para modais de transporte de baixo carbono; criar incentivos e sistemas para avaliar e aprimorar a eficiência nas indústrias através do uso de métricas de carbono; e priorizar fontes modernas de energias renováveis, especialmente energia eólica e energia solar, e ao mesmo tempo lidar com os desafios apresentados pelos projetos hidroelétricos de larga escala.

O cálculo de que seria possível reduzir em pelo menos 40% das emissões é feito comparando essas medidas com o cenário previsto pelo plano decenal de energia. “A crise econômica deveria servir para uma revisão desses planos de modo que o País fique mais eficiente”, defende Lucon.

Por enquanto, a única meta de energia apresentada pelo governo brasileiro e que deve ser incluída na INDC é a ampliação da participação de renováveis na matriz energética (sem contar hidro) para uma faixa entre 28% e 33% até aquele ano. "Aumentar as renováveis a 33% do total é apenas uma parte da história. Se o total dobrar ou triplicar, as fósseis crescerão muito mais em termos absolutos (ainda que menos em termos relativos), comprometendo o espaço na atmosfera e por consequência os objetivos climáticos", complementa o pesquisador.

As emissões de gases de efeito estufa de energia foram as que mais cresceram no Brasil nos últimos 20 anos Foto: REUTERS

SÃO PAULO - As emissões de gases de efeito estufa de energia foram as que mais cresceram no Brasil nos últimos 20 anos e são as que mais devem expandir-se nos próximos 15, por causa do aumento na demanda de energia e transporte no Brasil. Mas poderia ser o contrário. Investimentos em energia renovável, eficiência energética, transporte coletivo e redução de subsídios para combustíveis fósseis têm o potencial de reduzir as emissões do setor em pelo menos 40%.

É o que sugere um relatório feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo e do World Resources Institute (WRI), obtido com exclusividade pelo Estado, que será lançado nesta segunda-feira, 21. O trabalho leva em consideração que o Plano Decenal de Energia do governo federal (período de 2014 a 2023), orçado em R$ 1 trilhão, prevê a destinação de mais de 70% dos investimentos no setor para os combustíveis fósseis. Somente 22% iriam para energias renováveis.

O grupo, liderado por Oswaldo Lucon, professor convidado do Instituto de Energia e Ambiente da USP, considera também que a porcentagem de energias renováveis na matriz energética brasileira vem caindo. De 2009 a 2014, a participação diminuiu de 47% para 39,4%.É maior que a média mundial – de 13% –, mas tende a cair ainda mais se todo o investimento previsto for mesmo para os fósseis.

“Enquanto as grandes economias do mundo estão trabalhando para abandonar a matriz energética fóssil, nós vemos o Brasil ainda em uma tendência de investir nisso. O que propomos no relatório é que haja uma mudança: não renovar os subsídios para gasolina; investir em pesquisa e desenvolvimento para termos tecnologia para expandir as energias solar e eólica; aumentar o investimento público nessas energias; remover barreiras fiscais; retomar o investimento em biocombustível”, afirma Rachel Biderman, diretora do WRI no Brasil.

Combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás natural, são o principal motor, em todo o mundo, de emissões de gases que provocam o aquecimento global. No Brasil, o maior problema sempre foram as emissões provenientes do desmatamento da Amazônia, mas com a redução de mais de 80% nos últimos dez anos da perda florestal, o setor de energia, junto com a agropecuária, passou ter um papel mais crítico.

O alerta é feito a uma semana do prazo que o governo brasileiro estabeleceu para divulgar seu conjunto de metas de redução de emissões para a Conferência do Clima de Paris. O relatório lembra que as emissões de energia estão em constante crescimento. De acordo com o inventário de emissões do Ministério da Ciência e Tecnologia, entre 1990 e 2011, as emissões do setor subiram 117%. Já as de uso da terra (nome técnico para o desmatamento), entre2005 e 2011, tiveram uma queda de 71%.

Orçamento de carbono. O relatório “Oportunidades e Desafios para Aumentar Sinergias entre as Políticas Climáticas e Energéticas no Brasil” trabalha com o conceito de orçamento de carbono – a quantidade máxima de gases de efeito estufa que o planeta inteiro pode emitir até 2100 para manter o aquecimento do planeta em no máximo mais 2°C em relação à temperatura da Terra no período pré-Revolução Industrial.

Segundo cálculos do IPCC (o painel científico do clima ligado à ONU), esse montante é de 1 mil gigatoneladas (Gt) de CO -equivalente (medida que unifica o peso de todos os gases de efeito estufa) até o fim do século. O grupo de cientistas não detalhou, porém, a fatia desse bolo para cada país. Lucon e equipe avaliaram, então, estudos paralelos feitos nos últimos anos com esse intuito, como os da Agência Ambiental de Estocolmo e da Agência Internacional de Energia.

Esses trabalhos sugerem um limite para o Brasil entre 19,8 Gt CO2-eq e 41,4 Gt CO2-eq, com a maioria variando entre 20 e 30 Gt CO2-eq. Em 2013, as emissões brasileiras estavam na ordem de 1,59 Gt, de acordo com o Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa.

“Esse orçamento significa que, em média, as emissões brasileiras por ano tem de ficar entre 0,5 e 0,75 Gt CO2-eq. Só que no ritmo atual de emissões estouramos nossa meta entre 2024 e 2035”, afirma Lucon. “É isso que tem na conta bancária de carbono. Se gastar mais, cai no cheque especial e em mais de 2°C de aquecimento”, diz.

Recomendações. O relatório recomenda uma série de medidas para reduzir as emissões do setor: melhorar a eficiência de combustível e investir na transição para modais de transporte de baixo carbono; criar incentivos e sistemas para avaliar e aprimorar a eficiência nas indústrias através do uso de métricas de carbono; e priorizar fontes modernas de energias renováveis, especialmente energia eólica e energia solar, e ao mesmo tempo lidar com os desafios apresentados pelos projetos hidroelétricos de larga escala.

O cálculo de que seria possível reduzir em pelo menos 40% das emissões é feito comparando essas medidas com o cenário previsto pelo plano decenal de energia. “A crise econômica deveria servir para uma revisão desses planos de modo que o País fique mais eficiente”, defende Lucon.

Por enquanto, a única meta de energia apresentada pelo governo brasileiro e que deve ser incluída na INDC é a ampliação da participação de renováveis na matriz energética (sem contar hidro) para uma faixa entre 28% e 33% até aquele ano. "Aumentar as renováveis a 33% do total é apenas uma parte da história. Se o total dobrar ou triplicar, as fósseis crescerão muito mais em termos absolutos (ainda que menos em termos relativos), comprometendo o espaço na atmosfera e por consequência os objetivos climáticos", complementa o pesquisador.

As emissões de gases de efeito estufa de energia foram as que mais cresceram no Brasil nos últimos 20 anos Foto: REUTERS

SÃO PAULO - As emissões de gases de efeito estufa de energia foram as que mais cresceram no Brasil nos últimos 20 anos e são as que mais devem expandir-se nos próximos 15, por causa do aumento na demanda de energia e transporte no Brasil. Mas poderia ser o contrário. Investimentos em energia renovável, eficiência energética, transporte coletivo e redução de subsídios para combustíveis fósseis têm o potencial de reduzir as emissões do setor em pelo menos 40%.

É o que sugere um relatório feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo e do World Resources Institute (WRI), obtido com exclusividade pelo Estado, que será lançado nesta segunda-feira, 21. O trabalho leva em consideração que o Plano Decenal de Energia do governo federal (período de 2014 a 2023), orçado em R$ 1 trilhão, prevê a destinação de mais de 70% dos investimentos no setor para os combustíveis fósseis. Somente 22% iriam para energias renováveis.

O grupo, liderado por Oswaldo Lucon, professor convidado do Instituto de Energia e Ambiente da USP, considera também que a porcentagem de energias renováveis na matriz energética brasileira vem caindo. De 2009 a 2014, a participação diminuiu de 47% para 39,4%.É maior que a média mundial – de 13% –, mas tende a cair ainda mais se todo o investimento previsto for mesmo para os fósseis.

“Enquanto as grandes economias do mundo estão trabalhando para abandonar a matriz energética fóssil, nós vemos o Brasil ainda em uma tendência de investir nisso. O que propomos no relatório é que haja uma mudança: não renovar os subsídios para gasolina; investir em pesquisa e desenvolvimento para termos tecnologia para expandir as energias solar e eólica; aumentar o investimento público nessas energias; remover barreiras fiscais; retomar o investimento em biocombustível”, afirma Rachel Biderman, diretora do WRI no Brasil.

Combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás natural, são o principal motor, em todo o mundo, de emissões de gases que provocam o aquecimento global. No Brasil, o maior problema sempre foram as emissões provenientes do desmatamento da Amazônia, mas com a redução de mais de 80% nos últimos dez anos da perda florestal, o setor de energia, junto com a agropecuária, passou ter um papel mais crítico.

O alerta é feito a uma semana do prazo que o governo brasileiro estabeleceu para divulgar seu conjunto de metas de redução de emissões para a Conferência do Clima de Paris. O relatório lembra que as emissões de energia estão em constante crescimento. De acordo com o inventário de emissões do Ministério da Ciência e Tecnologia, entre 1990 e 2011, as emissões do setor subiram 117%. Já as de uso da terra (nome técnico para o desmatamento), entre2005 e 2011, tiveram uma queda de 71%.

Orçamento de carbono. O relatório “Oportunidades e Desafios para Aumentar Sinergias entre as Políticas Climáticas e Energéticas no Brasil” trabalha com o conceito de orçamento de carbono – a quantidade máxima de gases de efeito estufa que o planeta inteiro pode emitir até 2100 para manter o aquecimento do planeta em no máximo mais 2°C em relação à temperatura da Terra no período pré-Revolução Industrial.

Segundo cálculos do IPCC (o painel científico do clima ligado à ONU), esse montante é de 1 mil gigatoneladas (Gt) de CO -equivalente (medida que unifica o peso de todos os gases de efeito estufa) até o fim do século. O grupo de cientistas não detalhou, porém, a fatia desse bolo para cada país. Lucon e equipe avaliaram, então, estudos paralelos feitos nos últimos anos com esse intuito, como os da Agência Ambiental de Estocolmo e da Agência Internacional de Energia.

Esses trabalhos sugerem um limite para o Brasil entre 19,8 Gt CO2-eq e 41,4 Gt CO2-eq, com a maioria variando entre 20 e 30 Gt CO2-eq. Em 2013, as emissões brasileiras estavam na ordem de 1,59 Gt, de acordo com o Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa.

“Esse orçamento significa que, em média, as emissões brasileiras por ano tem de ficar entre 0,5 e 0,75 Gt CO2-eq. Só que no ritmo atual de emissões estouramos nossa meta entre 2024 e 2035”, afirma Lucon. “É isso que tem na conta bancária de carbono. Se gastar mais, cai no cheque especial e em mais de 2°C de aquecimento”, diz.

Recomendações. O relatório recomenda uma série de medidas para reduzir as emissões do setor: melhorar a eficiência de combustível e investir na transição para modais de transporte de baixo carbono; criar incentivos e sistemas para avaliar e aprimorar a eficiência nas indústrias através do uso de métricas de carbono; e priorizar fontes modernas de energias renováveis, especialmente energia eólica e energia solar, e ao mesmo tempo lidar com os desafios apresentados pelos projetos hidroelétricos de larga escala.

O cálculo de que seria possível reduzir em pelo menos 40% das emissões é feito comparando essas medidas com o cenário previsto pelo plano decenal de energia. “A crise econômica deveria servir para uma revisão desses planos de modo que o País fique mais eficiente”, defende Lucon.

Por enquanto, a única meta de energia apresentada pelo governo brasileiro e que deve ser incluída na INDC é a ampliação da participação de renováveis na matriz energética (sem contar hidro) para uma faixa entre 28% e 33% até aquele ano. "Aumentar as renováveis a 33% do total é apenas uma parte da história. Se o total dobrar ou triplicar, as fósseis crescerão muito mais em termos absolutos (ainda que menos em termos relativos), comprometendo o espaço na atmosfera e por consequência os objetivos climáticos", complementa o pesquisador.

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